domingo, 28 de outubro de 2007

Capítulo 5 - Os terrenos de Avalon

Exatamente às sete e meia da manhã, Kal levantou-se, ainda meio embriagado pelo sono. Olhou em volta e viu que Daimon e Guinevere não estavam nas camas.

- Como gosta de dormir. – brincou Daimon.

- Vocês é que não gostam. – disse em um largo bocejo.

- Ah, bom dia, Kal. – disse Guinevere entrando no quarto – tomaremos café na escola. Encontrei com Ralph lá embaixo e ele falou que estará pronto em dez minutos.

- Por que a pressa? Ainda é tão cedo. – falou Kal em meio a outro bocejo.

- Depressa. – ordenou Guinevere – Só temos meia hora.

Kal, meio que cambaleando, levantou-se soltando impropérios e seguiu até o banheiro para terminar de se arrumar.

Quando voltou Guinevere e Daimon já estavam prontos e apenas aguardando-o. Ralph apareceu na porta alertando-os para a hora.

Desceram até o saguão e correram até a portaria. A Cidade dos Elfos nunca estivera tão lotada. Havia pessoas para todos os lados. No aeroporto Orelha Pontuda o movimento era nulo, graças ao decreto do Ministério.

- Como vamos chegar lá? – perguntou Ralph em pensamento alto.

- Andando. – disse Guinevere de forma simples.

Enquanto caminhavam pela multidão Kal viu Rick Wosky acompanhado de um homem que aparentava ser seu pai, era o mesmo homem de cabelos negros que buscara Tirso na floricultura Flor-de-Lis no dia anterior. O estômago embrulhou e Kal achou que iria regurgitar qualquer coisa que estivesse no seu estômago.

- Achei que Wosky era filho de chocadeira. – comentou Kal irônico.

Kal olhou mais uma vez para Rick e notou que ele estava cochichando com o suposto pai e apontando em sua direção. Sem mais importância, Kal acompanhou os três que já haviam se afastado de onde estavam.

Chegaram a um grande portão de ferro e pararam por um instante para contemplar a vista. O lugar por trás do muro comportava bem as pessoas que estavam na cidade, o chão gramado oscilava com o vento produzido por balões que estavam subindo cada vez mais alto. No meio de tudo aquilo havia uma pequena casa velha com apenas uma porta dupla e quatro janelas nas laterais.

- Eu não acredito que esta seja a grande Avalon – falou Kal com incredulidade.

- Não é a toa que eles pediram plantas. – concordou Ralph.

- Esta não é Avalon. – afirmou Daimon – Vocês não leram o bilhete? Está é a base de Avalon, ouviram? Base, o mesmo que terrenos baixos.

- Atenção, novatos! – irrompeu uma voz grave que logo foi percebida por todos, provocando grande silêncio – Atenção todos, meu nome é Luís Calvo, sou o responsável em levar os alunos com segurança até a escola. Os alunos que não são primeiranistas, por favor, dirijam-se aos balões. A maioria dos bruxos presentes obedeceu à ordem, sobrando pouco menos de quarenta alunos. Assim, Kal finalmente pode ver de quem era aquela voz.

Luís Calvo era pouco alto e relativamente careca – o que condizia com seu nome –, usava calças e jaqueta de couro, as roupas bem apertadas não escondiam sua barriga avantajada, era como se ele tivesse comido um bezerro inteiro no café da manhã.

- Muito bem, vocês me sigam. – os trinta e seis alunos, incluindo Kal, Daimon, Ralph e Guinevere seguiram o homem até nove balões prontos para decolar. – Entrem. – ordenou Luís com sutileza.

Kal e outros entraram sozinhos em um dos balões enquanto os demais oito balões já haviam decolado, no qual um deles estava Rick Wosky e ao lado dele uma linda garota loira de cabelos esvoasantes.

- Muito bem, parece que eu vou com vocês. – Luís entrou no balão em que estavam os quatro. – Como ouviram meu nome é Luís Calvo. E o de vocês? – perguntou.

- Meu nome é Kalevi.

- Ralph.

- Guinevere, e este é Daimon.

- É um prazer, garotos. – cumprimentou – Primeiro ano na escola, não é? Tenho certeza de que vão gostar de Avalon. Eu mesmo estudei por toda minha vida, e agora trabalho aqui. Para mim é uma honra trabalhar com toda aquela equipe, principalmente o professor Cacius, grande bruxo. O melhor do mundo na minha opinião. Tenho certeza de que vão gostar, irão aprender muito lá. As aulas são bem interativas, os métodos de ensinos são bem variados, sem dúvida o melhor ensino mágico do país. Não tenho dúvida disto. Vão gostar. Eu gostei...

Kal logo notou que Calvo era do tipo tagarela e seja lá onde Avalon estivesse, demorariam a eternidade até chegarem lá.

Após alguns minutos de subida, eles pararam. Todos os outros também haviam parado em frente a uma grande nuvem branca. Cinco alunos estavam montados em vassouras, voando em círculos sobre os balões.

- O que eles estão fazendo? – perguntou Kal.

- Aqueles cinco alunos foram escolhidos para abrirem os portões de Avalon. – respondeu Luís prontamente – Foram escolhidos porque apresentaram o melhor desempenho no ano passado. São chamados de Representantes, e são encarregados de proteger os portões. Eu já fui, por dois anos seguidos. Abrir os portões da escola é uma grande honra para qualquer aluno. Demonstra plena confiança. Ninguém entra na escola sem que os representantes queiram que entrem. Os portões são um ótimo sistema de defesa.

- Mas são apenas nuvens. – disse Ralph.

- Não queira se perder ai dentro. – falou Luís em tom de mistério.

Os cinco alunos agitaram a varinha novamente e o efeito produzido foi as nuvens se dispersando e abrindo caminho. Todos os nove balões recomeçaram a subir e a cada minuto que se passava despertava em Kal a curiosidade sobre como seria Avalon.

- Acalmem-se, já estamos chegando. – informou Luís.

- Chegando aonde? Só vejo fumaça. – disse Ralph.

- Avalon, onde mais? Vocês nunca viram fotos em jornais e revistas? Pelas barbas do precioso Merlin! Como podem? Vocês estão entrando no escuro. Não sabem como é uma das maiores escolas de magia do mundo! Bruxos de vários países dariam um braço para estarem no lugar de vocês. – disse Luís.

Minutos após Luís Calvo ter terminado o falatório, Kal ouviu alguns gritos de espanto vindo dos balões acima.

- Acho que chegamos. – falou Kal empolgado.

- Sem dúvida chegamos. – entusiasmou-se Luís.

Os balões subiram mais uns quinze metros até que finalmente eles puderam avistar a ponta de um telhado azul. Os minutos passaram e agora todos tinham a visão dinâmica de um grande castelo.

- Garotos, bem-vindos a Avalon! – disse Luís Calvo entusiasmado.

Avalon realmente merecia o título de grande escola, Kal ficou maravilhado com tudo aquilo. Uma construção de seis andares, com altas torres com telhados pontiagudos e de telhas azuis, combinando com o céu acima, aves vermelhas e alaranjadas voavam de um lado para o outro do terreno.

Os balões pousaram na grama de um vasto campo verde com algumas árvores de troncos grossos, como carvalho e outras um pouco mais finas como o Ipê. Os cinco alunos que haviam aberto os portões, agora estavam fechando-os, para que nenhum aluno sofresse qualquer tipo de acidente, apesar de toda aquela estrutura, ainda estavam em uma nuvem.

- Bem-vindos a Avalon, a maior instituição para jovens bruxos do país. – vangloriou-se Calvo, novamente.

- Não precisa tanto, Calvo. – disse uma voz já conhecida por Kal – Daqui a diante eu oriento os novos alunos. – Kal viu então a figura de Tirso – Meu nome é Tirso, serei professor de vocês este ano.

Tirso estava muito melhor vestido, usava uma calça de tecido leve e uma blusa de botões branca.

- Luís, leve os outros para o castelo.

- Sim, professor Tirso. – obedeceu.

Luís Calvo fez um gesto sugestivo para os alunos mais velhos, os quais o seguiram.

- Este ano vocês aprenderão de tudo o básico; farão coisas simples como levitar objetos e a si mesmo, utilizar a natureza em benefício próprio e até mesmo algumas poções. – falou Tirso – Mas antes que entremos no castelo, vocês devem conhecer os terrenos de Avalon.

Tirso caminhou entre os alunos, talvez procurando algum rosto conhecido. Quando passou por Kal, Tirso cumprimentou-o com um sorriso.

- Muito bem alunos, este é o jardim de Avalon. Vocês podem vir aqui quando quiserem, é muito bom ficar embaixo de uma dessas árvores em dias quentes. – Tirso atravessou o enorme jardim falando como seria bom ficar ali sentado entre árvores e flores.

Passaram longe do castelo e foram até os limites de um morro, onde o professor disse que era a parte baixa da nuvem de Avalon, havia cinco hortas com uma pequena cabana e um pequeno lago de águas verdes.

- Lá vocês terão as aulas de Relações com a Natureza, de vez em quando Biomagia e talvez Poções. – informou – Vocês também poderão tomar banho no lago. – essas palavras arrancaram leves sorrisos de alegria dos alunos. – Antes de irmos para o castelo alguém tem alguma pergunta?

- Por favor, se estamos em cima de uma nuvem, o que nos impede de cairmos ao atravessar os portões? – perguntou um garoto que estava ao lado de Kal.

- Qual é o seu nome? – perguntou o professor.

- Jonathan. – respondeu o garoto magricela.

- Muito bem, Jonathan, como você deve ter observado, as nuvens a nossa volta formam uma espécie de portão, que impede a qualquer um de entrar ou sair de Avalon. Mas o que sua cabeça está se perguntando é como uma nuvem pode nos impedir de cair? - explicou Tirso enquanto olhava a face duvidosa de Jonathan – A resposta é simples, embora, um tanto abstrata. Veremos na prática. – Tirso finalizou ou o discurso e caminhou de cabeça baixa como se procurasse algo, sem encontrar o que desejava ergueu-se novamente – Pedrusco! – o feitiço conjurou uma pequena pedra que caiu em suas mãos.

Tirso havia despertado nos alunos olhares curiosos.

Alguns poucos tentaram repetir o gesto, todos sem sucesso.

- Estão vendo esta pedra? Se a arremessarmos de encontro ao portão, alguém poderia me dizer o que aconteceria? – indagou o professor.

- Ela voltaria da mesma forma. – respondeu a figura irritante de Rick Wosky.

- Muito bem, Rick, seu pai irá orgulhar-se. – entusiasmou Tirso – Vejam como. – o professor arremessou a pedra, esta atravessou a nuvem e segundos depois estava de volta – Entenderam? É o que acontece com quem tenta sair. Tentar entrar já é outra história. - explicou - A nuvem também tem feitiços que sustentam todo o peso. Agora, vamos ao castelo?

Os alunos ficaram afoitos com a notícia, finalmente conheceriam o grande castelo de Avalon.

Do lado de fora, era possível vislumbrar um possível salão quadricular coberto por uma imensa abóbada de vidro e sobre ela passava uma ponte de pedra que interligava duas torres com mais de seis andares, uma delas ostentava um sino dourado em seu ponto mais alto.

Caminharam vagarosamente até as escadarias do castelo, na base das escadas havia duas estátuas de bruxos com as varinhas erguidas, uma de frente a outra, Kal não soube distinguir quem seriam aquelas figuras. Já avançando alguns degraus encontraram uma mulher, segundo o professor Tirso aquela era a Srtª. Skinger, também professora de feitiços.

- Peço desculpas por não poder acompanhá-los até o castelo, mas houveram alguns imprevistos – a Srtª. Skinger era realmente bonita, e parecia iluminada. Era loira e olhos castanhos bem esverdeados, trajava um belo conjunto de saia e blusa verde.

- Vamos entrar? – convidou o professor.

Cada vez mais agitados os alunos avançaram pela escadaria até finalmente atravessarem a grande porta de carvalho e adentrarem no magnífico saguão principal.

Mármore forrava todo o chão do qual emergiam pilastras que alcançavam a brilhante abóbada de vidro, refletindo todo o esplendor do castelo. As escadas de acesso ao segundo andar eram bifurcadas e entre elas uma outra grande porta de madeira, sobre a qual estava o majestoso símbolo de Avalon, a letra “A” sobre uma pilha de livros e uma coruja repousando sobre a letra.

- Bem, garotos e garotas, este é o castelo de Avalon! - exclamou o professor com tamanha empolgação que alguns alunos não puderam conter os ânimos. – Por favor, dividam-se. Garotos para o lado direito, garotas para o esquerdo. – ordenou o professor em alto tom.

Kal, Daimon e Ralph se apressaram para ficar entre os primeiros, mas Rick e outros dois garotos foram mais rápidos.

O professor Tirso e a professora Skinger puseram-se à frente das duas filas, masculina e feminina, respectivamente. Quando a porta de madeira entalhada revelou seu interior as duas filas moveram-se de forma calma e uniforme.

O refeitório era realmente gigantesco, comportava muito bem todos os alunos, professores e demais funcionários. Três grandes mesas estavam voltadas para a porta, duas nas laterais e outra que dividia o salão ao meio. O teto ficava muito mais alto que o do saguão de entrada. Apesar de não ser feito de vidro, o teto do refeitório tinha suas particularidades: era composto por galhos e cipós, como se dali tivessem a visão de uma floresta. Havia grandes aves morando no teto, em galhos onde estavam ajeitadas em seus próprios ninhos.

Os alunos estavam distribuídos entre as três mesas, uma quarta mesa atravessava o salão em sentido horizontal à frente das outras três, Kal pressupôs que aquela deveria ser a mesa dos professores, quase todos os assentos estavam ocupados, com exceção de dois, os quais deveriam pertencer a Tirso e a Srtª. Skinger.

A fila dos garotos andou pelo lado direito e a das garotas pelo lado esquerdo, ficando as filas entre a mesa do meio. Quando chegaram ao pé da mesa dos professores Kal reparou que adiante deles havia uma pequena mesinha com um livro e uma pena azulada flutuando a poucos centímetros.

Diante de todos uma figura pacata e silenciosa destacou-se na mesa dos professores. Rosto pálido e levemente enrugado, além da calvície acentuada, mas com longas tranças cor de prata e os olhos azuis brilhantes que refletiam todo o salão a sua frente.

- Vamos iniciar a cerimônia de abertura. – disse numa voz serenamente suave, que ecoou por todo o lugar – Meu nome é Cacius, professor de História e diretor da Escola de Magia e Feitiçaria de Avalon. – irrompeu – Recomeçamos outro ano letivo. Esta noite, os novos alunos escreveram seus nomes nas páginas de um artefato mágico muito antigo.

Uma corrente de impulsos nervosos correu pela cabeça de Kal e seus neurônios apontaram este artefato mágico como sendo o Livro de Merlin. Era de se esperar, já que estavam no antigo colégio dele. No entanto, outra corrente de impulsos nervosos quebraram o primeiro pensamento lembrando-lhe de que seu pai havia dito que o Livro de Merlin era uma lenda. E assim, Cacius prosseguiu com o discurso.

- O Diário de Merlin, é um pequeno livro de páginas em branco. Foi um presente ao grande bruxo pela construção da escola. Mas, Merlin nunca escreveu uma linha no diário. Dando a ele uma função muito mais importante. A de reunir alunos com características semelhantes para formar os três grupos de alunos que residem na Cidade dos Elfos. Os três grupos de estudo são: Tadewi, Angus e Katzin. Cada grupo possui um alojamento especial na Cidade dos Elfos. – olhares curiosos miraram os símbolos estampados nos uniformes, os alunos sentados às mesas traziam símbolos diferentes em seus uniformes. E as mesas eram específicas para cada grupo. – Cada bruxo ou bruxa procura algo em especial. Alguns vieram buscar a sabedoria dos livros e da vida. Outros têm ambição e vontade de superar os outros e a si mesmo. E há ainda aqueles que buscam poder de modificar, mudar o modo de enxergar o mundo para também mudá-lo. Não me compete identificar o que cada um de vocês deseja. Esta é a grande função do Diário de Merlin. – Cacius olhou para Kal e como se o diretor tivesse lido seus pensamentos continuou – Então alunos, aproximem-se, cada qual terá a sua vez. – Cacius apenas disse isso e voltou a se sentar. Os pássaros empoleirados no teto, por sua vez posicionaram-se em alguns galhos e começaram a cantar.

Nos versos que vamos cantar

Contaremos uma estória:

Merlin, o grande mago

Apareceu para ensinar.

Criou Tadewi, Angus e Katzin

Que juntas formam a escola de bruxos

Onde você está.

Excelente na magia

Perfeito a ilusão

Amigo de um bruxo

Que deu a vida para nos salvar

É Avalon onde você está!

Se você quer sabedoria, está no lugar certo

Se você tem ambição, seja bem-vindo

Se você quer mudar o mundo, encontrou seu lugar

Porque em Avalon você está!

Ao terminar de cantar as aves lançaram-se em um vôo rasante e explodiram transformando-se em penas coloridas.

- Bela canção este ano. - elogiou Cacius aplaudindo solitariamente, depois sendo acompanhado por alguns professores e então pelo resto da escola.

Antes que as penas caíssem, cada uma se transformou em um pássaro de tamanho menor e voltaram ao teto.

- Atenção Pasmags, a chamada. – disse Cacius olhando para o teto.

As novas aves agruparam-se nos poleiros e começaram a chamar cada aluno do primeiro ano para que se dirigisse a pequena mesinha e escrevesse o nome no diário.

- Jonathan Mc’Oz! – cantaram os pássaros em ré maior.

Jonathan aproximou-se timidamente do diário. Ele era o alvo de todas as atenções naquele momento. Depois de escrever o nome e largar a pena flutuante, os Pasmags gritaram para toda a escola:

- Angus!

A mesa central aplaudiu e saudou o novo colega.

- Tarcísio Sena!

Um garoto baixo e roliço correu até o diário e segundos depois, as aves gritaram dizendo que o garoto era de Katzin.

- Daimon Foster!

Kal olhou para o irmão que parecia ansioso por aquele momento. Daimon caminhou em passos curtos, não querendo demonstrar sua ansiedade. Escreveu no diário e esperou pacientemente a resposta dos pássaros.

- Parabéns Angus, ganharam um Foster!

A mesa do meio mal podia se conter tamanha a alegria. Kal não sabia porque tanta festa, mas em seguida ouviu dois alunos cochicharem.

- Ele realmente tem sangue de Foster, que honra.

Mais quatro alunos foram chamados até a vez de Guinevere.

- Guinevere Lingenstain! Belo nome...

A garota aproximou-se do diário e escreveu, então as aves gritaram:

- Tadewi!

Aquilo não havia soado bem. Daimon e Guinevere já estavam separados. O que ainda restava para Kal e Ralph? Não estava nos planos deles estudarem em grupos separados.

- Rick Wosky! Não faça nada que seu pai não goste.

Inicialmente, Kal não entendeu aquilo, foi quando Kal olhou para a mesa dos professores e viu o mesmo homem que estava com ele na Cidade dos Elfos. Rick foi até a mesa e assinou o diário. Olhou para o pai à mesa enquanto esperava as aves gritarem:

- Katzin!

Depois de muitos alunos terem sido chamados restou apenas Kal e Ralph.

- Ralph Scheiffer!

- Boa sorte. – desejou Kal.

Ralph subiu os quatro degraus até o diário e escreveu.

- Scheiffer, bem-vindo a Tadewi! – gritaram os pássaros e a mesa da esquerda aplaudiu. Ralph correu em direção a Guinevere.

- Kalevi Foster! Mais um...

Os olhos de todos engordaram esperando em qual grupo Kal seria encaixado. Ele parou por um momento diante do diário, viu as assinaturas de Ralph e Guinevere, na mesma página. Ali estavam as assinaturas de cada aluno de Avalon, pensou em folhear o livro, mas logo se deu conta de que todos estavam fixando-lhe os olhares.

Com poucos segundos Kal assinou e lia-se de forma legível, Kalevi Foster. Seu nome, agora estava gravado nas páginas imortais daquele livro.

Uma tensão inexplicável correu por todo o salão. As pessoas não mais olhavam para Kal e sim para os Pasmags no teto. Estavam ansiosos para saber aonde o Foster iria estudar e qual seria sua visão de futuro. Sabedoria, ambição ou mudança. Esta era uma resposta que até mesmo Kal gostaria de ouvir. O que era prioridade para ele? Talvez só os pássaros de Avalon pudessem responder. Os cinco segundos que separaram a assinatura de Kal ao canto das aves parecerem demorar muito mais que isso. Os nervos estavam prestes a explodir. A resposta das aves era uma bomba relógio com duração de cinco segundos. Assim que pronunciado o grupo a qual Kal pertenceria, o salão iria explodir em vivas e parabenizações. Os alunos esticavam os pescoços o mais alto que podiam para tentar lerem o bico das aves em busca de uma reposta mais rápida que os demais.

Finalmente depois de tanta expectativa as aves gritaram:

- Kalevi Foster, Tadewi!

Todos que estavam na mesa de Tadewi se levantaram para aplaudir o novo aluno. Antes de se sentar Kal aproximou-se de Daimon e este o abraçou.

- Não haverá problema. – animou Daimon. – Só não ficaremos no mesmo dormitório. – Kal então sentiu seu ombro molhar, era uma lágrima que Daimon deixara cair.

Kal andou até a mesa de Tadewi e Guinevere lhe deu um abraço forte e disse:

- Talvez não possamos estar sempre andando juntos, mas veremos Daimon sempre.

- Tem razão. Talvez fosse um pouco de exagero nosso. – disse Kal já se sentando.

- Foi uma bela cerimônia, uma salva de palmas aos novos alunos. – ordenou Cacius com sutileza, seguido de alunos e professores que aplaudiam fervorosamente – Agora vamos ao que realmente nos interessa.

Mais uma vez, como se comunicassem com Cacius por pensamento, as aves desceram em um rasante ao ouvir a última palavra do diretor. Voaram de encontro a todas as mesas com suas longas caudas brilhantes, por onde passavam surgiam copos, talheres comidas e bebidas diversas.

- Fantástico! – exclamaram alguns novos alunos.

Quase uma hora se estendeu até o fim do café da manhã, quando Cacius chamou a atenção de todos novamente.

- Depois de tanta alegria neste momento devo-lhes informar que as aulas iniciam-se ainda hoje. – olhares perseguiram o diretor até a mesa. – Vocês terão tempo de descerem até seus alojamentos na Cidade dos Elfos para arrumarem as malas. Depois subam para o almoço e finalmente as aulas serão iniciadas. Alunos, sigam os Representantes, que este ano são: Tâmisa Spineli e Diogo Mendes, em Tadewi, Karina Bak e Brigit Lemos, em Angus, Sônia Maria em Katzin.

Kal viu Daimon acompanhar todo o grupo de Angus. Quando a mesa do meio ficou completamente vazia Cacius permitiu que Sônia levasse os alunos de Katzin.

Tâmisa e Diogo formaram os alunos em filas, que logo foram desfeitas pelos próprios alunos.

- Por favor, todos me acompanhem. – ordenou Diogo. Era um garoto alto e magro e tinha o cabelo bem desalinhado.

Tâmisa, uma garota de cabelos castanhos e desgrenhados, ficou todo o percurso muda, apenas balançando a cabeça para algumas respostas simples.

- E então, o que vocês estão achando de Avalon? – perguntou Guinevere a Kal e Ralph.

- É realmente muito bonita. – elogiou Ralph.

- E você, Kal, o que acha? – insistiu a garota.

- Ainda não acho nada. – respondeu calmamente.

Continuaram seguindo o grupo até os portões de Avalon e entraram nos balões acompanhados por um garoto chamado Pedro Andrade, que também era do primeiro ano e fora escolhido para estudar em Tadewi.

- Disseram-me que Tadewi é o melhor grupo! Alguns grandes bruxos se formaram aqui. Eu quero ser guarda de Warren, e acho que em Tadewi vou alcançar isto. A propósito, meu nome é Pedro.

- Olá, Pedro. – cumprimentou Ralph – Mas precisa muito mais do que estudo para ser guarda em Warren. Precisa também de muita coragem.

- Isto eu tenho. Muita disposição também.

- Ótimo. – concordou Ralph.

Chegando na Cidade dos Elfos, Diogo e Tâmisa conduziram os alunos para trás da Pousada das Fadas e seguiram por uma trilha, que parecia um corredor feito de plantas, até duas estátuas de bruxos usando chapéus pontiagudos e com as varinhas erguidas e cruzando-se nas pontas.

- Existe um feitiço-senha que vocês devem dizer toda vez que quiserem entrar na República. – informou Diogo.

- Assim. – disse Tamisa, finalmente, encostando a própria varinha na das estátuas –Clavícula! – após isso, uma areia brilhante desceu como cascata colorida e entre os braços dos dois bruxos petrificados surgiu uma estreita passagem que dava direto a um estreito corredor oval feito de pedras que terminava em um salão semicircular com poltronas bem macias e tapetes felpudos estampados com o dragão símbolo de Tadewi.

- Sigam-me. – disse Tâmisa se adiantando pelo recém aberto caminho.

- Por favor não atrasem, entrem, entrem. – ordenou Diogo entrando logo em seguida – Esta é a República de Tadewi. Estamos no salão principal, aqui vocês poderão descansar depois das aulas e fazerem os deveres de casa. No Castelo há um salão como este para intervalos depois do almoço, ou uma possível aula vaga. Fica no quinto andar, encontrarão estátuas idênticas as que estão lá fora e podem usar o feitiço-senha. Agora, as escadas levam aos dormitórios e aos banheiros, masculino do lado direito, feminino do lado esquerdo. Não queremos que ninguém desrespeite as regras. – deixou claro – Todos desçam para os dormitórios, arrumem seus pertences e antes do meio-dia embarquem novamente nos balões para que possam assistir suas primeiras aulas.

Depois de terem sido liberados, Kal e Ralph subiram para os dormitórios masculinos e Guinevere seguiu na outra direção. Kal e Ralph encontraram suas bagagens juntos as de Pedro Andrade, que já estava muito bem acomodado.

Após alguns minutos de muita animação, conversa e bagunça, Kal e Ralph retornaram ao salão de Tadewi. Kal sentou em uma poltrona grande e bem confortável e observou todo o lugar com muita calma enquanto esperavam por Guinevere. O primeiro metro da parede era de madeira, lisa, como se fosse um rodapé gigante, e o restante era um tipo de pedra polida. Pouco se via do chão já que era quase todo forrado com tapete azul cor do céu, exceção para a parte onde ficam os sofás, um tapete laranja e felpudo. Na parede do centro da sala havia uma lareira que se estendia em pedra do chão ao teto. Janelas de vidro com um largo parapeito e grandes portas de madeira rústica davam um toque medieval a todo o cômodo.

- Incrível o lugar, não? – disse Guinevere descendo, frenética, as escadas do dormitório.

- Muito. – falou Ralph sorrindo.

- Acho que posso ficar aqui o dia todo... – completou Kal ajeitando-se na poltrona.

- Só acha mesmo. Porque temos aula em duas horas! – grunhiu Guinevere.

Faltando pouco mais de quinze minutos para o meio-dia, os alunos de Tadewi começaram uma correria contra o tempo. Saíram às pressas do salão e seguiram até a base de Avalon. Luís Calvo os esperava dentro do seu próprio balão.

- Vamos alunos, subam! Subam! Apenas cinco em cada balão por favor! Subam! Temos balões para todo mundo! Todo ano a mesma coisa...

Pedro Andrade e uma outra garota embarcaram com Kal, Ralph e Guine no balão, que logo começou a subir. Enquanto subiam, conversavam sobre como seria seu primeiro dia de aula e como fora a chegada em Avalon.

- Eu achei o professor Tirso muito simpático. – falou Guinevere.

- Realmente, parece ser uma boa pessoa. – completou Kal.

- Não foi com ele que você conversou na floricultura? - indagou Ralph.

- Sim. – respondeu serenamente.

- Sobre o que conversavam? – perguntou novamente Ralph não escondendo sua curiosidade.

- Ele me contou sobre o significado da Flor-de-Lis. – disse Kal.

- Como assim? – perguntou Guinevere completamente perdida no assunto.

Ralph olhou para Pedro e a outra garota, estavam bem à parte da conversa dos três, então decidiu continuar.

- Acontece que os prisioneiros de Warren são marcados com a Flor-de-Lis, para que possam ser reconhecidos em qualquer lugar. – explicou Ralph. – Como é o caso de Kricolas.

- Mas Tirso acha que Kricolas pode ocultar a marca com algum tipo de feitiço. – disse Kal.

- Meu pai disse que uma vez marcado, sempre marcado. Mesmo aqueles que possuem os níveis mais altos de magia não conseguem apagá-la. – concluiu Ralph.

- Acho que estamos seguros em Avalon. Seria impossível ele passar pelos portões. – disse Guinevere olhando para cima e vendo os Representantes abrirem os portões da Escola.

- E por que você acha que Kricolas viria atrás de nós? – perguntou Kal.

- Porque tanto você quanto Daimon tem sangue da família Foster. – retrucou – Motivo não falta a ele para querer destruir qualquer descendente do mago Foster.

- Mas já faz novecentos e noventa e oito anos. – disse Kal em tom sarcástico.

- E foram anos apodrecendo em uma prisão. – disse Ralph – Porque você acha que ele fugiu?

- Comida ruim? – brincou Kal.

- Isso é sério. Mesmo que estejamos protegidos, tia Amanda e tio Adonis estão expostos ao perigo. – bravejou Guinevere.

- Não seja tão radical, Guine. – falou Kal.

- Está bem, já chega por hoje. – cortou Ralph

Kal, Ralph e Guine desceram dos balões e despediram-se dos acompanhantes. Enquanto caminhavam até o castelo, os alunos foram recepcionados com uma belo vôo dos Pasmags.

- O que são esses Pasmag? – indagou Ralph curioso

- Difícil dizer, nunca vi um desses antes. – falou Kal.

- É porque vivem apenas em regiões de florestas tropicais e gostam de fazer ninhos na copa de árvores altas. Como nosso refeitório. – explicou Daimon que havia surgido ao lado de Kal.

- Andou pesquisando? – perguntou Guinevere.

- O livro que peguei na biblioteca do Thom me tem sido bastante útil. O livro também diz que as aves estão fortemente ligadas a tudo que é relacionado a Merlin.

- Se vocês não repararam, as aves pareciam adivinhar o que Cacius estava pensando. – comentou Ralph.

- Você está querendo dizer que Cacius tem algo de Merlin? – questionou Kal.

- Talvez tenha algum parentesco ou sei lá. – concluiu Ralph.

- Acho que Merlin não teve filhos. – disse Daimon – De qualquer forma não vim para isso. As aves cantaram a história de Merlin e a construção de Avalon. Disseram que Merlin foi grande amigo de um bruxo que deu a vida para nos salvar. Agora, qual o bruxo que vocês conhecem que deu a vida para nos salvar?

- Foster! Que pergunta boba! – exclamou Kal.

- Ótimo, pelo menos vocês viram isto. Mas eu quero chegar na parte da ilusão. “Perfeita a ilusão” diz o verso – falou Daimon.

- Projeção Astral? – arriscou Kal incerto.

- Bingo!

- Mas o que tem a ver uma coisa com a outra? Ilusão, mundo astral... – insistiu Ralph.

- Na verdade é um plano, plano astral. – corrigiu Daimon – Onde eu quero chegar é que, talvez Merlin tenha algo a ver com Projeção astral.

- Em que sentido? – perguntou Guine.

- Não sei! – respondeu Daimon francamente.

- E você veio para colocar pilha na gente? – irritou-se Ralph – Não tem gente para encher a paciência em Angus?

- Na verdade, todo mundo é muito certinho. Disciplinado...

- Você está no lugar certo então. – falou Kal.

- Bem, acho que vou pra minha mesa. – disse Daimon, e só agora Kal tinha reparado que já estavam dentro do castelo – Vou ver com o pessoal se eles sabem alguma coisa sobre isso.

A cada minuto em Avalon, tudo ficava mais claro para Kal. Daimon fora escolhido para ficar em Angus porque era um sabe-tudo, e porque se interessava em aprender o máximo de coisas que conseguisse. No entanto, ele não sabia ao certo porque ficara em Tadewi, talvez por falta de escolha. Ele era bem o oposto de Daimon, quanto aos estudos, e nunca pensou em ambição. É, deveria ser este o motivo. Afinal, o que um garoto com pouco menos de treze anos poderia mudar?

Cacius chegou acompanhado dos outros professores, neste instante todos os alunos já estavam acomodados em suas respectivas mesas. O diretor ergueu um dos braços em gesto de silêncio, obedecido, e discursou:

- Agora, que todos vocês estão devidamente instalados, devo comunicar aos alunos do terceiro ano, que teriam aulas de Maldições, a aula foi suspensa por hoje. O professor Amadeus Wosky teve que resolver um determinado assunto com certa urgência. Portanto, após o almoço, dirijam-se à sala de Feitiços, que seria a terceira aula. Aos demais, confiram seus horários de aula correspondentes ao ano e república no salão de entrada. Tenham um bom banquete. – depois de pronunciar-se, Cacius gesticulou para os Pasmag, e esses desceram agitados e sobrevoaram as mesas servindo aos alunos e professores.

Kal pegou uma fatia de carne e um pouco de salada e deu-se por satisfeito. Ralph também não teve ânimo para comer, e Guinevere nem ao menos encostou no prato e talheres, dizia ser sua dieta. Kal sabia que o motivo da falta de apetite era a ansiedade do primeiro dia de aula em Avalon.

Quando Cacius levantou-se pela segunda vez, anunciou o fim do banquete e pediu aos alunos que se dirigissem ao salão de entrada sem correria e em seguida fossem para as salas de aula.

- Como vamos saber onde ficam as salas? – questionou Ralph em silêncio.

- Para aqueles que não conhecem o castelo, basta perguntar aos alunos Representantes. – falou Cacius logo em seguida como se tivesse captado a pergunta no ar.

Kal e Ralph se entreolharam assustados com a resposta adivinhativa do professor, mas logo se repuseram e Guinevere os acompanhou até Tâmisa.

- Por favor, como vamos saber onde ficam as salas de aula? – perguntou Kal.

- Que aula vocês terão? – perguntou a Representante de Tadewi.

- Hã... ainda não olhamos. – respondeu sem graça.

- Me acompanhem. – pediu a garota, que seguiu para fora do refeitório.

Seguiram-na até o saguão de entrada e aproximaram-se de uma das paredes onde estavam os cartazes com as aulas de cada turma.

- Aqui. Aulas do primeiro ano, República: Tadewi – História, Geomagia e Feitiços. – informou Tâmisa – História está no quinto andar. Existem duas armaduras guardando a porta da sala de aula. Elas não movem as pernas, mas, caso tentem cortar a cabeça de vocês, basta dizer que Cacius está vindo.

- Simpáticas, não... – gemeu Ralph.

- Não há com o que se preocupar. – disse Tâmisa tentando aliviar.

Depois que a garota saiu em direção ao refeitório, Kal, Ralph e Guinevere seguiram até a escada bifurcada e começaram sua longa subida ao quinto andar.

- Olhem o lado bom, podemos conhecer mais o castelo! - exclamou Ralph.

- Por que aqui não tem elevador? – resmungou Kal.

- Outro igual ao do Hospital Nautilos? Prefiro ir ao centésimo andar pela escada! – disse Guinevere sarcasticamente.

- Puxa, esse elevador te impressionou mesmo, Guinevere. – disse Ralph rindo-se enquanto sumiam de vista pelo corredor.

Um comentário:

Anônimo disse...

o que eu estava procurando, obrigado