quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Capítulo 17 - O acidente mágico

No dia das bruxas, Cidade dos Elfos preparava uma grande festa. Não houve aula devido o feriado e os alunos puderam curtir o dia entre as enfeitadas lojas. Os postes de iluminação traziam grandes abóboras como lâmpadas, algumas até mesmo conversavam, pequenos arbustos que no lugar de frutos brotavam chocolate, caramelo ou balas açucaradas.

Além, é claro, dos bruxos, donos da festa, e dos elfos e fadas, moradores da cidade, outras figuras inusitadas apareceram de surpresa como, o boto-cor-de-rosa, que chegou arrancando suspiros profundos das jovens estudantes. O boto era uma criatura mágica muito popular, ele saia de dentro dos rios, onde tinha a aparência de um tipo de golfinho de água doce, para assumir a forma humana em festas, a procura de uma jovem moça com quem pudesse aproveitar a noite.

Enquanto todos se entupiam de divertimento, o Sr. Nicolas Weny nem ao menos dera a cara para a cidade. Talvez ele não gostasse de comemorações, ou estivesse se aprofundado tanto em suas pesquisas que perdera a noção de tempo e espaço.

No entanto, Nicolas continuava com os seus encontros secretos na velha loja e Kal e os outros não conseguiam descobrir o que se passava por lá. Certa noite, Kal, Ralph e Thalis se arriscaram ir até a velha loja pessoalmente, sem ser por meio da projeção, eles determinaram que permanecer dez metros longe era uma distância segura. Mesmo usando o Captus eles não conseguiram ouvir nada, apenas o barulho noturno de uma floresta silenciada.

Kal insistia em controlar suas visões, mas nunca conseguia algum resultado espontaneamente. Ele não tivera uma só visão desde o dia em que viu Nicolas matando pessoas. E isso era uma intriga na cabeça dele. Aquilo realmente fora uma visão ou algo imaginário? E se foi uma visão, quem Nicolas Weny poderia ter matado?

Pelo meio de novembro, todos começaram os preparatórios para as provas finais, naturalmente os alunos de Angus estavam bem tranqüilos em relação a isso. Alunos, que como Daimon, não dependiam de altas notas para passar. Kal, no entanto, ainda precisava se esforçar muito para conseguir nota em Relações com a Natureza. Talvez se ele acertasse oitenta por cento da prova tivesse alguma chance de passar para o próximo ano.

O mau desempenho de Kal devia-se a combinação de não saber lidar com plantas e o fato da sua ser a pior de todas. A Herviana havia sido plantada na Cidade dos Elfos devido o seu tamanho e Kal passou a ter que assistir primeiro as aulas e depois, sozinho, praticar com ela o que “aprendera”.

Thalis estava bem tranqüilo em relação às matérias. Mesmo tendo começado o ano atrasado e por ter sofrido com a morte dos pais e a descoberta de uma vida mágica, ele parecia bem normal. Nos últimos meses, sempre depois de terminarem a lição de casa, Kal, Ralph e Thalis passaram horas conversando no dormitório tramando uma maneira inteligente de Rick perder o distintivo de Guardião-mirim, e com sorte ser expulso de Avalon.

Das provas, a primeira seria de Maldições. Alguns alunos apresentaram-se na sala usando capacetes e alguns mais exagerados trouxeram também escudo, cordas e quites de sobrevivência. Todos esperavam por um teste ainda pior que o do meio do ano, mas encontraram uma simples prova escrita que não tinha mais do que quatro folhas. Talvez os métodos avaliativos de Amadeus Wosky tenham sido questionados.

No mesmo dia, eles fizeram provas de Clerigologia e Relações com a Natureza. Kal não achou que tinha se saído bem nesta última prova porque disse que em casos de emergência deve-se atear fogo na planta, sendo o certo apenas paralisá-la.

O segundo dia compensou-o com uma brilhante prova de Feitiços e outra de História. Kal tinha certeza de que descrevera bem como fazer o Efesto, um feitiço lançador de fogo. Além, também, de ter marcado muitos pontos dizendo que Chico Liber fora o mentor da Revolução dos Sacis no século XIX e que o duende Pukaka Bert liderou a Rebelião dos Mangues Negros do Sudeste em 1566.

De qualquer modo, os resultados finais sairiam apenas no penúltimo dia letivo, que seria, sem dúvida, um dia de muito alvoroço. Alunos se despedindo de Cidade dos Elfos e voltando para suas casas nas mais variadas regiões do país, outros tantos choramingando e resmungando com os professores por que não terem passado de ano ou ficado de recuperação. E Kal torcia para que não estivesse entre estes. Ninguém poderia imaginar que na verdade os dias de tensão em Avalon e Cidade dos Elfos seriam bem antes disso.

Uma semana antes da grande final de Quizard entre Tadewi e Katzin, Raiam Devine recebeu uma suspensão que o proibia de jogar sua última partida.

- Como isso aconteceu? – perguntou Tirso que era o treinador da equipe de Tadewi.

- Eu estava na biblioteca estudando para a última prova... Acabei cochilando e quando acordei me apressei para ver se conseguia o último balão. Foi quando Rick Wosky apareceu e perguntou o que eu fazia ali tão tarde. Respondi que tinha cochilado na biblioteca e que já estava descendo, mas ele me deu suspensão de uma semana...

- Ele pode fazer isso? – perguntou Malvina, clériga da equipe de Tadewi.

- A suspensão estava assinada pelo professor Amadeus... – explicou Raiam.

- Tinha que ser ele, amaldiçoado... – retorquiu Tirso – Não há como fazer mais nada.

- Então não jogaremos professor? – perguntou Malvina.

- Jogaremos. Porque ainda temos Kal.

- Desculpe, acho que não entendi professor... – interrompeu Kal um pouco confuso.

- Simples, Raiam não vai poder competir e você é o Desafiante reserva. – explicou Tirso.

Kal ficara completamente imóvel, como se estivesse sido atingido no peito por um feitiço. Ele não dera devida atenção aos treinamentos de Quizard porque era apenas um reserva. Seu titular era Raiam, um excelente aluno e muito astuto dentro do campo. Quando ele entrava na Sala das Diferenças não havia desafiante que o vencesse. Na verdade, Raiam só lutara duas vezes naquele ano. As duas vezes foram contra o desafiante de Angus. Rick Wosky, sempre, convenientemente, se perdia no labirinto estourando assim o tempo limite de dez minutos. Com o tempo esgotado a vitória ia para a outra equipe.

- Muito bem, está resolvido então. Semana que vem teremos uma partida e tanto! – entusiasmou Tirso.

- Você contra Rick Wosky! – exclamou Thalis no dormitório.

- Vai ser o jogo do ano! – disse Ralph eufórico.

- Não tenho tanta certeza... – retrucou Kal – Rick se preparou o ano inteiro para esta final.

- Não brinca! Rick nunca encarou um desafiante na Sala das Diferenças. Perdeu as duas partidas para Tadewi por Tempo Limite e ganhou as duas de Angus porque a equipe de Katzin sabe atacar e derrubou o desafiante deles antes mesmo de chegar à Sala das Diferenças, a equipe dele é boa. – comentou Ralph.

- Este é o meu medo... – confessou Kal – Ter que passar pela equipe de Katzin com vida.

- Fique tranqüilo! Nós vamos te ajudar, mesmo que falte apenas uma semana... – terminou Thalis coçando a nuca.

Naturalmente os jogadores de Quizard tiravam alguns dias de concentração antes de cada partida. O ano já havia chegado ao fim e os alunos estavam apenas terminando uns simples conteúdos e esperando os resultados finais. Algumas aulas já haviam sido encerradas, entre elas, Maldições, Biomagia e Relações com a Natureza, a qual Kalevi estava extremamente preocupado com a nota que iria alcançar.

No intervalo destas aulas, ele era ajudado por Thalis, Ralph, Guine, Daimon e Jonathan. Os cinco revisavam com ele alguns feitiços como o Escaparta, o Amstãnder e o Réplica. Jonathan, que era ótimo aluno em Clerigologia, lhe dava algumas dicas de como se curar em uma batalha. Não era muito fácil, considerando que em algumas ocasiões era impossível fazer qualquer coisa porque a boca estava imobilizada, impedindo de pronunciar qualquer feitiço.

Durante os intervalos vários alunos de Tadewi iam encorajá-lo, em geral acenavam distante, muitos ainda estavam assustados com o fato de Kal possuir o Enid de Donnovan. A verdade é que isso era uma boa vantagem, talvez Rick ficasse apavorado e permitisse que Kal vencesse. Ralph sugeriu que no meio da batalha ele usasse o Revelarbus, mesmo que não fosse derrotar Rick, iria deixá-lo atônito.

Toda aquela atmosfera de excitação se condensou na manhã do grande jogo. Um estádio com tamanho suficiente para mais de mil pessoas, número muito superior ao número de habitantes de Cidade dos Elfos. O estádio fora detalhadamente montado no centro da cidade. Algumas lojas como a Labaredas de Ferro simplesmente haviam desaparecido, era como se nunca tivessem existido.

O estádio descrevia uma elipse com suas arquibancadas de madeira e a estrutura de pedra. No centro estava o campo, o espaço ocupado pelo labirinto, onde no meio estaria a Sala das Diferenças. Kal sabia que precisava ser rápido para chegar lá. Se entrasse primeiro e Rick não aparecesse em dez minutos Tadewi ergueria a taça de campeã.

Estava feito então, entrar e aguardar.

Se ele tivesse que lutar contra Rick faria o melhor possível para não decepcionar sua equipe e os outros alunos de Tadewi, em especial, Ralph, Thalis e Guine. Kal ainda devia a vitória a Daimon e Jonathan, que como os outros alunos de Angus, estavam torcendo por Tadewi.

Somente quando ele pisou no campo ele viu como aquela partida era importante. Em quatro extremidades do estádio, a pouco mais de quinze metros, estavam os camarotes, cada um com cor diferente, laranja, azul, branco e marrom. Neste último camarote estavam o Escritor da Terra, Tirso, Cristina e Cacius que conversava com ninguém menos do que o Ministro da Defesa Mágica, Mardo e alguns outros bruxos bem vestidos.

Na outra extremidade, atrás de onde Kal estava, tinha-se o camarote azul, o qual o único conhecido era Amadeus Wosky e seu sorriso de aranha faminta.

O garoto escaneou as arquibancadas inferiores à procura de Ralph e os outros, mas era impossível encontrá-los. Dois terços dos alunos usavam roupas azuis e laranja, as cores de Tadewi, e tinham os rostos pintados. Era como procurar um determinado musgo na Floresta Amazônica.

- Os competidores entram em campo! – narrou uma voz que com certeza não era a de Tirso. Obviamente os katzenianos exigiram um juiz mais imparcial – Começou!

A torcida soltou um “Uh!” delirante.

O labirinto à frente de Kal era feito com pedras altas e lisas, era impossível escalá-las para se enxergar mais à frente. Levitar certamente era um grande risco. Quando se está a cinco metros de altura qualquer um torna-se alvo fácil.

- Venham! – chamou Malvina à equipe.

Ela havia se tornado a capitão com a saída de Raiam, que infelizmente nunca mais iria jogar por Tadewi. Ele estava em seu último ano em Avalon e aquela final seria sua partida de despedida do Quizard. Mas Rick Wosky estragara tudo e agora, após fazer uma brilhante campanha nos últimos quatro anos, ele assistia a grande final de sua vida na arquibancada, ao lado dos outros alunos.

Todos seguiram Malvina, sorrateiros. O silêncio era fundamental para não denunciar a posição ao inimigo. Os seis alunos haviam feito um cerco ao redor de Kal para protegê-lo. Todos estavam bem dispostos a se sacrificar para que ele entrasse na Sala das Diferenças.

- Kalevi é importante, nós não. – havia dito a capitã minutos antes de entrarem em campo.

Eles estavam andando rápido e já se aproximavam da Sala das Diferenças, felizmente não haviam encontrado ninguém da equipe adversária. Estavam bem despreocupados, quando um desafiante entra na sala, um marcador automático surge de forma que possa ser visto de qualquer lugar do campo.

Já havia se passado vinte minutos desde que a partida começara. Até então não tiveram qualquer sinal de Katzin.

Das arquibancadas se tinha uma visão privilegiada. Os espectadores podiam acompanhar o movimento das duas equipes. Para evitar que alguém passasse informações para dentro do campo, este era magicamente encantado com um filtro de palavras para coibir qualquer fraude.

Kalevi calculou que estavam a uma distância de centro e cinqüenta metros da Sala das Diferenças. Estavam entrando em uma área de risco. A qualquer momento eles poderiam deparar-se com os katzenianos. Era hora do grupo se separar.

Quatro alunos seguiram por uma direção diferente, eles procurariam e atacariam Rick, esta era a estratégia. Enquanto isso Kal seria escoltado até a sala por Malvina e por um armador, Gregori Clark.

Assim eles seguiram, lenta e pacientemente, passos vagarosos não chamavam atenção.

Um pouco mais a frente havia um arco com a passagem para uma ante-sala. No momento em que Kal, Malvina e o armador atravessaram o arco, a torcida entrou em frenesi e gritou bem alto. Os tímpanos de Kal pareciam querer estourar, mas então ele olhou para um lado e viu o motivo do estardalhaço.

Três garotos de Katzin estavam na mesma ante-sala observando-os, então um gritou:

- Derrubem o Foster!

Em um reflexo extremo Kal berrou:

- Pelínculo!

O feixe de luz explodiu na frente dos três garotos tirando a visão deles de foco.

Kal conseguira pensar naquilo primeiro que Malvina e Gregori porque fora alertado pelo seu instinto de sobrevivência. Em uma mínima fração de segundos seu cérebro processara que estava correndo perigo, gerou uma resposta imediata ao ataque e seus músculos agiram prontamente.

- Bom trabalho! – elogiou Malvina.

Gregori e a clériga agarraram Kal pelo braço e correram os últimos vinte metros juntos até um abismo que separava a Sala das Diferenças.

- Escaparta! – os três garotos da equipe adversária já estavam de pé atacando.

Kal olhou para trás, achou que o Pelínculo não funcionaria novamente. Parou por uns instantes e avaliou suas opções, não eram muitas. Tentar um salto de sete metros sobre o abismo ou encarar os três rivais.

- Amstãnder! – exclamou Gregori acertando um dos inimigos que acabou tropeçando e derrubou os outros dois.

- Escaparta! – o feitiço vinha de outra direção de encontro com Kal, mas Malvina posicionou-se entre os dois e desmaiou em seguida.

A ante-sala agora estava tomada por alunos de Katzin. Estavam todos os sete ali. Eram sete contra apenas Gregori e Kal.

Uma explosão ocorreu atrás dos katzenianos e os quatros outros alunos de Tadewi haviam surgido. Eles destruíram a parede do labirinto e os estilhaços derrubaram alguns rivais, contudo, Rick estava muito bem protegido por um escudo mágico conjurado por um garoto baixo e gorducho.

Gregori partiu para cima dos outros pronunciando mais feitiços do que sua boca conseguia suportar.

- Linglesingle, Escaparta, Amstãnder, Réplica...

Ele havia nocauteado três de Katzin, no entanto um garoto bem alto e ossudo disparou um feitiço contra Gregori que o acertou bem no peito e dividiu-se em pedaços menores acertando os outros competidores de Tadewi.

Gregori voou bem uns três metros e ficou imóvel, assim como os outros. O caminho estava livre para que os katzenianos pudessem render Kal e se proclamassem campeões. Entre eles estavam os corpos caídos de seus companheiros de equipe e atrás um abismo que não lhe dava escolha. Ele estava sem opções. O que estava para fazer era quase suicídio. Encarar toda a equipe sozinho.

Kal empunhou a varinha decidido, mas ouviu um ruído. Era Gregori, jogando sua última carta. Um verdadeiro Ás.

- Cefalotúrgia! – diferente do que todos pensavam, o feitiço veio em direção a Kal, por um breve momento ele pensou em desviar, mas pensou melhor. Talvez seja isso mesmo.

O feitiço acertou o rosto do garoto provocando-lhe um formigamento incômodo. Sua respiração falhou, mas ele não conseguia abrir a boca. Os lábios estavam colados. Ele sentiu seu crânio inflar. Seus pés estavam largando o chão, ele tateava mas era irreversível. Sua cabeça enchera tanto quanto um balão e ele estava flutuando.

A platéia aplaudiu de pé muito surpresa. Os katzenianos ficaram sem reação. Kal estava cada vez mais alto e olhou para baixo, viu Malvina caída. Sentiu que seus lábios podiam se abrir e então disse.

- Corparo! - o feitiço de cura que Jonathan o havia ensinado fora bem útil. Malvina estava de pé novamente e rapidamente curara os outros. No entanto, assim que terminou o feitiço seus lábios não conseguiram se fechar e um forte sopro fugia pela sua boca.

Kal parecia ter se tornado uma bexiga de festa de aniversário. Seu corpo estava sacolejando no ar devido a pressão que saia de si. Aos poucos ele sentiu que sua cabeça estava voltando ao tamanho normal e estava sobrevoando a Sala das Diferenças. Kal aterrissou no chão de terra levantando um pouco de poeira. Estava deitado olhando para o céu quando o marcador automático começou a contar os dez minutos de espera. Ele havia conseguido. Estava na Sala das Diferenças.

A platéia continuava a aplaudir de pé. Tirso vibrava no camarote ao lado do Escritor da Terra. Até mesmo Cacius lhe sorria simpaticamente.

Agora é só aguardar, pensou Kal. Ele contou cada segundo no marcador de número roxo. Kal cansara de observar a sala, que não passava de um lugar esférico, com terra e algumas rochas mal dispostas.

Pelo barulho que o público fazia, as coisas pareciam estar esquentando do lado de fora. A equipe de Katzin tinha mais quatro minutos para mandar Rick, o que Kal torcia para não acontecer. Não que ele tivesse medo do oponente, muito pelo contrário, estava esperando pela chance de bater nele há muito tempo, mas não queria que fosse em frente a mais de mil pessoas.

Três minutos. Esperar ali era muito angustiante. Kal não tinha se quer noção do que se passava lá fora. Tinha em mente que no próximo ano ele seria o Desafiante titular, já que Raiam estava se despedindo de Avalon. Kal teria que se acostumar com a Sala das Diferenças.

Dois minutos. Um pensamento rápido lhe veio à cabeça. Rick Wosky havia dado a suspensão a Raiam propositalmente, na certa esperou por uma boa oportunidade e aplicou o castigo. Rick sabia que não teria a menor chance contra ele.

Um minuto. Kal estava odiando ainda mais Rick.

Para seu espanto, alegria e descontentamento, Rick Wosky pairava a alguns metros do chão atravessando a parede da sala e aterrissando a uns vinte metros de Kal.

Ele havia chegado do mesmo modo que Kalevi, com a cabeça na forma de um balão.

- Que original, Wosky. – debochou.

- Contente por me ver, Foster? – cuspiu no chão.

- É claro que estou. Escaparta!

- Pelas barbas de Merlin! – exclamou o locutor – Estes desafiantes não estão brincando!

- Nem um pouco. – concordou Rick esquivando-se do ataque de Kal e lançando o seu próprio – Linglesingle!

O feitiço acertou o peito do garoto, mas pareceu não surtir efeito. Apenas pareceu...

- Escapaaartaaa! – disse Kal em um forte sotaque de cantor de ópera.

- Inacreditável! – narrou a voz – Rick Wosky acertou uma maldição que transformou a voz de Kalevi! Tudo que ele disser sairá como música.

- O que estáááa acooonteceeendoooo? – questionou, mas não tinha tempo para isso. Rick Wosky estava atacando rapidamente.

Kal estava relembrando dos feitiços de cura que Jonathan havia lhe ensinado, mas era impossível realizá-los cantando. Primeiro teria que se livrar da maldição. Mas como?

- Qual o problema Kalevi? O gato comeu sua língua? – debochou Wosky enquanto conjurava vários feitiços.

- Parece que Kalevi Foster está levando uma surra de Wosky! Será que Katzin será a campeã?

Jamais. Pensou Kal. Em hipótese alguma ele permitiria que Wosky levasse a vitória. Se fosse preciso derrubaria-o no braço. Sim, talvez aquela fosse a única saída...

- Como é, Foster? Não vai me atacar? – gargalhou Wosky.

- Parece que Rick está usando a velha tática da provocação! – exclamou a voz – Se Kalevi resolver largar a varinha e usar os punhos será desclassificado.

- Maldiiiiitoooo! – praguejou Kal – Tentaaaandooooo me enganaaaaar...

- Escaparta! Amstãnder! – Rick continuava com os seus sucessivos ataques e Kal, ainda amaldiçoado pelo Linglesingle não podia se quer defender-se.

Braços. Pernas. Queixo. Costelas. Ombro.

Wosky atacava por todas as direções. Já sem forças, Kalevi caiu no chão. O suor pingava de sua testa, estava exausto. Não era o que ele tinha em mente, ser açoitado por Rick. Em seus pensamentos ele erguia a varinha e acertava Wosky no peito e vencer a partida. Parece que agora estavam quites. No começo do ano, Kal o vencera em um rápido duelo. Naquela ocasião Rick havia derrubado-o, mas ainda assim ele o venceu. Por que seria diferente agora? Pensou Kal.

- Vamos Foster, desista! – berrou Rick – Dunkel!

A maldição acertou-o em cheio. Os ossos de Kal estavam se revirando, seus órgãos também pareciam mudar de posição. Era terrível a dor. Kal sentiu seus dedos dos pés serem sugados para dentro do corpo e brotarem em sua testa. A maldição estava sugando os poderes de Rick. Aparentemente, não era tão simples realizá-la em humanos. Wosky estava suando. Cortou o feitiço e Kal voltou ao normal.

- Escaparta! – berrou Rick recuperando suas forças – Você é bem resistente.

Kal estava se levantando aos poucos. Quando ergueu o rosto exibiu seu sorriso. Sem perceber Rick havia retirado a maldição Linglesingle. Pelos princípios das maldições que Amadeus ensinara em sua primeira aula, um corpo não pode receber duas maldições ao mesmo tempo, sendo que a segunda anula a primeira. Dunkel havia sido a segunda maldição, que retirou o efeito do Linglesingle. Felizmente, Rick não se lembrara disto.

- Porque está rindo? É masoquista? – bufou Rick.

Kal não ligaria para as provocações do rival. Tinha uma boa oportunidade e não iria desperdiçá-la. Ele não estaria preparado para se defender, era agora ou nunca.

Meio que sem jeito, Kal ergueu-se por completo. Tremulamente apontou a varinha para Wosky e berrou a plenos pulmões:

- Sedructos! – uma forte luz negra esverdeada escapuliu da varinha de Kal avançando para Wosky que estava apavorado. Cinco metros antes de acertá-lo a luz transformou-se em chamas negras acinzentadas que engoliram o garoto por completo.

Após o efeito, Rick Wosky ficou pálido, como se todo o seu sangue subitamente tivesse evaporado. Os olhos dele vagavam no vazio. Em um baque o corpo caíra no chão.

Mais do que imediatamente seis bruxos esfumaçaram dentro do campo. Amadeus, Cristina, Escritor da Terra e outros dois bruxos vestidos de branco cercaram Rick combinando feitiços para reanimá-lo. O sexto bruxo, Tirso, foi até Kal com uma expressão furiosa na face.

- Acompanhe-me. Agora! – disse rispidamente.

Tirso era o professor favorito de Kal. Ele sempre ouvia seus problemas e indiretamente o ajudava. Tirso raramente se aborrecia, na verdade, Kal só o vira naquele estado por uma vez, quando conjurara Donnovan em sua sala de aula.

- Professor, o que aconteceu? – perguntou Kal, mas logo desejou que não tivesse dito nada.

- Não seja irônico comigo, Foster! Você sabia muito bem o que estava fazendo. – retorquiu.

Naquele momento Tirso parecia muito mais com Amadeus.

Os dois saíram do campo em silêncio e seguiram até o vestiário. O professor abriu a porta com a varinha a uns cinco metros de distância. Entraram. O lugar estava vazio, não tinha qualquer outra saída. O que Tirso iria dizer a Kal?

- Professor? – chamou Kal.

Ele não respondeu. Dirigiu-se para um armário com a varinha erguida e começou a sussurrar encantamentos. Então ordenou que Kal entrasse.

- É um armário...

- Entra já! – resmungou seriamente.

Kal puxou a maçaneta e entrou, mas logo percebeu que não estava em um armário, e sim no corredor do quinto andar do castelo. Tirso parecia ter criado um portal que ligasse o armário na Cidade dos Elfos até Avalon.

O professor bateu com a porta e ela desapareceu na parede.

- Trambolho! – disse à estátua do dragão que logo abriu as asas, permitindo que Kal e Tirso entrasse na sala do diretor – Prof. Cacius, trouxe Foster.

- E como está o jovem Wosky? – perguntou.

- Ainda não sei, professor. No momento em que saímos estava sendo reanimado. – informou Tirso.

- Muito obrigado professor Tirso. Agora, creio que Kalevi e eu precisamos conversar. Novamente.

- Sim, senhor. – disse Tirso e saiu.

- Professor! O que aconteceu? – perguntou Kal – Porque todos estavam nervosos?

- Lamento por você ser tão ingênuo, Kalevi. – desabafou Cacius – O que aconteceu hoje poderá desencadear uma sucessão de fatos que vão marcar toda a sua vida.

- O que está acontecendo? – perguntou quase que implorando.

- Não acredito que eles vão te acusar de assassinato. No entanto você deve estar preparado.

- Assassinato? – indagou o garoto demasiadamente assustado.

- O feitiço que você lançou em Wosky é o mais mortal de todos, ao que se sabe. – Cacius enfatizou bem as últimas palavras – Nem mesmo Kricolas tem coragem para usá-lo. Sabe por quê? Porque é um feitiço catastrófico.

- Professor eu não entendo...

- Deveria. Você já sabia qual era o efeito. – afirmou Cacius decidido – Você o aprendeu e quis usá-lo.

- Eu não... Professor...

- Não tente me enganar novamente. Sempre soube que você havia visto o jovem Satler morrer. – falou Cacius perdendo o seu ar de serenidade.

- Morrer? – questionou atônito.

- Sim, morrer. Você o viu no dia em que ganhou o teste para Desafiante reserva. Você me disse que viu dois bruxos lutando e que um venceu o outro. Satler foi assassinado naquele dia, numa situação semelhante a que ocorreu hoje.

- Eu matei Rick Wosky? – perguntou Kal em choque.

Cacius fechou os olhos por um momento e explicou:

- Sedructos é a maldição da morte. Quem a usa vencerá o seu inimigo assassinando-o, mas será eternamente perseguido pela sua vítima, e o efeito da maldição que o acompanha

- Quer dizer que Satler persegue quem o matou até hoje?

- Sim. – respondeu o diretor – Amadeus Wosky está condenado a ser eternamente perseguido.

A notícia chegou a Kal como uma pedra de gelo no estômago. As pernas fraquejaram e ele sentou-se em uma cadeira atemorizado. Colocando a cabeça entre as mãos olhou para Cacius em busca de mais respostas.

- Amadeus... Amadeus Wosky assassinou este tal de Satler?

Cacius assentiu.

- Satler era o irmão de Tirso.

Esta outra revelação fora ainda pior. Agora Kal entendia porque Tirso chamava Amadeus de amaldiçoado. Porque ele realmente era. Eternamente amaldiçoado pelo espírito de Satler. Amadeus usara o Sedructos na Sala das Diferenças contra o desafiante rival. Agora Kal repetia a história...

- Sim, Kalevi. A história sempre se repete... – falou Cacius como se lesse os pensamentos dele – Por isso é tão importante estudá-la, compreendê-la, para não repetirmos os mesmos erros. E você tem o dom de alcançar o passado como se fosse o presente, se o tem e o usa precisa de responsabilidade.

Cacius estava sendo levemente severo, na opinião de Kal. As palavras eram duras, mas o diretor recompusera o ar sereno e uma expressão misericordiosa.

Entendendo a gravidade do problema, Kal ergueu seus olhos afogados em lágrimas presas na direção dos de Cacius e perguntou:

- O que vai acontecer comigo, professor?

- O mesmo que aconteceu ao professor Amadeus. – Kal engoliu em seco esperando a continuação – Receberá a maldição que lançou e nada mais. Não mandam garotos de treze anos para Warren. Não por usarem Sedructos. A maldição que vai lhe cair é o pior castigo que uma pessoa pode receber.

- Professor... – suplicou – Eu não queria... Juro...

- Acredito em você, Kal. – Cacius colocou a mão no ombro dele – Mas cometeu um erro tremendo. Foi ingenuidade, sim, foi, mas ainda assim será penalizado.

- Não há como trazê-lo de volta? – perguntou em última esperança.

- Não. – respondeu rapidamente – Nenhuma mágica no mundo é capaz de vencer a morte ou criar a vida. Manipular esta benção está muito além dos poderes de um bruxo. É muito superior, algo que não pertence a nós, mortais...

Kal choramingou, mas percebeu que aquela não era a hora. Precisava ser forte, já que passaria o resto dos seus dias sendo atormentado por Rick Wosky.

Do lado de fora da sala de Cacius, no corredor do quinto andar, Ralph, Guinevere e Thalis o aguardavam ansiosos. Thalis e Ralph que ainda estavam com os rostos pintados, estampavam largos sorrisos. Kal olhou para a figura dos três e pensou. “Tão ingênuos quanto eu...”.

- Você ganhou Kal! – exclamou Thalis – Você venceu Rick! Tadewi é campeã!

- A que preço... – resmungou Kal.

- Este, definitivamente, não é o comportamento típico de um campeão. – falou Ralph animado – Vamos comemorar! Estão todos indo para Tadewi comemorar nossa vitória.

- Fica quieto, Ralph. – disse abruptamente Guinevere percebendo o olhar vago de Kal.

- Mas o que...

- Ralph! Fica quieto. – repreendeu outra vez – O que Cacius lhe disse?

- Que eu matei Rick Wosky. – respondeu e imediatamente Guinevere levou uma das mãos à boca.

- Não pode ser... Aquele feitiço que você... – gaguejou Ralph.

- Sim. Foi a maldição da morte.

- Maldição da morte? – indagou Thalis.

- Quem o usa mata o inimigo, mas será atormentado pelo espírito da sua vítima. – explicou Kal.

- Quer dizer... Quer dizer que Wosky...

- Isso mesmo Guinevere. Ele vai me perseguir por toda a vida.

- Porque o professor Amadeus não nos advertiu logo sobre esta maldição? – questionou Thalis.

- Para que ele tenha com quem compartilhar da mesma dor. – respondeu Kal rispidamente.

- O quê? – espantou-se Guinevere.

- Amadeus Wosky também usou o Sedructos uma vez. – explicou Kal.

- Contra quem? – quis saber Thalis.

- Um garoto chamado Satler. Irmão do professor Tirso.

Outra vez Guinevere levara a mão à boca.

- E agora eu também estou fadado à maldição.

Meio segundo após Kal fechar os lábios, Daimon e Jonathan surgiram no final do corredor e se aproximaram deles dando longos passos.

- Kal! Kal! – gritava Daimon sacudindo os braços – Rick, Rick Wosky... Morto...

- Eu sei... Não precisava me lembrar que sou um assassino...

- Cristina, Amadeus, Escritor da Terra e os clérigos que estavam no campo reanimaram ele. – completou Jonathan vendo que Daimon não conseguira dar a notícia por completo.

- O que? Rick não morreu então? – perguntou Ralph.

- Rick Wosky está vivo? – insistiu Kal segurando Daimon pelo ombro.

- Sim, sim, está... Os clérigos disseram que você não é forte o suficiente para lançar um Sedructos mortal. – informou Jonathan – Mesmo tendo o Enid de Donnovan você não tem os poderes desenvolvidos, porque ainda é jovem, inexperiente...

- Sem detalhes Jonathan. – interrompeu Kal sentindo como se tivesse arrancado uma montanha das próprias costas.

- Viemos dizer outra coisa a vocês. – prosseguiu Daimon e Kal assentiu para que continuasse – Logo depois de todo o alvoroço com Rick e dos alunos de Tadewi saírem comemorando a vitória, eu e Jonathan vimos Nicolas Weny correndo para o pomar de maçãs acompanhado de uma pessoa, os dois estavam encapuzados, mas ainda assim o vimos.

- Como? – espantou-se Kal – O que ele quer fazer lá agora?

- Acho que tem alguma coisa a ver com a Página perdida. Ele estava com ela em mãos e mostrou para a pessoa do lado dele. Não tenho a menor idéia de quem possa ser, mas meu palpite me diz que devemos fazer alguma coisa.

- Confio no seu palpite, Daimon.

- Obrigado, mas o caso é que ele não está agindo da maneira normal que um historiador deveria agir. Ele veio para cá para responder alguns mistérios sobre o Livro de Merlin, encontrou uma resposta e agora não quer contar para ninguém. Não confio mais nele.

- Preciso ver esta página. – falou Kal decidido.

- Para quê? – pergunto Thalis.

- Preciso descobrir o que há nela.

- Kal, ele é perito! – continuou Thalis.

- Ele pode ser perito, mas não pode ver o passado.

- Hã? – Guinevere deu de ombros.

- Por que Merlin rasgaria o próprio livro? – indagou Kal já andando pelo corredor.

- No que você está pensando? – perguntou Ralph.

- Porque ela é perigosa! Cacius deve ter razão quando disse que nela não há algo de bom. Nicolas pode tornar-se perigoso se conseguir entender o significado da Página perdida.

- Faz completo sentido! – disse Thalis.

- Ok. Ok. Tudo bem, nós vamos com você, Kal. – falou Guinevere. Ralph, Jonathan, Thalis e Daimon balançaram a cabeça positivamente.

A Cidade dos Elfos estava de pernas para o ar. Pessoas corriam agitadas arrastando bagagens para todos os lados. Alguns alunos de Tadewi ainda davam gritos de campeões. Infelizmente, Kal perdera toda a comemoração em Tadewi, nem ao menos vira Malvina erguer a taça no meio do campo, ele nem chegara a ver a taça.

- A maioria dos alunos está indo hoje. Nem vão esperar pelos resultados finais. São os que têm certeza de ter passado. – falou Jonathan – Meus pais só chegam amanhã, se não iria também.

- Espero podermos ir para casa amanhã também, Kal.

- Ok, Daimon, agora precisamos encontrar Weny.

- Direto para o pomar. – disse Thalis.

Avançando entre a multidão o mais rápido que podiam, Kal, Ralph, Guine, Thalis, Daimon e Jonathan seguiram até o suposto lugar em que Weny estaria. Frente a frente com o bruxo Kal contaria a ele sobre os seu dom e em seguida pediria para olhar a Página perdida. Tentaria ver o passado do objeto e assim, julgaria se era certo confiá-la a Nicolas Weny. Desde o momento em que o bruxo pisara na cidade, Kal manteve um certo receio, o que foi reforçado com o pedido de Cacius para vigiá-lo. Ele devia muito a Cacius e agora saudaria a dívida.

Os seis continuaram a correr e empurrar quem quer que estivesse no caminho. Kal viu de longe Rick em uma cadeira de rodas, estava pálido e magro. Pensou em ir falar com ele, mas a hora era imprópria.

- Ele não teve pena de você dentro do campo. – falou Ralph percebendo que Kal diminuíra o ritmo – Agora temos algo mais importante a fazer.

- Tudo bem. – confirmou Kal apressando-se.

Eles já podiam sentir o cheiro das flores vindo do pomar. Ele estava a poucos metros. As folhagens surgiam e ficavam mais próximas. Lá estava. O pomar de maçãs no meio da floresta amazônica, com suas árvores carregadas de frutos vermelhos. Exceto uma. A árvore central e mais antiga de todos. A árvore que estava pintada na sala de Cacius, com Merlin sob sua sombra.

Thalis foi o primeiro a entrar no pomar, logo em seguida entrou Kal acompanhado pelos outros. Eles se esconderam por trás de um arbusto. A alguns metros dali estava Nicolas Weny sondando o lugar como se procurasse por algo. O bruxo parecia ser o mesmo de sempre, no entanto a pele estava levemente enrugada e não usava a tradicional gola de rufos. A pessoa que Daimon e Jonathan viram acompanhando o bruxo não estava ali.

- Olhem aquilo! – disse Kal apontando para o pescoço de Weny.

- É a... – gaguejou Jonathan.

- Flor-de-Lis! – exclamou Ralph – Ele era de Warren, prisioneiro!

Nicolas Weny averiguou se o pomar estava vazio, mas não percebeu que seis alunos do primeiro ano estavam logo atrás dele. O bruxo começou a remexer e a sacudir o corpo de um lado para o outro. Kal achou tudo aquilo muito familiar, mas preferiu ficar observando o que estava acontecendo.

- Transformação! – cochichou Daimon – Ele está se transformando...

Alguns segundos depois a criatura transformada virou-se na direção dos seis e soltou um forte grunhido de liberdade. No rosto do ser transformado estava impressa a imagem do bruxo mais procurado do país, Kricolas. Era a mesma face monstruosa que Kal, Ralph e Guinevere viram na carta enviada pelos pais de Ralph no começo do ano.

- Pelas barbas de Merlin! – O Sr. Weny é Kricolas! – espantou-se Daimon deixando-se cair no chão.

- Devemos avisar Cacius... – gaguejou Jonathan ainda incrédulo.

- Faça isso! – confirmou Kal.

- Então vamos! – disse Guinevere.

- Eu não vou. – disseram Kal, Ralph e Thalis juntos.

- Jonathan, vá e avise Cacius e a quem mais você vir, vou ficar também. – anunciou Daimon.

- Eu também fico então. – disse Guinevere logo em seguida.

Jonathan acenou com a cabeça e saiu apressado por entre as árvores. Kricolas estava em frente ao pé de maçã mais antigo do pomar, tocou o seu envelhecido tronco e suspirou profundamente com o se experimentasse o cheiro doce de uma flor. Ergueu um dos braços e alcançou o único fruto da árvore.

- O que ele está fazendo? – perguntou Thalis mesmo sabendo que ninguém o daria uma resposta.

Calmamente Kricolas mordeu a maçã e pareceu saboreá-la de forma inestimável. Depois de devorar todo o seu policarpo, a parte maciça e branca da maçã, Kricolas separou as sementes e admirou-as por um instante. Mexeu os lábios e as sementes voaram de suas mãos nodosas carregadas pelo ar.

Kal olhou para aquela imagem sem entender, mas para Kricolas parecia fazer sentido. Ele se aproximou de onde as sementes haviam caído na terra. Sorrindo ergueu o dedo indicador esquerdo e mais uma vez mexeu os lábios.

Uma densa nuvem surgiu a sua frente produzindo uma leve chuva. A água irrigou as sementes quebrando sua dormência. As raízes foram sugadas para o fundo da terra e as sementes brotaram imediatamente erguendo um pequeno e fino caule que rapidamente foi aumentando de tamanho e espessura, criou casca e ficar da grossura de um pescoço humano.

As primeiras folhas caíram rapidamente e em seguida flores de cinco pétalas foram brotando e em menos de cinco segundos estavam transformando-se em frutos. Mas não surgiram maçãs. Surgiram folhas de pergaminho.

- Deve ser o Livro de Merlin! – falou Kal desesperado – Não vou deixar Kricolas pegar aquele livro.

Kal levantou-se decidido. Iria queimar a árvore e impedir que Kricolas colhesse as páginas do livro mais poderoso do mundo.

Ele abandonou o esconderijo e Kricolas o encarou com um olhar de desprezo.

- Efesto! – disse Kal com a varinha apontada para a árvore que foi atingida pelas chamas e entrou em combustão – O Livro de Merlin jamais será seu, Kricolas!

A pequena macieira estava reduzida a um punhado de cinzas, no entanto, diferente do que se esperava, Kricolas mantinha uma aparência tranqüila e disse, finalmente:

- Fogo. O elemento que faltava!

3 comentários:

Anônimo disse...

otro lixo

Anônimo disse...

Cara, isso está parecendo um resumo de toda a historia de HP transfigurada. O torneio Tribruxo, a Armada de Dumbledore... Vc tentou mudar a imagem mas é impossível não pensar quando se lê um desses. As únicas coisas q eu tenho a dizer - se não fosse falta de respeito com vc por ter q ler um monte de palavrões q eu daria ao kra aí de cima: Magnífico e; Como o Kal é burro!!

Anônimo disse...

Mais uma coisa q eu esqueci: Ao cara de cima, "Porque vc leu s eacha isso um lixo hein, seu babaca?"