quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Capítulo 1 - O Milagre Foster

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Naquela noite chuvosa de dois de junho as luzes estavam acesas em plena madrugada na suntuosa mansão da família Foster. Havia uma grande onda de inquietação provocada pelo nascimento do primeiro herdeiro de Adonis e Amanda Foster no pequeno lugarejo de Vila da Cachoeira. Tão pequena era a vila que mal acomodava seus quase cinqüenta habitantes e a cachoeira com fluxo invertido que dera nome ao local. A vila acomodava uma pequena escola primária, umas trinta casas feitas com pedras muito bem empilhadas e telhados simples de madeira. A mansão da família Foster e sua tão venerada fábrica de vassouras eram as maiores riquezas do lugar.

Quando os moradores da vila precisavam de qualquer tipo de suprimento se dirigiam à cidade mais próxima, Dunas. Nela os habitantes da vila podiam abastecer seus armários, receberem tratamento médico em um luxuoso hospital e caso quisessem permanecer poderiam repousar na Pensão da Tia Nana.

No entanto, nada em Dunas poderia atrair mais a atenção daqueles habitantes do que o nascimento do primeiro filho da tão respeitada família Foster.

Eram quase três horas da madrugada quando o estrondoso choro do primeiro herdeiro quebrou o silêncio aflito na pequena vila. Nascia Kalevi Foster. O menino de pele rosada, cabelos enegrecidos e olhos castanhos não era muito diferente de um bebê qualquer. Mas havia acontecido algo que nunca se vira antes na terra dos bruxos, um choro no momento em que nasceu. Naturalmente, bruxos não choram ao nascer, mas porque seria diferente com Kalevi?

Por toda a vila circulou a notícia de que o menino Foster havia chorado assim que veio ao mundo. Uma prova completa de que não era bruxo.

- Kalevi Foster não é bruxo? Pobrezinhos dos pais...

Tais comentários abalaram a comunidade mágica, uma comunidade que possuía seu próprio governo, com a finalidade de manter em segredo a existência de bruxos em tempos modernos. Estes membros importantes do governo se apresentaram aos Foster para desejar-lhes os pêsames. Presidente, ministros, senadores e até os guardas de uma das maiores prisões do mundo, Warren. A penitenciária havia sido fundada, também, pela família Foster há vários séculos para aprisionar um homem que causou grande mal à comunidade mágica em outros tempos.

Mesmo em meios a tantos pesares, Adonis e Amanda Foster passaram a amar o filho como se fosse um bebê bruxo qualquer. Para eles não importava se o filho era capaz de fazer cadeiras levitarem. Importante era saber que Kalevi Foster nascera saudável e bonito. Mas, em Vila da Cachoeira, os habitantes continuavam a espalhar notícias maldosas sobre a condição de Kalevi Foster. O menino, filho de uma tradicional família mágica, conhecida e respeitada há séculos pelos seus grandes feitos, manchara tal nome ao nascer sem dons mágicos.

Kalevi raramente ia para fora dos portões da mansão, com o ou sem os pais. Não porque estes tinham qualquer tipo de vergonha em relação ao filho, e sim pelo fato de não suportarem que outros bruxos, ocasionalmente, soltassem comentários maldosos. Vez ou outra ainda culpavam Amanda e Adonis por terem gerado um filho como Kalevi. Nem ao menos mencionavam o nome do menino com medo de que o caso se repetisse em suas famílias.

Um ano mais tarde, a luz na mansão Foster ficara acesa mais uma vez na madrugada. Desta vez toda a imprensa estava em Vila da Cachoeira, não porque era mais um bebê nascendo e sim porque era um Foster. Adonis e Amanda ganhariam um segundo herdeiro.

Nunca, na família Foster, casais haviam conseguido um segundo filho. Toda a descendência da família limitava-se a ter um único herdeiro bruxo. Não por capricho, e sim por um motivo desconhecido.

Talvez porque Kalevi não era propriamente um bruxo, foi possível o nascimento de seu irmão, Daimon Foster.

Amanda, que era uma mulher alta, cabelos negros como o dos dois filhos, olhos azuis cintilantes, pele fina e muito branca casara-se com Adonis Foster ainda nova. Seu marido um homem também alto, magro e com aspecto cansado teve sua vida completamente mudada depois do nascimento dos filhos. Até então, sua vida se limitava a pequenas idas até sua própria casa. Ele passava a maior parte do tempo resolvendo problemas dentro da fábrica.

Kalevi cresceu e realmente não apresentou dons mágicos. Já seu irmão, aos três anos de idade, mesmo sem controle algum sobre o que estava fazendo, surpreendia a todos com objetos voadores e colheres entortadas.

- Que prodígio! – diziam os habitantes da vila – Tão diferente do irmão imundo!

Adonis e Amanda não passaram a amar Daimon mais do que Kalevi. Para os dois não havia diferenças.

- Não se preocupe meu querido, eles não estão falando a verdade. – dizia Adonis ao filho toda vez que um estranho excomungava o menino.

O grande mistério que girava em torno da Família Foster era o seu passado, um passado tão distante e mesmo assim tão presente.

Há exatos 988 anos, em uma época em que bruxos e humanos podiam conviver em perfeita harmonia e sem qualquer discriminação, do resultado de um matrimônio entre um bruxo e uma mulher humana nasceu o menino o qual foi dado o nome de Foster. Ele simbolizaria uma nova era, iniciaria com ele uma nova linhagem de bruxos. Ainda criança, Foster teve como mestre o poderoso mago Merlin, que o ensinou grande parte do seu conhecimento e do seu caráter. Merlin ensinou a Foster que não havia tantas diferenças entre bruxos e humanos que os impedissem de conviverem juntos.

Diferente deste pensamento harmônico, Donnovan, conhecido por todos como o Cavaleiro Negro, reuniu aqueles que também eram contra a convivência pacífica entre as duas raças. Donnovan e seus aliados acreditavam na perfeição da raça mágica e que a mistura de ambas resultaria em um ser imperfeito.

Suas idéias se expandiram pelo mundo e grandes conflitos se iniciaram. Humanos eram mortos a todo instante por bruxos inescrupulosos que seguiam a fio as idéias do Cavaleiro Negro.

Merlin, com ajuda do já rapaz Foster, decidiu por criar uma escola de magia onde qualquer um pudesse aprender. Bruxos ou não, a magia estaria ao alcance de todos. A escola havia sido construída em cima de uma nuvem, de modo que os humanos que não mais aceitavam a magia, nada poderiam fazer para impedir que ela fosse praticada.

Mas, parecia impossível reunir novamente as duas raças. Donnovan havia vencido. Apenas um obstáculo o separava de conseguir o que realmente desejava, a escola de Merlin, Avalon.

Tudo parecia perdido para Merlin, que não contava com o sacrifício de seu discípulo. Por mais caráter e coragem que o jovem bruxo apresentasse, não parecia ser realidade o que ele estava prestes a fazer.

Foster seguiu até o lugar em que Donnovan estava reunido com todo o seu exército e pelo que conta o tempo, Foster disse apenas uma palavra. Uma palavra que foi capaz de mudar toda a história do mundo. A palavra era um feitiço que incrivelmente destruiu o grandioso exército e o próprio Donnovan.

- Perpétuo! – explicava Merlin – Um poderoso feitiço de sacrifício. Com isto, o jovem Foster abdicou da vida para que nós e seus descendentes tivéssemos um mundo para morar.

Mesmo com o sacrifício, humanos e bruxos jamais retornariam a conviver em união. Os humanos haviam fundado vilas distante das florestas e dos campos, lar dos bruxos. Fundaram cidades e a magia foi esquecida com o passar das gerações.

Foster, ao que se sabe teve apenas um filho, Garner Foster, foi o nome que recebeu. Ao completar seus vinte e um anos, Garner fundou a prisão de Warren, com o propósito de prender o único homem do exército de Donnovan que sobrevivera. Kricolas.

Kricolas era filho de um vampiro chamado Thomas com uma bruxa que morreu no dia do nascimento do filho. Thomas era um vampiro adorado e respeitado por todos. Para quem o conhecia, seu único defeito era o fato de ser pai da aberração Kricolas, que nos tempos grandiosos de Donnovan vangloriava-se de ser considerado o braço direito do Cavaleiro Negro.

Ninguém sabia ao certo como Kricolas pode escapar do feitiço de Foster. Sendo o braço direito de Donnovan ele deveria estar lá, pronto para a maior batalha que o exército de seu mestre infrentaria.

Garner Foster não se importava com isso. Apenas pretendia prender Kricolas de forma que o sacrifício de seu pai não fosse em vão. Deixá-lo solto seria um risco. Ele tinha enormes poderes e conhecimento mágico quase tão grande quanto o de seu mestre. Não seria de total espanto se ele pudesse trazer da morte o Cavaleiro Negro. No entanto não seria nada fácil para Garner prender alguém tão poderoso como Kricolas. Para tanto ele juntou os melhores bruxos que conhecia e formou a primeira Guarda Armada de Warren.

Em uma missão de busca, a Guarda aprisionou Kricolas e o trancafiou de modo a não poder usar nenhum de seus poderes, seja de vampiro ou de bruxo.

Kricolas permaneceria aprisionado como um cão enjaulado, esquecido até mesmo pelo seu pai e odiado eternamente pelos seus inimigos.

Através dos séculos, viver no mundo criado pelos bruxos era reconfortante. Sem guerras ou catástrofes, eles dedicavam-se as suas atividades preferidas, voar em vassouras por campos abertos ou observar os humanos, que com o passar do tempo foram tornando-se cada vez mais complicados.

Eram tão arrogantes e indecisos às vezes, ora podiam ser inescrupulosos e exploradores, ora podiam ser gentis e amáveis. Criaram armas de grande destruição e guerras3.

Devastavam a natureza como se fosse algo simples e insignificante. Vez ou outra, os bruxos mais radicais castigavam esses humanos seriamente por cometerem tais atrocidades. Mas em geral eram apenas sustos com cabeças voadoras e esqueletos falantes.

E assim se passou o tempo até a modernidade. Quando bruxos começaram também a serem corrompidos e perderam a pureza de antes. Não precisavam mais de um bom motivo para odiar os humanos, o fato de existirem e forçá-los a se esconderem era o suficiente para que em um descuido fossem magicamente castigados. Mas tais fatos ainda eram insignificantes prestes ao que estava para acontecer.

Em outra noite chuvosa, quando os pequenos Foster ainda tinham quatro e três anos de idade, outro grande evento abalou a comunidade mágica. A fuga do seu primeiro prisioneiro. Neste acontecimento morreram alguns dos principais guardas de Warren, incluindo a família Lingenstain, amigos íntimos de Adonis Foster.

Os Lingenstain tinham uma filha, da mesma idade que Kalevi, seu nome era Guinevere. Depois de perder os pais nesta fuga de Kricolas a garota foi morar com os Foster.

A mansão Foster possuía algo em torno de uns setenta cômodos, incluindo um imenso salão, onde a família recebia seus convidados em noites de festas. Os grandes portões de ferro traziam um grande “F” como brasão da família. Os jardins com rosas de todas as cores e perfumes, chafarizes, e até mesmo um modesto lago de águas rasas habitado por lindas espécies de peixes.

Havia uma pequena trilha de pedras desalinhadas a ser seguida dos portões até a varanda de entrada para a mansão.

A pequena Guinevere atravessou a porta dupla de salgueiro nos braços de Adonis. A menina tinha os cabelos castanhos e olhos esverdeados, bochechas rosadas e nariz fino. Amanda carinhosamente recebeu Guinevere em seus braços com um forte abraço. Mentalmente lamentou pela menina ter perdido os pais ainda tão nova.

- Oi tia Amanda! Porque você está chorando? – perguntou a menina inocentemente – Olhe tia Amanda, era da minha mãe.

- É uma bonita varinha, querida. – falou ela admirando a varinha de madeira entalhada na mão da menina.

- Quer fazer um pedido? – perguntou Guinevere docemente.

- É claro. – Amanda sabia que o objeto nas mãos da pequena Guinevere era uma varinha mágica, mas também tinha a certeza de que seja qual fosse o pedido que fizesse ele não iria se realizar. No entanto, o desejo em sua mente era tão constante que a qualquer oportunidade ele surgia em sua cabeça.

Num suspiro profundo Amanda fechou os olhos e desejou.

- Fiat, fiat, fat. – terminou a garota – seu pedido vai ser atendido tia Amanda.

- Obrigado querida, tenho certeza que será. – mentiu inocentemente Amanda.

Guinevere correu pelo salão a procura de Kalevi e Daimon para brincarem, Adonis então aproximou-se da esposa a lentos passos como se pensasse seriamente no que se passava na mente de Amanda.

- O que você pediu? – perguntou ele já prevendo uma resposta.

- Se eu contar o desejo não se realiza. – brincou.

Adonis abaixou de leve a cabeça e sorriu, retornando o olhar à Amanda, disse:

- Eu não preciso perguntar ou olhar dentro de sua mente para saber que o pedido envolve Kalevi.

Amanda debruçou-se sobre o marido e desatou a chorar.

- Tem sido tão difícil... é impossível, essas pessoas não entendem...

- Não se importe com o que elas dizem. – acalmou Adonis.

- Eu não me importo com o que as pessoas pensam ou falam de mim, mas tenho pena por ele... vai ser tudo complicado quando ele crescer... – completou em um soluço – Eu não queria que passasse por isso...

- Kalevi não é diferente de outro garoto da sua idade, e eu repito isto diariamente. Ele corre, brinca e o principal, ele é feliz, feliz por ter um irmão e uma mãe adorável...

- E um pai amoroso... – completou a frase Amanda.

- Kalevi vai precisar desta família quando os problemas piorarem. – falou Adonis com uma voz sedosa.

- Nós estaremos aqui, com certeza. Mas, e se não adiantar? Quer dizer, ele terá sempre o nosso apoio e a nossa ajuda para resolver essas eventuais questões... porém, não estaremos sempre ao seu lado. Ele vai querer viver Adonis. E quando o Daimon e Guinevere forem estudar magia fora da cidade, ele vai ficar muito triste por não poder ir junto...

- E neste momento estaremos aqui. Para ficar ao seu lado. Eu não me importo se Kalevi é um bruxo ou não. Ele é o meu filho e isso me basta. – disse o homem decisivo.

- Eu penso como você Adonis, não me importa a condição dele, mas e ele? O que pensa sobre ser um garoto sem dons mágicos? Você acha que ele não se sente diferente? – questionou Amanda.

- Sim, certamente ele se sente estranho, mas nós temos que fazê-lo se sentir bem. Ou pelo menos não se martirizar por isso. Não é culpa dele...

- E de quem é? Nossa?

- Não! – falou Adonis como se tivesse ouvido uma ofensa – É claro que a culpa não é nossa, mas eles vão dizer que é, compreende?

- Acho que sim Adonis... é tudo tão complicado. Como isso pôde acontecer a nós? A Família Foster?

- Amanda, só porque nossa família é tradicional não quer dizer que tenha que ser assim para sempre, além do que, somos uma mistura entre a raça humana e bruxa.

- Mas isso nunca aconteceu não é verdade? – balbuciou a mulher que ainda chorava.

- Não, isto nunca aconteceu na Família Foster, assim como nenhum casal da família gerou dois filhos. – falou Adonis sorrindo graciosamente para a esposa como se a agradecesse.

- É verdade. Temos dois filhos lindos...

- E agora temos que cuidar de outra pequenina, que também vai nos dar muito orgulho.

- Pobrezinha, tenho tanta pena por ter perdido os pais, ainda mais daquela forma.

Ao que se sabe, o casal Lingenstain foi amargamente torturado por Kricolas antes de morrerem. A fuga foi abafada pelo governo, a fim de ganhar tempo para recapturá-lo. O que não seria mais uma tarefa tão fácil, já que, boa parte dos guardas de Warren havia morrido ou estava gravemente ferido.

Quando ninguém mais falava da fuga de Kricolas, os habitantes de Vila da Cachoeira puderam retornar a sua vida rotineira. Kalevi, Daimon e Guinevere passaram a estudar em um pequeno colégio local, onde aprenderam os ensinamentos básicos necessários para estudar magia.

Magia era algo que o pequeno Kalevi Foster não possuía com seus seis anos de idade. Na sala de aula, sentado ao lado dos demais alunos ele era apenas um observador. Não se sentia mal por isso. Seus pais o incentivavam a assistir às aulas mesmo que não fossem produzir algum tipo de resultado.

Os demais alunos o ridicularizavam, chamando-o de aberração e a mulher que lecionava, Srª. Ana Lara, nada fazia. Para ela era ultrajante ter um aluno como Kalevi em sua turma. No entanto não poderia fazer nada, pois a escola mantinha-se graças a generosa ajuda que a Família Foster e sua imensa fábrica de vassouras oferecia.

Certa vez, no horário da saída, Kalevi se aproximou da professora, e esta procurou se afastar ao máximo como se ele portasse uma doença incrivelmente contagiosa.

- Professora porque não posso fazer magia como os outros?

A mulher comprimiu os lábios e sentiu o sangue gelar. Para ela já era uma grande ofensa tê-lo como aluno, maior era a insolência em fazer uma pergunta tão estúpida quanto aquela. Sentiu-se tentada em lhe responder que ele não passava de uma aberração. Mas cinicamente virou seu olhar podre em direção ao menino para dizer.

- Pergunte a seus pais.

Chegando em casa, como de costume recebidos por um abraço carinhoso de seus pais, Kalevi interrompeu o beijo do pai e perguntou subitamente.

- Porque não posso fazer mágica como o Daimon e a Guinevere, papai?

Adonis sentia sempre um mal estar quando alguém comentava sobre o porquê de seu filho mais velho nascer sem dons mágicos. Sentiu-se ainda pior ao ouvir isso do próprio Kalevi.

- Por quê? Isto te incomoda? Ser diferente não é legal?

- Não é isso... mas gostaria de me parecer um pouco com os outros garotos...

- Mas você se parece. Não se incomode com o que eles dizem meu querido. Você pode ser um garoto diferente aos olhos deles, mas não aos de sua família. – dizia Adonis. Sua sinceridade era tamanha que podia ser percebida e capaz de tranqüilizar até mesmo um garotinho de seis anos de idade.

Certa vez, quando Kalevi voltava da escola, alguns garotos mais velhos o chamaram para brincar com eles. Embriagado de tanta felicidade por ser chamado pela primeira vez para participar de uma brincadeira, Kalevi seguiu os garotos até um pequeno bosque que fazia fronteira com a cidade, o Bosque de Vinho. O bosque era na verdade uma pequena área de mata fechada onde se dizia que algumas criaturas mágicas, como o Curupira e Saci andavam pela noite se embriagando com vinhos que haviam sido furtados no mundo dos humanos.

Naquele final de tarde, no entanto, não havia Curipira ou Saci, apenas cinco garotos aparentemente indo brincar no bosque.

- Hei Kalevi, já esteve aqui antes? – perguntou um garoto alto e com o rosto cheio de espinhas.

- Não. – respondeu sentido-se deprimido por ser o único ali que não conhecia o bosque.

- Já viu alguma criatura mágica rondando por aqui? – perguntou agora um garoto quase tão pequeno quanto Kalevi.

- Não. – e ele desejou poder responder mais do que isto.

- Conhece ou já ouviu falar em alguma trilha por aqui? – perguntou o primeiro garoto.

- Não. – o interrogatório começava a deixar Kalevi nervoso. Tantas perguntas ao mesmo tempo e ele não podia dizer nada que não fosse o monossílabo.

- Bem garotos, vamos nos embrenhar um pouco pelo mato para apresentá-lo ao nosso amigo Kalevi. – o menino alto e cheio de espinhas parecia ser o líder do grupo, porque lançou-se primeiro na mata e todos o seguiram sem nenhum tipo de contestação.

Kalevi tentou gravar na mente o caminho, mas aparentemente todas as árvores eram iguais...

Eles andaram por uma pequena trilha e a todo instante Kalevi olhava para os lados a procura das tais criaturas mágicas que diziam habitar o bosque, que seria silencioso se não fosse pelo cantar dos passarinhos e alguns pequenos macacos que saltavam de galho para galho.

Em determinados momentos Kalevi achava estar sendo observado, mas eram apenas sandices que sua cabeça fantasiava por estar em um ambiente inexplorado por ele.

Passando por uma clareira eles finalmente chegaram a um tipo de nascente que saia debaixo de algumas pedras.

- Como vamos brincar? – perguntou Kalevi quando finalmente pararam.

- Como ou com o quê? – disse maldosamente o que parecia ser o líder do grupo.

Logo após isso, os quatro garotos fecharam um círculo em volta de Kalevi e tiraram as varinhas do bolso apontando para o menino com um gesto ameaçador.

- Você sabe que ninguém gosta de você na vila não é? – falou um garoto com uma voz esganiçada.

- Nem os seus pais devem suportar sua imundice... – disse o menino alto cuspindo com nojo.

- É mentira! – berrou Kalevi – Eles gostam de mim sim!

- Eles vão até nos agradecer por sumirmos com você, moleque nojento! Aberração!

- Vá com calma Petro, deixa um pouco para nós também... – disse um rapaz loiro e magricela.

- Pode deixar Tiego, hoje nós vamos acabar com o pirralho... – disse Petro.

Em um gesto rápido de varinha Petro murmurou algo que deveria ser um feitiço. No instante seguinte Kalevi estava flutuando a pouco mais de um metro do chão.

- Vamos brincar... – Petro começou a girar a varinha fazendo com que Kalevi rodopiasse no ar. Os outros meninos a sua volta davam altas gargalhadas e faziam menção em atacá-lo.

- Deixa pra mim Petro, deixa pra mim. – implorava Tiego.

Atendendo ao pedido, Petro cancelou o feitiço e o menino foi ao chão com um enorme baque.

Dez segundos depois, ele era novamente erguido no ar e estava mais uma vez rodopiando, Tiego arrastava-o de um lado para o outro deslizando no ar. Em determinados momentos Kalevi tinha a impressão de que sua cabeça iria bater na árvore mais próxima.

- Porque não usa mágica Kalevi? – debochavam os outros – Tem vergonha?

- Esqueceram que é uma aberração? – ria Petro.

Kalevi ficou erguido no ar até que o sol finalmente se pôs e os garotos saíram em disparada com medo de que as criaturas mágicas do bosque viessem ver o que estava acontecendo.

- Socorro! Socorro! – berrava Kalevi pedindo ajuda.

O vento sibilava entre as árvores provocando um estranho ruído que fez o corpo de Kalevi arrepiar em cima da pedra em que fora colocado de forma que não pudesse sair dali sozinho.

- Alguém! Papai! – berrava cada vez mais alto.

A noite chegou e ninguém aparecera para tirá-lo dali. Em determinados momentos Kalevi pensou que Petro e seus amigos estavam certos dizendo que a Família Foster estaria melhor sem ele. Kalevi começou a imaginar uma grande festa na mansão em que todos comemoravam seu desaparecimento. Seu pai Adonis e sua mãe Amanda rindo alegremente enquanto dançavam uma valsa ao som da Orquestra Harmônica dos Bruxos Paulistas.

- Não! Eles não são assim! – recuperou-se Kalevi – Eles vão me procurar...

Kalevi permaneceu ali por toda a noite, não que seus pais não tivessem notado sua ausência, mas sim porque Petro e os outros lhes haviam dito que viram Kalevi nadando no pequeno rio que beirava Vila da Cachoeira.

- Vocês têm certeza de que o viram lá? – perguntou Adonis aflito que já havia conferido o lugar e não encontrara qualquer sinal do garoto.

Depois de amargar a noite inteira a procura do pequeno Foster, Adonis e Amanda começaram a pensar no pior. Kalevi ainda era muito pequeno e jamais passara tanto tempo fora de casa. Ninguém mais na vila importava-se com a segurança do garoto, pelo contrário, pareciam aliviados que o menino tivesse sumido.

- Talvez agora, possamos viver com um pouco mais de tranqüilidade sabendo que aquele imundo sumiu! – falavam abertamente os habitantes.

Adonis comunicara a pequena guarda de Vila da Cachoeira o desaparecimento do seu filho, mas eles não pareciam muito interessados em procurar pelo menino. Talvez até não o tivessem feito caso não se tratasse de Adonis, pois sua grandiosa fábrica de vassouras pagava metade do salário dos guardas.

A Família Foster tinha grande influência no mundo todo pela sua tradição e pelo grande ato que seu antepassado, Foster, havia feito pela comunidade mágica. Sacrificar-se para acabar com Donnovan e seu exército garantiu a sua família grande poder de influência, permanente até os dias de hoje.

- Kalevi! – chamava afoito Adonis – Kalevi!

Guinevere e Daimon resolveram também sair a procura do irmão com Amanda. Daimon carinhosamente apelidara o irmão de Kal, quando era um bebê por ter dificuldade em pronunciar o nome por inteiro.

- Kal! – gritava ele.

- Kalevi! – Amanda berrava do outro lado.

Dentro do bosque o pequeno e adormecido Kal escutava seu pai chamando-o na fronteira com a floresta.

- Papai! – tentou gritar o menino já sem forças.

Por fim, Adonis resolveu embrenhar-se na mata a procura do filho.

- Ele não está aí! – gritou Tiego, apavorado, que acabara de sair de casa – Nós o vimos no rio...

- Eu vou encontrá-lo! – disse Adonis confiante adentrando no bosque.

Kal continuava debruçado sobre a pedra com a cabeça muito dolorida pelos rodopios do dia anterior. Mesmo assim continuou chamando por seu pai.

A voz do garoto atravessou o bosque em eco e foi capitada pelos tímpanos atentos de Adonis.

- Kal! – clamou já exausto de tanto procurar.

Minutos depois, com a varinha iluminando o caminho e atento a direção de onde viera o som, ele encontrou o filho estirado em cima de uma pedra grande e rústica.

- Kal, meu filho.

Adonis, assim como Petro e Tiego, ergueu a varinha e o fez levitar tirando-o da pedra e aterrissando em seus braços.

- Está tudo acabado... – falou o pai em um abraço emocionado.

Kal contara como fora parar lá e Adonis foi tirar explicações com a família dos garotos, que agiram como se a “brincadeira” dos filhos fosse algo inocente e sem importância. Na verdade, não se importaram que fosse Kal o alvo da brincadeira.

Alguns meses depois, o mundo dos bruxos foi atingido por outro grande acontecimento. Sete humanos haviam sido assassinados em um massacre que não deixou marcas ou suspeitos.

- É ele Adonis. – disse um homem gordo e de testa franzida.

- Acalme-se, Mardo, acalme-se. Os guardas de Warren já foram acionados? – perguntou o Sr. Foster ao Ministro da Defesa Mágica, um homem baixinho, gorducho de nariz fino e comprido e rosto muito enrugado.

- Certamente, no instante em que soube da notícia mobilizei meus homens ao mundo humano.

Mesmo com a derrota de Donnovan, os bruxos tiveram que se esconder dos humanos por vários motivos. Estes eram, agora, em maior número e a maioria dos bruxos eram pacíficos em sua essência. Preferiram se esconder em lugares onde humanos não poderiam chegar a enfrentá-los. Outro fator também era o fato de os humanos serem cheios de complicações e certamente se aproveitariam da mágica para desfazê-los.

- O problema é que as coisas estão acontecendo do outro lado. Kricolas está no mundo dos humanos, e não penso que seria natural para eles verem homens desfilando em suas ruas com capas e varinhas na mão perguntando por um vampiro sanguinário. – argumentou Mardo sarcasticamente – teremos que ser pacientes.

- Concordo plenamente, senhor Ministro, mas penso que a situação é crítica e necessitamos da maior ajuda que precisarmos. Por acaso você já informou Cacius sobre os novos acontecimentos?

- Tenho certeza de que aquele velho já sabe de tudo... – resmungou Mardo – mas ainda não se pronunciou para mim. Talvez não queira se intrometer...

- Tenha certeza de que este velho quer se intrometer, Sr. Ministro.

Um homem velho e calvo acabara de surgir no tapete da sala de visitas na mansão Foster. Ele era alto e magro, com uma longa barba que quase alcançava a altura dos joelhos. Era levemente calvo, mas ainda assim preservava algumas finas tranças desalinhadas e grisalhas. O rosto fino e enrugado trazia uma expressão alegre que era amplificada em seus olhos azuis.

- A... prof. Ca-Ca-Cacius... – gaguejou Mardo – Como está?

- Muito bem, graças aos belos elogios que recebo todos os dias. – disse sorrindo para Adonis.

- É um prazer recebê-lo aqui professor.

- É uma pena que não possa dizer o mesmo para você em meu castelo, Adonis. No entanto compreendo sua situação. Com uma esposa e filhos tão bonitos em casa fica difícil se ausentar. – falou Cacius – E como estão os meninos?

- Ah, estão muito bem professor. Falando neles olha quem está aí.

Kal acabara de abrir a porta da sala de visitas, parecia procurar por Daimon e Guinevere. Vendo que não estavam ali fez menção em sair, mas Cacius o chamou de volta.

- Venha aqui Kalevi.

Ele atravessou a sala e no instante que passou por Mardo este se virou para não contemplá-lo. O menino se aproximou de Cacius que se abaixou para poder olhá-lo nos olhos.

- Está tudo bem com você? – perguntou Cacius.

- Tudo. – respondeu timidamente.

- Tome isto, para você, Daimon e a pequena Guinevere. – Cacius enfiou a mão no bolso da capa que estava usando e tirou três doces entregando em seguida a Kalevi.

- Obrigado, senhor. – agradeceu o garoto e saiu correndo até a porta.

- É um bom garoto, Adonis, um bom garoto. – elogiou.

- Desculpe interromper a conversa dos dois, mas temos um fugitivo assassino à solta... – disse Mardo em um pigarro.

- O certo, mas Kricolas não é apenas um assassino. Ele não matou aquelas pessoas para nos lembrar que continua livre. – disse Cacius mudando sua voz para um tom mais sério.

- Não? – duvidou Mardo – Porque outro motivo este louco assassinaria sete pessoas inocentes?

- Para um ritual. – respondeu Cacius de modo conclusivo.

- Como assim? Não entendo. – falou o Ministro.

- Mardo, foram sete assassinatos no mesmo lugar, sete é o número mágico. Acredito, por enquanto prefiro não afirmar, que Kricolas tenha feito algum tipo de ritual. – falou Cacius.

- Ritual? Que tipo de ritual? – indagou Mardo.

- Como havia dito, não posso afirmar nada, mas passei apenas para dizer que devemos nos reunir imediatamente. Por isso vim aqui perguntar ao Adonis se poderíamos fazer esta reunião aqui mesmo.

- Certamente, professor, mas porque não no seu castelo? – perguntou Adonis.

- Não creio que seja conveniente. O castelo, apesar de bem escondido despertaria muita curiosidade das pessoas da Cidade dos Elfos... talvez não seja muito interessante despertar a curiosidade deles e não seria seguro abandonarmos esta região em um momento em que Kricolas está tão audacioso.

- Ah, sim, compreendo... – falou Mardo se perguntando como seria possível fazer um encontro internacional de bruxos sem despertar atenção.

- Então ficamos combinados, em dois dias estaremos nos reunindo no seu salão. – disse Cacius - Agora preciso me despedir, terei que fazer uma longa viagem. Até mais, lembranças a sua mulher Adonis.

O Prof. Cacius que estava olhando pela janela voltou à Mardo e Adonis então girou a capa e desapareceu.

- Bem, Cacius já se pronunciou a você Mardo. E então? O que pretende fazer? – interrogou Adonis.

- Acho que... acho que vou seguir os conselhos dele. Vamos reunir todos os bruxos.

“Reunir todos os bruxos” na verdade significava, para Mardo, reunir todos os bruxos do alto-escalão mundial, os chamados Alta Patentes. Seria impossível reunir todos os bruxos do mundo em um mesmo lugar. Seriam chamados os mais importantes e poderosos para esta reunião que teve como lugar de destino o esplendoroso Salão da Família Foster.

Dois dias separaram a conversa de Adonis, Mardo e Cacius do tão aguardado encontro de bruxos.

Naquela manhã, vários deles apareciam sem qualquer aviso no meio da sala de visitas, o que começava e irritar Amanda que levava enormes sustos com homens de capas negras e botas sujas surgindo do nada em seu tão limpo assoalho.

- Eles ao menos poderiam limpar! – cochichava ela depois que saiam.

Kal, Daimon e Guinevere estavam atentos a todos que chegavam. Era como assistir a um grande show de mágica. Os bruxos e bruxas podiam se transportar de um lugar para outro esfumaçando. Eles literalmente sumiam como fumaça e surgiam no lugar desejado do mesmo modo. O barulho de algo se rompendo divertia os três.

Aos poucos o salão da casa se enchia de grandes nomes, estavam ali os mais poderosos bruxos da atualidade, um deles que chamou a atenção dos garotos não entrou esfumaçando, e sim pela porta da frente falando em uma língua que os três não conheciam. Era alto e magro com uma barba cumprida e grisalhas e os olhos azuis escondidos atrás de um óculos em meia-lua. De longe, Kal pensou que era o homem que lhe havia dado doces dois dias antes, mas percebeu o erro ao vê-lo de óculos e sem as tranças.

Após receber o bruxo pessoalmente, Adonis saíra da mansão e retornara minutos depois acompanhado do Prof. Cacius que foi cumprimentado com um forte abraço.

- Parece que estão todos aqui hoje. – informou Adonis.

- Vamos precisar da maior ajuda possível para fazer o que pretendemos. – Prof. Cacius parecia levemente cansado, mas ao invés de procurar um lugar para se acomodar em uma cadeira preferiu ir ver as três crianças que estavam sentadas ao chão observando os bruxos que chegavam e Amanda resmungando quando um deles sujava a casa.

- Bom dia, meninos. – cumprimentou Cacius – Não tenho doces para vocês hoje, mas prometo trazer alguns da próxima vez que vier aqui.

Dizendo isso, Prof. Cacius avançou pelo corredor e alcançou a sala onde todos os outros estavam. Ele parecia um bruxo muito querido, pois no momento em que entrou foi alegremente saudado por todos. Estendiam-lhe a mão para um cumprimento e ofereciam-no uma taça de vinho.

- Não acho que seja prudente nos embriagarmos ainda tão cedo. Talvez, poderemos comemorar uma honrosa e justa vitória. – falou ele alegremente apanhando a taça e depositando-a em uma das mesas.

O clima na mansão dos Foster era de extremo otimismo, no entanto ninguém comentava o porquê de tanta alegria. O que deveria ser diferente já que um assassino estava à solta e matando humanos como se fossem seu alimento diário.

Às nove horas as portas do Salão se fecharam. Ao que parecia ficariam assim por muito tempo. Ninguém poderia entrar ou sair. Amanda levou os garotos a um passeio pela cidade, que agora estava deserta, já que todos os habitantes passaram a se esconder em suas casas após o ataque feito por Kricolas.

Apenas outras três crianças estavam pelas ruas da pequena vila brincando, lançando feitiços e encantando objetos. Kalevi se ofereceu para brincar também, mas foi rejeitado pelos garotos.

- Você não tem uma varinha! – diziam eles – Mas se quiser podemos brincar pelo bosque. – diziam maldosamente referindo-se ao episódio que ocorrera há alguns meses.

Soluçando o menino aproximou-se da mãe e sentou em seu colo. Onde ficou até quando deu a hora do almoço, observando o movimento ondulante e continuo das árvores com o vento e o alegre cantarolar de algumas aves.

Levantaram e retornaram para o silêncio da casa. Ela nunca esteve tão cheia nem tão silenciosa. É como se os bruxos ao atravessarem a porta de acesso ao salão fossem sendo engolidos por um buraco negro.

Na mesa do almoço os quatro se sentaram para saborear um bife com salada que Amanda acabara de preparar. Depois de terminarem de comer e arrumarem a mesa, eles sentaram-se na sala onde Guinevere e Daimon competiam para ver quem conseguia produzir mais faíscas com a varinha. Kalevi assistiu à brincadeira da janela onde passou o resto da tarde olhando para os jardins da mansão.

- Observando a grama crescer meu querido? – perguntou Amanda ao garoto que respondeu negativamente com a cabeça – Então o que está fazendo?

- Nada. – respondeu – Estou desejando ser igual aos outros...

- Meu filho... não precisa ficar triste por causa disto... pensei que tivesse esquecido tal coisa. – falou a mãe.

- Como posso esquecer? Eles me lembram todo tempo... – disse Kalevi olhando para Daimon e Guinevere que continuavam a brincar.

Amanda não tinha mais o que argumentar. Sentia o mesmo que seu filho, não poderia forçá-lo a acreditar que era igual a todo mundo quando na verdade não era. Mas poderia consolá-lo sempre que precisasse. E este momento era um deles.

- Kal, você não precisa ser igual aos outros para ficar perto deles. – disse Amanda acariciando os crespos cabelos do menino – Elas só são assim porque você é único. Único Kal, e isso as incomoda, mas vai chegar o dia em que vão se acostumar.

- Não vão, mamãe, eu sei que não vão... – choramingou Kal.

- Não se incomode com o que disserem. Não se incomode mesmo. – falou Amanda calmamente.

- Tudo bem, tudo bem...

Quando o sol finalmente desapareceu no horizonte, Amanda e Kalevi se levantaram da janela para ver os bruxos que estavam saindo do Salão.

Eles pareciam exaustos. Assim que atravessavam as portas acenavam com a cabeça para Amanda e esfumaçavam em seguida, deixando apenas uma quase imperceptível nuvem de fumaça colorida.

- Acabamos, Amanda! Nós conseguimos! – Kal olhou para o seu pai que acabara de emergir da pequena multidão de bruxos e apressara-se em vir falar com a esposa – Tudo bem com você, meu filho?

Kalevi sorriu para o pai e lhe abraçou carinhosamente, mas então desmaiou...

Kalevi estava em um vasto gramado, caminhando, não havia nada. Pareciam quilômetros e quilômetros de uma grande área gramada. O menino cruzou o primeiro morro e o segundo, terceiro... não encontrou nada a não ser mais grama. Já cansado ele sentou ao sol, pois não havia árvores ou qualquer outra coisa que gerasse sombra. Um vento forte soprou na direção de Kalevi e ele se sentiu invadido por uma forte onda de energia, o vento foi aumentando gradativamente até um ponto em que Kalevi não pode suportá-lo e foi arrastado por ele.

Durante metros o menino voou com o vento por uma nova área, agora seca e plana. A areia o atingia provocando alguns cortes leves, o vento soprava cada vez mais forte e Kalevi começava a rodopiar. A frente havia um abismo que era para onde o vento estava sendo sugado, como água pelo buraco da pia ao se tirar o tampão. O menino começava a ficar zonzo e lembrou-se do dia em que fora enfeitiçado por Petro e sua turma no bosque e rodopiou por muito tempo. Quando adentrou por este grande e escuro abismo já caia em alta velocidade, ainda empurrado pelo vento, ouviu uma voz o chamar.

- Kalevi... você... resta-me você...

Então outra voz o chamou.

- Filho... você está bem?

Kal parara de cair no abismo e abrira os olhos.

Estava deitado em sua cama com várias pessoas em volta encarando-o. Havia uma bruma azul embaçando sua visão. Esfregou os olhos e reconheceu como sendo seus pais as pessoas que estavam ao seu lado direito, do outro, estavam Guinevere, seu irmão Daimon e o Prof. Cacius. Pareciam preocupados. Adonis virou para o garoto e o abraçou, o gesto se repetiu com Amanda.

Daimon e Guinevere o cumprimentaram com um vasto sorriso e o Prof. Cacius com um aceno de mão.

Depois de despertar por completo, seus pais e Cacius chamaram-no para uma conversa em um cômodo fechado da sala. Por mais que Daimon e Guinevere revelassem-se curiosos nenhum dos três permitiu que eles entrassem na sala enquanto conversavam com Kal.

- Há uma semana você teve uma forte febre. Ficou inconsciente por dias – começou Adonis. Kal surpreendeu-se com o tempo em que ficou inconsciente. – sabemos que você é novo demais para entender isto, mas não podemos fingir que nada diferente aconteceu.

Kal sentia-se cada vez mais curioso e começava apalpar o próprio corpo em busca de algo diferente como um caroço ou algum osso fraturado, mas não havia nada anormal.

- Como você bem sabe filho, não nasceu com dons mágicos... – continuou Amanda com lágrimas nos olhos – Mas você foi abençoado...

Kal permanecia confuso naquela rede de informação e seu rosto pedia por uma explicação mais objetiva.

- Kalevi Foster, acredito que isto agora te pertença! – o Prof. Cacius aproximou-se do pequeno menino com a mão esquerda em um dos bolsos, mas desta vez ele não tirou um doce, e sim uma varinha. Uma varinha mágica, como a de seu pai e de qualquer outro bruxo. Cacius abaixou-se e deu um leve beijo na testa do menino e recuou quase que instantaneamente ao sentir uma ardência nos lábios. Colocou os dedos sobre a boca, mas estava normal, olhou de volta para o menino de modo inquisitivo e então voltou a sorrir.

Kalevi segurou a varinha e admirou-a por um tempo. Era sua, mas para quê? Ele não tinha como usá-la. Olhou de Adonis para Amanda e então para Cacius a procura de uma resposta significativa.

- Agora de manhã, quando entrei em seu quarto, você estava flutuando em cima da cama, filho. – falou Adonis não se agüentando de felicidade.

- Você é um bruxo, Kalevi. – enfatizou Prof. Cacius.

- Quer dizer que... eu sou normal? – perguntou o garoto.

- Você sempre foi normal, meu filho. A diferença é que agora você tem poderes. – disse Adonis contemplando o filho que segurava a varinha.

- Quer dizer que posso brincar com os outros? – perguntou ele novamente.

- Sim, sim você pode.

Kalevi saiu pela porta saltando de alegria e correu até Daimon e Guinevere mostrando sua varinha como se fosse um novo brinquedo.

- Prof. Cacius, como ele pode ter adquirido poderes? - indagou Adonis depois que o filho saiu.

- Eu não sei... – respondeu o professor meio que sem vontade.

Enquanto o jovem menino brincava pela vila com seus novos poderes, a notícia se espalhava pelo mundo como a luz no vácuo. Na manhã do dia seguinte, estava nas primeiras páginas de revistas e jornais mágicos, nas conversas de bares e de salas de aula. Todos comentavam sobre o que havia acontecido ao pequeno Kalevi, no pequeno lugarejo chamado Vila da Cachoeira. Todos discutiam o milagre Foster.

11 comentários:

Karol_Funny disse...

muito legal
:)

vou ler ate o fim

Anônimo disse...

lixo do pior tipo...copia transfigurada de harry potter...q merda

Anônimo disse...

primeiramente nao li todos os capitulos so li este, mas pelo que pude entender vc criou outra estoria de magia mas nao tenho muita certeza c vai ter sucesso ou reconecimento. como diz o outro e quase uma copia de Harry Potter e ate tem o Dumbledore no meio. MAs apesar de tudo vc escreve mto bem. e a estoria tem sentido. PArabens!
se quiser conversar comigo a respeito do q disse e so me caontatar no msn: jorginho_135@hotmail.com.

Anônimo disse...

Muito boa a história. Você escreve muito bem. :)
Sempre vão ter pessoas que dirão "Cópia do Harry Potter!11!1", de fato, foi baseado na de J.K, certo?
Mas, podemos dividir a literatura em dois tempos: Antes e Depois de Harry Potter.
É realmente muito difícil escrever/inventar/bolar contos de bruxos totalmente novos depois de Harry Potter. J.K Rowling criou uma saga extensa e que abrange quase que todos os aspectos bruxos. E como fez MUITO sucesso, muitos lembrarão de Harry Potter. Essa lembrança, provavelmente, ofuscará o brilho de próximas histórias. Mas também poderá servir de matéria-prima para outras... ^^

Anônimo disse...

acho q ainda ha um grande espaço no universode hp. poque nao poderá haver outrsestorias espero qasua sejaaceitapor uma boa editora. continui assim vc escreve muito bem. naoliga para qos invejosos dizem

Unknown disse...

Legal. ^^'

Thiago disse...

Primeiramente, tenho que dizer que não cheguei nem a ler todo o primeiro capitulo.E agora o comentário: Sinceramente, eu não gostei da sua estória. Não é pelo fato de ser uma "cópia" de Harry Potter, pois realmente gostei da ideia de se basear no mundo já inventado por J.K. Rowling para escrever uma estória diferente. Eu não gostei do estilo que a estória se prosseguiu, achei que ficou um pouco infantil. Mas sei que é realmente um trabalho muito grande escrever uma história, então ainda assim desejo que tenha sucesso.

Anônimo disse...

tu tem estilo
e por ser bastante novo, sinceramente acho q vc vai ter muito sucesso
sua história é bem montada, e sua escrita é fluente
se tu mudar a orientaação e partir para uma história mais original, esse sucesso vem muito mais rapido
valeu!

Anônimo disse...

Gostei do 1° capítulo, pode até ser baseado em Harry Potter, mas tem grandes diferenças. Gostei também pelo fato de tu teres citado personagens do folclore brasileiro, o Saci e o Curupira, não sei se foi apenas nesse capítulo, ainda vou ler os outros, mas adorei, deixa os leitores curiosos para saber o que vai acontecer...
Parabéns!!!

Anônimo disse...

Gostei muito mesmo! :)

negah disse...

achei legal!!!!!!! e concordo c\ o Luiz Rozalez em relação a comparação c\ harry potter, parabéns vc escreve mt bem....