tag:blogger.com,1999:blog-54292876005581879732023-11-16T07:13:20.334-08:00Kal FosterPegando carona no universo mágico criado por J. K. Rowling, André Fantin dá vida ao jovem bruxo Kal Foster, que ao ingressar na escola de Magia de Avalon descobre que os mistérios ao redor de sua existência mágica vão muito além do presente e têm uma forte ligação com o passado honroso de sua família e com o maior inimigo da comunidade mágica.
Esta obra possui registro de direitos autorais na Biblioteca Nacional.
Após lerem, deixem um comentário. =)André Fantinhttp://www.blogger.com/profile/07818980780167800572noreply@blogger.comBlogger39125tag:blogger.com,1999:blog-5429287600558187973.post-1449482438750140882011-12-15T18:08:00.000-08:002011-12-15T18:15:33.551-08:00Por onde anda André Fantin?Olá, pessoal! Primeiro quero pedir desculpas mais uma vez pelo sumiço e pela interrupção do segundo livro no blog.<br /><br />Hoje recebi um e-mail muito legal de um leitor (valeu Messias) me perguntando se eu não iria mais postar, ou o que tinha acontecido. Este e-mail foi bem mais delicado do que um que perguntava se eu estava vivo e está empatado com o de uma professora que disse ter usado Kal Foster em sala de aula. Realmente muito bom ver esse reconhecimento todo vindo de vocês. Reconhecimento este que eu venho tentando recompensar há muito tempo com a publicação do livro impresso.<br /><br />Parece que agora as chances são reais. Como eu disse em algum comentário aqui no blog, eu inscrevi Kal Foster na Lei Rouanet (uma lei de incentivo a cultura do governo federal) e ele passou =D<br /><br />Em janeiro tiro férias do trabalho e vai ser o tempo que preciso para conseguir os patrocínios. A partir daí ele será vendido a preços módicos. Bem módicos. E o segundo livro já entra na linha de produção, também pela lei.<br /><br />Eu criei um site (kalfoster.com) onde vocês podem deixar o e-mail de vocês cadastrado para serem notificados sobre quando o livro estiver a venda.<br /><br />Muito obrigado pelo carinho e apoio de vocês todos estes anos aqui acompanhando isso que está sendo uma verdadeira saga, e bora torcer =D<br /><br /><br />AbraçosAndré Fantinhttp://www.blogger.com/profile/07818980780167800572noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-5429287600558187973.post-12387927481539241892010-07-26T06:02:00.000-07:002011-02-01T17:26:02.335-08:00Livro à venda<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDX9IbeeVp6P2pHQb0BAcbKBcfuosN89CFf5jfWID4tKDPGQuiEY_4RB3zbRAeCElYQ7u0ckJZ5PzGNdK3HIxhD5kQNvhjzd1pGqXJ7geS8yfp_SEtCNAsWVvybhHC3YKwc3gvZJvSCaho/s1600/Kal+Foster.jpg" onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5498204678424516530" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDX9IbeeVp6P2pHQb0BAcbKBcfuosN89CFf5jfWID4tKDPGQuiEY_4RB3zbRAeCElYQ7u0ckJZ5PzGNdK3HIxhD5kQNvhjzd1pGqXJ7geS8yfp_SEtCNAsWVvybhHC3YKwc3gvZJvSCaho/s320/Kal+Foster.jpg" style="cursor: hand; cursor: pointer; display: block; height: 320px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 226px;" /></a><br />
<div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><a href="http://agbooks.com.br/book/26074--Kal_Foster">COMPRAR AGBOOKS</a></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">-</span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> </span><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><a href="https://www.createspace.com/3478799">COMPRAR AMAZON/CREATE SPACE</a></span></div><div style="text-align: left;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: arial;"><span class="Apple-style-span"><br />
</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Olá pessoal. Já faz algum tempo que eu não posto aqui e mesmo assim o blog continua sendo bem visitado. Muito obrigado. Já faz quatro anos desde que eu terminei de escrever Kal Foster e o Livro de Merlin e desde então começou a corrida para publicar o livro em qualquer espaço que fosse. As editoras batem a porta na cara mesmo de quem não tem nome, tornando difícil o trabalho de qualquer escritor iniciante.</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ontem à noite (madrugada, na verdade) eu descobri um serviço oferecido por uma gráfica que atende em quase todo o Brasil que poderia viabilizar a publicação de Kal Foster. O serviço oferece a impressão do livro com capa e tudo o mais sem custos para o autor. Para vocês entenderem melhor, olhem essa matéria que eu descobri ontem.</span></div><div><br />
</div><object height="385" width="640"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/D1tdoc4mCLo&hl=pt_BR&fs=1"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><embed src="http://www.youtube.com/v/D1tdoc4mCLo&hl=pt_BR&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="640" height="385"></embed></object><br />
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<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Lógico que eu fiquei entusiasmado com essa possibilidade e varei a madrugada editando capa e texto para mandar naquele exato momento. Bom, resultado, o livro já está à venda pela AGBook e embora o preço não seja tão razoável quanto eu gostaria (afinal são mais de 300 páginas), mas ainda assim é um grande começo :)</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span class="Apple-style-span">Quem desejar comprar o livro basta clicar </span><a href="http://www.agbook.com.br/book/26074--Kal_Foster"><span class="Apple-style-span">aqui</span></a><span class="Apple-style-span"> e seguis o passo a passo do site. Não deve ser muito diferente de se comprar no Submarino ou Saraiva, por exemplo. Espero que até o final do ano eu tenha tempo para finalmente terminar de editar o segundo livro e colocá-lo a venda também. Vamos ver... mais uma vez muito obrigado a todos vocês que mantém esse blog vivo e que me enchem de vontade de continuar a escrever.</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
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<div style="text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><a href="http://agbooks.com.br/book/26074--Kal_Foster">COMPRAR AGBOOKS</a> - <a href="https://www.createspace.com/3478799">COMPRAR AMAZON/CREATE SPACE</a></span></div><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Abraços,</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">André Fantin</span></div>André Fantinhttp://www.blogger.com/profile/07818980780167800572noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-5429287600558187973.post-87727417267678014762010-02-09T05:45:00.001-08:002010-02-09T05:47:01.347-08:00Capítulo 7 - O Vale Cratera<p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Kal sentiu um forte arrepio na espinha ao ouvir as últimas palavras do senhor Timas. Seu estômago revirou de uma forma que ele achou que acertaria as pessoas lá em baixo com sua última refeição.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Um dos bruxos de capa preta que acompanhava Saguior conjurou uma cadeira ao lado do palanque e ordenou que ele se sentasse. Relutantemente, o fauno movimentou seus cascos de bode pelo chão de pedra da sala do conselho e largou-se em cima da cadeira.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Timas olhou para Saguior, ao seu lado, fazendo questão de conferir de perto se as mãos dele estavam devidamente bloqueadas por aquelas duas bolas de energia. Após esse checape, o ministro da Comunicação Mágica olhou para os membros do conselho e os visitantes, alertando-os.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Qualquer intromissão neste julgamento implicará na remoção imediata do indivíduo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Uma pequena balbúrdia se seguiu após a fala do ministro que teve que disfarçar um pigarro para chamar a atenção de todos para o palanque.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Como previsto em sorteio, anteriormente realizado com representantes da defesa e da acusação, ficou estabelecido que este julgamento se iniciará com uma alto-defesa do réu. – disse Timas em voz solene – Por favor, fauno, aproxime-se.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Timas desocupou o palanque e permitiu que Saguior o usasse em sua defesa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Eu cumprimentaria cada um de vocês aqui hoje, mas como podem ver... – disse mostrando as mãos bloqueadas, pequenos risos surgiram da platéia – O que posso dizer em minha defesa é que sou inocente. Apenas isso. Por anos eu protegi a Caixa de Pandora com todas as minhas energias, fiz o possível para mantê-la <st1:personname productid="em sigilo. E" st="on">em sigilo. E</st1:personname> consegui, por um bom tempo. Ninguém desta época sabia de seu paradeiro e todos continuariam na ignorância se não fosse pelos conhecimentos milenares de Kricolas. Ele era a única pessoa viva que sabia que eu guardava a caixa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Um pensamento estranho passou pela mente de Kal deixando-o curioso. <i style="mso-bidi-font-style: normal">Saguior é tão velho quanto Kricolas?</i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Um homem me confiou a Caixa de Pandora e me fez prometer que jamais a abriria ou permitiria que ela caísse em mãos erradas. Eu era o guardião da caixa e jamais permitiria que ela fosse tirada de mim, como está sendo dito neste tribunal. É isso que tenho a declarar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Saguior afastou-se do palanque e sentou-se novamente em sua cadeira de réu. Timas também retomou seu lugar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Bem, seguindo o sorteio, temos a voz da acusação.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Dorian Gulemarc esgueirou seu corpo esquelético pela mesa, pedindo licença às pessoas para que pudesse passar com o merecido conforto. Kal sentiu imenso asco ao olhar aquela figura desprezível, com seu imenso nariz que quase lhe tomava o lugar da boca e dos olhos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Saguior disse que Kricolas sabia onde estava a Caixa de Pandora, mas ninguém conhecia seu paradeiro a não ser ele mesmo, o guardião. Responda-me, como ele poderia saber, bode velho? – disse Dorian quase que se deleitando por poder insultar Saguior em público sem ser repreendido, afinal, os bruxos do alto escalão tinham essa “licença” especial.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Você já disse tudo o que precisava ouvir. Sou um bode velho. – respondeu Saguior.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Vocês vêem? – disse Dorian olhando para os presentes, enquanto apontava o fauno – É assim que ele se porta perante um conselho sério.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Não me venha falar de seriedade, Dorian.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- MINISTRO, PARA VOCÊ! – exclamou com veemência.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Kal sabia que Saguior não estava se ajudando.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Vamos, bode, diga-nos quem lhe deu a caixa? Quem seria louco o suficiente para deixar um objeto tão poderoso nas mãos de alguém tão... indigno.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Saguior baixou o rosto, Kal podia sentir a fúria que ele emanava.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Não vai dizer? Kricolas também roubou sua língua? – alguns bruxos riram do comentário.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Essa informação não interessa ao conselho. – retorquiu Saguior.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Não interessa? O que acha que viemos fazer aqui, então? Jogar Quizard? – outra onda de risadas seguiram-se ao Dorian mencionar o esporte dos bruxos – Nós determinamos o que é e o que não é importante neste julgamento. Você, criatura, apenas responde.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Saguior não prestava mais atenção em Dorian ou nas risadas de deboche da platéia. Mantinha um olhar fixo na direção de Cacius, que o correspondia. Os dois estavam compenetrados, como se um estivesse na mente do outro. Percebendo o contato, Dorian postou-se entre os dois e eles se dispersaram.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Você disse que ninguém desta época poderia saber que você era o guardião da Caixa de Pandora. Disse também que Kricolas sabia por possuir um conhecimento milenar. E finalizou quando disse que de fato era um bode velho. Está insinuando que é tão velho quanto Kricolas?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Pense o que quiser. Sua opinião não me interessa em nada. – rebateu Saguior sem muito interesse no que estava acontecendo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Dorian ficou estático. Se ele esperava obter informações do fauno, seus planos estavam desmoronando.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Saguior, – prosseguiu ainda assim – poderia nos contar sobre o dia do roubo. Já me esqueci. – falou Dorian agitando uma das mãos perto da têmpora.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Bem, – disse se ajeitando na cadeira – Eu estava arrumando uma prateleira na Biblioteca Central quando uma garota chamada Tâmisa Spineli surgiu procurando por um livro de poções. Eu disse que iria pegá-lo, estava com pressa, pois precisava arrumar uma seção inteira de livros antes de fechar a biblioteca. Eu me recordo bem de cada título, e quando ela me disse o nome do livro, <i style="mso-bidi-font-style: normal">Poções da meia-noite</i>, eu estranhei, mas supus pertencer a uma coleção recente e por isso não estava me lembrando. Passei a procurar o tal livro que ficava do lado oposto de onde eu estava. Passei alguns minutos procurando e quando não encontrei, eu disse a ela que não tinha o livro. Desconfiei quando ela não fez uma cara de surpresa e rapidamente se despediu com um simples tchau. Preocupado eu entrei na mente dela, mas rapidamente ela me bloqueou, menina esperta. Apenas pude ver o que estava na superfície. Ela estava me distraindo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Dorian baixou seu olhar balançando a cabeça e logo a levantou com uma expressão de choro fingido e falsas palmas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Bravo, bravo. Isso foi lindo, Saguior. Teve bastante tempo para pensar nessa história não?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Os olhos do fauno brilharam de indignação ao ato desrespeitoso de Dorian. Saguior abriu os braços e em seguida fez as bolas de energia de sua mão colidirem uma com a outra, arrebentando-as. Dorian arregalou os olhos, temeroso por sua vida. Estava certo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Saguior conjurou outras bolas de energia, mas roxas e arremessou contra o ministro que voou alguns metros. Com furor, Saguior pisou com seu casco direito no peito esquelético de Dorian pressionando-o com força.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Quem é que manda agora, heim? – disse o fauno com um brilho assassino nos olhos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Largue-o! – ordenou Timas que ainda estava no palanque.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Cale a boca você também. – Saguior arremessou outra bola de luz e acertou o ministro da Comunicação Mágica.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Alguém acuda! – berrou uma mulher desesperada. Fotógrafos acotovelavam-se em busca da melhor foto, uns usavam as próprias varinhas, outros daguerreótipos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Em seu momento ilustre, Saguior posou para uma foto com as mãos na cintura e o casco ainda pressionando o peito de Dorian.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Guardas! – berrou o ministro quase sem fôlego.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Dois guardas de Warren saltaram as mesas rapidamente e renderam o fauno sem esforço. Uric assistia a tudo impassível. Após ter as mãos novamente bloqueadas, Saguior foi retirado da sala do conselho. Timas já se erguia e declarava em alto tom.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Devido a agressão, e a clara tentativa de homicídio, em nome de todos deste conselho, declaro o réu culpado das acusações e o sentencio à pena de oitenta anos em regime fechado na Penitenciária de Segurança Máxima de Warren.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Timas ergueu uma varinha e conjurou um feitiço no teto, formando um selo que representava o conselho. Era uma lua crescente com uma varinha cravada na vertical, costurando as duas pontas, e o nome Conselho de Magia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Oitenta anos! – exclamou Ralph pesaroso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Isso é uma vida inteira! – analisou Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Kal ainda não fizera seus comentários, sabia que aquilo fora premeditado entre Saguior e Cacius. Seja lá qual fosse o motivo, os dois não queriam que Dorian obtivesse as informações que esperava conseguir com aquele julgamento.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Precisamos sair daqui sem sermos vistos. – disse Guine – Com sorte, tia Amanda nem vai perceber que saímos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Eles rumaram até as escadas por onde subiram antes, mas elas estavam lotadas. Seguiram pelo outro lado e forçaram a passagem por entre a multidão de bruxos. Quando chegaram no último degrau, viram Cacius de costas para eles. Pararam de imediato esperando que ele saísse do salão primeiro. Mas ele permaneceu um longo tempo parado. Sua túnica azul anil destacava-se claramente entre as cores foscas das roupas dos outros bruxos, Cacius certamente não passaria despercebido em lugar algum.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Será que ele vai ficar aí o dia todo? – questionou Ralph impaciente. Meu pai já deve estar lá fora me procurando.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Quando Cacius finalmente se moveu, de sua cintura caiu um saquinho de pano amarrado com uma fita dourada. O saquinho parecia conter algum tipo de areia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Kal avançou e recolheu-o. Curiosamente, abriu-o e observou seu conteúdo. Ele sabia que aquele pó azul não era areia comum.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Pó de bobetônia! – exclamou – Vamos sair daqui já!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Kal fez uma breve explicação sobre o pó e cada um pegou um punhado jogando sobre si mesmo e dizendo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Lago de Celacanto!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Kal sentiu seu corpo esquentar como se cada molécula estivesse em profunda agitação. Sentiu seus órgãos afastando-se uns dos outros e seu corpo se incinerar. Quando deu por si estava em frente ao lago onde Viviane os deixara.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Demais! – exclamaram os quatro juntos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Ralph, a meu filho você está aí. – disse Uric surgindo por entre a multidão, Kal imaginou se ele os vira chegar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Pai. O julgamento não demorou tanto. O que aconteceu? – fingiu Ralph.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Uma história e tanto, uma história e tanto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Nem quero saber... – prosseguiu com a encenação.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Olá, garotos. – cumprimentou Uric – Desculpe o mau jeito, mas surgiram alguns problemas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Tudo bem, senhor Scheiffer.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Kal, você pode dar um recado para sua mãe?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Claro. – respondeu convicto imaginando como faria isso sem dizer a ela que secretamente estivera em Celacanto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Diga que recebi o bilhete que ela mandou por Stuart e que irei vê-la amanhã cedo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Tudo bem, eu digo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Bem, filho, precisamos ir agora. Nossa carruagem está esperando logo ali. – falou apontando para uma carruagem da GAW que era puxada por três vassouras.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Nos vemos na escola, então. – despediu-se Ralph abraçando os amigos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Oh não se preocupem, talvez ainda antes. – completou Uric – Agora precisamos mesmo ir, Ralph. Até amanhã, meninos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Os três observaram Ralph subir na carruagem com o pai e sumir segundos antes de bater no céu de pedra da cidade.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Vamos antes que alguém mais nos veja. – disse Kal aproximando-se do lago para chamar Viviane.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">A dama do lago surgiu entre as névoas com o seu insuperável ar místico de ser. Eles subiram a bordo e sentaram-se. Viviane ergueu os braços e o barco subiu até desaparecer como a carruagem de Ralph e Uric fizera.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Na manhã seguinte, Kal levantou-se cedo, a cabeça ainda doía por causa dos gritos histéricos de Amanda ao vê-los chegando de Celacanto. Ela ralhou com eles por mais de meia hora e só se acalmou depois que Kal deu o recado de Uric, foi a brecha que tiveram para escapar de mais alguns minutos ouvindo reclamações e conselhos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">No desjejum, Amanda ainda parecia incomodada com a desobediência dos três, porém não brigou mais. Kal, Daimon e Guine estavam presos agora, de portas trancadas. Amanda disse que não queria chegar àquele extremo, mas eles estavam pedindo por isso. Quando Sara tocou o interfone, Amanda pensou em dizer à garota que eles não poderiam receber visitas, mas como Sara era a única pessoa da vizinhança que se importava com os quatro, ela achou que poderia ser mal compreendida e Sara achar que era algo mais pessoal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Entre, querida. – disse ela abrindo o portão pelo interfone.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Sara atravessou rapidamente o jardim de entrada sobre a vigília das estátuas, adentrou na pequena varanda e com um clic girou a maçaneta e empurrou a porta para dentro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Espremeu-se no sofá com Kal, Guine e Daimon que assistiam um programa na tv. Nenhum deles parecia muito empolgado com as imagens de uma baleia engolindo toneladas de plâncton.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- E então, como foi ontem à noite? – sussurrou Sara para os três.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Vamos subir. – disse Guine.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Kal sentiu um arrepio estranho por todo o corpo quando Sara apoiou uma mão nos joelhos dele para se levantar de forma mais rápida. Ele olhou para onde ela tocara e ficou imóvel. Os três já estavam na metade da escada quando acordou para o tempo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Amanda viu-o subir e o encarou de forma curiosa, como se tentasse entender a atitude estranha do filho nos últimos dias, Kal nunca fora um menino travesso, ou desobediente. Algo dentro dele estava mudando. Ela só torcia para que aquilo pudesse ser revertido.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Quando Kal entrou no quarto, Daimon, Guinevere e Sara já estavam sentados ao redor de uma pequena mesa circular no canto do quarto. Ele puxou uma cadeira e sentou-se ao lado de Daimon e Guine e de frente para Sara.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Pela cara de vocês algo estranho deve ter acontecido ontem. – arriscou Sara vendo o rosto desgostoso dos três amigos – O que houve com o Saguior? Era esse o nome, não é?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Sim, é Saguior mesmo. – confirmou Daimon – E ele foi preso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Preso? Por proteger uma caixa que poderia por em risco o mundo? – espantou-se Sara – Não sei como são feitas as suas leis, mas são estranhas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- O julgamento não chegou a terminar. – cortou Kal – Saguior foi preso por agredir Dorian.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- O novo ministro? – inquiriu Sara, demonstrando todo seu conhecimento sobre o universo mágico.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Exato. – confirmou Daimon outra vez.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Dorian estava fazendo perguntas as quais Saguior parecia não querer responder. Então encerrou o julgamento com esse ataque.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Nem tentou se defender?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Ele deu um depoimento contando a versão dos fatos, mas acho que ninguém acreditaria. – falou Guine.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- E vocês? Acreditam?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Sim. – respondeu Kal de forma convicta – A garota que distraiu ele na biblioteca é aliada de Kricolas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Como era mesmo o nome dela? – perguntou Sara, como se estivesse fazendo um grande esforço de sua memória.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Tâmisa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Isso. Ela é aliada de Kricolas? Em troca de quê?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- A mãe dela, Elvira, também é aliada dele. As duas estão juntas nisso tudo. – disse Guinevere aproximando o rosto do de Sara.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Ano passado, Cacius disse que quando uma força maior surge se opondo à força vigente, as pessoas fazem suas escolhas. Tâmisa e Elvira fizeram a dela. Vai chegar a hora em que todos tomarão sua decisão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Ficar e se proteger ou sair e lutar. – refletiu Sara.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Kricolas não luta. Ele magoa. – retorquiu Kal – Uma luta é uma ação honesta em que as partes têm direitos iguais de defesa. Não é isso que ele quer, igualdade.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Sara corou o rosto, sentindo-se repreendida daquela forma. Guinevere virou-se para ele de forma séria e cutucou-lhe.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Ah, ah... desculpe... não foi minha intenção. – Kal se levantou pedindo licença e foi até a janela. Olhou para o lago do lado de fora que refletia pacificamente a luz do sol da manhã.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Kal. – chamou a voz de Sara ao seu lado – Não queria...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Não tem problema, é sério. Eu só não...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Seu pai? – ela tocou o rosto dele para virá-lo em sua direção. Kal percebeu que estavam sozinhos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Sabe quando uma coisa sua some e você tem a sensação de que você não a perdeu, de que você foi roubado e que agora você nunca mais terá essa coisa de volta?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Você precisa se recuperar...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Ele balançou a cabeça negativamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Não quero. Não quero acreditar que ele se foi. Não vi o seu túmulo ainda para acreditar que é possível... que é possível ele voltar para...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Eu não sei muito sobre o seu mundo, mas não acredito que seja real uma pessoa voltar. Mesmo usando magia...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Kricolas vai tentar fazer isso com Donnovan. Eu quero tentar pelo meu pai.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Sara sentiu seu corpo arrepiar e aproximou seu rosto mais perto do de Kal. Ela sentia sua respiração ofegante e tristonha. Não sabia o que fazer para consolar o amigo. Ela só sabia uma coisa. Queria beijá-lo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Sara... – disse Kal finalmente – Eu... eu gostaria de ficar só...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Ela afastou-se com um olhar também triste e saiu do quarto em direção às escadas. Kal ouviu barulhos de conversa vinda do corredor, reconheceu a voz de Guine fundida com a de Sara. As duas conversavam baixinho com medo de serem ouvidas. Ele as ignorou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Continuou ali, olhando pela janela sem saber o que fazer. Em sua memória ele puxou imagens de seu pai sorrindo, brincando e dando alguns conselhos. Era quase nítida a sua imagem, como se ele estivesse ali. Kal correu seu olhar pelo quarto, os olhos ensopados. Ele estava ali sozinho, mas ao mesmo tempo sentia que havia alguém ali com ele. Observando-o. Ele não ligava. Nada importava naquele momento, só queria ficar ali, relembrando.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Seu olhar desatento captou uma sombra em direção a porta. A imagem quase espectral tinha uma aparência masculina muito singular. Kal sabia que não era a sombra de Daimon. <i style="mso-bidi-font-style:normal">De quem mais seria?</i> Ele seguiu a sombra com o olhar até onde deveria haver pés. E havia. Um par de sapatos marrom estavam parados bem ali, na porta do quarto. Quando Kal ergueu o rosto rapidamente até o alto não viu mais ninguém, a sombra também desaparecera. Somente o que sobrara era uma voz ressoante que reverberava em sua mente. Era a voz de Adonis Foster.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- É possível, é possível...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Kal ficou estático por vários minutos. Refletindo no que supostamente ouvira e no que deveria entender daquilo. Não pretendia alarmar Guine e Daimon, muito menos Sara, com o que acontecera. Na certa não era nada. Mas ouvir a voz de Adonis em sua cabeça era algo que o deixava contente. Contente o bastante para tirá-lo daquele estado depressivo que se submetera anteriormente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Suas forças animaram-se ainda mais ao ouvir a voz de Ralph no primeiro piso. Kal saiu do quarto às pressas até o amigo. Se havia uma pessoa para quem contar o que acabara de acontecer, esse alguém era Ralph. Eles se conheciam a pouco mais de um ano e passaram por algumas aventuras juntos em Avalon. Tinham opiniões compatíveis e dividiam o mesmo ar desconfiado pelas coisas. Para eles nada era o que realmente parecia ser. Sempre haveria um segredo a ser revelado e geralmente eram eles quem faziam isso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Papai, ela nos viu esfumaçar aqui. – disse Ralph apontando para Sara com a mão direita enquanto a esquerda segurava um saquinho de pó de bobetônia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Não faz mal, meu filho, esta é Sara Chiabai, se não me engano. Cacius me pediu que alertasse o meu pessoal para não mexer com a memória dela.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt"><i style="mso-bidi-font-style:normal">Cacius pediu a Uric que não desmemoriassem Sara? </i>Indagou-se Kal, que estava parado no alto da escada.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Bem, senhora Foster, – prosseguiu Uric antes que alguém perguntasse qualquer coisa – Desculpe pelo atraso, mas não pude vir antes. Podemos conversar. Em particular?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Claro, venha até aqui na cozinha. – disse Amanda guiando o homem para longe do alcance dos garotos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- <i style="mso-bidi-font-style:normal">Captus! </i>– disse Kal com a varinha no ouvido. No ano anterior, ele aprendera esse feitiço de superaudição com dois bruxos desconhecidos na cidade de Dunas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Senhor Scheiffer, gostaria que as crianças ficassem em maior segurança. Não acredito que aqui seja o melhor lugar para eles neste momento. – disse Amanda – Celacanto está fervendo com toda essa agitação causada pelo roubo da Caixa de Pandora. Eles ficam loucos de tanta curiosidade e acabam pondo em risco a própria vida. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Sim, senhora, compreendo sua preocupação e acho que tenho uma alternativa, se a senhora permitir, claro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Por favor, me diga qual a alternativa?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Levá-los para minha casa!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Kal largou a varinha com um olhar surpreso. Eles iriam até o vale onde Ralph mora. Seria perfeito. Assim ele poderia conversar com o amigo e por em ordem os seus sentimentos por Sara. Mesmo que a idéia de ficar longe dela o incomodasse um pouco.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Oi. – cumprimentou Ralph ao ver Kal sentado no primeiro degrau do segundo andar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Oi. – correspondeu – Senta aí. – disse chegando para o lado e dando espaço para o amigo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Noite estranha ontem, não?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Com certeza.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Sabe por que estamos aqui?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Para pedir a minha mãe se podemos ir para a casa de vocês. – respondeu Kal sem problemas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Andou treinando adivinhação? – perguntou ele espantado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Kal mostrou-lhe a varinha e Ralph rapidamente deduziu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Captus.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Ele agitou a cabeça dizendo que sim.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- E sua mãe permitiu?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Não terminei de ouvir a conversa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Você sabe por que Cacius pediu ao meu pai que não desmemoriasse a garota? – indagou Ralph mudando de assunto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Não. Mas quero descobrir o quanto antes. Se soubesse disso teria perguntado ontem mesmo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">No primeiro piso, Sara levantava-se do sofá e despedia-se de Guine e Daimon. Quando passou ao lado da escada olhou rapidamente para ele, sorriu e abaixou a cabeça. Aquela era a última vez que se veriam por longos meses.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Muito bem, senhora Foster, volto para buscar os três hoje à noite. – disse Uric abrindo a porta da cozinha no mesmo momento que Sara fechava a porta da entrada.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Sinto-me tão mais tranqüila. – confessou Amanda.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- O que houve, tia Amanda?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Queridos, arrumem suas malas. Vocês vão para a casa do senhor Scheiffer esta noite.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">O sorriso brilhou no rosto deles. Finalmente estariam livres das limitações impostas naquela casa. Ralph morava dentro de um vale ali por perto, um lugar onde poderiam usar magia livremente e poderiam ficar ao ar livre sem perturbações maiores. Só o que precisavam fazer era esperar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">As horas passaram com muito esforço. Estranhamente, quando se quer logo que chegue determinada hora ela parece vir a passos incomumente lentos. Ralph ficara com os Foster para o almoço e ajudou-os a arrumar as bagagens. Eles assistiram tv, já que estavam estritamente proibidos de pisar fora de casa e como sempre não passava nada que fosse de interesse. Os noticiários não exibiram nenhuma matéria sobre assassinatos incomuns, o que era uma pequena prova de que Kricolas estava silencioso, no momento.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Quando o relógio da cozinha marcou sete horas, Kal, Guine e Daimon já haviam descido suas malas até a sala. Amanda pedira para Stuart comprar o já comercializável pó de bobetônia, assim eles não precisariam encarar mais algumas horas de viagem em uma carruagem. Em segundos estariam na casa de Ralph.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Uma fumaça verde limão surgiu em cima do tapete. Uric acabara de esfumaçar dentro da casa dos Foster.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Boa noite, senhora Foster. Boa noite, meninos. – cumprimentou – Estão prontos?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Obrigada mais uma vez, senhor Scheiffer. – agradeceu Amanda.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Não há porquê. Vai ser bom pra eles também. Mas a senhora tem certeza de que não deseja ir junto? Ficar aqui sozinha, eu não sei... parece... solitário.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Não se preocupe. E pare de me chamar de senhora, pareço velha.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Uric riu-se, acenou com a cabeça e pediu o mesmo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Tudo bem, então. Vamos nessa. Até mais, Amanda.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Uric bateu uma continência engraçada e esfumaçou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Até mais, mamãe. – disseram Kal e Daimon abraçando-a.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Vocês vão ficar na casa dos Scheiffer até as aulas começarem. Vou passar lá para levar seus materiais. Em menos de duas semanas nos veremos novamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Tchau, tia Amanda.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Tchau, querida.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Ralph fez um aceno e enfiou a mão no saquinho de pó de bobetônia, bateu com a mão cheia no peito e foi engolido por chamas azuis.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Kal, Daimon e Guine também pegaram um pouco de pó e juntos disseram.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Vale Cratera!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">As mesmas chamas que engoliram Ralph devoraram ardentemente os três garotos. Kal viu sua mãe por entre a janela de fogo azul a sua frente. Ela chorava. Como acontecera em Celacanto, ele sentiu seu corpo aquecer rapidamente e uma agitação inquieta dos seus órgãos. Sentiu-se incinerar e logo mais seu corpo resfriar rapidamente quando ele alcançou o chão da casa dos Scheiffer.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Eles esfumaçaram bem em cima de um tapete amarelo com runas antigas escritas dentro de um círculo. As paredes eram de madeira encerada, com móveis em estilo medieval, todos muito bonitos e preservados, grandes almofadas onde supostamente deveria haver um sofá, um lustre de cristal pendia do teto iluminando todo o ambiente em tons amarelos. Não havia janelas. Uma porta de cedro dava acesso ao outro cômodo e uma outra porta dupla de cedro parecia levar para o exterior, havia uma fraca luz por debaixo das frestas da porta. Tapeçarias com gravuras de bruxos imponentes estavam penduradas nas paredes, orgulhosamente exibindo os antepassados de Ralph. Estantes de mogno guardavam livros e objetos estranhos, alguns vasos curiosos como formas irregulares e pintura singular, como um que tinha o formato da cabeça de uma pessoa que gritava desesperadamente, podia sentir a aflição nas marcas dos olhos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">O piso de madeira também polida era tão lustroso que poderia ser usado como espelho. No canto da sala havia uma escada de aço que tanto subia para o segundo andar, quanto descia para o que deveria ser um porão. O teto era recoberto por um tecido dourado que ajudava a refletir a luz do lustre dando à sala dos Scheiffer um aspecto majestoso. Dignos de um rei.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Bem, chegamos. – comunicou Ralph largando-se em cima de uma almofada.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Olá, garotos! Que bom que vocês chegaram! – A mãe de Ralph, Samanta Scheiffer, abrira a porta de cedro que dava acesso a uma cozinha e apressou-se para abraçá-los – É bom vê-los novamente, Daimon e Guine. Kal, acredito que não nos vimos no ano passado, naquele incidente com os Griphons.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Samanta era uma mulher alta e de pele muito clara, cabelos loiros e ondulados, os olhos azuis e um nariz um pouco empinado. Ela tinha as feições de uma modelo, mas era uma poderosa guardiã de Warren.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Olá, senhora Scheiffer. É um prazer conhecê-la. – saudou-a Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Bem, vocês vão ter que nos dar licença, mas é que eu e Uric temos muito serviço em Warren.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Mamãe! – exclamou Ralph – Já é tarde e temos visita. Vocês precisam mesmo ir?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Desculpe, filho. Mas o pessoal do Dorian nos deu uma pista de onde Kricolas pode estar. É melhor averiguarmos bem ou o Folha Mágica vai ralhar com a gente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Tudo certo, pai... já estou acostumado mesmo...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Sem mais palavras ou gestos, Uric e Samanta esfumaçaram deixando um rastro colorido de verde limão e um caramelo intenso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- É como eu já disse a vocês. Eles nunca estão aqui.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Não esquenta, Ralph. – tranqüilizou Guine – Eles estão prestando serviços a toda a comunidade mágica. Devia se orgulhar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Ah eu me orgulho. É claro que me orgulho, nunca disse que não, mas precisa ser sempre assim? Ainda mais agora com esse novo ministro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- O que tem ele? – perguntou Kal, desconfiado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Dorian montou uma milícia, as Salvações Nacionais. Acho que poucos sabem disso, mas ele montou. Reuniu bruxos poderosos de todo o país, agora eles ficam vasculhando cada centímetro quadrado, levantando todos os tapetes em busca de sujeira e todo dia surge uma pista sobre o paradeiro de Kricolas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- E eles nunca acham? – questionou Guine.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- São todas pistas falsas ou mal contadas. Eles se disfarçam e ouvem relatos de não mágicos e quando surge algo estranho eles comunicam GAW. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Mas por que eles mesmos não vão averiguar? – indagou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Não sei. – disse francamente – As Salvações Nacionais tem o objetivo de deter Kricolas, mas só o que fazem é recolher pistas. Papai está incomodado com isso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Por quê?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Guine, pense. Se as Salvações Nacionais continuarem se expandindo e “descobrindo pistas” que levem a Kricolas, logo ela terá mais poder do que GAW.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Dorian não tem controle sobre GAW. Mas tem sobre as milícias. – deduziu Kal agilmente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- É. Mas para quê ele quer essa disputa? – prosseguiu Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Os três deram de ombros.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Chega disso. Vamos comer alguma coisa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Na cozinha, Ralph destapou algumas panelas que sua mãe colocara para cozinhar e descobriu alguns pratos que pareciam deliciosos. Eles serviram-se com um caldo de galinha com milho verde e um tempero apimentado. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Depois de limparem a panela, no sentido literal, eles passaram um tempo sentados na sala conversando sobre diversos assuntos. Kal contara a experiência que tivera no circo quando foi atacado por Griphons e como ele usou o feitiço que aprendera com Saguior para salvar-se e também a Sara. Seu coração palpitou quando disse o nome dela.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Kal está apaixonado pela garota. – disse Guinevere interrompendo a história.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Ralph fez uma cara de surpresa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- E a Emanuela?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Não presta atenção no que essa boba diz.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Está escrito na sua testa, Kal. “EU AMO SARA”.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Vivemos em mundos diferentes. – protestou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Vocês são vizinhos. – corrigiu Ralph, rapidamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Tudo bem. O que mais temos em comum?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Simetria bilateral. – disse Daimon distante – A desculpe.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Você está certo, Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Kal, ela é humana, você é humano, ela gosta de você, você gosta dela. – disse Guine por partes – Isso são o que vocês têm em comum e é mais do que o suficiente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Por que você está tão interessada em nos ver juntos? – perguntou Kal - Algum motivo em particular?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Ela odeia a Emanuela. – disse Daimon, mais uma vez, enquanto brincava com os dedos – Desculpa outra vez...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Você está certo de novo, Daimon! – falou Kal, enfático.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Escuta, aquela sebosa nem deve saber que você existe.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Passamos metade do ano juntos! – retrucou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Em reuniões do Conselho Estudantil, Kal. Mas quantas vezes ela te disse um “oi”?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Ele abaixou a cabeça e ficou pensativo. O que ela dissera sobra Emanuela era verdade. A katziniana nunca demonstrara interesse por ele. Passaram metade do ano lado a lado em uma sala do sexto andar de Avalon, porém nunca trocaram uma única palavra.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Talvez ela seja tímida. – falou Daimon do seu canto e desta vez resolveu calar a boca, em definitivo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Garotos...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Às onze horas, Ralph levou os três para o segundo andar e mostrou-lhe os quartos. Um para cada. Kal não fez cerimônias e atirou-se em cima da sua cama para uma rápida descansada. Preguiçosamente, levantou-se e tomou um demorado banho de espuma, atirou-se na cama outra vez, enrolou-se nas cobertas para se proteger do frio que fazia dentro do quarto, mesmo sendo verão e o aposento não ter uma única janela – nenhum cômodo da casa tinha – era como se o Vale Cratera possuísse um sistema de resfriamento invisível. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">O sono veio com facilidade e ele descansou seu corpo e mente dos dias de tensão. Kal ainda pensava na injustiça cometida contra Saguior e ficou raciocinando por alguns minutos até cair em um abismo escuro... tranqüilizante.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Na manhã seguinte, ele foi o último a se levantar, como sempre acontecia. Arrumou sua cama, mudou de roupa e desceu para o café. Guine, Daimon e Ralph já o estavam terminando e quando Kal mordeu seu primeiro pedaço de bolo, os três disseram que iam para fora ver Osíris, o falcão de Ralph.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Kal acenou com a cabeça em gesto de compreendimento e depois que engoliu o bolo disse que logo se juntaria a eles. Após beber o restante do seu suco de maracujá em um único gole, ele ainda passou alguns minutos sentado na cadeira observando o ambiente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">A cozinha dos Scheiffer não diferia muito da de sua casa. Possuía alguns balcões grudados à parede, uma pia grande de mármore, alguns armários pendurados no alto da parede e outro armário que tinha a mesma função de uma geladeira, mas não era elétrico e sim mágico. Um fogão com seis bocas e um forno que seria capaz de assar um leitão inteiro. O chão era coberto com uma combinação de pisos de cerâmicas branca e cinza parecendo um enorme tabuleiro de xadrez. A mesa do café estava próximo à parede onde havia pendurado um quadro gigante com uma paisagem natural, dando uma falsa impressão de que alie havia uma janela.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Ele serviu-se de mais um pouco de suco e quando recolocou a jarra em cima da mesa viu através do reflexo por ela produzida, uma figura masculina muito familiar escorada na porta de cedro de acesso à sala.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Pai! – exclamou Kal, virando-se rapidamente, mas não havia ninguém.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Mais uma vez frustrado por ter sido enganado por sua mente esperançosa e iludida, ele terminou rapidamente seu suco e saiu da cozinha para procurar Ralph, Guine e Daimon. Ele não podia esquecer o que vira. De forma alguma. Sabia da existência de fantasmas, mas não tinha muita certeza sobre a forma que eles se mostravam. De qualquer modo, ele ouvira Adonis antes, e agora o vira quase que nitidamente. E isso não era um fato para se ignorar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Kal passou pelas portas duplas da entrada e deparou-se dentro de uma caverna. Havia um corredor de pedra escura que separava a entrada da casa até o lado de fora. Um jardim muito bem cultivado guardava a abertura dentro da pedra que subia ingrememente até uma floresta no topo do vale. Kal olhou para um dos lados e viu um canteiro coberto por plantas mágicas chamadas <i style="mso-bidi-font-style:normal">Fantara d’ouro</i>, uma planta que muito se assemelhava a um girassol comum, exceto pelo caule vermelho e cheio de pequenos tubérculos que ardiam como brasa ao sol.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Oi. – cumprimentou Kal sentando-se junto aos amigos nas margens de um pequeno lago.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Não é tão grande quanto o de vocês, mas dá para o gasto. – brincou Ralph.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Você mora em um lugar bem legal. – disse Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- É, é legal sim. – concordou – Mas já imaginaram como seria morar em um lugar como Cidade dos Elfos?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Seria legal. – imaginou Daimon – Não sei por que Cacius não nos mandou para lá ao invés de Anomatí.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Ele me disse que Cidade dos Elfos não é mais como antes. – respondeu Kal, atirando uma pedra no lago. Ela quicou algumas vezes antes de afundar – Você sabe de alguma coisa, Ralph?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Sei que ela está sob a vigilância das milícias de Dorian. Só isso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- E GAW? – indagou Guine.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Dorian disse que a presença de GAW não transmitiria “segurança” para os moradores de lá.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Não acredito...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Esse é o nosso ministro, Guine.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Podemos deixar esse assunto de lado pelo menos por agora? – perguntou Daimon desanimado com o rumo da conversa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Alguém sabe de Thalis? – perguntou Ralph seguindo a sugestão do amigo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Ele não escreveu. – disse Kal – Mas duvido que saiba onde estamos morando agora.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Podemos enviar um recado por Osíris. – disse Ralph acariciando a cabeça do falcão ao seu lado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">Os três entraram novamente na casa, Ralph subiu rapidamente para pegar um pergaminho e uma pena com tinteiro para iniciarem a carta.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt">- Papai trouxe está pena da Inglaterra mês passado. É uma pena que escreve o que se diz, legal, não? – disse Ralph entusiasmático – Vamos testá-la.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt"><i style="mso-bidi-font-style:normal">Thalis,<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt"><i style="mso-bidi-font-style:normal"><o:p> </o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt"><i style="mso-bidi-font-style:normal">Oi... não se deve começar uma carta assim, acho... RALPH! A pena escreveu o que você disse! Certo, Guinevere, olha, está escrevendo isso também... vamos seguir então. Faz um parágrafo, pena.<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt"><i style="mso-bidi-font-style:normal">Isso. Droga, continua escrevendo. Outro parágrafo.<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt"><i style="mso-bidi-font-style:normal">Desculpe pelas linhas acima, foi um erro nosso. Como deve ter percebido é o Ralph quem está ditando a carta, Guine, Kal e Daimon estão aqui em casa, eles vão ficar o restante das férias comigo, só faltou você e o Jonathan, que segundo o Daimon está de férias na Argentina. Mas como você está? Espero que esteja bem, nosso último ano não foi muito fácil, especialmente para você... RALPH! Não fique lembrando essas coisas... Por Merlin, a porcaria da pena escreveu tudo. Guine, você está estragando a carta. Outro parágrafo.<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt"><i style="mso-bidi-font-style:normal">Desculpe outra vez Thalis, acontece que a pena escreve sozinha o que nós dizemos, mas ela não é boa o suficiente para entender o que faz parte da carta ou não. Vai entender.<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt"><i style="mso-bidi-font-style:normal">Mande notícias pelo Osíris mesmo, precisamos saber de você. Outro parágrafo, pena, e pule uma linha.<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt"><i style="mso-bidi-font-style:normal"><o:p> </o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt"><i style="mso-bidi-font-style:normal">Assinado, dois pontos. Não acredito! Que pena burra! Pula outra linha.<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt"><i style="mso-bidi-font-style:normal"><o:p> </o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt"><i style="mso-bidi-font-style:normal">Aguardamos sua resposta. Pula linha...<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt"><i style="mso-bidi-font-style:normal"><o:p> </o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt"><i style="mso-bidi-font-style:normal">Assinado: Ralph. Eu quero assinar também, põe aí pena, embaixo de Ralph<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt"><i style="mso-bidi-font-style:normal"><span style="mso-spacerun:yes"> </span>Guine... vai, pena, coloca Kal e Daimon também embaixo de Guine. Ah Ralph, eles que tinham que dizer. Então digam...<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt"><i style="mso-bidi-font-style:normal">Kal e Daimon<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt"><i style="mso-bidi-font-style:normal"><o:p> </o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt"><i style="mso-bidi-font-style:normal">Ralph isso precisa de conserto...<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt"><i style="mso-bidi-font-style:normal">Percebi, Daimon... percebi...</i></p>André Fantinhttp://www.blogger.com/profile/07818980780167800572noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5429287600558187973.post-60649134621847903022009-10-14T08:48:00.000-07:002009-10-14T08:49:36.136-07:00Capítulo 6 - A Caixa de Pandora<meta equiv="Content-Type" content="text/html; charset=utf-8"><meta name="ProgId" content="Word.Document"><meta name="Generator" content="Microsoft Word 11"><meta name="Originator" content="Microsoft Word 11"><link rel="File-List" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CANDRE%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtml1%5C01%5Cclip_filelist.xml"><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:35.4pt; mso-footer-margin:35.4pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Após o sexto insistente toque, Kal puxou o gancho do telefone e com um ligeiro temor colocou-o na altura do ouvido direito. Nos dois primeiros segundos torceu para que fosse um engano e que seus piores pensamentos não se concretizassem. Naquelas férias, por inúmeras vezes, ele assistiu a filmes na televisão em que telefones explodiam ao serem atendidos, mas achou que ninguém que ele conhecia tinha esse estilo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Boa noite, pequeno Foster.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Todo o sangue de Kal congelou ao ouvir aquela voz grave que penetrou em seus ouvidos e o fez oscilar em cima dos joelhos. Somente uma pessoa o chamava de <i style="">pequeno Foster</i>. E não era o mais carinhoso de todos, muito menos o seu predileto. Era Kricolas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Gostou do meu show? – falou mais uma vez, com se nem ao menos se importasse de ter alguém consciente do outro lado da linha – Tenho muito mais criatividade do que esses humanos bobocas que se dizem mestres de espetáculo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O que você quer? – perguntou Kal reunindo toda a coragem que ainda tinha.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Conseguir um pouco de divertimento, mas meu prêmio maior seria você. – disse Kricolas em um tom anormalmente sereno – E veja como isso soa romântico. Parece até mesmo um pai pedindo para o filho retornar ao lar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Já não nos causou sofrimento demais?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- <i style="">Não venha falar de sofrimento comigo</i>! – retorquiu com fúria – Você e seus malditos antepassados Foster arruinaram meus planos por diversas vezes! Aquele primeiro e amaldiçoado que tive o gosto de matar destruiu meu mestre e nossos seguidores, e então seu filho, argh! Garner Foster! <i style="">MISERÁVEL</i>, nunca tive a oportunidade de beber aquele sangue! Construiu Warren e deixou-me apodrecendo por quase um milênio! Depois, seu querido pai, Adonis Foster, um perfeito intrometido para completar a linhagem. Meteu-se onde não deveria e fui obrigado a matá-lo. Sem falar nas outras tantas gerações de Foster que comandaram aquele maldito cativeiro que me consumiu quase por inteiro. Mas você, pequeno Foster, é o meu favorito, a minha sina... me pequeno milagre. Devo dizer que você ganhou o meu respeito por ter sobrevivido ao feitiço que matou seu pai, é claro que...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Cale a boca! Cale a boca! Não fale do meu pai! – gritava Kal, enquanto Guine, Daimon e Sara olhavam para ele preocupadíssimos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não ouse me interromper, se não irei pessoalmente me certificar de que você jamais fará isso de novo. – retrucou Kricolas com impaciência. Neste momento, Kal fez menção em largar o telefone, mas como se estivesse sendo observado de perto, o meio-vampiro rugiu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não desligue, ou os pais de sua amiguinha humana sofrerão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal sentiu toda a seriedade na voz de Kricolas e apenas assentiu que sim esperando que tivesse sido entendido.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Como dizia antes de ser interrompido, – prosseguiu numa voz cordial – aquele dia você somente sobreviveu graças ao presente de Cacius. Aquela ametista sugou o meu feitiço e permitiu que você vivesse para sofrer mais um pouco. Mas foi bom que tenha acontecido. Tenho planos para você este ano, pequeno Foster. Como lhe disse na Cidade dos Elfos, meu mestre mora em você e com um pouco da minha ajuda e os exercícios certos ele poderá renascer em meio ao sangue que um dia o destruiu. Não seria irônico?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eu nunca vou cooperar com você! – disparou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Com a motivação correta irá sim, irá sim...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O que você quer de mim ainda, Kricolas? Não se dá por satisfeito? Você matou os pais de Guinevere, e toda a família de Thalis – disse Kal puxando as informações da memória – Mais recentemente Mardo, não é? Para quê isso? Por que causar sofrimento nas pessoas? Monstro! – berrou Kal e teve certeza de que todos ao alcance de uns dez metros ouviram-no com clareza.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Você ainda não descobriu qual o meu objetivo? Quer que eu desenhe? – debochou – Ora, pequeno Foster, pode ter coragem e determinação, mas não tem um bom cérebro. Eu não faço as pessoas sofrerem, apenas julgo se elas são descartáveis ou não para o meu propósito de ressuscitar meu mestre. Você ainda não é descartável, preciso de você vivo. Mesmo que não pareça. Este ataque foi apenas uma forma de me manter vivo em sua memória. E também tenho uma motivação pessoal de irritar os homens do governo. Uric Scheiffer, ainda o pego...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Você nunca o pegará! Ele é um... – Kal parou abruptamente percebendo que Kricolas não estava mais do outro lado da linha após ouvir o sinal do telefone.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal colocou-o no gancho e olhou para Guine e Daimon, apático. Os dois o encararam com certa curiosidade, mas decidiram não comentar nada na frente de Sara. Kal, no entanto, não a poupou de nenhum detalhe da conversa, imaginando que algum guarda de Warren iria desmemoriá-la ainda naquela noite, como sempre faziam com não mágicos quando estes descobriam algum segredo sobre os bruxos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Quer dizer que Kricolas fez toda essa barulheira para chamar a <i style="">sua </i>atenção? – indagou Guinevere, incrédula – Ele não queria mesmo matá-lo? Ele fez aquelas criaturas o arrastarem para um lugar vazio apenas para assustar?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Foi o que pareceu. – confirmou Kal, secamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Quem é Kricolas? – perguntou Sara mostrando-se por fora do assunto dos amigos – Quem são vocês? Ou o que são vocês? Quem são aquelas criaturas e por que elas atacaram a todos no circo sendo que esse tal de Kricolas só tinha interesse em vocês três?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Kricolas é um meio-vampiro sanguinário em busca de vingança pelo seu mestre morto por nosso antepassado, ah, ele também quer ressuscitá-lo usando um artefato mágico que ele roubou ano passado. Somos bruxos, mas ainda assim humanos como você ou qualquer outra pessoa. E respondendo a última, Kricolas ordenou esse ataque em massa porque ele é pirado. – respondeu Daimon, quase perdendo o fôlego porque estavam andando apressados até o carro dos Chiabai.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Vocês? Bruxos? – repetiu incrédula.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- <i style="">Levitoriano! </i>– disse Kal acertando uma lixeira e fazendo-a levitar – Acredita agora?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bruxos não existem! Magia não existe!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Existe sim, e aqui estamos nós. Também existem fadas, elfos, saci, curupira e tudo o mais que você leu em livros ou ouviu em histórias. – retorquiu Daimon com seriedade.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sara, é muito importante que tudo o que você viu hoje seja mantido em segredo. – disse Guinevere olhando fundo nos olhos da garota.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não há com o que se preocupar, Guine, alguém irá desmemoriá-la. – falou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Você quer dizer, fazer eu esquecer tudo o que aconteceu? – perguntou com a mão na cintura – E se eu não quiser?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eles te amarrarão e farão assim mesmo. – finalizou Daimon, sem demonstrar nenhum tipo de ressentimento.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não podem! Não quero! – exclamou furiosa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E não iremos. – disse uma voz. Era Ivo – O que ainda fazem no parque?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Por um momento, Kal pensou em falar da ligação que recebera, mas achou que aquela informação não era necessária para Warren. Seu bom-senso dizia que sim, mas um lado de seu cérebro ficara relutante em contar. Esse lado venceu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Estamos saindo. – desculpou-se Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não quero que apague minha memória! – disse Sara com bravura.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E como já disse, não vou. Tenho ordens para deixá-la como está. No entanto a memória de seus pais já foi alterada. Como a de todos os outros não mágicos no parque. – informou Ivo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E por que ainda estão gritando? – perguntou Daimon olhando para trás e vendo ainda um resquício de pessoas desesperadas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eles, agora, acham que os Griphons são vândalos disfarçados. Pobres ignorantes...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Hei! – resmungou Sara.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Desculpe. – disse honestamente – Sem enrolação, quero que vocês vão <i style="">imediatamente.</i> – frisou – É muito importante que fiquem seguros.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Os quatro acenaram com a cabeça e correram desenfreados. Sara sentiu um alívio imenso em sua cabeça sabendo que não perderia parte de suas lembranças, mas ainda seria difícil para ela aceitar que tinha amigos com poderes mágicos e que na cola deles havia um meio-vampiro assassino.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Vocês têm mais algum inimigo? – perguntou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Kricolas não é nosso inimigo em particular. – respondeu Kal – Ele é inimigo de toda a comunidade mágica.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Comunidade mágica? Quantos mais de vocês existem?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Milhões no Brasil. Existem bruxos vivendo por todos os cantos, até mesmo embaixo da nossa lagoa. – disse Kal, como se o que estivesse falando fosse a coisa mais sensata do mundo para um não mágico.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O quê? – espantou-se – Eu tomava banho lá quando era criança.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Aquele é um lugar novo para os bruxos. Mas existem outros lugares muito mais antigos do que o próprio Brasil, entende?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Sara assentiu, mas resolveu continuar com o questionário.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Onde vocês aprendem a fazer magia?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Em uma escola, naturalmente. – respondeu Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Será que um dia eu poderia conhecê-la?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Duvido muito. Humanos sem poderes mágicos não têm acesso às cidades mágicas. Já é uma grande coisa você poder saber da nossa verdadeira existência. – disse Guine.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não entendo ainda por que permitiram que você soubesse de tudo. – disse Daimon, reflexivo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ivo disse que tinha ordens de não trabalhar com a mente de Sara. Mas de quem será a ordem? – questionou-se Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Olha lá os meus pais.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Sara correu por entre os outros carros do estacionamento até que finalmente alcançou os braços abertos de Alexandre e Mara Chiabai.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Graças a Deus vocês estão bem. – disse Mara – Dois policiais nos disseram para esperarmos aqui... não pudemos fazer nada... Kalevi! Este braço, está, está... – gaguejou procurando a palavra certa – Horrível!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Está tudo bem comigo, sério. – disse meio que sem confiança enquanto segurava o braço contra o corpo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Depressa. Quanto mais rápido sairmos, mais seguros. – disse Alexandre já segurando a chave do carro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal abriu a porta de trás do sedan e entrou com tanta pressa que nem ao menos reparou que sentara em um envelope amarelo. O carro foi ligado e em alguns minutos de estrada, os quais foram usados para comentar a “rebeldia dos jovens que atacaram o parque”. Os quatro garotos entreolharam-se e por um momento Sara sentiu inveja da inocência a que os pais foram forçadamente submetidos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Alexandre guiou o veículo até alcançar a extremidade máxima da Rua Guaçuí. Kal, Daimon e Guinevere saltaram do carro atentos para qualquer movimento ao redor deles. Os três agradeceram aos Chiabai pelo “passeio” e despediram-se. Antes que o carro sumisse de vista, Sara gritou para eles que na manhã seguinte, logo após o café, ela iria visitá-los para continuar o assunto da noite. Na verdade foi um “<i style="">Até amanhã cedo</i>”. Mas podia sim ser interpretado dessa forma.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal abriu o portão utilizando a varinha, não queria perder nem um segundo do lado de fora procurando a chave certa. Atravessaram o jardim, fortemente vigiado pelas estátuas vivas que ganharam da Rainha Eva. Alguns gnomos apenas balançaram a cabeça ao vê-los passando, outros correram para escoltá-los até a porta.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Obrigada. – agradeceu Guinevere, alisando a careca de um deles.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Meninos! – disse Amanda saltando do sofá em direção à porta – Vocês nunca mais sairão à noite!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Estamos bem, mãe. Não se preocupe. Soubemos nos defender.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E os guardas de Warren? Não apareceram? – perguntou indecisa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim. Um tal de Ivo Gostuânia nos ajudou também. – respondeu Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Por Merlin! Apenas um?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não sei dizer, mas acho que havia outros sim. O movimento dos Griphons foi rapidamente contido, depois que o Ivo se identificou como guarda. Acredito que outros tenham lutado por lá. – prosseguiu Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E os Chiabai? Como estão?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Acredite, estão melhores do que a gente. – disse Daimon – Os guardas tiraram a memória deles e de todas as outras pessoas que estavam lá. Fizeram todas acreditarem que foi um ato de vandalismo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Quase todas, Daimon. – corrigiu Guine.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Como assim?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sara Chiabai teve a memória preservada.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Amanda levou uma mão à boca e caiu sentada no sofá.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Mas por quê?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ivo disse que ele tinha ordens de não mexer com as lembranças dela. – informou Kal, vagamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Quer dizer que ela sabe dos Griphons?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E de nós também. – Kal resolveu omitir mais uma vez a parte sobre Kricolas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Por mil escamas de dragões... quem deu essa ordem?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não sabemos. – disse sinceramente, Guinevere.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Amanhã falarei imediatamente com o professor Cacius. Agora, tomem um banho e durmam. Não quero saber de mais nenhum detalhe desta noite, ou nunca mais conseguirei dormir. Kal, filho, depois do banho vá até meu quarto para cuidarmos deste ferimento. – disse ela apontando para o braço ensangüentado do garoto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal não se importou em nada em não ter que contar a mãe sobre suas aventuras dentro do circo e no trem fantasma. Sentiu apenas uma imensa vontade de limpar todo o corpo com água fria, tratar o braço ferido e ir dormir. Uma noite de sono seria o suficiente para refrescar a sua mente de tudo aquilo. Na manhã seguinte, Sara chegaria até eles com uma vasta lista de perguntas e sem saber por que, Kal sentia-se na obrigação de respondê-las. <i style="">Más só amanhã...</i> Pensou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Muitas horas depois, Kal foi acordado por um irritante raio de sol que penetrou pela janela e repousou bem em cima de seus olhos. Uma noite de sono não fora o suficiente para recuperar os ânimos do garoto que levantou soltando impropérios que acordaram Daimon em seguida.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bom dia... – falou Daimon, espreguiçando-se em meio a um longo bocejo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bom dia. – respondeu Kal acompanhando o irmão no bocejo – Isso pega...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Os dois desceram até a cozinha, ainda de pijamas, para tomar o desjejum. Lá estava Guinevere, que sempre levantava cedo, não importando a ocasião, e Amanda que estava segurando uma garrafa de café quente na mão quando os dois entraram fazendo barulho com o arrastar de pés.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Dormiram bem? – perguntou Amanda – Porque eu não. Um dia meu coração ainda escapole pela boca. Se eu pudesse enviá-los mais cedo para Avalon eu ficaria muito mais tranqüila. Mas as Repúblicas ainda estão fechadas e não quero incomodar a Rainha Eva com minhas preocupações maternas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Tudo bem, mãe. Não há perigo aqui em casa. Estamos bem protegidos. – tranqüilizou Kal, imaginando que talvez a mãe mudasse de idéia quando ouvisse Cacius dizer que Cidade dos Elfos não era mais um lugar seguro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Olhe para o seu braço! Isso é proteção? – apontou para os ferimentos do garoto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não vai passar disso. – falou Kal mantendo a calma.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não vai mesmo! Daqui vocês não saem mais. – disse em definitivo – Nem mesmo de dia. Não posso arriscar perder vocês. São tudo o que eu tenho...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Os três puderam sentir a comoção na voz de Amanda e não quiseram chateá-la com desculpas de que lá fora não era perigoso. Afinal, faltavam apenas duas semanas para as aulas recomeçarem em Avalon e na Cidade dos Elfos eles teriam muito mais liberdade para agir.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ok, mãe. Combinado. Não sairemos mais... – disse Daimon tentando disfarçar o desânimo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Os quatro sentaram-se para tomar o café e comer um pão feito pela própria Amanda. Os programas de culinária que ela assistia na televisão estavam realmente valendo a pena. A cada dia ela aparecia com uma massa diferente de pão e bolo, além de receitas de sobremesa de encher os olhos e a boca com saliva.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal ainda estava com seu último pedaço de pão a meio caminho da garganta quando a campanha do portão de entrada tocou. De imediato ele soube que era Sara. Ele apressou-se a tomar mais um gole de café para facilitar a descida do alimento e correu para o segundo andar a fim de se trocar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Ele subiu a largos passos pensando no que Sara perguntaria ainda. Afinal, ela já sabia que eles eram bruxos, que eram perseguidos por um meio-vampiro e que as criaturas da noite anterior serviam a ele, Kricolas. Kal inclusive usara a varinha na frente dela. E ainda tinha Ivo que revelou à garota sobre o que ele e os outros de Warren estavam fazendo com os não mágicos e que fizeram o mesmo com o senhor e senhora Chiabai.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal retirou a primeira peça de roupa do guarda roupa e jogou-se dentro dela o mais rápido que pôde. Ainda estava enfiando uma das mãos na manga da camisa quando retornou ao primeiro andar. Sara estava de pé ao lado de Amanda, Guinevere e Daimon. Amanda estava séria e ordenou que os quatro a acompanhassem até a cozinha. Eles seguiram em fila. Sara parecia mais nervosa que os demais. Não podia ser diferente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sara, - começou Amanda olhando bem nos olhos dela – precisamos que entenda que não somos pessoas ruins. Eu sei como os não mágicos deterioraram a história dos bruxos através dos séculos. Nos associam a tudo o que é ruim, mas não é bem assim. Existem bruxos bons e bruxos ruins. Nós somos os bons e ontem você viu o que bruxos ruins são capazes de fazer. Compreende?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">A garota acenou que sim com a cabeça, parecia menos nervosa naquele momento.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Por que vieram para cá? – perguntou, honestamente, imaginando-se por que uma família de bruxos se mudaria para uma cidade habitada somente por humanos comuns.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Coisas terríveis aconteceram conosco no ano passado. – respondeu Kal percebendo que sua mãe seria incapaz de responder a essa pergunta simples.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Que coisas? – insistiu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Desculpe, mas essa é uma ferida que está cicatrizando ainda. Não queremos remoê-la. – disse Amanda em tom convincente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Nossa vizinhança corre algum perigo com vocês estando por aqui?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- No tempo em que vivemos, <i style="">todos</i> os humanos correm perigo. Bruxos ou não. - prosseguiu Amanda com temor na voz.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Como assim? – indagou mais uma vez Sara, mostrando-se obstinada a obter todas as informações.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Essa história pode ser muito maior do que pensa. – iniciou Guinevere – Mas vamos fazer um breve resumo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Ela concordou com a cabeça.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Há alguns anos, o meio-vampiro, Kricolas, fugiu da penitenciária de Warren. – informou Kal – Ele tinha um mestre chamado Donnovan, que foi destruído por um antepassado nosso. Enfim, como Daimon explicou para você ontem, Kricolas roubou um artefato mágico poderoso para ressuscitar o tal mestre. Donnovan é um bruxo cruel e que odeia não mágicos. Ele quer acabar com todos vocês.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Quer dizer... eliminar todos que não tiverem poderes como vocês?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Isso. – confirmou Daimon – Mas acreditamos que ele vai querer uma vingança antes. Por isso estamos aqui. Nos escondendo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Pai! – exclamou com a mão na boca – Vocês correm sério risco de vida...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Nem tanto. – interrompeu uma voz.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Quando Sara percebeu que o falante era um gato cinza que estava sentado no parapeito da janela ela deu um salto para trás.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Esse gato... ele fala? – perguntou incrédula apontando para o felino com o indicador direito enquanto a mão esquerda segurava o queixo para que não caísse.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Mais respeito! Eu não sou um gato. Sou um guarda de alto-posto em Warren. – declarou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Algum problema, Stuart? – perguntou Amanda reconhecendo o gato.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Vim apenas conferir se está tudo bem por aqui.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Estamos. – disse Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E a garota? – perguntou espiando Sara – Soube que Uric deu uma ordem para não desmemoriá-la.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Uric Sheiffer permitiu isso? – questionou Amanda.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim, senhora. Uric é o único em Warren que tem poder para essa decisão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Stuart, o Folha Mágica publicou alguma coisa sobre o incidente de ontem? – indagou Amanda mudando de assunto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim, em uma notinha de rodapé. Eles ocuparam todo o jornal com uma única e grandíssima matéria.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Que tipo de matéria poderia ser de maior destaque do que um ataque de Griphons em uma cidade não-mágica?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- A de um roubo muito, muito estranho. Também realizado por Kricolas. – disse o guarda.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E quem foi roubado? – perguntou Sara já se sentindo parte daquilo tudo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O fauno Saguior. – respondeu Stuart com uma má vontade estampada em seus olhos felinos por estar dando informações a uma simples garota humana.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Saguior? – duvidou Kal – O fauno que faz parte do Conselho de Magia?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O próprio.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O que foi roubado dele? – perguntou Amanda curiosa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Leiam vocês mesmo. – disse o gato estendendo a cauda, que enrolava o jornal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><i style="">O mal pode estar à solta<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><i style=""><o:p> </o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><i style=""><span style=""> </span>Foi roubado da Biblioteca Central da Cidade do Norte, ontem, um dos artefatos mágicos mais antigos e controversos da antiguidade. O artefato era guardado em sigilo pelo fauno Saguior que amargamente lamentou a perda. Segundo ele, pela manhã uma garota chamada Tamisa Spineli apareceu na biblioteca procurando um inocente livro de poções, ele a deixou sozinha por um tempo e segundo suas suspeitas ela averiguou onde ele guardava o artefato. <o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><i style="">Na mesma noite, Saguior foi surpreendido por ninguém menos do que Kricolas. O meio-vampiro parece estar colecionando artefatos mágicos antigos. No ano passado, ele localizou o lendário Livro de Merlin, carregando-o consigo. No entanto, Saguior tem seus temores, pois o artefato mágico em questão era nada mesmo do a Caixa de Pandora.<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><i style="">Segundo lendas populares e alguns relatos históricos, a Caixa de Pandora abriga os males do mundo. Emoções terríveis, como, ódio, inveja, desprezo... Questionado pela nossa equipe o por que dele estar com a caixa, Saguior simplesmente respondeu “</i>protejo a caixa muito antes de todos que existem no mundo usarem fraudas”. <i style="">Sabe-se que Saguior é uma das criaturas mágicas mais antigas existente, mas não sabemos o quanto. Essa informação a nós não foi revelada.<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><i style="">Alguns bruxos que trabalham no Departamento Secreto do Governo acreditam que Kricolas pretende abrir a caixa e lançar sobre a Terra um reino de maldições, mas o enigmático Cacius Henrique, diretor da Escola de Magia e Feitiçaria de Avalon, rebateu a teoria dizendo que nenhuma pessoa com más intenções poderia remover a tampa da caixa.<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><i style="">O novo Ministro da Defesa e Segurança Mágica, Dorian Gulemarc, afirmou que Saguior cometeu um grave erro ao não passar a responsabilidade de proteger a caixa para o governo. Segundo o ministro, Saguior possui um temperamento egoísta e de difícil compreensão, mas ele não acredita que o fauno seja totalmente inocente nessa história. “</i>Admito que Saguior é um dos seres mais poderosos que já conheci. Por tal fato, não acredito que alguém pudesse arrancar qualquer coisa dele, mesmo esse alguém sendo Kricolas. Se Saguior foi confiado à caixa ou não, jamais saberemos ao certo, mas para mim ele facilitou o lado dos vilões. Por isso abri uma investigação minuciosa e esta noite teremos uma reunião no Conselho de Magia para decidir o futuro dele”<i style="">, disse hoje cedo em nossa redação.<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><i style="">O que nós cidadãs podemos fazer é torcer para que os problemas se resolvam e os culpados sejam punidos com a varinha da lei.<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><i style=""><o:p> </o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Inaceitável! – exclamou Amanda – A Caixa de Pandora! Aqui, no Brasil! Na Cidade do Norte... não faz sentido...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Estou tão surpreso quanto a senhora. – disse Stuart – Esperaremos até à noite para sabermos o que vai acontecer a Saguior, mas duvido que o ministro vá facilitar o lado dele.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Isso tudo é injusto. – protestou Kal – Saguior nunca faria nada para prejudicar ninguém.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Você o conhece? – perguntou Sara perplexa com todas aquelas novidades.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim. – respondeu. Guinevere e Daimon o olharam curiosos – Por que não vamos lá pra cima. – sugeriu – Mamãe e Stuart devem estar querendo conversar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Antes mesmo que Amanda fizesse um sinal em protesto, Kal já havia desaparecido da cozinha com Daimon, Guine e Sara em seus calcanhares.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Os quatro subiram agitados até o quarto de Kal e Daimon. Kal olhou para o lago pela janela e começou a falar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Quando Cacius me levou até Celacanto. – disse apontando para o centro do lago – A cidade que eu disse ficar lá no fundo. Pois bem, fomos até lá e eu entrei com ele na sala de reuniões do Conselho de Magia. Saguior estava lá também. Mas quando foi realizada a votação para eleger o novo ministro, nós dois tivemos que nos retirar e Saguior me levou para uma sala de treinamento, ou sei lá o que era aquela sala. Enfim, ele me ensinou um feitiço de proteção diferente do Réplica. O mesmo que usei para nos proteger dos Griphons, Sara – disse olhando fixamente para a vizinha com cumplicidade – Dorian Gulemarc insultou Saguior e Cacius o defendeu com unhas e dentes, entendem o que eu digo?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Cacius tem plena confiança nesse Saguior. – adivinhou Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Exato! Cacius não costuma se enganar quanto as pessoas. E Saguior também me pareceu ser digno de confiança.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Acha que Dorian está inventando coisas, então? – indagou Guinevere, Sara assistia a tudo impassível.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Dorian é o pior tipo de bruxo que já conheci. – comentou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Pior do que o Kricolas? – questionou Sara ajeitando-se na cama onde estava sentada.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Muito pior. Ele é mascarado. Disfarça seus planos e artimanhas. Ele armou para cima de Bernardo Mcflex, lembram-se dele?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Escritor da Terra? – certificou-se Guinevere.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ele mesmo. Com investimentos do setor em que Dorian trabalhava, Bernardo produziu um pó capaz de esfumaçar qualquer pessoa para qualquer lugar. Como ninguém além de Bernardo sabia que o produto fora custeado pelo governo, Dorian quis lucrar um pouco, mas foi desmascarado em frente ao conselho, porém deu a volta por cima e culpou Bernardo e se não fosse pela interferência do pai de Ralph estaria preso agora.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Que horror! – espantou-se Guine – Mas qual o propósito de manter Saguior longe?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Isso eu já não sei. Mas tenho certeza de que ele fará de tudo para mandar Saguior para Warren. – concluiu Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E esse Cacius? Não fará nada? – perguntou Sara, por dentro do assunto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Cacius é apenas um membro do Conselho, seu voto pode não fazer diferença. – desanimou Kal – Fazendo as alianças corretas, Dorian poderá conseguir o que quiser. Ainda mais agora no posto de Ministro da Defesa e Segurança Mágica.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E o que vocês podem fazer a respeito? – indagou Sara, erguendo-se da cama.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eu vou até a Celacanto hoje à noite. – disse Kal com um tom aventureiro na voz.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Tia Amanda disse que não deveríamos sair mais de casa. – protestou Guinevere com bravura.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não vou sair de casa. Celacanto está no meu quintal. – respondeu Kal ironicamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Guinevere levou uma mão na testa em ar de derrota e disse:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ok. Kal, não nos deixariam participar da reunião. Não somos membros do conselho!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eu sei, Guine. Mas quero estar lá, não importa o quanto custe.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Tudo bem, <i style="">nós</i> vamos. – frisou – Não vou deixar você sair por aí sozinho.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Posso ir também? – perguntou Sara posicionando-se na janela para ver o lago.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- A sorte lhe sorriria mil vezes antes que te deixassem entrar em uma cidade mágica. – respondeu Daimon com um sorriso nos lábios.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Como assim?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Existem vários encantamentos que protegem nossas cidades da presença de na mágicos. – respondeu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Sara baixou o rosto em desânimo, mas não se deixou ficar abatida, logo o ergueu e disse com um perceptível ar de alegria recheando cada uma de suas palavras.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Estou honrada por vocês estarem compartilhando tantos segredos comigo. Estou mesmo. Nunca imaginei que um dia estaria conversando com bruxos de verdade, muito menos descobrir que o lago em que passei metade da minha infância é uma cidade mágica. Sabe, este está sendo o melhor ano da minha vida e espero que ele só fique melhor até o final. Saibam que o segredo de vocês está seguro comigo, não sei como poderia provar isso, mas espero que minha palavra baste. Já os considero amigos e torço para ser correspondida. – neste momento ela fixou sua atenção em Kal que ficou levemente corado – Qualquer ajuda que precisarem vocês sabem onde me procurar. Agora, tenho que ir.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Sara deu um sorriso de despedida e saiu do quarto tranqüilamente, dali era possível ouvir o som que seu tamanco produzia no assoalho e meio segundo depois ouviram ela se despedindo de Amanda.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Acha que ela é confiável? – perguntou Guine a Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Acho. – respondeu Kal instintivamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eu perguntei ao Daimon. – repreendeu Guine.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E porque não a mim?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Porque opinião de quem está apaixonado não conta.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Os três amargaram com as horas até o pôr-do-sol. Amanda nem ao menos desconfiava o que eles tramavam. Assim que a lua iluminasse a superfície da água do lago, eles chamariam por Viviane para que juntos pudessem chegar até Celacanto. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">No momento em que o sol se pôs, eles prepararam-se para a janta, correndo até a cozinha para fugir dos olhares inquisidores de Amanda comendo alguma coisa. Em seguida, eles sentaram-se no sofá com Amanda para assistirem um pouco de televisão, ela agora parecia ter se acostumado com a magia circulante dentro da casa e já estava funcionando bem melhor. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">A lua já brilhava alto lá fora e os três estavam inquietos quando finalmente Amanda subiu para tomar banho eles não perderam tempo para agirem. Correram até a margem do lago e Kal tentou se lembrar de como Cacius fizera para chamar a mulher da gôndola.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Talvez eles mantiveram contato mental. – sugeriu Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal forçou sua memória e aproximou-se ainda mais da margem do lago. O vento já empurrava a água até seus pés, como antes. Ele sacou a varinha e com a sua ponta tocou a superfície do lago. Imaginou que Cacius pudesse ter usado um feitiço, mas ele não se lembrava de tê-lo ouvido usando, ou ter visto algum efeito, geralmente os feitiços produziam clarões bem perceptíveis.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Viviane, você pode vir nos buscar? – perguntou Kal, por impulso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Uma névoa cobriu toda a extensão do lago, como se ele estivesse evaporando rapidamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O que é aquilo? – perguntou Guinevere apontando para uma sombra que se aproximava. Era Viviane com sua gôndola, sem remos ou motores.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Boa noite, meninos Foster. Boa noite para você também senhorita Lingenstain. – saudou Viviane – Podem subir.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal subiu primeiro ajudando Guinevere e Daimon em seguida. A gôndola recomeçou a se mover indo em direção ao centro do lago. Viviane estava de braços abertos, a brisa tocando suavemente seus cabelos loiros brilhantes que de tão brancos se misturavam com a névoa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Você é uma bruxa? – perguntou Daimon à mulher.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Quase...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Um fantasma, então? – prosseguiu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Muito próximo a isso... – disse evasivamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Um espírito?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Está esquentando...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Daimon deu de ombros e resolveu não questionar mais a existência de Viviane.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Cacius me disse que ela é a guardiã deste lago. – informou Kal, baixinho.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Chegamos. Segurem-se firme.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Os três seguraram-se nas bordas da gôndola quando ela começou a girar e a descer para o fundo do lago. Guinevere e Daimon sentiram uma aflição por imaginarem-se descendo até o fundo. Cercados por água sem poder respirar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Alguns segundos depois, seus medos foram perdidos. Estavam agora flutuando e descendo às margens do lago que beirava a cidade de Celacanto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ela é linda... – admirou-se Daimon ao ver as construções em puro marfim.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">A cidade estava diferente do que o dia anterior. Outras cinco lojas haviam sido abertas da noite para o dia e a única rua da cidade parecia ter ficado maior, embora o tamanho das demais lojas e do lago não parecia ter diminuído um centímetro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O novo ministro quer aumentar o número de moradores aqui em Celacanto e promoveu este aumento repentino. – explicou Viviane percebendo o espanto de Kal – É bem provável que em poucos meses esta cidade esteja tão grande quanto a Cidade dos Elfos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal olhou para ela admirado, mas não questionou mais nenhum assunto. Estava distraído com o número de bruxos que havia lá embaixo. Celacanto fervilhava. Pessoas esfumaçavam a todo o instante, algumas até mesmo já usavam o pó de bobetônia que Bernardo criara.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- É aqui que os deixo. – disse Viviane em uma voz pesarosa – Espero que encontrem o que procuram.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Obrigado, Viviane. – agradeceu Guinevere gentilmente enquanto desciam do barco.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">A mulher inclinou a cabeça em sinal de respeito e desapareceu por entre as brumas que se ergueram.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Vamos até o Conselho de Magia. – disse Kal, pouco pensativo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Seguiram caminho por entre a multidão de bruxos, todos muito agitados, falavam alto, por vezes xingavam, faziam gestos estranhos com a mão, mas para eles nada fazia sentido algum. Procurando um rosto conhecido, Kal ergueu seu pescoço o mais alto que pôde. Ele olhava de um lado para o outro atento a cada uma das pessoas. Quando virou-se para a sua direita deparou-se com seu amigo de Avalon, Ralph Scheiffer, filho de Uric, o Guardião-chefe de Warren. Ralph ainda era poucos centímetros menor do que Kal, tinha olhos bem castanhos e um cabelo loiro escuro, pele clara e um pouco queimada de sol.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ralph! – gritou Kal ao vê-lo, contente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Ele virou-se ao ouvir o chamado e abriu um sorriso exibindo seus dentes brancos. Ralph abriu caminho por entre as pessoas e chegou até os amigos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sabia que vocês viriam. – disse olhando de Kal para Guinevere e por último Daimon – Papai disse que vocês estão morando na margem do lago aqui em cima.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Exato. – confirmou Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O que você faz aqui? – perguntou Guinevere.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eu reclamei com meus pais por que eles estão me deixando muito tempo sozinho em casa. Na verdade eu não queria mesmo perder a audiência no Conselho de Magia. – admitiu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Vai ser aberta ao público? – perguntou Kal, preocupado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não. Apenas algumas poucas dezenas de pessoas com credenciais poderão entrar na sala do Conselho.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Droga! – praguejou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Nós vamos tentar entrar de qualquer modo. – falou Ralph, tranqüilo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Como? – perguntou Guinevere.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eu tenho meus truques.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Ralph guiou os três por entre toda aquela gente emaranhada que parecia se engalfinhar em uma briga intensa. Eles eram espremidos a cada passo, tinham seus pés pisoteados impiedosamente e nem ao menos ouviam uma palavra de desculpas. Quando finalmente chegaram a um espaço mais aberto, Ralph travou as pernas e disse que não poderiam tentar entrar naquele momento.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Tem um guarda de Warren vigiando a entrada do Conselho. – apontou para o guarda de capa marrom – Teremos que esperar ele sair dali. Não deve demorar muito. Ele precisará cobrir outra área em pouco tempo. Papai disse que eles não mandaram mais de dez guardas para cá. Todos os outros estão se esforçando para seguir o rastro de Kricolas agora que ele está com a Caixa de Pandora.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Seu pai falou alguma coisa a respeito? – indagou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não, mas mamãe sim. Ela disse que a caixa é muito mais poderosa do que imaginamos. E não acha plausível que Kricolas consiga abri-la.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E por que não? – indagou Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Parece que antes de ser entregue a Saguior, a caixa passou pelas mãos de Merlin. E bem... sabemos quem é Merlin e o que ele já fez para proteger este mundo. Com sinceridade, aquele velho não dava ponto sem nó.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Acha que a afirmação de Cacius no Folha Mágica pode ser verdadeira? – questionou Guinevere.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Meus pais disseram que sim. Eles têm total confiança na palavra de Cacius. Kricolas não poderia remover a tampa da Caixa de Pandora mal intencionado. E não vejo um <i style="">bom motivo</i> para ele fazer isso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Certo. – aliviou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O guarda está saindo! – disse Ralph atento – Vamos agora. Não teremos hora melhor.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Humhum. – concordaram em coro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Façam cara de gente importante. – disse Ralph empinando o nariz e estufando o peito.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Quando estavam a poucos metros de distância da entrada surgiu outro guarda, não parecia ser de Warren, mas era um obstáculo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Continuem! – ordenou Ralph percebendo que os três já estavam dando meia volta – Bom dia, senhor. – cumprimentou ao guarda já se esgueirando para dentro do prédio.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Suas credenciais, por favor. – exigiu o guarda.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Credenciais? – retorquiu Ralph jocosamente em meio a um sorriso cínico – Você sabe <i style="">quem</i> nós somos?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">O guarda analisou a figura dos quatro garotos ali parados em sua frente e levantou as sobrancelhas em sinal negativo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Guarda, deixe-nos passar. – disse Ralph outra vez tentando se esgueirar para dentro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ninguém passa por mim sem credenciais. – falou o guarda relutante.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Deve estar havendo algum engano. – comentou Ralph olhando para os três e depois para o guarda – Escute, recruta, eu sou filho de Uric Scheiffer, Guardião-chefe de Warren e tenho ordens do meu <i style="">pai </i>para encontrá-lo lá dentro. Se preferir pode <i style="">você </i>mesmo ir lá dentro e chamá-lo para resolver esta situação vergonhosa. Mas devo adverti-lo que meu pai não é tão paciente quanto eu. – disse em um tom convincente que Kal quase pôde perceber o guarda tremer os joelhos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E quanto a eles? – perguntou o guarda apontando a varinha para Kal, Guine e Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Nunca-Mais-Faça-Isso! – repreendeu Ralph com a varinha erguida, sua ponta brilhava em um vermelho escarlate – Por acaso você não reconhece as pessoas? Que tipo de guarda é você, homem?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Ralph realmente sabia intimidar uma pessoa quando queria, este era um lado que Kal não conhecia do amigo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Estes são os Foster! Entendeu ou quer que eu desenhe? Os <i style="">Foster</i>! Deve sua vida a eles. Cada um de nós aqui deve. – finalizou dando um longo suspiro de alívio – Agora, se nos permite, temos uma audiência para assistir.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim, senhor. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Vou fazer vista grossa desta vez, rapaz. – disse Ralph tentando ganhar mais uma vantagem, garantindo que o guarda mantivesse isso em segredo – Meu pai odiaria saber que nós quatro passamos por essa situação, então, se quiser manter o emprego, eu posso ajudar ficando calado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Entendi, senhor, desculpe por minha petulância. – falou o guarda covardemente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Ralph ergueu ainda mais o peito e entrou de rosto empinado quando pisou no tapete vermelho do saguão de entrada. Várias estátuas de bruxos estavam posicionadas ali dentro, alguns outros bruxos de verdade os encararam de modo curioso quando os quatro já estavam a meio caminho do elevador de acesso à sala do Conselho de Magia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal percebeu que Jonas, o bruxo encarregado do elevador não estava ali, o que de certa forma poderia ser um bom sinal. Talvez ele os colocasse em encrencas. Kal aproximou-se mais e puxou a porta com força, mas ela não se mexeu nem um pouco. Impondo um pouco mais de pressão ele obteve o mesmo resultado. Ralph encarou aquela cena com desgosto e num sorriso simples disse.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- É assim, olha. Elevador, abra.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">A porta de bronze do elevador cedeu com um clic e facilmente foi empurrada, dando passagem para os quatro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Como você sabia o que dizer? – indagou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- São sempre a mesma coisa, elevadores, portas, tudo isso... – respondeu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Este elevador aqui não é igual ao do Hospital Nautilos, é? – questionou Guinevere temerosa quanto ao equipamento assassino que se chamava elevador na pequena cidade de Dunas, próxima a Vila da Cachoeira.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não mesmo. – tranqüilizou Kal apertando o botão <i style="">SS</i> para descerem até a sala do conselho.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">A descida foi rápida o bastante para não dar tempo deles iniciarem um diálogo. Assim que a porta se abriu, Ralph saiu agachado ordenando que eles fizessem o mesmo para não serem vistos por seus pais.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Você não disse que era uma ordem deles você estar aqui? – questionou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Acreditou mesmo naquilo que eu disse ao guarda? – riu-se – Não sabia que eu mentia tão bem assim.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não acredito que somos penetras... – decepcionou-se Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Bravamente, os quatro permaneceram agachados lutando contra o esforço de seus joelhos em se manterem naquela posição e contra os olhares indiscretos das pessoas ao redor e em pouco menos de dois minutos haviam entrado na sala do conselho.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Eles vislumbraram o teto abobadado e Ralph apontou para cadeiras lá em cima.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- É lá que devemos ir.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Eles viraram à direita e subiram alguns degraus que os lavariam para um lance de escadas que era o real caminho até os assentos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Subiram correndo com medo de ainda serem avistados pelos pais de Ralph ou alguma outra pessoa que pudesse tirá-los dali. Lá em cima, eles estariam seguros, pois era onde ficavam as pessoas credenciadas e certamente nenhuma delas iria questioná-las sobre qualquer coisa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal procurou lugares na beirada do para-peito, de forma que pudessem visualizar a reunião de forma privilegiada. Não demorou muito tempo depois que se sentaram e logo todos os membros do conselho estavam ocupando seus assentos, inclusive Cacius que estranhamente piscou para a direção de onde eles estavam.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Como ele pode saber tudo? – bufou Ralph.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Boa noite, membros do conselho. – saudou Timas Havany, Ministro da Comunicação Mágica – Esta reunião foi convocada para decidirmos o futuro de um dos nossos membros, o fauno Saguior. A acusação, representada pelo nosso mais novo Ministro da Defesa e Segurança Mágica, Dorian Gulemarc, o acusa de: – disse puxando uma folhinha para cima do palanque e colocando um óculos de leitura – Omitir do Governo Mágico informações importantes sobre um artefato mágico potencialmente perigoso, portar este objeto em segredo pondo em risco a segurança da comunidade mágica e por facilitar o repasse do devido mencionado ao inimigo mais perigoso de todos os bruxos de bem.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Timas fez uma pequena pausa para respirar e prosseguiu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Em sua defesa, apresenta-se o Diretor da Escola de Magia e Feitiçaria de Avalon, senhor Cacius Henrique. – disse apontando para a direção de Cacius com o braço esquerdo – Eu desempenharei papel de juiz mantendo neutralidade no assunto como manda o Código de Leis e Ordens Mágicas, assinado pelos bruxos, elfos, fadas e todas as demais criaturas mágicas no ano mil. Tragam o réu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Uma porta se abriu bem embaixo das escadas que Kal e os outros subiram e dela saíram dois homens com varinhas empunhadas escoltando Saguior que estava com as mãos protegidas por uma bolha dourada, certamente elas impediam que ele usasse seus poderes de fauno.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Saguior, - prosseguiu Timas – sabe porquê está aqui e porquê está sendo acusado?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim. – disse com convicção.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E você se considera...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Inocente. – disse abertamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Está disposto a se submeter a um julgamento justo neste conselho?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eu acho isto uma grande palha...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Responda apenas, sim ou não. – interrompeu Timas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim. – bufou, entre dentes.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eu e com os poderes de juiz a mim concedidos por este conselho, declaro iniciado o julgamento. <span style=""> </span></p> André Fantinhttp://www.blogger.com/profile/07818980780167800572noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5429287600558187973.post-324216221839558812009-08-10T09:51:00.001-07:002009-08-10T09:54:09.765-07:00Capítulo 5 - Circo dos horrores<meta equiv="Content-Type" content="text/html; charset=utf-8"><meta name="ProgId" content="Word.Document"><meta name="Generator" content="Microsoft Word 11"><meta name="Originator" content="Microsoft Word 11"><link rel="File-List" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CANDRE%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtml1%5C01%5Cclip_filelist.xml"><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><style> <!-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Entrando no elevador e apertando o botão que os levaria até a Sala de Reuniões do Conselho de Magia, Saguior ainda parecia levemente irritado. Já usara um feitiço de cura para conter o sangramento do nariz, mas, aparentemente, nada poderia curar seu orgulho ferido.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Senhor Saguior.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim. – falou o fauno.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Acha mesmo que os bruxos do conselho me entregariam a Kricolas?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não duvido. Aqueles homens e mulheres estão mais preocupados em proteger seus traseiros do que as pessoas que representam. Mas tenha uma certeza, Cacius lutará por você, se preciso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não tenho dúvidas quanto a isso. O professor Cacius sempre me apoiou, em tudo, sabe.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Típico do velho. Este comportamento patrono.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Você parece que também tem muito a agradecer a ele.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Certamente. Cacius sempre esteve ao meu lado quando precisei, e até mesmo quando não era necessário, um pouco intrometido ele é.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Neste mesmo momento a porta do elevador se abriu e os dois depararam-se com uma explosão de aplausos no Salão do Conselho de Magia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Parece que realmente terminaram. – comentou Saguior – Vamos lá.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Os bruxos no salão estavam de pé para aplaudir o novo Ministro da Defesa Mágica, Dorian Gulemarc. O empossado subiu ao palanque para fazer seu primeiro pronunciamento como ministro e, obviamente, aprovar a compra do pó de bobetônia pelo governo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Senhoras e senhores, é com muita satisfação que assumo este cargo. Ainda mais sabendo que estou substituindo um homem tão competente como foi Mardo, que sua alma descanse em paz. Mas o período é crítico! E não quero ser alvo de chacota dos jornais do nosso país. Vou ser enérgico e altamente eficaz na busca pela ameaça Kricolas. Vamos caçá-lo tão fortemente como fez o jovem Garner Foster, quando fundou Warren há nove séculos. Quero enfatizar, também neste discurso, que estou satisfeito com o trabalho da GAW, liderada por Uric Scheiffer, para manter a ordem no país e a segurança dos protegidos pelo Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas. Bem, para finalizar, gostaria de formalizar meu total apoio ao jovem Mecflex e a sua invenção, o pó de bobetônia. Uma fórmula já será enviada a um de nossos laboratórios para a produção em série. Não se preocupe Mecflex, você receberá os cem milhões de flandres que pediu, mas na minha opinião é um preço abusivo a se pagar. Está na cara que o nosso jovem bruxo é um explorador capitalista.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Mesmo estando longe, Kal pode ver o rosto de Bernardo pintar-se de roxo tamanha a sua fúria com o comentário maldoso de Dorian. Sem mais se conter, Mecflex levantou-se de sua cadeira e gritou para todo o conselho:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ladrão, porco miserável! Você bem sabe que foi com o dinheiro do próprio governo que eu produzi o pó de bobetônia! Você quer rou...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Antes de Bernardo conseguir terminar a frase, Dorian empunhou a varinha que usava como microfone e usando um feitiço emudeceu o rapaz.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Quer dizer que o tempo todo esteve querendo nos enganar, Mecflex? – perguntou fingidamente o novo ministro – Você queria nos vender um projeto que nós mesmos investimos? Onde está sua moral? Respeite este Conselho! Guardas, prendam este rapaz!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Cacius estava impassível em sua poltrona, pela primeira vez não sabia como agir. Uric, que estava ao seu lado, levantou-se e com destreza disse:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Você pode ser o Ministro da Defesa Mágica, mas quem manda nos guardas de Warren ainda sou eu. Ninguém sairá preso daqui.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Como ousa desafiar minha autoridade?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Vai mandar me prender também, Dorian? Consegue mesmo se virar sem a minha ajuda?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Dorian mordeu os lábios com furor, olhou para o restante do conselho e viu que aquela seria sua primeira grande decisão como ministro. E como toda grande decisão, havia dois pontos de vista a serem considerados. Caso ele não enfrentasse Uric seria taxado como um ministro covarde logo em seus primeiros minutos, mas se ele ordenasse a prisão do Guardião Chefe de Warren, ele sabia que seus dias de glória estariam contados. Não havia homem ou mulher mais eficiente para o cargo do que Uric Scheiffer, sem ele no comando das milícias, qualquer rebelde tomaria o controle da situação. Encurralado decidiu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Deixe estar, então. Este conselho não apresentará queixa contra Bernardo Mecflex. – Dorian teve muita dificuldade em pronunciar a próxima frase – Mas não pagará a ele nem um mísero centavo pela fórmula. O Conselho está dispensado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Gulemarc aproximou-se de Bernardo, ainda emudecido pelo feitiço, e apontou a varinha para o rosto do rapaz com um ódio que lhe consumia os miolos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Você sabe que eu seria capaz de matá-lo aqui mesmo, não é? A seu filho da mãe! Por esta você me paga, e pagará um preço altíssimo! Perdi muito dinheiro hoje e pôs em risco o meu cargo. Já tive que derrubar muitos obstáculos para chegar até aqui e deles você é o menor. Não se meta no meu caminho outra vez, entendeu? Talvez não haja tantas pessoas para testemunhar contra mim na próxima ocasião.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Dorian vazou pela porta e adiantou-se até o elevador. Kal ainda pôde ver seu rosto extremamente nervoso antes que as portas do elevador se fechassem.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- <i style="">Findar Spellis!</i> – disse Cacius se aproximando de Bernardo. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Obrigado professor. – falou enquanto massageava a garganta.<span style=""> </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Foi muita coragem sua peitar Dorian daquela maneira.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eu não podia me calar enquanto aquele miserável enriquecia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Meus parabéns, meu jovem. – disse Uric dando um tapinha nas costas de Bernardo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Obrigado por me livrar da prisão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eu nunca permitiria isso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Dorian é um cara-de-pau! – falou Saguior unindo-se ao grupo – E agora, como ministro sabe-se lá o que ele vai fazer. Sinto vontade de esmagar aquele cabeça miúda. Quebrar o corpo dele ao meio como uma vareta!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Acalme-se, Saguior, acalme-se.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Tudo bem, Cacius. Não vou dizer que também sinto vontade de afogá-lo numa privada.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal soltou uma pequena gargalhada facilmente abafada por sua mão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Gostaria de nos perguntar algo, Kal? – indagou Cacius olhando-o fixamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim. E como ficou minha situação? Eles querem me entregar para Kricolas?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O Conselho votou que não. Após descobrirem que você possui o Enid de Donnovan, o Conselho percebeu que só estaríamos armando o inimigo e não o contrário.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Entendo. Meu pescoço já se sente mais à vontade sabendo disso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bem, acredito que devemos ir agora. Amanda deve estar nos esperando para o almoço.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Até mais, professor. Boa sorte em seu segundo ano em Avalon, Kal – despediu-se Bernardo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Nos vemos por aí, então, Cacius. – prosseguiu Uric – Ah, Kal, quando você, a Guine e o Daimon quiserem ir lá para casa enviem uma carta para o Ralph que iremos buscá-los. Ele ficará muito contente com a visita de vocês.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ok. – disse o garoto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Nos vemos em outra ocasião. – disse Cacius acenando gentilmente com a mão direita e com a outra guiando Kal até a saída – Aprendeu algo interessante com Saguior hoje?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim. – respondeu – Ele me ensinou uma maneira de se defender.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Defender? De quem?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Kricolas. – disse Kal secamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Como se você estivesse planejando ir atrás dele. – falou Cacius num sorrisinho insinuativo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não, é claro que não. Jamais cometeria essa loucura. – mentiu Kal, mas achou que não convencera o professor.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sei. – prosseguiu enquanto já andavam pelas ruas esbranquiçadas de Celacanto – Viviane já está a nos esperar, veja.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">A mulher de pele clara e cabelos loiros aproximou-se com a sua gôndola vazia, a luz bruxuleante da lamparina em sua ponta iluminava a superfície da água. Viviane esticou uma das mãos para Cacius, auxiliando-o na subida, logo depois fez, o mesmo com Kal. Após acomodarem-se, a mulher abriu os braços e a gôndola partiu, fez uma curva de cento e oitenta graus e partiu rumo ao topo da cidade. O barco levitou e deixou um rastro de água enquanto subia até o teto da caverna. Antes que ele colidisse, no entanto, a visão de Kal foi ofuscada por uma forte luz e quando deu por si estava sendo iluminado por um brilhante sol acima deles.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Pode nos levar até à margem, Viviane? – perguntou Cacius docemente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim, professor. – respondeu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">A gôndola prosseguiu viagem envolta em uma luz branca que os escondia. Estavam sozinhos no lago naquele momento, mas as ruas ao redor estavam lotadas por carros e pedestres. Crianças corriam nas margens do outro lado da casa de Kal e seria traria suspeitas uma gôndola medieval trafegar em um lago de cidade moderna.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Obrigado pela carona. – agradeceu Kal saltando com entusiasmo para terra firme.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Espero vê-lo em breve, Cacius. – disse Viviane.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Espero.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Ao ouvir as vozes em seu quintal, Amanda Foster enfiou a cabeça pela janela da cozinha e se apreçou a sair pela porta dos fundos. Correu em direção aos dois, quando chegou Viviane já havia partido. Aflita, ela abraçou o filho fortemente e disse:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Estava tão preocupada.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não havia com o que. – garantiu Cacius – Tudo correu bem por lá.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Exceto Dorian ter sido escolhido para ministro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Isso foi um detalhe, Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Mas professor, o senhor não foi escolhido? – indagou Amanda de olhos arregalados.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Tive que recusar, mais uma vez.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O senhor foi indicado? – questionou Kal duvidoso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim, mas Avalon me consome bastante tempo e não pretendo parar de lecionar para assumir um cargo no governo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Professor Cacius, o senhor não acha que teria sido mais prudente aceitar? O senhor sabe que Dorian Gulemarc é um inconseqüente e irresponsável. – disse Amanda.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim, mas o Conselho terá que perceber isso sozinho. Como eu disse, não pretendo abandonar Avalon. Sou responsável pela escola.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Entendo. É uma pena que o senhor não possa. Sentiria-me muito mais segura com você no cargo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Agradeço pela sua confiança, Amanda.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Meu filho, vá almoçar logo. Lembre-se que devem estar prontos para sair à tarde.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Mãe, vamos sair quando estiver quase anoitecendo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim, sim. Mas é bom se apreçar. – falou ela não dando bola para o que ouvira do filho – Vamos entrar também, professor. Fiz um prato que o senhor adora.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Feijão tropeiro? – quis saber.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bingo!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Fartos de tanto comer, os cinco ajeitaram seus corpos pesados no sofá da sala enquanto assistiam ao jornal local, que iniciou exibindo imagens do litoral rio grandense. Seguindo-se por uma programação do verão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Como é festeira essa gente. – comentou Fred, o guarda de Warren, que só agora fora notado no parapeito da janela.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bom dia, Fred. – saudou Cacius – Como andam as coisas?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Seguindo, sabe?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não. – disse o professor.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Oras, trabalhando, lambendo-se e cuspindo bolas de pêlo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Oh sim, que higiênico. – falou Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- É difícil manter o sigilo. Essa vizinhança me persegue. Ainda ontem, aquela Alexia me enxotou da casa dela com uma vassoura.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E por quê? – perguntou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Porque eu estava bebendo numa vasilha de leite.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Só por isso? – ironizou o garoto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Pois é. – prosseguiu – Mas essa gente é fanfarrona mesmo. Ainda hoje três casas esvaziaram-se. Seus donos viajaram para Salvador, na Bahia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Anda cumprindo bem o seu papel de vigilante, Fred. – elogiou Cacius – Onde está Stuart?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ontem ele foi até Warren. Parece que prenderam um primo dele por engano, sabe? – respondeu – Aí ele foi livrar a cara do parente. Logo deve estar de volta.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Compreendo. – disse agora Amanda – Os garotos vão sair hoje à noite com uns vizinhos, então gostaria que um de vocês os acompanhasse.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Oh, mas aonde eles vão? – perguntou por curiosidade.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ao parque. – respondeu Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ah sim, você vai com a família da sua namorada, não é?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ela não é minha namorada. – retrucou Kal corando.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Que gracinha. – debochou Fred – Bem, agora tenho que ir. Está na hora da minha ronda.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Até mais. – disse Amanda.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ok, até. Não se preocupe, senhora Foster. Eles estarão bem seguros comigo. Vou chamar a Katrini também.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ah, sua namorada. – disse Kal vingando-se.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bem garoto, cães e gatos não combinam. – disse o guarda retirando-se com um abanar de cauda.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Os Chiabai passarão aqui para nos buscar ou iremos até a casa deles? – indagou Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Podemos esperá-los na praça. – respondeu Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Certo. – concordou o irmão – Às dezoito horas, não é?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Isso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Parece que terão uma boa noite de divertimento hoje. – falou Cacius sorrindo – Há anos eu não vou a um parque.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Por que não os acompanha, professor. – sugeriu Amanda.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não, hoje não posso. – respondeu – Tenho sérios compromissos em Avalon. Preciso aprontar a escola para receber os novos alunos em fevereiro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Tudo bem, então.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não se preocupe tanto, Amanda. Os guardas de Warren são competentes no que fazem. – falou Cacius retirando um relógio prateado do bolso e conferindo as horas disse – Bem, já passou da minha hora para falar a verdade. A Rainha Eva disse que gostaria de me ver depois do almoço, não sei do que se trata, mas conhecendo bem aquela elfa não deve ser nada de muito importante. Contudo, ela é a rainha da cidade onde fica o meu castelo, preciso atender a este pedido.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Até mais então, professor. – despediu-se Amanda – Quando o veremos novamente?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não sei responder isso. Depende de como as coisas andarão na Cidade dos Elfos, mas é provável que só os veja no próximo mês. – disse com os olhos concentrados em Amanda – Até mais garotos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Após a despedida, Cacius transformou-se em uma fumaça roxa e desapareceu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Garotos! Acho que seria prudente vocês dormirem esta tarde para não ficarem como zumbis à noite.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Mãe! – questionou Kal – Dormir?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim, sim, sim. Durmam, quando estiver chegando a hora eu os acordo e vocês se aprontam.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Mãe... – suplicou Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Já! – disse em tom petulante.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Amanda perambulou pela casa por toda a tarde enquanto Kal, Guine e Daimon descansavam para aproveitarem a noite. Ela andou pelos jardins, assistiu novela e quando os ponteiros do seu relógio de pulso sinalizaram dezessete horas, ela deixou de banhar os pés na água da lagoa e correu até o segundo andar da casa para acordar os três.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Meninos! Levantem! – disse Amanda cutucando Daimon e Kal no ombro – Depressa! Guinevere já está se aprontando.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Daimon e Kal levantaram-se num salto e pouco mais de meia hora depois os três já esperavam pelos Chiabai na praça, sentados nos balanços. Não demorou até que Alexandre Chiabai saísse da garagem com o seu sedan prateado e buzinasse para os três.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Boa noite, senhor e senhora Chiabai. – cumprimentaram os três.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Boa noite.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Oi, Sara. – disse Kal ao entrar no carro e sentar-se ao lado da garota.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Oi! Oi, Guinevere, Daimon. – disse acenando alegremente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Os dois sorriram e entraram sem cerimônias.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Durante o caminho até o parque, Alexandre Chiabai sugeriu que antes de irem ao parque de diversões andarem nos brinquedos eles deveriam primeiro assistir à apresentação do Circo Tombada, anexo do parque.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Existem ótimos mágicos lá. Gosta de truques, Kalevi? – perguntou o homem.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal apertou sua varinha contra o próprio corpo e assentiu com a cabeça, um sorriso estranho moldado no rosto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Devem haver palhaços lá também. – disse Mara.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Palhaços? – perguntou Daimon duvidoso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim. Aqueles que usam uma muita maquiagem, um nariz vermelho, sapatos grandes e contam piadas. – descreveu Mara Chiabai.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não me lembro, é como mamãe disse. Faz tempo que não vamos a um... um... é...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Circo! – completou Guinevere vendo que o amigo estava embaralhado nas palavras.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Isso mesmo, circo. – aprovou Daimon sem graça.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Aquele dia o trânsito não estava muito movimentado, Alexandre pisou um pouco fundo no acelerador e em poucos minutos eles chegaram ao parque-circo. Sob a iluminação de um enorme letreiro digital estava a entrada do Parque Vitoriano. Uma montanha russa de aço dava a volta pelo parque com subidas e descidas que embrulharam o estômago de Kal apenas de olhar as pessoas gritando lá do alto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Olhem isso! – falou Daimon apontando para uma construção de madeira de dois andares, em estilo casa abandonada, janelas de vidro estilhaçadas e na varanda um trilho com três carrinhos em forma de um crânio humano.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- É um Trem Fantasma? – informou Sara.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Com fantasmas de verdade? – perguntou Daimon muito intrigado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bobo. – sorriu Sara – Como se existissem.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O que ela quis dizer? – cochichou com Guine enquanto continuavam andando.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Vamos ao circo, pessoal? – chamou Alexandre guiando-os por entre a multidão de pessoas que se estendiam da entrada do parque até a extremidade final onde estava a entrada da montanha russa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Na entrada do Circo Tombada, alguns animais estavam expostos ao lado de seus treinadores. Um que chamou a atenção de Kal foi um elefante com suas presas de marfim bem desenvolvidas, mas ainda assim era facilmente preso por uma fina corda presa a um pedaço de madeira enterrado no chão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Isso não é perigoso? – perguntou Guine ao reparar como o elefante era mantido preso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Quando os elefantes são pequenos, os treinadores amarram suas patas com correntes e as prendem em grossas estacas de madeira. Mesmo depois de adultos, os elefantes acham que estão fortemente presos, e não tentam escapar com medo de machucarem a pata. – esclareceu Alexandre.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- As pessoas estão entrando! – informou Mara – Vamos antes que não sobrem mais lugares.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Os seis entraram em uma pequena fila que começava a se formar diante da entrada do circo e menos de cinco minutos depois estavam procurando lugares nas arquibancadas. O circo tinha o formato de um pedaço de pizza, com o picadeiro na extremidade e o restante do espaço ocupado por uma arquibancada dividida ao meio pelo corredor de entrada, tudo coberto por uma gigantesca lona vermelha e amarela.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">As luzes já se apagavam para dar início ao espetáculo quando Kal, Guine, Daimon e os Chiabai finalmente sentaram-se em lugares tão próximos ao picadeiro que podia ver-se o apresentador com mínimos detalhes.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Um homem alto, encorpado, de olhos gananciosos e que usava um terno preto com sapatos tão lustrados quanto os cabelos grisalhos cuidadosamente penteados para trás, segurava um microfone na altura da boca e após uma rápida olhada pela platéia disse em voz entusiasmática:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Senhoras e senhores! É com grande orgulho que o Circo Tombada inicia o show de hoje, com as arquibancadas cheias de abelas donzelas e o nosso picadeiro de talentos. – falou em um sorriso cínico – Para iniciar a noite, direto dos pampas, apresentamos os maiores trapezistas do Brasil!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Só agora Kal reparara que enquanto o apresentador falava, uma cama elástica era montado sobre o picadeiro e agora dois trapézios desciam do alto da lona com um casal vestidos em uma roupa colada ao corpo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">O casal realizou feitos realmente incríveis e impensáveis para Kal, como o salto mortal. Prosseguindo, o apresentador chamou um ilusionista que retirou da cartola um coelho, fez uma mulher de vestido levitar, transformou papel em pomba e cortou sua assistente de palco em três pedaços.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eles são incríveis, não? – comentou Mara para os garotos – Parece tudo tão real!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- É claro. – concordou Kal rindo-se por dentro imaginando o que a senhora Chiabai não diria caso o visse usando a varinha – Realmente muito real.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- É como se ele também fosse um bruxo. – disse Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Também? – questionou Sara.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ah, nada. – desvencilhou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Após reagrupar a cabeça, o tronco e as pernas da assistente em uma grande caixa colorida, o mágico fez soltar de sua varinha uma grande quantidade de fumaça e com isso desapareceu do picadeiro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ótimo truque hoje, amigo! – comentou o apresentador – Agora, eles que são a graça de todo o circo! A paixão das crianças e o amigo dos adultos! Senhoras e senhores, os palhaços!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">De trás do picadeiro, um barulho como ronco de motor de carro velho rompeu por todo o circo e segundos mais tarde uma miniatura de fusca surgiu trazendo dentro dele cinco palhaços, todos com roupas e perucas coloridas, sapatos números maiores que os pés, maquiagem exagerada e narizes vermelhos. Os palhaços tinham um andar desengonçado e davam tapas em suas nucas. Kal, Guinevere ou Daimon jamais viram um palhaço e encarar aquelas figuras estranhamente fantasiadas era demasiado desconfortante. Um dos palhaços retornou de onde vieram e dessa vez trouxe consigo o elefante que eles haviam visto na entrada do circo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Para que isso, Risadinha? – perguntou o apresentador ao palhaço que conduzia o elefante – Vai chamar alguém da platéia?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">O palhaço agitou a cabeça freneticamente enquanto entregava a ponta da corda a qual o elefante estava preso ao apresentador. Dirigiu-se então à platéia e buscou por um voluntário. Alguns levantaram a mão em oferecimento, mas ao que parecia, Risadinha já havia feito a sua escolha. Ele caminhou entre as primeiras fileiras e parou bem em frente a Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Vai. – disse Alexandre já levantando o garoto sem mesmo que ele aceitasse ou não.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Ele conduziu-o por entre as pessoas e caminhou em direção ao elefante que estava muito bem comportado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sobe. – disse o palhaço apontando para uma cela presa ao dorso do animal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Quer que eu suba nele? – perguntou Kal incrédulo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sem cerimônias, anda logo. – disse o palhaço irritando-se e abandonando a máscara de gentileza e bom humor.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Uma pequena escada foi providenciada para auxiliar Kal em sua subida e depois de ajeitar-se na pequena cela ele sentiu o animal se balançar e percebeu que o elefante estava sendo conduzido pelo picadeiro. Como em um desfile, os dois, elefante e garoto, rodearam o lugar e Kal começava a sentir um sacolejo incomodo em seu estômago. Sem mais explicações o elefante parou em frente ao corredor que dava acesso à saída e balançou a tromba inquieto. O palhaço tentou acalmá-lo, mas parecia inútil. O animal estava fora de controle.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Da platéia, Guine e Daimon já estavam de pé temendo algum acidente com Kal que parecia ficar roxo em cima do bicho. O próprio garoto não entendia o que estava acontecendo. Mantivera-se comportando durante a apresentação e tinha toda certeza de que não machucara o elefante. Kal olhou ao redor para tentar entender o motivo daquela agitação e inusitadamente viu uma figura desagradável no alto da lona do circo. Um Griphon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Ele os vira por várias vezes em seu primeiro ano em Avalon, eram criaturas realmente assustadoras. Tinham uma pele amarela e enrugada encobrindo um corpo esquelético, vários dentes pontiagudos, orelhas pontudas como as de morcegos, garras tão afiadas quanto navalhas e um olhar gelado e penetrante.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><i style="">O que eles fazem aqui?</i> Indagou-se.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Antes que sua pergunta pudesse ser respondida pelo seu próprio inconsciente ele foi derrubado pelo elefante e quando abriu os olhos reparou que o Griphon não estava mais dentro do circo, mas ainda assim o elefante mantinha-se alterado. Os palhaços que não estavam tentando acalmar o animal orientavam as pessoas a saírem de forma a ficarem em um lugar seguro. Kal levantou-se rapidamente com medo de ser esmagado por uma das poderosas patas do animal, no entanto permaneceu no picadeiro vasculhando o lugar a procura do Griphon. Ele realmente havia desaparecido, assim como toda a platéia. Somente ele estava sob a lona com o elefante descontrolado e os palhaços.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal olhou de um lado para o outro temeroso e passou por sua cabeça que algo deveria ser feito para controlar o elefante. Ele sacou a varinha de dentro das vestes mirou no gigantesco alvo percebendo que dali nenhum dos palhaços poderia vê-lo. Dizendo em um tom de voz que não poderia ser facilmente ouvido Kal disse:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- <i style="">Mórfinus! </i>– o filete roxo iluminou fracamente o picadeiro e acertou o elefante em cheio que tremeu em suas pernas e amoleceu a tromba.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Kal! – chamou uma voz e o coração do garoto quis sair pela boca. Devagar, ele virou o pescoço para o lado e viu uma assustada Sara encará-lo curiosa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sara... – disse apressando-se em esconder a varinha nas costas – Há quanto tempo voc...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Está tudo bem com você? – perguntou ela interrompendo o garoto abruptamente – Todos já estão lá fora.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Que modo estranho para um elefante de circo agir. – disse ela quando já saiam do circo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- É...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Mais estranho ainda foi a maneira como ele parou. – ao dizer isso Kal deu um forte soluço.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Tem certeza de que está bem? – insistiu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Tenho sim. Mas, o que você estava fazendo lá dentro ainda?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Fui te ajudar. – respondeu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Mas viu alguma coisa? – perguntou com medo da resposta.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Vi um elefante parando de repente depois que uma luz roxa se acendeu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ah sim! Luz roxa. Deve ter sido alguém do próprio circo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Kal! – disse Guinevere se aproximando do garoto e dando-lhe um forte abraço – Está tudo bem com você?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Estou. Estou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Antes que Daimon ou os senhores Chiabai perguntassem também ao garoto se estava, realmente, tudo bem com ele, o palhaço que o colocara no meio de tudo aquilo apareceu correndo para averiguar melhor a situação.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não se machucou não é? – perguntou encarando Kal da cabeça aos pés – Temos um ótimo pronto-socorro aqui mesmo. Se precisar procure-me.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Estou bem, sério. Não tem com que se preocupar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Desculpe-nos pelo acidente. Isso nunca aconteceu antes, mas foi nossa culpa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não, não foi. – disse Kal arrependendo-se de ter pronunciado-se – Quero dizer, essas coisas podem acontecer a qualquer um, não?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Tudo certo então, mas se desejar ajuda pode me chamar. – falou o palhaço convencido de que ainda seria útil e saiu tristonho com seus sapatos vermelhos e de bico largo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Senhor e senhora Chiabai, Daimon e Guine se juntaram à Sara e Kal segundos depois. Como fizera o palhaço, checaram se eles estavam bem e resolveram que aquele incidente não iria estragar o resto da noite. O parque de diversões estava vazio aquele dia, o que era ideal para aproveitar todos os brinquedos, sem perder tempo em filas desnecessárias.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Por que não vamos ao Trem Fantasma. – sugeriu Sara apontando para a casa de dois andares que lembrava uma construção abandonada.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Então vamos. – disse Alexandre.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Os seis seguiram até a bilheteria para comprar os ingressos. Comprados, Daimon e Guinevere foram os primeiros a entrar nos carrinhos em forma de crânio com assento para dois. Alexandre e Mara subiram no próximo. Kal e Sara ainda ficaram do lado de fora alguns minutos até que um terceiro carrinho saísse de dentro da casa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Você não tem medo? – perguntou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Da casa? – disse incrédula – É tudo de mentirinha. Se tiver medo pode segurar na minha mão. – Kal sentiu seu rosto corar e resolveu não dizer mais nada – Olhe! Chegou o nosso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Um casal de namorados desceu do carrinho, a garota estava pálida e por alto, Kal escutou ela dizer:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Você viu aquela criatura amarela? Parecia tão real...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal sentiu um forte arrepio na espinha e seus pés fincaram no chão. Agora ele tinha certeza. Havia Griphons ali.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sara não podemos entrar. – advertiu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Já disse que não precisa ter medo. Vamos logo. – inocentemente ela puxou Kal pelo braço como se nada estivesse acontecendo e forçou-o a sentar-se ao seu lado – Não se preocupe. Não vai nos acontecer nada.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não tenho tanta certeza...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">O carrinho começou a se movimentar seguindo um trilho de metal, após o primeiro metro ele acelerou tanto que as portas da casa ficaram perigosamente próximas, pois elas não se abriram de imediato. Somente quando estavam há poucos centímetros de distância Kal percebeu que não eram portas, e sim cortinas pintadas. O pano cedeu ao carrinho que entrou com ainda mais velocidade, passando por teias de aranha e por bonecos fantasiados de vampiro. Kal não estava preocupado com a figuração e sim com o perigo real. Griphons no parque não era boa coisa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E então? Está com medo? – perguntou Sara.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Nem um pouco.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">O carrinho deu algumas voltas no primeiro andar descendo por um rápido túnel cheio de aranhas mecânicas e gosma verde. Quando embalaram para a subida depararam-se com uma escada de madeira completamente destruída e nem um trilho.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Vamos bater! – disse Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Sara não pode esconder o rosto pálido, mas logo depois dos trilhos surgirem por baixo da escada ela soltou um pequeno sorrisinho, como se achasse Kal um autêntico medroso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">O segundo andar era ainda pior que o primeiro. Caixões pendiam do teto com seus cadáveres amostra, espantalhos com cabeças de abóbora passaram na frente deles seguros por cabos de aço. Um deles passou tão perto que Sara teve que agarrar a mão de Kal para conter o medo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Desculpe. – disse retirando a mão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">O carrinho guiou-os até um quarto em que as luzes dos abajures piscavam incessantemente. Cabeças em miniaturas subiam e desciam como iô-iôs e um grito fantasmagórico reverberava entre as paredes. A janela recebia a fraca luz bruxuleante vinda do parque, mas não era possível ver o que se passava lá fora. Sem mais explicações, o carrinho parou com um rangido metálico.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O que houve? – indagou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Deve ter acabado a energia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Todo o parque ainda tem energia. – prosseguiu Kal observando pela janela toda a iluminação do lado de fora – Eu vou descer.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Kal, espera. Deve fazer parte do brinquedo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Por um segundo Kal pensou que Sara poderia estar certa, mas se deu conta de que os gritos fantasmagóricos não estavam mais ecoando e que as lâmpadas haviam apagado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Alguma coisa está errada. – insistiu Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Um som rouco e extremamente familiar reverberou por entre a sala e a garota reativou seus ânimos de menina aventureira.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sara corre! – exclamou Kal vendo que um Griphons havia entrado no quarto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Kal! Pára! Fica no carro!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eu disse corre!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Neste momento um Griphon saltou para cima de Sara que cobriu o rosto com o braço para se proteger das garras de navalha e dos esbranquiçados dentes de cerrinha. Mais do que depressa, Kal posicionou-se entre os dois encostando com as mãos no peito da criatura e arremessou-o contra a parede.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Vem comigo. – disse Kal estendendo uma das mãos para Sara.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Assustada, ela aceitou a ajuda sem problemas. Os dois correram até a porta, mas não conseguiram abri-la.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O que faremos? – perguntou ela atemorizada – O que está acontecendo?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal olhou para o alto e agarrou uma das cabeças que estavam penduradas e atirou em direção a janela e quebrou uma parte do vidro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Olhe o que está acontecendo lá fora! – disse Kal percebendo que um segundo Griphon estava entrando dentro do cômodo atravessando o teto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Sara concordou após averiguar se a criatura ainda estava inconsciente no chão. Kal esperou que ela estivesse bem distraída para que ele pudesse usar a varinha. O momento certo chegou quando Sara pegou um pedaço de madeira do chão e usou para quebra o restante do vidro da janela.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- <i style="">Pelínculo!</i> – falou Kal bem baixinho. O feitiço acertou o Griphon no teto provocando um grande clarão roxo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O que foi isso? – perguntou a garota olhando para trás de supetão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- A... a lâmpada... ela acendeu e apagou. – disse disfarçando.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Roxa? – disse de forma duvidosa – Venha ver! O todo mundo está correndo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal franziu o cenho e se aproximou rapidamente da garota para observar o que se passava do lado de fora. Pessoas gritavam de um lado para o outro desesperadas, Griphons corriam e saltavam entre os brinquedos causando medo e com certeza muito pânico.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Olhem meus pais! – disse Sara apontando para Alexandre e Mara Chiabai que estavam encurralados por dois Griphons entre a lona do circo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><i style="">Droga! Não posso fazer nada daqui sem que Sara me veja</i>. Praguejou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Antes mesmo que outro pensamento corresse por seus nervos, um lampejo rosa atravessou o chão empoeirado do parque e acertou os Griphons dos Chiabai, engolindo as criaturas em uma luz fluorescente intensa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- De novo! – disse – Você viu aquilo?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Vi. – confirmou, já que não poderia fazer diferente. <i style="">Só uma pessoa que eu conheço produz uma luz rosa. Guinevere</i>. Pensou – Vamos descer pela janela.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal ajudou Sara sentar-se no parapeito da janela e ficar de pé no telhado da varanda da frente, onde embarcaram no carrinho.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Antes que ele se juntasse a Sara, certificou-se de que o Griphon que ele jogara contra a parede não os importunaria mais.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- <i style="">Pelínculo!</i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal subiu no telhado e viu que o olhar incerto de Sara fitá-lo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Acendeu de novo... – falou sem graça.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Tudo bem, vamos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Agarrados à parede, os dois se aproximaram da beirada onde desceram por uma escada de madeira convenientemente posicionada.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sara! – gritaram Alexandre e Mara em coro agitando os braços para que ela pudesse vê-los.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Olha lá! – disse a garota.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Os dois correram agilmente, passando por algumas outras pessoas que corriam na direção oposta.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Vocês estão bem? – indagou Alexandre abraçando a filha.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Kal, seu braço... – falou Sara apontando para o garoto, que só agora percebia estar com o braço sangrando, provavelmente quando impediu que o Griphon atacasse Sara.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não é nada.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Deixe-me ver isto. – disse Mara já segurando o braço dele – O corte não é tão profundo, mas precisa de um curativo rápido.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Sem aviso, um Griphon rasgou a lona atrás deles e puxou Kal com toda a força para dentro do circo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Kal! – berrou Sara quase que aos prantos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Antes de ser arrastado até o picadeiro, Kal ainda viu que outro Griphon atacou Mara e Alexandre, distraindo-os, mas não foi o suficiente para que Sara segui-se os rastros do primeiro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal fora largado no meio do picadeiro. Todo o lugar estava engolido pela escuridão e pelo som rouco das criaturas. O ar gelado penetrava nas narinas de Kal e estremecia todo o seu corpo, como se fosse navalhar de puro gelo cortando-lhe as veias dos braços e das pernas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Ele olhou para os lados, mas não viu nada. Apenas ouvia o som rouco dos Griphons e ao longe um grito desesperado de Sara que estava perdida naquela escuridão. Ao longe, onde a lona foi mexida, certamente não pelo vento, mas por alguém. Uma luz fraca foi acesa somente para revelar a Kal um conhecido e gigantesco par de asas de morcego rasgada.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O que você quer, Kricolas? – perguntou Kal perdendo a noção do perigo que corria estando sozinho ali.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Com um estalo que reverberou pela lona vermelho sangue, um holofote foi aceso em cima do picadeiro, iluminando Kal por completo. Ele olhou para os lados e espantou-se ao ver mais de vinte Griphons em posição de ataque, todos a sua frente com olhares famintos. O inconfundível som rouco estava preso em sua mente, deixando-o tonto e inconsciente. Era isso o que eles faziam. Desnorteavam a presa para poderem derrubá-la com facilidade.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Num misto de alegria e desapontamento, Kal ouviu a voz de Sara se aproximar a largos passos, saltando a proteção que separava o picadeiro da arquibancada e abraçando o garoto rapidamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Quem são eles? – perguntou com a voz trêmula.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eu não sei... temos que sair daqui...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Faz alguma coisa, Kal. Por favor...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Mas... mas o que eu posso fazer?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">-Você pode. Eu sei que pode... eu já vi você fazendo...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O quê?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Kal, a luz roxa, usa a luz roxa, como você fez quando caiu do elefante e lá na casa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">O coração de Kal saltou até a garganta ao descobrir que Sara sabia que ele tinha poderes, mas achou que ela não sabia muito mais do que isso. Mesmo assim ponderou se deveria, realmente usar o Pelínculo na frente dela. Mas a situação ficava cada vez mais crítica. Os Griphons já estavam se aproximando e quando três deles saltaram, Sara olhou nos olhos de Kal e implorou pela última vez:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Por favor...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- <i style="">Égide Silver! </i>– uma poderosa bola prateada envolveu-os rapidamente e os três Griphons tiveram a sensação de baterem em uma parede de concreto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Sara abriu os olhos e abraçou Kal mais fortemente, que a envolvia com o braço esquerdo enquanto mantinha o feitiço com a mão direita. Os vinte Griphons insistiram em atacá-los mesmo eles estando protegidos pelo escudo. A insistência das criaturas foi premiada com a primeira rachadura no escudo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Kal... – suplicou Sara.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não vou agüentar por muito mais tempo. – disse já sentindo os joelhos cederem com o peso do corpo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Fechem os olhos! – gritou uma voz vinda da entrada do circo – <i style="">Pelínculo!</i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Uma luz azul intensa clareou todo o ambiente provocando também um forte vento que soprou os Griphons para o outro plano, o astral.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Quando a luminosidade voltou ao normal, Kal observou quem usara o feitiço, imaginando que pudesse ter sido Daimon, mas enganou-se completamente. Havia outro bruxo ali com eles. Um que Kal jamais vira como bruxo e sim como palhaço.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Risadinha aproximou-se dos dois ainda com sua maquiagem e roupa de palhaços, porém sem a peruca e os sapatos exageradamente grandes.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Em nome da Guarda Armada de Warren, vocês estão bem? – perguntou apreensivo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim, estamos... – disse Kal conferindo Sara, que tremia em seu ombro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Vamos sair! Depressa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O que está acontecendo afinal? Quem é você? – indagou Kal para o bruxo a sua frente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ataque de Griphons. Ivo Gostuânia, enviado especial de Warren para defender os Foster.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Você apareceu bem na hora. – falou Sara – Kal, obrigada por me proteger.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não vamos fazer agradecimentos ainda. Depressa, para fora. Eu vou verificar se há mais algum Griphon aqui dentro. Vão!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Sara e Kal acataram a ordem do bruxo e correram o mais depressa possível até encontrarem Daimon e Guinevere próximos a um telefone público. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Por Merlin! Que sufoco! – disse Guinevere ao verem Sara e Kal aproximarem-se apavorados – Vamos sair do parque agora!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E meus pais? – perguntou Sara.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Já estão nos esperando no carro. – informou Daimon – A senhora Chiabai teve um desmaio e seu pai a levou imediatamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ok, então. Vamos!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Antes que eles pudessem correr, o telefone ao lado começou a tocar. Eles encararam uns aos outros sem entender nada. Aquele era um telefone público dentro de um parque de diversões. Ninguém ligaria para ele, muito menos àquela hora e naquela ocasião. Quase nada fazia sentido. Kal tinha apenas uma certeza. Seja lá quem estivesse ligando, pretendia falar com ele. <span style=""> </span><span style=""> </span></p> André Fantinhttp://www.blogger.com/profile/07818980780167800572noreply@blogger.com56tag:blogger.com,1999:blog-5429287600558187973.post-86498970864059284582009-08-07T14:28:00.000-07:002009-08-07T14:31:42.367-07:00Por um Brasil LiterárioInterrompo a série de posts de capítulos para chamar a atenção de todos para algo importante.<br />A necessidade de difusão da leitura no país. O movimento teve início no dia 02 de julho (coincidência ou não, é a data do aniversário de Kal Foster, no livro) e já conta com mais de 100 mil assinaturas. Fique por dentro do manifesto e dê força ao movimento assinando seu nome <a href="http://www.brasilliterario.org.br/participe.php">aqui</a>.<br />Não deixem de acompanhar o blog, hoje de madrugada sai o próximo capítulo de Kal Foster e o Mestre das Sombras.<br /><br />Abraço a todos.André Fantinhttp://www.blogger.com/profile/07818980780167800572noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5429287600558187973.post-3728698530441945502009-08-01T19:25:00.000-07:002009-08-01T19:26:43.562-07:00Capítulo 4 - A Mulher, a cidade e o Conselho<meta equiv="Content-Type" content="text/html; charset=utf-8"><meta name="ProgId" content="Word.Document"><meta name="Generator" content="Microsoft Word 11"><meta name="Originator" content="Microsoft Word 11"><link rel="File-List" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CANDRE%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtml1%5C01%5Cclip_filelist.xml"><o:smarttagtype namespaceuri="urn:schemas-microsoft-com:office:smarttags" name="PersonName"></o:smarttagtype><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><!--[if !mso]><object classid="clsid:38481807-CA0E-42D2-BF39-B33AF135CC4D" id="ieooui"></object> <style> st1\:*{behavior:url(#ieooui) } </style> <![endif]--><style> <!-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:35.4pt; mso-footer-margin:35.4pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal imaginou por alguns poucos segundos o que de tão importante Cacius tinha para lhe dizer, sendo que no dia anterior eles já haviam conversado bastante sobre Kricolas, o Livro de Merlin e Donnovan. Por sua mente não passou nada que poderia ser mais relevante do que esses três assuntos. A menos, é claro, que Kricolas milagrosamente já houvesse ressuscitado Donnovan da noite para o dia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Qual o problema, professor? –perguntou Kal, decidido.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Você tem uma visão privilegiada da janela de seu quarto. – comentou o ele distraído – Este é sem dúvida um dos lagos mais belos do país. Embora duvide que possa ser tão bonito quanto o de Avalon, não é verdade?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim. – disse Kal, entrando no jogo do professor.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Deve ser muito bonito ver o reflexo da lua. – prosseguiu, lançando olhares cada vez mais nostálgicos para o lago.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ontem, o brilho parecia ser tão especial que todos os guardas de Warren estavam olhando para ele. – disparou Kal, sem rodeios.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- É certo. E você sabe por quê?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não, senhor. Mas o brilho não parecia vir apenas da lua. Era como se o lago estivesse aceso por dentro também.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Até mesmo as coisas mais bonitas têm os seus segredos, não acha? </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O que quer dizer?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eu, pessoalmente, escolhi esta casa para vocês morarem. Eu a considero um dos lugares mais seguros para vocês, neste momento tão delicado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E por quê? Não seria melhor morarmos na Cidade dos Elfos? Próximo de vários outros bruxos. Próximo de você... do senhor. <span style=""> </span>– acrescentou Kal. Cacius virou-se para ele lançando-lhe um conhecido olhar que dizia “obrigado pela consideração”, mesmo não parecendo dizer nada disto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- A Cidade dos Elfos não é mais a mesma de antes.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Com assim?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Na hora certa você entenderá.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal resolveu ouvir o professor sem fazer mais perguntas. Aquele era o momento certo para perceber que não era a toa que os humanos possuem dois ouvidos e uma boca.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eu considero este lugar o mais seguro porque aqui vocês estão sob a guarda dos maiores bruxos do país. E não apenas estou falando dos guardas de Warren, mas por este lago ser um manto de poder e tranqüilidade. Ele tem um poder tamanho que ontem pôde conter nossa maior ameaça.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Ele não podia agüentar todos aqueles enigmas de Cacius. Seu cérebro fervilhava tentando decifrar o que seria aquele “manto de poder”. O garoto imaginou que o lago poderia ser um tipo estranho de cemitério para bruxos poderosos de várias gerações, mas isto seria estúpido. Todos os bruxos mortos estão enterrados no Cemitério Nacional para Bruxos, muito longe dali. Kal estava enlouquecendo com tudo aquilo e achou que se Cacius não explicasse tudo logo ele mesmo mergulharia no lago em busca de algumas respostas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Você sabe nadar? – perguntou o professor saltando de um assunto para o outro com pouca sutileza.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Como?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Perguntei se você sabe nadar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim, mas...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Talvez seja necessário. Venha comigo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Cacius guiou Kal até o mais próximo da margem do lago, a água era soprada pelo vento até os seus pés. O professor parou por um instante e admirou a superfície, com delicadeza tocou a pele d’água com a ponta de sua varinha.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Professor, aonde vamos? – perguntou Kal, aproximando-se mais do lago.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bem, espero que não tenha enjôo por andar de barco.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Assim que Cacius selou os lábios, uma densa névoa emergiu, como se toda a água estivesse evaporando-se e do horizonte surgiu uma gôndola sem remos ou motor, guiada apenas por uma estranha figura encapuzada com um manto branco. Ela ressoava um cântico hipnotizante e Kal, embalado em seu ritmo, ficou sonolento e fechou os olhos para acompanhar melhor a melodia. Ele distinguiu o barulho de uma gaita e uma flauta, os sons misturaram-se à voz doce de uma mulher e sem nenhum aviso ele foi acordado por Cacius que o puxou pelo ombro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Vamos. – disse o professor subindo na embarcação.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal olhou para aquela cena por um instante. A gôndola de madeira flutuava no lago bem ali a sua frente, Cacius com sua mão estendida e logo atrás uma mulher de cabelos compridos tão loiros que pareciam misturar-se à névoa, formando um único corpo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bom dia, Cacius. – cumprimentou a mulher com uma voz triste, mas doce.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bom dia, Viviane.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bom dia para você também, Kalevi Foster.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Você me conhece?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sua história é triste. É claro que te conheço.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal ponderou se deveria dizer mais alguma coisa. Olhou para a mulher a sua frente que, virando-se para o interior do lago e abrindo os braços, fez a gôndola começar a se mexer suavemente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não queremos ser vistos hoje, Viviane.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Naturalmente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">A guia apontou os braços para o céu fazendo sair uma intensa luz da palma de suas mãos unidas. Esta luz envolveu todo o barco e dissipou a névoa e assim Kal percebeu que já estavam muito longe da margem.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Viviane é a protetora deste lago e de tudo o que há nele, Kal. – informou Cacius.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Há quanto tempo está aqui? – perguntou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Muito antes dos homens. – falou ela olhando para as ruas cheias de carros ao redor das margens do lago – Eles invadiram o espaço, meu lar. Mas não pude fazer nada. Os humanos são os únicos donos do mundo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- É uma pena que a maioria deles não dê valor ao que têm. – disse Cacius concordando com o pensamento de Viviane.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Aprenderão a dar quando o perderem.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Até lá ainda veremos muita coisa, minha amiga.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eles não podem nos ver, professor? – perguntou Kal ao passarem ao lado de dois homens pescando.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Os humanos não vêem muita coisa. – disse Viviane, num ar conformado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O feitiço está nos protegendo de olhares curiosos. – falou Cacius apontando para a luz que envolvia o barco.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Chegamos, meu amigo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Onde estamos exatamente?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Logo você verá.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Após Cacius dizer isto, a gôndola de Viviane começou girar lentamente e depois mais rápido, Kal ficava zonzo apenas em olhar o mundo ao seu redor dar voltas tão rápido. No entanto, nem Cacius nem Viviane pareciam sentir-se incomodados com isto. Para sua sorte aquele momento foi extinto no segundo seguinte em que o barco foi sugado para o fundo do lago. Da superfície, Kal apenas ouviu os dois homens dizerem:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Como os peixes estão pulando hoje!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Cacius sorriu ao ver aquelas paredes brancas de marfim reluzirem sobre a luz da lamparina que surgira na dianteira da gôndola de Viviane, o barco estava flutuando no ar e lentamente descendo até um outro pequeno lago mais abaixo. Aquele lugar poderia ser Atlântida, a cidade submersa. Havia pessoas andando de um lado para o outro em sua única rua e entrando e saindo de suas quatro lojas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bem vindo, Kal, bem vindo a Celacanto! – disse Cacius.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- É tão bonito. – comentou, admirado pelas oliveiras que cresciam entre as altas pilastras gregas e a margem do lago feita com degraus de pedra.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Obrigado, Viviane. – agradeceu Cacius e a mulher inclinou a cabeça com gentileza.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O que viemos fazer aqui? – perguntou Kal olhando de um lado para o outro observando os transeuntes.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Viemos assistir a uma decisão do Conselho de Magia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E por que estou aqui?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ora, porque você mais do que ninguém precisa saber a verdade.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Que verdade?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Que Kricolas esteve em Celacanto ontem à noite.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O quê? – espantou-se Kal, cada pêlo de seu corpo se eriçando – Como? E por qual propósito?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O mesmo de sempre. Ele quer respostas sobre o Livro de Merlin. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Como ele pôde ser tão cara-de-pau! – irritou-se.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Kricolas está dominando a situação, por isso precisamos escolher logo nosso Ministro da Defesa e Segurança Mágica.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O senhor foi indicado. – disse Kal lembrando-se da notícia do dia anterior no Folha Mágica.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim, mas não posso aceitar. Além do mais outros bons nomes foram indicados.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Como o pai do Ralph.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim, por certo ele seria um bom ministro. Dormiria mais tranqüilo se soubesse que alguém tão responsável está por conta da segurança nacional. Porém, tem que compreender que nem sempre é assim. Quando disse que em Celacanto estão os maiores bruxos do país, não menti. Porém, talvez fosse preciso fazer uma importante observação de que aqui não estão os mais honestos. – Cacius lançou um olhar muito desconfiado ao fim da rua, onde uma imponente porta dupla, branca, se mantinha fechada – Os interesses políticos nem sempre coincidem com os interesses reais do país e decisões muito errôneas são tomadas sem o menor cuidado. Sem o menor escrúpulo, para desabafar de uma vez.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eles colocam o interesse pessoal na frente do país?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eles colocam qualquer coisa na frente dos interesses do país. Infelizmente eles sãos os mais poderosos e mais antigos na política... alguns jovens como Uric me dão esperanças... mas o Conselho da Magia é quase todo contaminado... lamentavelmente. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Tirando o fato da primeira má impressão, Celacanto tinha um brilho muito especial de magia. Parecia ser uma cidade recente, fato que Cacius confirmara logo em seguida dizendo que fora construída há apenas cinco anos. Toda a rua era de marfim e as quatro lojas também possuíam tonalidades claras. As colunas gregas sustentavam um teto de pedra rústica, a pequena cidade estava localizada em uma espécie de caverna submersa. O som dos sapatos nas ruas e o barulho das conversas na pequena esquina formada entre a rua e a margem do lago davam um ar vivo à cidadezinha. No meio de tantos sons confusos, um foi se aproximando de Cacius e Kal, que não resistiu ao impulso de virar-se.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bom dia, senhores. – falou um homem esquelético e de nariz exageradamente grande.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Olá, Dorian. – saudou Cacius sem entusiasmo – Kal, este é Dorian Gulemarc, Secretário de Defesa e Estratégia do Estado Mágico.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Olá, senhor.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Trouxe o garoto para a reunião, Cacius? Pensei ter ouvido que era uma reunião apenas para bruxos de alta importância.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Kal revelou a identidade de Kricolas, perseguiu-o e quase conseguiu impedi-lo de roubar o Livro de Merlin, se ele não for considerado um <i style="">bruxo de alta importância</i>, não sei quem mais poderia ser, Dorian. – falou Cacius em alto tom de voz.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Esqueceu de dizer que o jovem Foster é guardião do Enid de Donnovan. Quem sabe de que lado ele realmente está.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Dorian estava claramente incitando Cacius a reagir, apesar de ser verdade o que ele dissera, que Kal tinha o espírito de Donnovan na forma de Enid em seu corpo, isto não era motivos para ter dúvidas da lealdade de um autêntico Foster.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Uma vez herói, sempre herói, e uma vez Foster, sempre Foster. – disse uma outra voz saindo de um pub ao lado dos três.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bom dia, Uric. – cumprimentou Cacius a Uric Scheiffer, o pai de Ralph, um homem alto e robusto com os cabelos loiros e partidos ao meio.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bem, acho que eu sou o único que não se curva diante à auréola colocada sobre a família Foster. – prosseguiu Dorian – Quero que saibam que apenas desejo o melhor para o meu povo, e vou trabalhar para que eles possam viver em tranqüilidade e sem medo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Pelo menos concordamos nesse ponto. – reagiu Uric, posicionando-se ao lado de Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Os outros membros do conselho nos esperam. – disse Dorian, antes que saísse com os pés de banda e muito apressado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- É um prazer revê-lo, Kalevi. – cumprimentou Uric, sorrindo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Como está o Ralph? </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ele está bem, <st1:personname productid="em casa. Est£" st="on">em casa. Está</st1:personname> ajudando a Aline em algumas tarefas. – explicou – E então, Cacius, ficaria feliz se o Ministério da Defesa e Segurança Mágica tivesse você como maior representante.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Oh, não tenho esses planos, Uric. O conselho sempre soube que nunca quis fazer parte deste governo. Também sabem os fatores e que a ordem deles não altera a minha decisão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não adianta tentar escapar, professor. Em dois anos teremos eleições para presidente e o senhor novamente será indicado para o cargo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E mais uma vez terei que recusar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Muitos homens dariam a vida para ter os seus privilégios.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- É uma pena que nenhum deles a coloca em verdadeiro risco para alcançar os seus próprios.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Realmente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E os guardas, Kalevi, têm feito uma boa vigília?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim. – respondeu da forma mais simples – Tê-los por perto ajuda a tranqüilizar minha mãe.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Soube que eles fizeram um bom trabalho ontem à noite também. – falou Uric.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim, sim. – concordou Cacius – Kricolas chegou ao extremo invadindo Celacanto. <span style=""> </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Professor, como Kricolas pôde invadir este lugar. Parece tão... seguro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim, este é um lugar muito seguro, Kal, não há chances de acontecer nenhum tipo de incidente, como não ocorreu ontem. Igualmente a todas as outras cidades mágicas, esta não tem acesso restrito, não há um controle das pessoas que entram aqui. Os bruxos esfumaçam aos montes. – falou Cacius mostrando a pequena rua onde vários bruxos sumiam deixando um rastro de fumaça e outros tantos que apareciam da mesma forma.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- “<i style="">Isto atrapalhará o desenvolvimento da cidade</i>”. Foi exatamente o que Mardo disse. – comentou Uric – É uma pena que ele não possa mais ver no que isto está se transformando.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bem, agora temos que ir, Kal. Tenho certeza de que este assunto será muito comentado na reunião do conselho. – finalizou Cacius.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Os três seguiram pelo único caminho da cidade até uma escadaria de pedra que dava acesso as duas portas de madeira branca, que Cacius encarara a poucos. Ela se abriu assim que eles subiram o último degrau da escada e pararam a trinta centímetros da entrada. O local de reuniões do Conselho de Magia era nada menos do que um prédio de sete andares construído dentro da parede de pedra que limitava a cidade. Exatamente como a fábrica de vassouras da família Foster em Vila da Cachoeira.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal examinou o lugar com extrema curiosidade. O saguão de entrada tinha um caminho feito com tapete vermelho e estátuas de bruxos por toda à parte. Guardas uniformizados de Warren conversavam secretamente pelos corredores e assim que avistavam Uric batiam continência em sinal de respeito ao superior.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sempre achei a continência algo muito esquisito. – comentou Cacius.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eu também não gosto muito, mas tenho medo de perder o emprego se abandonar este costume. Velhos hábitos não devem ser abandonados e et cetera...– falou Uric.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bom dia, senhores. – saudou um homem magricelo ao lado do elevador. Por um momento Kal achou estar vendo Dorian pela segunda vez, mas logo se deu conta de que não.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bom dia, Jonas. Como vai a família?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bem, obrigado professor.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Por onde fossem, Cacius era sempre reconhecido e admirado, e talvez o mais estranho era que o professor também conhecia e saudava a todos como se fossem enormes amigos. Era uma característica que o lembrava muito seu pai, Adonis. Ele sabia ser gentil com qualquer pessoa, e em qualquer ocasião. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><i style="">Por que teve que ser assim? </i>Perguntou-se Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Segure o elevador! Segure o elevador! – berrou uma voz da entrada do saguão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Jonas esticou o braço e impediu que a porta se fechasse e logo depois o dono da voz entrou no pequeno espaço quadrado com um largo sorriso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Olá, professor! Quanto tempo! Senhor Uric. Vejam só, se não é Kalevi Foster.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Olá, Escritor da Terra. – cumprimentou Kal, contente por estar vendo alguém um pouco mais novo naquele ambiente tão novo e tão exclusivo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Apenas Bernardo agora. Deixei de usar este nome.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">O rapaz à frente deles era Bernardo Mecflex, antigo aluno de Avalon, com quem Kal batalhara no ano anterior em um teste para jogar no time de Quizard da equipe de Tadewi. Quizard era uma competição realizada entre as três repúblicas da Cidade dos Elfos e coordenada pelos professores de Avalon. Escritor da Terra era o nome mágico que Bernardo adotara, mas agora, por algum motivo ele achou que era inapropriado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Como anda o seu projeto, Mecflex? – perguntou Uric, com um sorriso de simpatia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Está concluído, senhor. – falou ele apertando o botão <i style="">SS</i> do elevador.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Resolveu aquele problema? – perguntou Cacius curioso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não, senhor. Foi como disse, não há como resolver aquilo. – completou desapontado – Mas vou apresentá-lo ao conselho assim mesmo. Talvez o novo ministro se interesse.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal ouviu os três conversarem entre si como se ele nem ao menos estivesse ali. Ele não sabia qual era o projeto de Bernardo Mecflex, não sabia qual era o problema apresentado por ele e muito menos o que Cacius havia comentado sobre o projeto. Enfim, nada parecia fazer o menor sentido. No entanto pressentiu que todas as suas dúvidas seriam caladas na reunião do Conselho de Magia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Chegamos. Subsolo. – comentou Uric abrindo a porta do elevador.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Saindo do elevador, os quatro alcançaram um átrio pequeno que tinha como único propósito anteceder o imenso salão de reuniões dos bruxos mais poderosos do Brasil. Ele era como um pequeno estádio com capacidade para mais ou menos umas trezentas pessoas. O salão circular tinha em seu extremo um palanque de pedra com uma varinha pronta para ser usada como microfone e ao redor deste palanque, estavam dispostos os trezentos lugares entre as mesas semicirculares feitas com uma pedra fosca. O teto abobadado aparentava produzir uma acústica ideal para o lugar. Várias cadeiras com poltronas macias estavam dispersas entre as mesas, e outras com lugares para a platéia estavam bem no alto, próximos ao teto.<span style=""> </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Onde estão todos os outros membros do conselho, professor? – perguntou Kal inclinando a cabeça para que apenas Cacius pudesse ouvi-lo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Atrasados, como sempre. – respondeu – Vamos, suba – falou indicando uma escada que os levaria aos primeiros assentos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Em alguns minutos, vários bruxos entraram pela porta de acesso ao átrio, outros tantos esfumaçaram diretamente em seus respectivos lugares dispostos entre as mesas... alguns portavam pilhas e mais pilhas de pergaminhos, outros distraíam-se com os feitiços cruzados, um passatempo do Folha Mágica. Um bruxa de chapéu cônico rosa lançava uma fragrância adocicada da ponta de sua varinha para amenizar o mal cheiro do seu colega ao lado que parecia ter dormido em alguma sarjeta bem suja acompanhado de uma forte garrafa de hidromel.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bom dia a todos. – falou um homem franzino e de sobrancelhas grossas no palanque de pedra – Estamos aqui, hoje, porque as circunstâncias revelaram-se desfavoráveis ontem à noite.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Quem é ele? – perguntou Kal a Cacius.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Timas Havany, Ministro da Comunicação Mágica. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Senhoras e senhores, ontem Kricolas invadiu nossa cidade exigindo que entregássemos o menino chamado Kalevi Foster...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal sentiu seu sangue congelar, olhou para Cacius, mas este parecia não ter se alterado <st1:personname productid="em nada. O" st="on">em nada. O</st1:personname> professor não o dissera patavina sobre esta exigência do meio-vampiro. “De repente” ele não estava mais se sentindo tão confortável e seguro ali.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não podemos entregá-lo! – berrou um homem que ele jamais vira.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Seria o mesmo que aceitar a soberania de Kricolas. – replicou a mulher de chapéu rosa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Mas temos que entender as condições impostas por ele. – prosseguiu uma mulher de cabelos ruivos – Ele disse que se não entregássemos o menino Foster nossas famílias sofreriam perdas maiores.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Pense nos nossos filhos! É um por todos! – berrou uma voz masculina, alterada.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Temos que pensar bem no assunto. – falou Dorian, que estava sentado em uma cadeira no terceiro andar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><i style="">Pensar bem no assunto?</i> Indignou-se, Kal, os bruxos daquele conselho estavam tratando-o como um pedaço de carne, um simples chamariz, e Cacius continuava de boca calada!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Vocês só podem estar loucos. – falou um homem encapuzado bem a frente de Kal – Pensar na possibilidade de entregar o garoto apenas comprova que este conselho está chegando ao fim.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ora cale-se, Saguior. – bufou Dorian – Nem ao menos bruxo você é.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Saguior provou ser de grande valor para este conselho no passado. O levantamento de Dorian Gulemarc é inválido! – protestou Cacius de pé.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Obrigado, velho amigo. – falou Saguior retirando o capuz e revelando um rosto barbudo e com orelhas alongadas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O que ele é, professor? – continuou Kal com o seu questionário.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Um fauno. É metade homem, metade bode. Criaturas muito inteligentes, principalmente este aí.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Tudo bem então, se é da vontade deste conselho ouvir o que este bode velho tem a dizer, que prossiga. – falou Dorian, num ar autoritário.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Primeiro, devemos analisar a situação. Todos devem lembrar-se da reunião na Mansão Foster, quando impedimos que o Enid de Donnovan pudesse invadir o corpo de um recém nascido. E devem lembrar também que uma semana depois os jornais de todo o país noticiaram o chamado Milagre Foster.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Os bruxos assentiram em suas cadeiras ao ouvirem o fauno falar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O que nós nunca desconfiamos é que o Enid de Kalevi Foster é o Enid que nós tentamos aprisionar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Os bruxos soltaram alguns sussurros inaudíveis e Kal fez outra pergunta a Cacius.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eles não sabem que eu... que eu tenho o Enid de Donnovan?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Apenas uma minoria. No ano passado o Folha Mágica não recebeu a notícia como sendo um segredo e então não deram muito destaque. Uma nota de rodapé, se me lembro bem.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Kalevi Foster, fique de pé para o conselho. – falou Saguior, olhando fixamente para o garoto ao lado do velho de barbas brancas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Levante-se. – repetiu Cacius e Kal levantou-se com um pouco de relutância.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Ele ouviu alguns urros de surpresa, talvez não tivesse sido totalmente notado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Creio que tenha aprendido a mostrar seu Enid, senhor Foster. – disse o fauno cordialmente – Poderia fazer a gentileza?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal estava um pouco embaralhado com a situação, mas ainda assim teve forças para levantar a varinha e dizer em alto tom de voz:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- <i style="">Revelarbus! </i>– o feitiço de revelação de Enid saiu da ponta da varinha de Kal como um raio de luz negro, subiu ao ponto mais alto do salão e mergulhou no chão formando a figura apavorante de Donnovan, um homem pálido de cabelos negros e olhos tão escuros quanto besouros em uma aparência rude e altamente cruel.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Este é o nosso inimigo. – falou Saguior de um salto e caindo ao lado do Enid – Por isto Kricolas tem interesse em Kalevi Foster. Ele quer este Enid de volta.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sabemos muito bem que só se pode separar um bruxo de seu Enid através da morte. – disse Bernardo Mecflex, que estava sentado ao lado de Kal, tentando compreender tudo aquilo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Correto. – disse Saguior – E esta é, sem dúvidas, a intenção de Kricolas no momento. E ainda acredito que todos os bruxos deste conselho tenham a maturidade para entender quais os propósitos deste maldito meio-vampiro com o Enid de seu mestre.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O que propõe que façamos, então? – perguntou Dorian, forçando um sarcasmo que não cabia na frase.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- É exatamente isto que este conselho veio decidir hoje. O que fazer para se proteger contra Kricolas, pois entregar um dos nossos está fora de cogitação.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal sentiu uma pontada de alegria em seu coração ao ouvir aquele fauno bem a sua frente defendendo-o. Pelos menos alguém ali não pretendia usá-lo como bode expiatório.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Bode expiatório... metade homem, metade bode... Kal não pôde resistir a comparação e rir da “piada”. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- <i style="">Lócus Amenus! </i>– disse Saguior e a imagem do Enid de Kal desapareceu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Alguns minutos se seguiram em cochichos, o fauno retornara ao seu lugar, dando espaço para que outros pudessem tomar a atenção. Em especial, um que não a merecia tanto assim.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Senhores. – chamou Dorian – Nas últimas semanas meu pessoal andou preparando alguns experimentos para serem usados contra Kricolas, a maioria ainda está em fase de testes, no entanto temos, hoje, aqui um protótipo totalmente desenvolvido. O pó de bobetônia. Mecflex, por favor.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- É claro, senhor. – falou ele descendo as escadas e se dirigindo ao centro do salão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E o que exatamente este pó faz? – perguntou Timas, o Ministro da Comunicação.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ele pode transportar qualquer coisa para qualquer lugar do mundo instantaneamente. – explicou Bernardo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Os membros do conselho riram do jovem bruxo em alto tom e em seguida um deles disse:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Nós podemos esfumaçar rapaz, para que precisamos comprar isso?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Porque seus filhos não podem esfumaçar! – grunhiu Bernardo achando aquela reação do conselho estúpida.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eu aprovo o produto. – falou Uric Scheiffer – Nós que temos filhos sabemos como pode ser perigoso andar desprotegido. E ter em mãos este tipo de produto torna tudo mais seguro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Pode nos dar uma demonstração? – perguntou Timas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Bernardo enfiou a mão dentro de um pote parecido com um de biscoito e retirou um punhado de uma areia brilhante e azulada, sem seguida disse:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Cidade dos Elfos! – falando isto ele bateu a mão cheia de pó no próprio peito e uma chama azulada envolveu-o com ferocidade.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Alguns membros do conselho levantaram-se de suas cadeiras para olhar o que acontecera. Assim, deram-se conta de que ele realmente não estava mais ali. Um minuto se passou e os bruxos continuavam discutindo alguns assuntos que pareciam ser imediatos e então mais uma vez uma chama azulada se acendeu no centro do salão do conselho e Bernardo surgiu segurando uma maçã muito vermelha.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Retirada do pomar da cidade. – falou ele exibindo o fruto em sua mão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Muito bem, Dorian. - prosseguiu Timas – Sua equipe desenvolveu um produto que pode ser útil, mas como não acredito em contos de fadas, qual o preço da patente?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Cem milhões de flandres. – anunciou Dorian.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Flandres era a moeda circulante entre os bruxos, como o real no Brasil.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Cem milhões! – exclamou Timas perplexo – Pelas barbas de Merlin! Isto é exorbitante! Não pagaremos este preço por um produto que faz as pessoas esfumaçarem! Sairia mais barato ensinar um cachorro a voar!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- É o nosso preço, senhores. – falou Dorian decisivo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Os bruxos do conselho remexeram-se em suas mesas, pensativos. Apesar de cem milhões ser muito dinheiro para se gastar com uma única patente, eles precisavam daquele produto para acalmar os ânimos incontidos da população.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Senhor, Ministro. – falou o fauno Saguior a Timas – Talvez não tenhamos outra escolha. Nossa gente precisa de proteção, e se não podemos produzi-la, necessitamos de comprá-la.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Veja só como ele fala, <i style="">nossa gente</i>, já está achando que é um bruxo. – caçoou Dorian.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Bernardo Mecflex estava perdido naquela cena. Olhou para Cacius que estava cabisbaixo e então se aproximou da mesa de Dorian chamando-o em particular, mas isto não impediu que Kal pudesse ouvi-los.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Senhor, o pó de bobetônia foi desenvolvido graças ao investimento do governo. Não podemos cobrar por algo que eles financiaram.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ora, Mecflex! Não seja ingênuo! Esta gente não sabe que os gastos foram pagos por eles. Aproveite esta oportunidade e terá uma vida melhor, rapaz.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- É que não me parece certo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O certo e o errado estão no ponto de vista de quem vê. Agora, cale-se ou não sairá com nada! – ordenou Dorian – Volte para o seu lugar e fique de bico calado!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Mas senhor...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não me faça perder a paciência com você, Mecflex.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim, senhor.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal pensou em comunicar a Cacius o que acabara de ouvir, mas não parecia necessário. O professor olhava fixamente para Dorian e seu rosto reproduzia claramente uma expressão angustiante e encharcada de repugnância.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Conselho! – chamou Cacius de pé e mãos erguidas – Proponho que esta decisão seja tomada pelo novo Ministro da Defesa e Segurança Mágica.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Quer fazer o plebiscito neste momento? – duvidou Timas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Talvez devêssemos passar esta responsabilidade para o presidente, afinal ele é a autoridade máxima deste estado. – disse o Ministro da Comunicação Mágica em protesto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Onde ele está agora, lacaio? – questionou Saguior olhando com desprezo para o homenzinho – Viajando, imagino. A negligência do presidente o torna incapaz de tomar qualquer decisão neste momento.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style=""> </span>Encurralado, Timas Havany coçou a nuca e posicionou sua boca em frente à varinha usada como microfone e disse:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Entremos em recesso por meia hora e em seguida faremos a votação que escolherá o novo Ministro da Defesa e Segurança Mágica.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Os bruxos do conselho levantaram-se de suas cadeiras e alguns ficaram parados no meio do salão conversando, eram vários os tipos diferentes de bruxos que estavam ali. Homens, mulheres, altos, baixos, bruxos bem vestidos e outros nem tanto, mas todos discutiam o mesmo assunto. Quem seria o novo Ministro da Defesa e Segurança Mágica. Ao que Kal sabia, Uric, Cacius e Dorian foram recomendados para o cargo, porém ele não tinha como saber os nomes dos demais indicados. Não parecia haver favoritismo, já que todos os integrantes do Conselho eram bruxos de importância na comunidade mágica. Altamente influentes e poderosos, qualquer um possuía os quesitos mínimos para exercer o cargo máximo da segurança do país. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Maldito Dorian! – bravejou Uric que se juntara a eles durante o recesso – Ele quer enriquecer as custas do governo! Que atitude mais covarde, até mesmo para uma barata fina, como ele.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Como assim? – indagou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Dorian Gulemarc não tem o melhor histórico de honestidade dentro do governo. Mas ninguém se importa com isto por aqui. O fato é que ele foi subindo de posto à medida que ia derrubando todos a sua volta. – respondeu Uric sem vacilar nas palavras de efeito.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Um estrategista miserável! – concordou Bernardo saindo furioso de dentro do salão – Maldito filho da mãe! Cem milhões! Cem milhões! O pó de bobetônia deveria ajudar as pessoas, e não fazer furos nos cofres do governo!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Lamento que tenha que ser assim Bernardo. – disse Cacius recostando a mão no ombro do rapaz.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Urgh! – bufou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Você inventa algo que pode salvar vidas, mas uma pedra cai bem em seu caminho. – prosseguiu Cacius sem ter se importado com a interrupção – No meio do caminho tinha uma pedra... li isso em um livro dos não mágicos. Eles sabem das coisas, às vezes.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim, uma pedra magra e esquisita chamada Dorian Gulemarc! – ralhou Bernardo, cuspindo de tanta raiva.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Falando de mim? – Dorian surgira entre as fileiras de mesas e carregava um irritante ar vitorioso – Fizemos a descoberta do século, não foi garoto?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Pena que as pessoas não vão poder usufruí-la.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não fique tão desmotivado, garoto, tenho certeza absoluta de que o Conselho votará por um resultado favorável a nós. Vamos ganhar muito dinheiro!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Mas esta não era a intenção! – retrucou Bernardo – Além do mais fomos pagos para desenvolver o pó de bobetônia!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Escute, garoto – Dorian puxou Bernardo pela gola da camisa como se ninguém estivesse ali e então disse – nesta vida você precisa aprender a tirar os obstáculos do caminho, se continuar a me atrapalhar deste jeito significa que está no meu caminho, e isso não é bom! Prestou atenção?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Bernardo virou o rosto de cara amarrada e então concordou acenando levemente com a cabeça e com isso Dorian largou-o.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Agora, preciso conversar com Timas. – cacarejou, enquanto se retirava.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Porco imundo! Farte-se no seu dinheiro e poder! – amaldiçoou Bernardo quando ele já estava fora de vista .</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Algumas pessoas costumam se enforcar sozinhas, Bernardo. – disse Cacius sorrindo-lhe – Basta ganhar um pouco de corda e despretensão para subir a alturas que não os compete.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Alguns minutos de reflexão e puro silêncio se passaram entre os quatro, na entrada da sala de reuniões. Durante este tempo, Kal continuou a observar amiúde os membros do Conselho de Magia. Uma mulher de rosa que aspergira aromas durante a reunião estava a conversar com uma mulher coberta por um véu negro preso a seu chapéu pontiagudo. Elas pereciam excitadas de algum modo, sorrindo satisfeitas e trocando tapinhas nos ombros. Próximo ao elevador estava Saguior, recostado sobre a parede, cabeça baixa e fumando um longo cachimbo, que lançava ao ar uma fumaça azul prateada. Por uma fração de segundos os olhos escuros do fauno se encontraram com os de Kal, que rapidamente desviou a atenção, mas, com uma exultação percebeu um mexer de músculos no canto da boca do fauno, indicando um sorriso simpático.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Dentro do salão, praticamente vazio naquele momento, atrás do palanque onde o ministro da Comunicação Mágica discursara a pouco, estava Dorian Gulemarc e o próprio Timas Havany, discutindo em baixo tom de voz, com uma clara cumplicidade. Assim que Dorian se afastou do ministro, este retomou seu lugar de destaque e usou a varinha do palanque como microfone, mais uma vez. <span style=""> </span><span style=""> </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Atenção, atenção! – chamou – Por determinado motivo o plebiscito será antecipado. Por favor, quem não tem poder de voto se ausente da sala.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Professor... – indagou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim, Kal, infelizmente terá que sair.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Passos de casco em pedra puderam ser ouvidos e quando Kal, instintivamente olhou para a sua esquerda deparou-se com a figura barbuda de Saguior. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Vamos, garoto, eu também não posso votar. – disse o fauno puxando-o pelo braço.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Os dois seguiram pelo átrio, os cascos do fauno fazendo barulho nas pedras à medida que dava um novo passo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Por que você não tem poder de voto, Saguior?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Senhor. Refira-se a mim como senhor, gosto da formalidade.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Tudo bem... senhor. – acrescentou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não voto porque não sou um bruxo. Se não fosse por Cacius eu nem mesmo poderia opinar nas reuniões do Conselho. – disse de cabeça baixa, parando à frente do elevador – Quer saber, não ligo a mínima.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Conheceu meu pai também? – perguntou Kal somente para puxar assunto enquanto os dois entravam no elevador.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Era um bom homem, muito digno. Deve sentir saudades.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim. – falou Kal achando que relembrar seu pai não fora uma boa idéia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Você não pôde fazer nada para ajudá-lo, não é mesmo?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal consentiu, pesadamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Estava despreparado, mas a verdade é que não conheço muitos garotos que enfrentaram Kricolas e não saíram mortos. Bem, apenas você e aquele outro garoto no ano passado. Como é mesmo o nome dele?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Thalis.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Exato. Cacius me disse que o moleque esfumaçou bem no meio da floresta! Realmente um feito louvável. – disse Saguior apertando o botão número oitenta e cinco do elevador – Mas aquilo foi apenas sorte. Ele não se levantou e partiu para cima do homem que matou o seus pais.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Saguior estava revivendo na mente de Kal todo o doloroso momento da morte de seu pai por Kricolas, na Cidade dos Elfos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Nos tempos dourados de Donnovan e Kricolas, muitos tentaram, muitos mesmo. Alguns com experiência muito superior a de alunos de Avalon, e eles não tiveram a menor chance. Mortos no primeiro momento do combate. Corajosos, sim eram, porém uns tolos. É, garoto, teve muita sorte, muita sorte. Sorte somada à coragem é sempre um potencial.<span style=""> </span>Vejo muito disso em você.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Como assim? – perguntou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ora, você sabe duelar, não sabe?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Um pouco, acho, mas...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não seja modesto, soube como você quase matou seu rival na Sala das Diferenças. – disse Saguior relembrando de outro momento do ano anterior de Kal, o que ele acidentalmente quase assassinara Rick Wosky, um garoto de Avalon a quem Kal odiara desde o primeiro instante.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Como sabe disto tudo? – perguntou Kal achando que em qualquer banca de jornais havia um almanaque revelando tudo sobre sua vida.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Cacius me disse. – falou o fauno abrindo a porta do elevador – Chegamos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Que lugar é este?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O andar oitenta e cinco da sede do Conselho de Magia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Quantos andares ainda tem?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não sei. Não tenho tempo para ficar visitando. – respondeu secamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O que viemos fazer aqui?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Treinar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Han?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Vamos, garoto, me ataque.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Senhor, eu não...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eu disse para me atacar! – berrou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Prontamente, Kal sacou a varinha da veste e apontou para o homenzinho a sua frente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Vamos lá, com o seu melhor!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- <i style="">Escaparta!</i> – berrou Kal e um lampejo azul partiu de sua varinha explodindo no peito peludo de Saguior.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Nada mau, nada mau.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Obrigado. – disse Kal encolhendo o corpo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não baixe a guarda! Não baixe a guarda! – berrou o fauno mais uma vez – Quero que se defenda agora. Tudo bem para você?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal concordou com a cabeça, mesmo estando incerto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- No três – começou o fauno – Um... dois... três... – Saguior lançou sobre Kal uma bola de luz amarela que atravessou o ar produzindo um zunido irritante, contudo, Kal defendeu-se bem.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- <i style="">Réplica! </i>– uma parede verde transparente surgiu na frente dele protegendo-o do feitiço e fazendo com que a bola de luz amarela retornasse em direção a Saguior, que facilmente desviou do próprio golpe.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Hahahaha! – gargalhou – Muito bom, muito bom, garoto! Veja se consegue com este!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Saguior posicionou três dedos de sua mão de modo que formassem um triângulo do qual saiu um raio roxo e continuo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- <i style="">Réplica!</i> – disse Kal mais uma vez formando a barreira de luz verde.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não desta vez! – Saguior manteve o feitiço que destruiu a proteção de Kal e o atingiu no ombro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Garoto, você está bem? – perguntou Saguior aproximando-se rapidamente de Kal que estava caído no chão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Acho que sim... por que, por que não pude me defender?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Porque o seu feitiço protege apenas um ataque de cada vez. Um ataque contínuo pode facilmente atingi-lo. – explicou Saguior – Se pretende desafiar Kricolas precisa primeiro aprender a se defender.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Como sabe que quero desafiá-lo, senhor? – perguntou Kal confuso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Vi em sua mente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Leu minha mente? – questionou indignado, mas não surpreso, pois sabia que era possível fazer este tipo de coisa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- É a mente mais transparente que já conheci! Qualquer um pode ver quais pensamentos estão rondando por aí. – disse o fauno girando o indicador por cima da cabeça de Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ok, mas não pedi a sua ajuda. – retrucou ainda indignado por ele ter lido a sua mente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Só porque não pediu não quer dizer que não precise.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Saguior estava sendo bem sincero em suas colocações, e um tanto grosseiro também. Zero de evasão e zero de delicadeza, todavia Kal ficara impressionado com a autenticidade que os faunos apresentavam.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Posso te ajudar. Espere um momento aqui. – dizendo isto Saguior esfumaçou deixando um rastro marrom de fumaça.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Apenas meio segundo depois Saguior esfumaçara de volta bem no mesmo lugar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Tome. – falou ele segurando um livro com capa de couro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O que é?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Um livro, oras.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E para quê?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Será que você não tem bom senso? – perguntou Saguior embravecido – Leia-o!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- <i style="">As cinco maneiras de se defender dos bruxos das trevas</i>.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Isso. Agora que estão apresentados vamos ver se você aprende alguma coisa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Existem outras maneiras de se defender, além do Réplica?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Por certo. São todas muito difíceis e complicadas, mas muito úteis. Vamos, garoto, temos pouco tempo para você aprender pelo menos um dos mais úteis.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Saguior afastou-se de Kal mantendo uma distância fixa de uns dez metros, ordenou que ele abrisse o livro na página trezentos e doze e que lesse o feitiço da página para se defender.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Acha que está pronto para aprender a maior lição da sua vida? </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal não sabia como proceder dali <st1:personname productid="em diante. Todos" st="on">em diante. Todos</st1:personname> os feitiços que ele sabia usar exigiram-lhe um bom tempo de prática e, agora, Saguior estava querendo que ele simplesmente se defendesse usando um feitiço completamente desconhecido! Talvez os métodos didáticos de Saguior não fossem os melhores, mas ele parecia saber o que estava fazendo, então, Kal confiou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Vamos lá, garoto! – exclamou o fauno segundos antes de disparar o mesmo raio contínuo de antes.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal agilmente abaixou a cabeça para ler o nome do feitiço e então levantou a varinha e disse com força:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- <i style="">Égide Silver!</i> – ela brilhou intensamente e logo se extinguiu como fogo, mas nada mais pareceu ter ocorrido. Nada de barreiras coloridas ou qualquer outra coisa, desesperado, Kal repetiu – <i style="">Égide Silver! </i>– outra vez a varinha brilhou e novamente se apagou, o golpe de Saguior estava cada vez mais próximo – <i style="">Égide Silver! </i>– por sua têmpora escorria uma gota de suor –<i style=""> Égide Silver! Égide Silver! </i>– não ia ser derrubado sem se defender. Sentiu alguma coisa na região da sua nuca se remexer loucamente, um arrepio percorrendo-lhe os corpo até o umbigo, descendo seu dorso como água gelada, espremendo cada centímetro quadrado do seu corpo. Suas células pareciam estar agitadíssimas, como que submetidas a uma grande atividade física. Desanuviando os pensamentos de todas aquelas estranhas e novas sensações, ele encheu os pulmões para gritar –<i style=""> ÉGIDE SILVER!!!!<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Desta última vez, uma bola de luz prateada cobriu todo o corpo de Kal como uma grande e poderosa bolha de sabão. O feitiço do fauno acertou a bolha, que começou a ondular em sinal de fraqueza, de segundo em segundo a ela piscava ameaçando extinguir-se, mas não podia... Saguior continuava a dez metros dali disparando o feitiço...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Vamos ver até onde você agüenta! – desafiou o fauno.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal sabia que não duraria muita mais do que alguns segundos ali. Sua bolha protetora estava cada vez mais fraca e o golpe de Saguior estava perfurando-a. Ele não tinha muito mais tempo. Olhou para os lados procurando um esconderijo, porém o lugar era um completo vazio. Uma sala inutilizada. Kal Foster decidiu uma última manobra, sacudiu a varinha desfazendo a bolha que o protegia e abaixou-se para desviar do golpe direto, mirou em Saguior e disparou:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- <i style="">Farfalha!</i> – estilhaços vermelhos como vidro irromperam no ar de uma só vez e acertaram o rosto do fauno rasgando superficialmente sua pele.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Por mil moedas de dragões! Que raio de feitiço foi esse? – murmurou o fauno levando uma das mãos ao rosto – Que droga foi essa? Era para se defender! Este feitiço me atingiu em cheio, mas Kricolas estará mais preparado! Precisa controlar o Égide Silver<i style="">. </i>Quero que pratique isto, me ouviu?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Mas, senhor, achei que meu objetivo era derrotá-lo...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Seu objetivo era apenas bloquear o meu golpe! Se não pode entender isto é melhor se virar sozinho!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Desculpe se fiz algo de errado, mas...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sem mas ou meio mas, Foster! Você tem que aprender a ouvir os outros, se é isto que quer saber! Eu disse que era apenas se defender, e por Merlin, quase perco meu nariz! Estas coisas podem fazer estragos, sabia? – bravejou ele apontando para a varinha na mão de Kal – Agora, vamos! Devem ter acabado aquela maldita votação.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal nunca vira alguém tão sério e nervoso. Nem mesmo Amadeus Wosky, seu professor de Maldições em Avalon, um homem atormentado e exageradamente mal humorado. Saguior havia ultrapassado qualquer limite que ele conhecia e o que Kal achou pior fora o motivo pelo qual se irritara. Talvez o fauno tenha se irritado por ter sido facilmente derrotado por um garoto com pouco menos que quatorze anos. Ainda assim, alguma coisa em Kal dizia que Saguior tinha muito mais força do que demonstrara ali no andar oitenta e cinco da sede do Conselho de Magia.</p> André Fantinhttp://www.blogger.com/profile/07818980780167800572noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5429287600558187973.post-57245596120666369092009-07-26T07:15:00.000-07:002009-07-26T07:33:33.433-07:00Capítulo 3 - Um Jantar a seteOlá pessoal, decidi publicar o livro dois, Kal Foster e o Mestre das Sombras, por inteiro. Quero que vocês conheçam mais a história do Milagre Foster e o desenrolar dela ao longo do segundo ano de Kal Foster em Avalon. Desculpem-me pelo atraso com esta publicação, esperava que o livro fosse publicado antes disso. Mas nós não desistimos, não é? Quem sabe o segundo livro nos dê visibilidade para chegarmos a este sonho.
<br />O capítulo abaixo é o capítulo 3 do livro, lembrando que o capítulo 1 e 2 já foram publicados há algum tempo. Abaixo seguem os links dos dois primeiros capítulos, assim você não perde nada da história.
<br />
<br /><span style="font-weight: bold;">Kal Foster e o Mestre das Sombras </span>
<br /><a href="http://kalfoster.blogspot.com/2008/03/captulo-1-kal-foster-e-o-mestre-das.html">Capítulo 1 - Boa noite, Ministro</a>
<br /><a href="http://kalfoster.blogspot.com/2008/05/captulo-2-casa-foster.html">Capítulo 2 - A casa Foster</a>
<br />
<br />
<br />Agora, com vocês:
<br />
<br /><span style="font-weight: bold;">Capítulo 3 - Um jantar a sete</span>
<br />
<br /><meta equiv="Content-Type" content="text/html; charset=utf-8"><meta name="ProgId" content="Word.Document"><meta name="Generator" content="Microsoft Word 11"><meta name="Originator" content="Microsoft Word 11"><link rel="File-List" href="file:///C:%5CDOCUME%7E1%5CANDRE%5CCONFIG%7E1%5CTemp%5Cmsohtml1%5C01%5Cclip_filelist.xml"><o:smarttagtype namespaceuri="urn:schemas-microsoft-com:office:smarttags" name="PersonName"></o:smarttagtype><!--[if gte mso 9]><xml> <w:worddocument> <w:view>Normal</w:View> <w:zoom>0</w:Zoom> <w:hyphenationzone>21</w:HyphenationZone> <w:punctuationkerning/> <w:validateagainstschemas/> <w:saveifxmlinvalid>false</w:SaveIfXMLInvalid> <w:ignoremixedcontent>false</w:IgnoreMixedContent> <w:alwaysshowplaceholdertext>false</w:AlwaysShowPlaceholderText> <w:compatibility> <w:breakwrappedtables/> <w:snaptogridincell/> <w:wraptextwithpunct/> <w:useasianbreakrules/> <w:dontgrowautofit/> </w:Compatibility> <w:browserlevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <w:latentstyles deflockedstate="false" latentstylecount="156"> </w:LatentStyles> </xml><![endif]--><!--[if !mso]><object classid="clsid:38481807-CA0E-42D2-BF39-B33AF135CC4D" id="ieooui"></object> <style> st1\:*{behavior:url(#ieooui) } </style> <![endif]--><style> <!-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman";} @page Section1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:35.4pt; mso-footer-margin:35.4pt; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> </style><!--[if gte mso 10]> <style> /* Style Definitions */ table.MsoNormalTable {mso-style-name:"Tabela normal"; mso-tstyle-rowband-size:0; mso-tstyle-colband-size:0; mso-style-noshow:yes; mso-style-parent:""; mso-padding-alt:0cm 5.4pt 0cm 5.4pt; mso-para-margin:0cm; mso-para-margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:#0400; mso-fareast-language:#0400; mso-bidi-language:#0400;} </style> <![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <o:shapedefaults ext="edit" spidmax="1026"> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml> <o:shapelayout ext="edit"> <o:idmap ext="edit" data="1"> </o:shapelayout></xml><![endif]--> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Kal Foster desceu a rua novamente logo depois de Cacius, ele iria procurar revistas, jornais e até mesmo parar nas esquinas para capturar uma conversa entre as pessoas do bairro. Quando se entra em um novo ciclo de pessoas, todos sempre querem passar uma boa imagem de si, e os Foster queriam fazer isto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Naquela manhã, Kal tivera sua primeira conversa com uma garota deste novo ciclo, mas, na verdade, ele sentiu-se em um interrogatório como os que ele vira nos filmes de bandidos e policiais que passavam à noite na televisão. Sara parecia estar segurando um questionário social, e cada resposta que Kal lhe dava virava uma nova pergunta.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Passando pela praça da rua, Kalevi procurou por Sara, porém não a encontrou. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;"><i style="">Provavelmente ela deve estar <st1:personname productid="em casa. Pensou" st="on">em casa<span style="font-style: normal;">. Pensou</span></st1:personname><span style="font-style: normal;">, satisfeito. </span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Ele não sabia ao certo porque o interesse repentino na nova vizinha. Em sua cabeça ele remoeu a aveludada voz da garota e o seu sorriso honesto de tranqüilidade, um sorriso que até mesmo lembrava o de Cacius com o seu ar pacato. Talvez suas emoções estivessem sensíveis e se misturando a imagens de pessoas por quem ele possuía uma empatia avantajada.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Pelo caminho, já longe da Rua Guaçuí, Kal percebeu que estava sendo observado por diversas pessoas, e não eram pessoas disfarçadas de gatos, cachorros ou pombos, eram pessoas não mágicas que o encaravam de modo curioso, como se a frente deles estivesse um espécime raro de animal selvagem pronto para atacar. Todos o encaravam realmente muito curiosos. Kal pensou que talvez as pessoas soubessem que ele e o restante de sua família ficavam sempre reclusos na própria casa e estavam imaginando o que aquele menino de treze anos estaria fazendo rondado as ruas do bairro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Ele parou por um instante e lembrou-se de que não sabia para onde estava indo, não sabia onde era a banca de jornal mais próxima, afinal, mal saíra de casa. Kal parou na esquina da Rua Chinchila onde uma placa indicava que à esquerda ficava a Rua das Gaivotas e à direita a dos Tormentos, ele ficou estático. Não sabia para onde ir, e antes que tivesse qualquer outra idéia teve seus pensamentos interrompidos por uma voz logo atrás de si:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Está perdido, garoto? – perguntou um homem alto e robusto – Posso ajudar em alguma coisa?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Em seu mundo mágico, Kal sabia que poderia contar com a ajuda de qualquer pessoa que aparece, pois fazia parte da natureza dos bruxos o companheirismo, mas pelo que ouvira de alguns colegas que moram entre os não mágicos, ele não poderia confiar em qualquer um que lhe oferecesse ajuda. Lembrando-se disso, respondeu em prontidão:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Não, senhor, estou exatamente onde quero estar. Muito obrigado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Kal sentou-se no meio fio e esperou até que o homem tivesse sumido de vista. Levantou-se limpando a roupa e então percebeu a varinha no bolso de trás do jeans. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;"><i style="">Foi bom ter trazido a varinha</i>. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Para todos os bruxos havia uma só regra quanto à utilização da magia fora dos domínios do Governo Mágico; apenas em caso de perigo extremo – e mesmo assim escondido o máximo possível dos olhos humanos. Ao que constava a Kal, esta regra ainda tinha um parágrafo que dizia ser ilegal o uso de magia para fazer qualquer tipo de mal aos humanos, principalmente as maldições e os diversos tipos de transfiguração corpórea.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">O sol estava brilhando forte no céu. Sem nuvens para bloquear alguns raios ou vento para refrescar, Kal começou a suar e arrependeu-se de estar usando jeans e blusa de frio, mesmo dobrando as mangas do moletom ele ainda sentia-se incomodado com a roupa e então desejou poder usar a varinha para fazer uma brisa de ar gelado como a que seu professor de feitiços, Tirso, fizera no ano anterior em uma de suas aulas. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Tirso era, de longe, o professor favorito de Kal em Avalon, não só pela matéria que ensinava, mas também pela sua simpatia e compreensão. Ele havia ajudado Kal com algumas questões que o rondavam, como o livro sobre projeção astral que comprara no início do ano anterior, com alguns mistérios a respeito Livro de Merlin e principalmente sobre Nicolas Weny, que no final das contas mostrou-se sendo na verdade Kricolas, o maior assassino de todos os tempos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">A projeção astral era um tipo de viagem que se fazia por um plano paralelo ao plano físico, um plano em que se podia voar e atravessar paredes como um fantasma e viajar na velocidade do pensamento. Nas férias de meio de ano, Kal fora para sua casa em Vila da Cachoeira com seu irmão Daimon, Guinevere e seu amigo Ralph, de lá eles viajavam todas as noites em projeção astral até a Cidade dos Elfos, a vários quilômetros de distância de onde seus corpos físicos estavam localizados.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Ralph Scheiffer tornara-se o melhor amigo de Kal no ano anterior, eles se conheceram no dia em que voaram em uma carruagem puxada por bruxos montados em vassouras voadoras até a Cidade dos Elfos. No início, os dois não entenderam-se muito bem, mas Guinevere fez o possível para que os dois pudessem desenvolver uma amizade. Ralph era filho dos Guardiões Chefes de Warren, a penitenciária para bruxos, e tinha um falcão de nome Osíris, o qual mandou, junto com Kal, uma carta para seus pais pedindo que lhes enviassem um retrato falado de Kricolas e alguns dias depois eles receberam uma resposta com a figura mais horrenda que já haviam visto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Ralph era o amigo com quem Kal compartilhava alguns de seus segredos mais particulares, apesar de ainda não ter assumido oficialmente que estava interessado <st1:personname productid="em Emanuela Goldemberg" st="on">em Emanuela Goldemberg</st1:personname>, isto era quase desnecessário de ser feito, pois o rosto dele brilhava com a simples menção do nome da garota. Emanuela foi a causa de Kal ter aceitado um convite para tornar-se guardião mirim dos terrenos de Avalon no Conselho Estudantil da escola. O presidente do Conselho, Rômulo Martins, o convidara na primeira semana de aula, no entanto ele não aceitara o convite de imediato, e quando o fez foi bravamente repreendido por Guinevere e Ralph, alegando que ele apenas aceitara o convite por causa de Emanuela. O que não era nenhuma mentira. Aquela fora a primeira e única briga a qual eles tiveram no ano inteiro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Em Avalon, Kal também conheceu outras pessoas que o cativaram com a amizade, como Jonathan Mc’Oz, melhor amigo de Daimon, e Thalis Kinguest, um garoto também vítimas de Kricolas; seus pais foram brutalmente assassinados pelo meio-vampiro. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Um estranho mistério pairava sobre Thalis quando se conheceram, pois bruxos menores de dezesseis anos não conseguem esfumaçar, mas surpreendentemente, Thalis esfumaçou momentos antes de Kricolas conseguir estrangulá-lo. Após isto ele ficou perdido na Floresta Amazônica e foi atacado por Griphons, criaturas amarelas originárias do plano astral, com a capacidade de se materializar no plano físico. Encurralado e com medo, Thalis gritou por socorro, sendo localizado por Kal e Ralph. Enquanto Ralph buscava ajuda, Kal embrenhou-se floresta adentro e livrou-se dos Griphons. A partir daquele dia, Thalis começou uma nova vida como bruxo. No final do ano, ele soube que sua mãe era de uma família de bruxos e que ela havia se desligado da magia após ter perdido seus pais pelas mãos de ninguém menos do que Kricolas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">O meio-vampiro fazia inimigos por onde passava, nos últimos anos ele matara mais pessoas do que se pode contar com os dedos, deixando crianças órfãs e mulheres viúvas, a última de suas vítimas, pelo menos que se tem notícia, fora o Ministro da Defesa e Segurança Mágica, Mardo Runifer, e Kal não sabia ao certo o que aconteceria ao Governo com esta perda tão significativa. A morte de Mardo, para Kal, tinha um valor muito mais simbólico do que simplesmente psicopata. Agora, todos sabiam que as forças do mal não estavam para brincadeiras, e que com o Livro de Merlin em mãos, Donnovan estaria de volta à vida em pouco tempo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Há exatos novecentos e noventa e nove anos, Donnovan, ou, Cavaleiro Negro, foi o maior bruxo das trevas em toda a terra. Ele liderou massacres contra os humanos, acreditando que por não possuírem dons mágicos, eles deviam ser considerados criaturas inferiores, meros erros da evolução das espécies, e que ele tinha a missão de aniquilar esta raça de humanos <i style="">imperfeitos</i>. Donnovan conseguiu reunir um vasto exército de bruxos das trevas e outras criaturas mágicas que comungavam da mesma idéia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Felizmente, havia Merlin e seu discípulo Foster, o primeiro antepassado de Kal, juntos eles inauguraram a Escola de Magia de Avalon. Uma escola onde bruxos, ou não, qualquer interessado em magia poderia aprender a arte. Para livrar-se das perseguições do exército das trevas e de alguns humanos que passaram a temer os bruxos pelo seu poder, Merlin e Foster ergueram o castelo acima das nuvens, onde logo abaixo formou-se a maior cidade encantada do país, a Cidade dos Elfos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Avalon tinha um aspecto de castelo medieval, no entanto era tão novo e tão conservado, de longe diria-se que o castelo possui mais de novecentos anos. São vários os encantos que protegem os segredos do castelo, a começar com as nuvens que o cercam, formando uma densa muralha natural, onde qualquer viajante não convidado poderia ficar perdido eternamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Tão perdido quanto estava Kal naquele momento. Ele já dera a volta em três quarteirões quando percebeu que estava completamente desnorteado. Estava em seu ponto de partida, na mesma esquina em que um homem robusto lhe oferecera ajuda. As pessoas dentro das lojas continuavam a olhá-lo atenciosas, porém agora elas tinham um motivo. Kal havia circulado os quarteirões da redondeza e todos estavam curiosos para saber o que aquele garoto de família tão estranha estava fazendo ao circular pelo bairro?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Ele decidiu que era hora, então, de perguntar. Perguntar ao primeiro que passasse em sua frente, fosse quem fosse. Afinal, ele estava com sua varinha e não iria se importar em usar caso corresse perigo. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Logo a sua frente vinha uma mulher, uma senhora já de idade, tinha o cabelo curto, um vestido comprido que lembrava um tipo de camisola e calçava um sapatinho de couro. Kal já estava separando os lábios para perguntar onde ficava a banca de revistas mais próxima, quando um cão de porte médio e pelos amarelos pulou a sua frente tirando-lhe um pequeno grito de espanto. Ele colocou a mão direita na calça e tocou a varinha, ele sabia que aquele não era um cão, era um bruxo transformado. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;"><i style="">Cães não saltam na frente das pessoas desse jeito</i>.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Hei, garoto! Espere. – falou o cão de cabeça baixa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Quem é você? </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Katrini Likiniki. – respondeu – Guarda de Warren. Sua mãe me disse que você havia saído e estava demorando.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Oi.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Está perdido, não é?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Preciso ir até uma banca de revistas. Sabe onde tem uma?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Vem comigo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Era a situação mais inusitada que já acontecera na Rua Chinchila, um garoto após ficar completamente perdido parecia ter conversado com um cachorro e agora o estava seguindo. Ninguém parecia querer acreditar naquilo, então resolveram se dedicar cem por cento ao que estavam fazendo e esquecer as sandices do novo morador do Araçá.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Alguns mais curiosos continuavam a observar Kal das janelas dos prédios no segundo andar, e ele lembrando-se do que Cacius fizera quando fora até sua casa e todos os moradores o encararam intrigados, começou a distribuir “boa tarde” a todos que o observavam.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Fique quieto! – ordenou Katrini – Não chame a atenção.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Conversar e seguir um cão chama muito mais.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Certo, da próxima vez arrumamos uma coleira...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Katrini conduziu Kal por várias ruas, fazendo curvas e desvios, no fim, a Guarda de Warren deixou o garoto em uma banca de revista chamada Tulipa. Kal lembrou-se imediatamente da floricultura da Cidade dos Elfos, a Flor-de-Lis. Ela era a mais antiga de todas as floriculturas do país e fora fundada pelo Governo mágico após a construção de Warren. A floricultura carregaria a marca com que os prisioneiros de Warren recebiam ao serem presos, a Flor-de-Lis. Algo parecido com uma espada com pétalas nas bordas. No ano anterior, Kal visitara a floricultura com Ralph, Guinevere e Daimon, onde cada um comprou um tipo de planta. Kal escolhera sem querer a planta mais difícil de se cuidar, a <i style="">Herviana gornóide</i>, um tipo de planta subterrânea sensível à luz.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Bom dia, senhor! – cumprimentou Kal a um homem gorducho e muito sujo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Bom dia. – respondeu o homem enquanto limpava a mão suja de doce na camiseta branca.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Tem revistas e jornais?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Isto aqui é uma banca de revistas e jornais.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Certo. Certo. – disse Kal sem entender direito o que o homem havia dito – Eu quero o jornal de hoje.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Qual? – perguntou o homem exibindo na prateleira alguns exemplares.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Ah... este! – apontou Kal para um em que havia um anúncio de cereal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Um real.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Ok. – disse separando o dinheiro sem muita dificuldade.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Mais alguma coisa?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Vou olhar as revistas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Tudo bem. – falou o homem enfiando mais um pouco do doce enquanto pegava um jornal para ler.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Kal leu alguns títulos, mas não sabia ao certo o que eles queriam dizer. As pessoas daquele mundo tratavam de diversos assuntos ao mesmo tempo, uma única revista podia abordar os mais variados temas e Kal não sabia qual escolher.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Ele olhou mais uma vez e decidiu por pegar uma em que havia um casal em pose de meditação. Ele achou que falar sobre guerras e desastres naturais em um jantar não seria muito amistoso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Eu quero esta.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Então compre. – respondeu o homem impaciente – Você não é daqui, é garoto?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Sou é... sou do norte.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Sei... – disse o homem com uma expressão estranha – São sete e cinqüenta.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Tome. – disse Kal estendendo uma nota de dez.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Obrigado. – agradeceu enquanto entregava o troco ao garoto e ainda assim olhando de esguelha para ele.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Kal enfiou o restante do dinheiro no bolso e olhou para Katrini que estava se coçando logo mais à frente. Ele saiu de dentro da banca de jornais e seguiu até a bruxa disfarçada. Ela o esperava impaciente e assim que se aproximou ela parou de se coçar e o seguiu dizendo:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- É cada humilhação que temos que passar para manter o emprego...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Você podia se transformar num pássaro, não?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Não tenho permissão para isto?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Como assim?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Warren ordenou-me assumir a forma de um cão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- É assim que funciona, então?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Não é tão ruim.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- O que pode ser pior? – perguntou Kal imaginando algumas possibilidades estranhas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Certa vez, tive que me transformar <st1:personname productid="em vaca. Nestas" st="on">em vaca. Nestas</st1:personname> horas, o que mais sinto falta são dos polegares!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Imagino.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Ao chegar na praça da Rua Guaçuí, Katrini Likiniki seguiu por outro caminho, mas Kal já estava <st1:personname productid="em segurana. Alguns" st="on">em segurança. Alguns</st1:personname> dos guardas de Warren perambulavam pela rua em sua tarefa de proteger os Foster contra qualquer perigo. Kal estava curioso para saber o que havia acontecido no Governo após a morte de Mardo, mas não quis entrar em detalhes com Katrini no meio de várias pessoas. Certamente elas estranhariam o tipo de conversa e também o ouvinte. Ele subiu a rua folheando as páginas do jornal à procura de uma manchete interessante e que pudesse render um bom assunto...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Antes que Kal pudesse chegar em casa, seu irmão, Daimon, veio correndo ao seu encontro com o rosto pálido e suando frio. Daimon estava com uma camisa de botões, que estava aberta até quase a metade do peito. O garoto parecia estar muito ofegante e Kal parou no meio da rua para que ele pudesse se explicar melhor.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Vem... comigo... mamãe... depressa!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Kal dobrou os joelhos para pegar um melhor impulso e saiu rua acima puxando o irmão pelo braço. Daimon quase não tocava o chão, tamanha a força que Kal fizera para arrastá-lo. Os dois chegaram em casa quase que expulsando os pulmões. Amanda estava sentada na sala praticamente desmaiada, Guinevere ao seu lado abanando.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- O que aconteceu? – perguntou Kal ao entrar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Graças a Deus, meu filho, que você chegou. Estava ficando preocupada...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Não precisava. Katrini estava comigo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Sim eu sei, mas... mas aconteceu algo terrível. Cacius não tinha o direito de nos ter escondido isto... não tinha.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Do que ela está falando? – perguntou Kal a Daimon sem entender a que Amanda se referia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Olhe isto. – disse Daimon pegando uma folha de pergaminho em cima da televisão – É o jornal de hoje.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Kal segurou a folha em frente aos olhos e leu em voz alta.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;" align="center"><i style="">Falhas da segurança, morre um ministro<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;" align="center"><i style=""><o:p> </o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;"><i style="">Morreu na semana passada o Ministro da Defesa Mágica, Mardo Runifer. O ministro, que ocupava o cargo há pouco menos de dez anos, foi brutalmente assassinado pelo meio-vampiro Kricolas, que segundo dados do próprio ministério, já assassinou mais de quinze pessoas só neste ano. O caso havia sido abafado pelo governo na tentativa de conter os ânimos da comunidade mágica. Mesmo com tanta precaução, a notícia vazou e informantes que gozam de nossa inteira confiança, nos afirmaram que o assassinato ocorreu por volta de nove da noite do dia sete de janeiro. <o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;"><i style="">Hoje, o ministério ainda não se pronunciou quanto o caso. Soubemos que ontem foi realizada uma reunião com os Guardas de Warren para determinar que todos permaneçam em seu posto até um novo ministro ser nomeado.<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;"><i style="">Alguns nomes foram indicados durante a reunião, e entre a lista, os três mais importantes são: O diretor da escola de Magia de Avalon, Cacius Henrique Emrys; o até então Guardião Chefe de Warren, Uric Scheiffer e o atual Secretário de Defesa e Estratégia do Estado Mágico, Dorian Gulemarc. Não conseguimos depoimentos a respeito dos dois primeiros bruxos, mas sabemos que, no passado, Cacius Henrique ocupou o cargo de vice-presidente por alguns meses e após esta experiência foi indicado para outros cargos de importância dentro do Governo, mas recusara a todos os convites em nome de sua escola. Uric Scheiffer é um personagem em ascensão no país, e não se sabe muito mais do que a sua função em Warren. <o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;"><i style="">No entanto, o transparente Dorian Gulemarc visitou nossa redação e disse que caso ele seja escolhido pelo Conselho de Magia, do qual os três candidatos fazem parte, para assumir o papel de Ministro da Defesa e Segurança Mágica, sua primeira meta será colocar guardas a paisana por todo o país “</i>em busca do sanguinário Kricolas<i style="">”, como mesmo frisou. Ele disse não entender porque o governo quer esconder uma calamidade como esta. “</i>Temos um monstro perigoso à solta e devemos contar com o máximo de ajuda possível. As pessoas precisam saber!<i style="">”.<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;"><i style="">Quando inquirido se Kricolas vasculhara alguns departamentos do prédio sede do Governo, o Secretário apenas disse que Kricolas roubou os relatórios do Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas, que ficavam no mesmo andar da sala de Mardo Runifer.<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;"><i style=""><o:p> </o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Kal parou perplexo. Não acreditara no que lera. Aquilo definitivamente não poderia ser verdade. O Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas do Ministério da Defesa e Segurança Mágica, era o programa em que os Foster estavam inscritos. Se Kricolas estava com os relatórios era certo que ele também sabia onde estavam morando.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Você acha possível que... – perguntou Daimon, a Kal, olhando para sua mãe que continuava a ser abanada por Guinevere.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Que ele venha atrás de nós? – completou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Não há como afirmar nada. Por hora é melhor esquecermos isto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- O que disse, meu filho?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Que estamos seguros, mamãe. Têm mais de trinta guardas lá fora prontos para se transformarem e atacarem qualquer pessoa que tente nos ferir. – falou Kal num tom de voz confiante.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- É isto mesmo senhora. Enquanto estivermos aqui não há com o que se preocupar. – falou um gato laranja e pouco peludo que estava na janela ao lado de um segundo gato. Ele era persa e tinha os pêlos acinzentados.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Olá. – cumprimentou Amanda.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Estaremos atentos a qualquer coisa. – disse o persa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Ih! Olha um novelo!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">O gato laranja pulou da janela e caiu de pé sobre um novelo de lã que usou como brinquedo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Adoro ser gato.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Cale a boca, Fred! – cortou o persa enquanto saltava da janela e assumia a forma humana, um homem alto com o uniforme branco e cinza de Warren combinando com seus cabelos longos, lisos e grisalhos – Senhora Foster, meninos, senhorita. Eu sou Stuart, e este é Fred – o gato laranja pareceu não se incomodar com a apresentação e continuou brincando com o novelo de lã – Nós montamos um esquema de segurança para que possam ficar tranqüilos. Sempre que quiserem ir além da praça nos informem que enviaremos alguma escolta.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- É, mas também pedimos para que não saiam de casa à noite porque queremos descansar também.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Fred, você quer perder o emprego não quer? – perguntou Stuart, secamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- De forma alguma. – falou ele, também voltando à forma humana, a de um rapaz de vinte anos, magrelo e de cabelos ruivos – Eu ainda vou ser Ministro da Defesa e Segurança.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Torça para a noite chegar logo que isto acontece, com certeza. – falou Stuart tirando risadinhas de Kal, Daimon e Guinevere – Muito bem então, acho que agora temos que ir. Não queremos incomodar vocês.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Obrigada, Stuart e... Fred. – falou Amanda percebendo que esse continuava a brincar com o novelo de lã mesmo depois de ter se transformado – Agradecemos por tudo que vocês têm feito por nós, e vamos contribuir para não dificultarmos muito as coisas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Tenham uma boa tarde, então. Vamos Fred, e por Merlin largue este novelo. – grunhiu Stuart antes que os dois se transformassem novamente em gatos e saltassem pela janela.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Viu só mamãe. Estamos seguros. – disse Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Sim, estamos, mas Cacius não poderia ter nos escondido o fato de Kricolas saber onde moramos...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Ele não sabe. – disse o professor que acabara de esfumaçar ao lado da janela – Desculpe-me por chegar assim, sem avisar, mas é que estou num pequeno intervalo de uma reunião e precisava vir o mais rápido possível.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Já sabemos de Kricolas, professor. – falou Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Sim. Era exatamente isto que vim avisar. Podem ficar tranqüilos. Kricolas não tem o endereço de vocês. – afirmou ele com toda segurança.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Mas aqui diz que os relatórios... – argumentou Amanda segurando o jornal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Sim, o Folha Mágica gosta de acrescentar muitas informações nos seus textos. Contudo nem todas são verídicas. Os relatórios que Kricolas roubou não continham qualquer informação sobre o Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas. Na verdade ele roubou apenas um dossiê explicativo esclarecendo as metas do programa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Então ele não sabe onde estamos? – quis assegurar-se Amanda.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Não.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- E onde estão os relatórios? – perguntou Kal curioso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Em um lugar onde ele nunca poderia entrar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Avalon? – sugeriu Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Cacius sorriu, como se estivesse contente com a resposta de Kal, porém corrigiu-o logo em seguida.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Warren. Todos os relatórios estão lá. Em segurança.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Isto me alivia muito, professor... – confessou Amanda.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Eu imagino como se sente. – disse Cacius retirando um relógio prateado de dentro do bolso das vestes – Desculpe, preciso ir agora. Está na hora da reunião. Sinto muito, só que não poderei ficar para jantar, senhora Foster. A reunião vai se prolongar. Vejo vocês outra hora. Até mais.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Mal terminara de dizer as últimas palavras, o bruxo já estava esfumaçando outra vez, deixando apenas um colorido esfumaçado que rapidamente sumiu com a ajuda do vento. Kal estava a meio segundo de perguntar ao professor o que era o Conselho de Magia que o Folha Mágica enfatizara, então deduziu que devia ser uma espécie de assembléia, onde os grandes bruxos do país votavam leis entre outras decisões.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Bem, agora que estamos certos de nossa segurança acho que podemos nos preparar para receber nossos visitantes. – falou Amanda.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Os quatro sentaram-se no chão da sala e distribuíram os cadernos de notícias do jornal. Leram sobre economia, turismo, ciência, tecnologia, esportes e algumas outras novidades internacionais. A revista que Kal comprara não fora tão útil, pois em sua maior parte era composta por anúncios, sobrando poucas páginas de matérias bobas e outras cheias de fotos de pessoas <st1:personname productid="em festas. No" st="on">em festas. No</st1:personname> geral, os Foster e Guinevere conseguiram ter uma mínima noção a respeito do mundo não mágico, pelo menos o suficiente para cogitar um breve assunto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Por volta das seis horas, Amanda e Guine entraram na cozinha com um caderno de receitas, enquanto Kal e Daimon limpavam a sala e a copa. Os dois trancaram toda a casa e fecharam as cortinas, a fim de poderem usar magia para facilitar o serviço de limpeza. Após isto, os dois começaram a trocar as lâmpadas, queimadas graças à radioestesia, sintonizaram a televisão, que insistia em não pegar, estenderam um tapete verde no chão da sala e acenderam alguns abajures pela casa para que não passassem vergonha caso uma lâmpada deixasse de funcionar. Depois de arrumarem a casa, os quatro vestiram roupas bem sociais, como as que viram nas fotos da revista que Kal comprara.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Acho que acabamos. – falou Daimon largando-se no sofá.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Já são sete e meia. Os Chiabai podem chegar a qualquer momento.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Eles sentaram-se em frente à tv e passaram a assistir o noticiário das sete. Naquele dia as notícias não eram tão boas. Quatro acidentes de carro e cinco mortes, Kal prestou bem atenção para ver se relacionava os ocorridos à Kricolas, no entanto parecia improvável que o meio-vampiro tivesse suicidado três pessoas e atirado em outras duas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Às oito da noite, a campainha do interfone dos Foster tocou e de um salto os quatro levantaram-se do sofá com os corações acelerados. Daimon retirou o interfone do gancho e disse:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Chiabai?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Oh, sim! – falou o senhor Alexandre Chiabai, através do interfone.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Podem entrar. Não temos cachorro. – disse Daimon desligando o aparelho – Estão vindo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Kal e Guinevere ficaram ao lado de Amanda, na porta de entrada, prontos para recebê-los enquanto Daimon se certificava de que a lasanha que sua mãe e Guine fizeram não estava queimando dentro do forno.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Está ok. – falou ele ao se juntar aos três.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Olá! – disseram Alexandre e Mara Chiabai ao entrarem e cumprimentarem todos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- E sua filha? Não pôde vir? – perguntou Amanda.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Oh, ela virá. Estava com umas amigas em casa e por isso se atrasou. Em instantes ela chega.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Por favor, entrem... – falou Amanda conduzindo-os até a cozinha.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Será que ela vem mesmo? – perguntou Guinevere a Daimon e Kal e os dois deram de ombros.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Amanda, o senhor e a senhora Chiabai sentaram-se na mesa da cozinha e conversaram tranqüilamente, Amanda prestava atenção no que os dois falavam entre si, e logo percebeu que humanos e bruxos não eram nada diferentes. Aqueles dois estranhos despertaram nela uma alegria que há tempos não sentia. Amanda e seu marido Adonis conversavam longamente durante o dia, e ela sentia falta disso. Ter alguém para partilhar idéias e sugestões. Era certo que Cacius sempre a visitava, mas em geral não havia muito o que conversarem, nem ela queria fazer o professor perder seu valioso tempo discutindo sandices. Os guardas de Warren passavam a maior parte do tempo na forma de animais e eles precisavam estar sempre concentrados, então ela não os incomodava. Desde que se mudaram de Vila da Cachoeira, portanto, seus únicos parceiros de conversa eram três adolescentes. Mas Amanda ainda achava que suas conversas não eram tão atraentes para os três. E agora, ali, olhando para aquele casal sentiu-se finalmente contente por ter com quem trocar idéias, mesmo que não fosse sobre o seu verdadeiro mundo. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;"><i style="">É uma pena que eles não possam saber de nós, talvez se interessariam... </i>Pensou, em um leve entusiasmo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Entediados, Kal, Guine e Daimon saíram pela porta da frente e caminharam pelo jardim até o portão de entrada. Quando tentaram abri-lo deram-se conta de que os Chiabai o haviam trancado e que eles estupidamente esqueceram as chaves.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Vocês acham que tem alguém espiando? – perguntou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Os dois espreitaram os olhos pela vizinhança, primeiro na casa de Alexia Almeida, a fofoqueira de plantão, se ela não estivesse olhando ninguém mais estaria.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Acho que não tem ninguém espiando. – falou Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- <i style="">Opandor!</i> – disse Kal com a varinha apontada para a tranca do portão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Posso saber aonde os três estão indo? – perguntou uma voz familiar vinda de cima de uma árvore ao lado do portão dos Almeida.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Quem está aí? – perguntou Kal escondendo a varinha.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Por Merlin, vocês são uns teimosos! – falou novamente a voz de cima da árvore – Sabem que têm que nos avisar quando tiverem intenção de sair.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Só vamos dar uma volta.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Um gato laranja e de pelos curtos saltou da árvore com a verdadeira destreza de um felino. Era Fred.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Eu os acompanho. – disse o guarda de Warren.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Tudo bem, mas de longe. – impôs Guinevere.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Será que um de vocês poderia me carregar no colo? Acho que machuquei a pata quando saltei da árvore...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Os três entreolharam-se com as sobrancelhas erguidas e bufaram.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- A menos que prefiram ficar em casa...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Daimon puxou o gato pela nuca e segurou-o como se fosse um bebê.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Obrigado. Vocês são muito gentis. – agradeceu Fred enquanto lambia sua pata dianteira.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Os quatro seguiram rua abaixo até a pequena praça, onde na manhã daquele mesmo dia Kal conversara com Sara Chiabai. A vizinhança estava silenciosa, algumas poucas luzes acesas dentro das casas e nada mais, apenas dois postes estavam com as luzes queimadas e alguns outros passaram a piscar quando eles passaram por baixo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Estranha essa tal de radioestesia, não? – comentou Fred.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Tão estranho quanto gatos falantes. – disparou Guinevere.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Estive pensando em comprar botas, soube de um famoso que usa botas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Quieto! – advertiu Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Ao se aproximarem da casa de Sara, ele pôde ouvir barulhos de conversa e sentiu uma imensa vontade de tirar a varinha do bolso e usar o Captus, feitiço que dá ao bruxo uma super audição capaz de ouvir qualquer coisa com perfeição num raio de um quilômetro.</p> <p class="MsoNormal" style="margin-left: 0.6pt; text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Ela é legal? – perguntou Guinevere, desconcentrado Kal de seu pensamento.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Sim. – respondeu ele rapidamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- O que vocês vieram fazer aqui? – perguntou Fred.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Nada. – disseram os três.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Pelas grades de Warren! Eu estava dormindo como um bebê e vocês vêm aqui por nada! – resmungou o gato.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Ninguém te convidou... – disse Daimon que já estava cansado de carregá-lo no colo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Os três sentaram-se nos mal cuidados balanços e Kal ficou a olhar para a casa de Sara, quase que hipnotizado. Ele nunca sentira algo parecido. Talvez nem mesmo por Emanuela Goldemberg, por quem era apaixonado, nem isto ele tinha mais tanta certeza. Mas sabia que naquela manhã, algo acontecera entre ele e Sara Chiabai. Algo estranho e talvez bonito. Mas ainda assim não sabia se era exatamente amor.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Nas últimas semanas, ele assistira a vários filmes, e em diversos deles os personagens falaram em amora à primeira vista. Porém ele achou que aquilo era uma técnica de cinema, uma que construir um verdadeiro amor em menos de duas horas era impraticável, então, inventou-se o “amor à primeira vista”. E ele não queria ser influenciado por uma corrente amorosa de cinema. Definitivamente não.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Está pensando nela? – perguntou Daimon de supetão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Sara. – completou Guine.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Acho... acho que sim. – respondeu com toda sinceridade, coisa que não era muito comum, Kal sempre achara que os seus sentimentos não deviam ser compartilhados.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Temos alguém apaixonado por aqui? – perguntou Fred.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Disse para ficar quieto! – repreendeu Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Cara, você está caidinho pela não mágica! – gargalhou Fred balançando as patas no colo de Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Fica quieto. – disse Daimon, que se esforçava para conter o gato.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Não mágicos e bruxos são como água e óleo, seu burro. Não dá para misturar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Saia daqui! – trovejou Guine com o guarda que começava a agir impertinentemente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Não posso abandonar meu posto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Que pena. – disse Kal, o mais calmo entre eles. Não se importava em nada com as opiniões de Fred ou do conceito de que não mágicos e bruxos são criaturas muito distintas. Dificilmente ele se abatia com o julgamento alheio. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Eles ficaram sentados ainda um bom tempo conversando, sobre qualquer outro assunto que não fosse a vida amorosa de Kal, até que Sara Chiabai saísse de casa com suas três amigas por volta de nove horas. Kal admirou a vizinha em sua saia até um pouco acima dos joelhos e sua camisa de manga comprida verde, àquela noite fazia frio, mesmo estando no verão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Boa noite. – disse a garota aos três.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Boa noite. – responderam.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Bonito gato. – falou ela olhando para Fred que se espreguiçava no colo de Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Não é meu. – falou ele jogando o gato para frente – Só estava... só estava com ele.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Entendo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Fred aproveitou que Sara estava de costas para ele e fez língua para Daimon em protesto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Estavam me esperando? – perguntou a garota – Desculpe-me fazê-los esperar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Não. Tudo bem. Só estávamos... aqui. Só isso... – disse Kal, meio que gaguejando.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Eu sou Guinevere. – disse apresentando-se para Sara.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Oi! Kal me falou sobre você hoje de manhã. – respondeu ela.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Acho que... acho que estão... estão nos esperando. – disse Kal cabisbaixo e se odiando por estar gaguejando tanto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Ele adiantou o passo e saiu na frente dos três, no entanto ao atravessar a rua até a esquina da casa de Sara ele sentiu um arrepio gelado em seu estômago como se tivesse engolido uma pedra de gelo naquele momento e um frio cortante alisou sua nuca. Aparentemente, apenas ele sentira aquilo. Guinevere, Daimon e Sara continuaram o caminho passando por ele, Fred seguia-os logo atrás.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Kal concluiu que era apenas um vento, um vento como qualquer outro e que não era motivo para pânico. Ainda mais na presença de Sara.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Algum problema, Kal? – perguntou ela ao reparar que o garoto estava muito atrás deles.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Oh! Não, não. Tudo ok. – disse meio que sem confiança e correu para acompanhá-los.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Se isso te ajuda rapaz, eu também percebi. – disse Fred de cabeça baixa quando Kal passou por ele – Vão para casa! Depressa!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Kal acenou com a cabeça e se apressou mais ainda fazendo com que os outros três acompanhassem seu passo acelerado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- O jantar deve estar pronto, não é?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Amanda e Guinevere fizeram um excelente trabalho na cozinha. A lasanha estava no ponto de cozimento exato e não houve falhas no tempero, até mesmo o paladar mais exigente se renderia àquela comida. Quando os garotos chegaram em casa, Amanda acabara de pôr os pratos na mesa com a ajuda de Mara, que apanhara uma jarra de suco de laranja dentro da geladeira e servira nos copos de vidro, cada um com três cubos de gelo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Parabéns às cozinheiras! – disse Mara.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Obrigada. – responderam Amanda e Guinevere em coro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Os assuntos da mesa divergiram sobre tudo o que os Foster leram. Naturalmente eles incitaram o assunto que tinham decorado na ponta da língua, para ganhar uma certa vantagem, e de forma que não se perdessem com as notícias recém adquiridas. Os Chiabai foram agradáveis em suas respostas e tinham uma visão bem politizada dos assuntos. Sara, apesar de parecer o tipo de garota que não entende muito além de maquiagem e shopping, mostrou-se bastante franca e confiante em suas afirmações. A cada palavra que a moça soltava, Kal sentia seu pelo eriçar de entusiasmo e alegria de ter, supostamente, se apaixonado por alguém tão encantadora.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Em dada hora da noite, os Chiabai perguntaram se eles não gostariam de sair todos juntos para um passeio entre amigos. Mesmo indecisa sobre a idéia, Amanda perguntou aos visitantes:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Têm alguma sugestão?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Chegou um parque na cidade. – falou Sara – Todos os meus amigos já foram lá.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Parece uma boa idéia. – disse Kal olhando timidamente para a garota a sua frente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Dentro do parque tem um circo também. – prosseguiu Sara.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Ótima idéia! – disse Alexandre – Faz tempo que não vamos a um circo, querida.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Acho que a Sara era uma criança. – completou Mara.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- E vocês? – perguntou Sara a Kal, Daimon e Guine – Já foram a um circo?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Os três entreolharam-se e dirigiram o olhar a Amanda, que respondeu:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Sim. Fomos. Mas eles eram tão pequenos, duvido que lembrem de muita coisa. – mentiu. Os Foster nunca se quer chegaram próximo a um circo, muito menos um parque de diversões.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- É uma boa idéia, então? – perguntou Daimon à mãe.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Sim, claro. – respondeu ela, temerosa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Quando vamos? – perguntou Guine entusiasmada.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Por que não vamos logo amanhã. – sugeriu Alexandre.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Ótimo. O parque abre às dezoito horas. – disse Sara.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Legal então. Combinado. – respondeu Kal e assim que terminou de falar sentiu novamente um arrepio na barriga e o vento na nuca.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Novamente nenhum dos presentes pareceu sentir a mesma sensação, porém ele agora tinha certeza de que não era apenas um vento. Olhou para sua mãe na ponta da mesa e ela parecia estar nervosa com alguma coisa. Os talheres em suas mãos estavam tremendo e Kal viu uma pequena gota de suor descer pela testa de Amanda.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Kal voltou ao seu prato para dar mais uma garfada no pedaço de lasanha que acabara de cortar e assim que o colocou na boca engoliu-o em seco ao ouvir um som rouco, quase como um agouro vindo da janela. O menino olhou para fora e viu o lago refletir calmamente a luz da lua por um breve instante, mas no segundo seguinte a água agitou-se provocando um movimento de ondas, como se uma pedra bem grande tivesse sido jogada no lago, no entanto, naquela ocasião, ele sabia que não fora uma simples pedra.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Olhando mais fixamente para fora, percebeu uma pequena agitação entre os guardas de Warren que corriam de um lado para o outro do lago. Era um movimento sincronizado como se estivessem isolando-o, verdadeiramente fazendo uma muralha. Kal suspirou profundamente quando um guarda inicialmente transfigurado em pombo sobrevoou o lago e transformou-se em peixe, mergulhando de cabeça. Fora uma sorte os três Chiabai estarem posicionados de costas para a janela.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Algum problema, Kal? – perguntou Mara percebendo que o garoto estava catatônico e olhando fixamente para fora.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Não. Não há problema nenhum. Só os peixes que estão pulando muito hoje. – respondeu nervosamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Amanda percebendo a situação pronunciou-se antes que um dos visitantes também se interessasse pelos peixes que Kal mencionara e olhasse para trás.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Kal, está frio aqui não está? Por que não fecha a janela, querido. – sugeriu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Kal balançou a cabeça positivamente, talvez ele mesmo tivesse aquela idéia um minuto mais tarde. Antes de fechá-la, enfiou a cabeça para o lado de fora e procurou pelos guardas. Todos tinham sumido.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Feche logo, querido. – disse mais uma vez Amanda, em claro tom de nervosismo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Ele puxou as vidraças e desceu a persiana, de forma que nada que acontecesse do lado de fora pudesse ser visto ou percebido por nenhum deles ali da cozinha.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Quando o relógio na parede marcou dez e meia, os Chiabai levantaram-se agradecendo pelo jantar e recombinaram o encontro do dia seguinte.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Que jantar agradável. – disse Mara – Ficamos felizes em tê-los em nossa vizinhança.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Às dezoito horas, na pracinha, combinado? – sugeriu Alexandre.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Está bem, então. – respondeu Amanda.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Até mais, Kal. – disse Sara ao atravessar a porta de entrada.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Até...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">No momento em que os Chiabai chegavam ao portão um gato peludo passou a poucos centímetros de suas pernas e Mara tomou um pequeno susto. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Apenas um gato. – disse ela virando-se para os Foster.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Assim que Mara Chiabai selou os lábios todos os postes da rua começaram a piscar e se apagaram ao mesmo tempo, deixando a rua sob uma névoa de escuridão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Tudo bem não há perigo. – disse Alexandre não muito convencido.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Kal correu para dentro de casa e foi direto para a cozinha abrir a janela com vista para o lago. Ele admirou a cena. Eram mais de cinqüenta gatos e cachorros, todos olhando para o centro do lago em expectativa. Kal reconheceu o gato mais próximo como sendo Stuart. Ele chamou a atenção do gato e disse baixinho:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Stuart! Você pode seguir os Chiabai até em casa? Por algum motivo todos os postes se apagaram!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Precisa ser agora? – perguntou o guarda, claramente exautado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Por favor. Pode ser perigoso para eles.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Não posso abandonar meu posto. – teimou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- O que está acontecendo afinal de contas? – quis saber Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Tudo bem garoto. Eu vou acompanhá-los. Vá dormir. – disse Stuart esquivando-se da pergunta de Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">O garoto pôs-se para dentro da cozinha novamente e trancou a janela, correu então para a janela do seu quarto de onde teria uma visão mais aérea da cena. Havia um brilho estranho dentro das águas esverdeadas do lago, e não era apenas o brilho da lua. A luz parecia sair do fundo do lago. Os guardas de Warren continuavam espalhados à margem muitos em posição de ataque.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Algum problema, Kal? – perguntou Daimon curioso da porta do quarto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Não! – respondeu fechando a janela subitamente – Só estava olhando a lua...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Parece estar bonita hoje. – disse Daimon se aproximando da janela.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- É uma pena que tenha muitas nuvens. – falou Kal e o irmão se afastou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- A tudo bem. Eu vou dormir então. Boa noite.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Boa noite.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Kal encostou a cabeça no travesseiro e fechou os olhos, contudo assim que o fez, seu cérebro mostrou-lhe as imagens do lado de fora da casa. Ele continuava vendo os guardas ao redor do lago, e então viu os Chiabai indo para casa, seguidos de perto por Stuart. Era apenas imaginação. E foi neste ritmo que Kal mergulhou em um sono atormentado por pesadelos e sonhos confusos. Como o em que ele corria por uma linha de trem e ao passar por uma estação ele viu Sara sentada em um banco, mas quando quis parar não conseguiu. Seus pés não o estavam obedecendo e ele continuou correndo até a próxima estação onde a mesma Sara continuava sentada em um banco a sua espera, no entanto ele não podia parar, não, não podia...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Kal... Kal... Kal acorda... – ouviu ao longe.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Kal, o professor Cacius quer ver você.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Guine... o que...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Bom dia. Acho que estava sonhando. – falou Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Você estava dizendo que queria parar. – disse Guinevere logo em seguida.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Cacius está aí?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Sim. – confirmou a garota.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">Kal levantou da cama, ainda estava com a roupa que usara no jantar, e correu rápido até as escadas descendo dois degraus por vez. Ao chegar à cozinha, deparou-se com Cacius que bebericava uma xícara de café enquanto Amanda contava como fora agradável a noite anterior com a visita dos Chiabai.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- ...e eles adoraram a lasanha.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Bom dia, professor. – cumprimentou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Bom dia, Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Dormiu bem, querido? – perguntou Amanda.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- É. – disse Kal não querendo contar seus sonhos a ninguém.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Kal, gostaria de falar com você. Se possível.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Claro. – disse, esperando exatamente por isso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">O professor agradeceu a Amanda pela xícara de café e levantou-se, abriu a porta da frente e saiu acompanhado de Kal. Os dois saíram da varanda e deram a volta na casa até chegarem próximo às margens do lago, que parecia mais quieto naquela manhã do que estivera na noite anterior. Cacius contemplou o horizonte a frente por instantes sem parecer ter vontade de falar qualquer coisa, mas algo parecia obrigá-lo a fazer aquilo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; font-family: georgia;">- Quero lhe contar algo muito importante agora, Kal Foster. <span style=""> </span></p>
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<br />André Fantinhttp://www.blogger.com/profile/07818980780167800572noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5429287600558187973.post-86821965717571077732009-01-29T03:31:00.001-08:002009-01-29T03:34:03.277-08:00Minha biografiaSemana passada a Editora BookLink pediu pela minha biografia, comentei com algumas pessoas que eu precisava escrever uma urgentemente, e eis que um amigo se solidarizou escrevendo com um humor digno de nota.<br /><br /><span style="font-weight:bold;">Biografia de André Fantin</span><br /><span style="font-style:italic;">Por Raphael Perovano</span><br /><br />Publicitário, moralista, ensaísta, líder cívico, cientista, inventor, estadista, diplomata, filósofo e herói da independência comunicacional, nascido ao dia 18 de abril de 1988 em Vila Sésamo, cujas atividades intelectuais abrangeram os mais variados ramos do conhecimento humano, das ciências naturais, educação e política às ciências humanas e artes. De origem humilde, de uma família numerosa de 16 irmãos, aos dez anos já trabalhava com o pai na fabricação de sabão e pedra pomes e aos quinze passa a trabalhar na gráfica de um de seus 16 irmãos. Mudou-se para Flexal, em Cariacica, (1999), onde trabalhou como laterneiro. Aprendeu idiomas, como tupi-guarani e xintu, e a tocar vários instrumentos, como sanfona e gaita. Conseguiu construir sua própria micrográfica (2001) e fundou o jornal Entretanto, mais tarde o Segunda Mão e, com o pseudônimo Kal Foster, editou o Livro de Merlin, quando ganhou o prêmio Estrela de Prata. <br /><br />O sucesso foi tanto que pôde montar tipografias em outras das 13 colônias ufesianas e acumulou grande fortuna, o que lhe permitiu aposentar-se dos negócios (2020), passando a se dedicar integralmente a política e a pesquisa científica. Foi membro do Centro Acadêmico (2008-2009). Criou em São Pedro II a TV Fantin, fundou a primeira biblioteca circulante de São Pedro II e uma academia que mais tarde se transformou na Faesa. Organizou um clube de chá e truco, que deu origem à Sociedade Ufesiana de Filosofia, e ajudou a fundar o hospital das clínicas. <br /> Ingressou como publicitário na UFES em 2007. Sua dúvida era cruel entre Arquivologia (aliá o Word não reconheceu essa palavra), Estatística e Engenharia Industrial Madeireira. Optou por publicidade, para ficar próximo da sua amada sorveteira Quiabai. Mais tarde descobre que na verdade Quiabai não existe. Tudo não passava de um plano para fisgar os alunos de comunicação. A UFES lhe proporcionou diversas aventuras. Na Ecos chegou a se tornar Presidente, mas abdicou do cargo por interesses mais congruentes. Tentou ingressar no Nexo e na Excom, mas não teve êxito. Participou dos estudos interdisciplinares com a turma das Artes Plásticas e Filosofia. Fez reopção para o curso de Gemologia, em 2010, por ter encontrado a Pedra Filosofal nos arredores do Cemuni V. Desistiu da UFES logo no início de 2011.<br />Foi enviado à Argentina (2011) para solucionar a disputa entre Maradona, Pelé e Madonna. Voltou a UFES (2012), após ter dados uns pegas na Madonna, mas as más línguas desconfiam que seria na verdade o Maradona. Voltou casado com a mexicana Maria Martins, uma ex-catadora, que emplacou em novelas famosas do Sistema Brasileiro de Televisão e da Televisa. Com Maria teve 6 filhos: Manoel Augusto (2012), Ana Luzia e Ana Lúcia (2013), Catarina Angélica (2014), Luiz Mário Fernando (2015) e Mara Felipa (2016).<br /> Em 2020 foi recebido como herói e eleito presidente do Morro do Alemão. Foi um dos delegados da convenção que elaborou a nova constituição boliviana e tentou em vão abolir a escravatura dos vascaínos. Escreveu numerosos ensaios, artigos e panfletos e seu livro mais conhecido e único foi o Livro de Merlin, publicada postumamente (2067). Faleceu em 19 de abril, Etiópia, e é homenageado com seu rosto na cédula de R$ 3,00.André Fantinhttp://www.blogger.com/profile/07818980780167800572noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-5429287600558187973.post-12597434025951317492008-12-21T07:09:00.000-08:002008-12-21T07:14:53.132-08:00Um conto de NatalChovia forte do lado de fora do bar, que naquela noite fora completamente decorado para as comemorações natalinas. Dois homens entraram se estranhando no recinto, vociferando alto um para o outro em tom de insulto. Madame Maria Ortiz, a dona do bar Mulsos para Moços, brandiu sua varinha de detrás do balcão em gesto repreendedor.
<br />Com os nervos acalmados, os dois homens sentaram-se distantes e fizeram seus pedidos.
<br />- Sempre a mesma estupidez. – disse um jovem, muito desgostoso com a situação que incomodara sua janta.
<br />- Um dia eles conhecerão seu lugar. – disse em resposta um homem encapuzado ao lado do jovem.
<br />- Não enquanto bruxos como Merlin insistirem em ensinar magia a esse humanos. – dizer essa última palavra parecia ter ardido a língua do jovem.
<br />- Nessas horas fico feliz em não ser considerado humano. – disse o encapuzado enquanto tomava para si um drink cor de âmbar.
<br />O jovem, de pele alva e cabelos enegrecidos, fuxicou o nariz levemente ao ouvir o encapuzado se pronunciar.
<br />- Tudo ao seu tempo, Kricolas. – disse o jovem, retomando o assunto original – Existem outros bruxos que não estão tão satisfeitos em ter que partilhar suas riquezas com esses humanos.
<br />- Temos o apoio de criaturas mágicas, certamente. – disse o encapuzado em meio a outro gole do líquido âmbar.
<br />O jovem Donnovan desviou sua atenção do homem ao seu lado e voltou a olhar para a sua janta, que aquela altura já esfriara. Olhou para a janela e viu a chuva brigar com o vento. Tudo parecia desinteressante naquele momento. As pessoas no bar não se entreolhavam, era como se o espírito de natal não tivesse alcançado aquele lugar.
<br />A maioria dos freqüentadores da Mulsos para Moços eram pessoas que não tinham companhia para essas ocasiões, ou não gostavam de comemorá-las, como Donnovan.
<br />- E o seu pai? – perguntou o bruxo.
<br />- Não sei por onde anda. Provavelmente se vendendo e não fazendo o que sua natureza ordena. Uma vergonha.
<br />- Difícil acreditar que um dos maiores vampiros do mundo é aliado do tolo mago Merlin.
<br />- Não me culpe por isso, por favor. – disse Kricolas.
<br />- Poderíamos assassinar Merlin. – disse Donnovan com um certo vislumbre em seus olhos, como se pudesse imaginar perfeitamente a cena.
<br />- É uma opção. Ou podemos matar aquele discípulo estúpido dele.
<br />- Foster? – indagou o bruxo em meio a uma risada – Não entendo qual talento Merlin vê naquele fracote.
<br />- Dizem que ele tem um Enid próprio. – comentou Kricolas.
<br />- Está falando sério? – espantou-se Donnovan, um ar de indignação estampou-se em seu rosto, lividamente.
<br />- Não se chateie por isso. Você ainda é o mais forte, sem dúvidas.
<br />- Não eu não sou. Por mais difícil que seja dizer isso, Merlin ainda é mais poderoso do que eu. – como da primeira vez, parecia que a língua do jovem bruxo iria inflamar.
<br />- Merlin é apenas um velho, meu senhor. Não há dúvidas de que seu poder será infinitamente maior que o dele em questão de tempo.
<br />- Quão tempo? – indagou Donnovan, sacudindo a varinha no ar em gesto ameaçador.
<br />- Você será uma lenda e quando isso acontecer, esses não mágicos cairão. Serão escravos ou sei lá qual o destino deles.
<br />Donnovan permaneceu em seu silêncio, mas quase era possível ouvir seus pensamentos fantasiando com dias de glória, poder e total controle sobre a magia. Algo que ele fascinava e orgulhava-se. Há poucos dias ele soubera que possuía um Enid próprio, um indicativo de que ele era dono de grandes habilidades mágicas e capaz de grandes feitos.
<br />- Desgraçado! – rugiu um dos homens que entrara no bar minutos antes.
<br />O outro, que o acompanhara, reagiu do outro lado jogando no primeiro uma garrafa cheia de hidromel, que se espatifou ao atingir o balcão.
<br />Madame Maria Ortiz veio correndo da cozinha ver o que acontecia em seu bar, mas desta vez nem mesmo sua varinha foi ameaçadora o suficiente para os dois briguentos.
<br />Num ato impetuoso de fúria, Donnovan largou o resto de sua janta no balcão e ergueu a varinha para o homem que iniciara a nova confusão. Sibilou algumas palavras e um feixe de luz prata engalfinhou o humano, fazendo tombar e bater a cabeça com força em uma mesa próxima. Quando o sangue parecia jorrar pelo ouvido do sujeito, Madame Maria Ortiz horrorizou-se
<br />- Por Merlin, você o matou?
<br />Donnovan sorriu maliciosamente para a mulher e repetiu o gesto com a varinha, mas esta estava preparada para desviar do ataque. Os demais ocupantes do bar recolheram-se a um canto, amedrontados demais para qualquer outra reação.
<br />Enquanto o jovem bruxo de cabelos negros abria caminho para fora do bar, ouviu-se um grito seguido por uma explosão. Quando Donnovan olhou de volta para o balcão, viu os traços de Kricolas arrastando para a chuva o corpo inerte e ensangüentado do outro humano briguento.
<br />Numa última ação triunfante, Donnovan disparou um feitiço dentro do bar fazendo parte do teto ceder e, assim, saiu pela chuva para cumprir o seu destino que fora determinado naquela Natal.
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<br />André Fantinhttp://www.blogger.com/profile/07818980780167800572noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5429287600558187973.post-35260046127057287582008-09-08T18:55:00.000-07:002008-09-08T18:58:35.552-07:00Desejos e a fumaça<p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">Era mais um dia entediante como qualquer outro. As mesmas pessoas na sala de aula, a mesma ladainha sobre cadeias de carbono, mitose e meiose, sujeito e predicado, trigonometria e mais blá, blá, blá...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">Os minutos agradáveis conseguidos no intervalo já estavam longe do pensamento naqueles dez últimos minutos de aula em que os professores gostavam de tornar mortificantes o suficiente para derrubar o ânimo juvenil de qualquer estudante.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">Os ponteiros do relógio na parede pareciam estar colados. Simplesmente não se moviam. Mas os ouvidos do garoto estavam bem atentos ao sinal da escola. <i style="mso-bidi-font-style:normal">Logo, logo ele tocará.</i> Pensou, ansioso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">Era a última semana de aula antes das férias de julho, e logo, ele e os pais viajariam para o litoral. Nada como uma boa praia e uma água de coco para fazer esquecer todas aquelas regras e raízes quadradas que ele absorvera nos últimos meses.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">Sete minutos...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">O professor andava de um lado para o outro, esforçando-se para manter a atenção dos alunos, que já guardavam seus materiais escolares.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">- Ainda temos mais alguns minutos. – alertou o professor, ao consultar o relógio na parede.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">O garoto batia o pé embaixo da mesa. Os olhos já não conseguiam focar um único ponto e giravam nas órbitas como se fosse um prisioneiro desesperado por uma oportunidade de fuga. Mas ele sabia que a fuga logo chegaria... apenas mais cinco minutos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">Debruçando-se sobre a cadeira, o garoto decidiu fechar os olhos e pensar nos momentos agradáveis que estariam por vir. Assim, talvez, a ansiedade não fosse mais desesperadora e os cinco minuto finais da aula, conseqüentemente, menos mortificantes.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">Não demorou mais do que o tempo de se abaixar. Após não obter da turma a resposta para o valor de π, o professor viu-se derrotado pela proximidade das férias e liberou os alunos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">A animosidade se viu refletida no barulho de carteiras se arrastando e no espreme-espreme provocado na hora de passar da sala para o corredor. Os alunos se acotovelavam nas escadas e corriam até o portão de saída. Ele, no entanto, estava mais tranqüilo depois de livre da sala de aula. Suas férias já se iniciavam do jeito que planejara. Tudo o que precisava agora era chegar em casa com tranqüilidade, almoçar, colocar seus últimos pertences na mala e cair na estrada com os pais...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">Despediu-se dos colegas com um aceno, desejou-lhes boas férias e seguiu caminho assoviando uma música que passava em sua cabeça. Tinha um ritmo bem baiano; descontraído e risonho. Provavelmente era algum axé que ele ouvira numa rádio qualquer e já não se lembrava.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">Sua escola ficava bem próxima a sua casa, apenas quatro quadras de distância. Era muito rápido o trajeto e durante ele, sempre via as mesmas pessoas. A sra. Salestiana, dona da padaria em que, costumeiramente, ele passava para comprar alguns doces antes da aula; o sr. Ronaldo, um caminhoneiro conhecido da região que passava o dia a revisar seu instrumento de trabalho e Pedrinho Tião, um pinguço que vivia a tropear pelo bairro cantando bossa nova e recitando versinhos românticos para as mulheres que por ali transitavam.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">Apesar de ser totalmente inofensivo, o garoto não gostava de topar com Pedrinho Tião. Havia nele um quê de derrota que o incomodava, mas não sabia por que se sentia assim. Apenas sentia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">Naquele dia, porém, a padaria estava fechada e tanto o caminhão quanto o sr. Ronaldo não estavam na rua. Porém, ao longe, o garoto viu os pés caídos de Pedrinho Tião entre latas de lixo tombadas, bem em frente ao destino final.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt"><i style="mso-bidi-font-style:normal">Por que ele tinha que cair logo aí? </i>Perguntou-se o garoto, muito enraivecido.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">Meio que de soslaio, ele tentou dar a volta no bêbado para chegar até o portão e entrar sem ser notado, pois sabia que Pedrinho Tião faria um pequeno escândalo se fosse acordado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt"><i style="mso-bidi-font-style:normal">Mas que droga! </i>Bravejou o<span style="mso-spacerun:yes"> </span>garoto ao perceber que o homem estava escorado justamente no portão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">- Ei. Ei... – chamou – Acorda.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">O bêbado, porém, não se mexeu. Ele não tinha muito mais que trinta anos, cabelos lisos, sujos e compridos até a altura do queixo, pele queimada pelo sol e enrugada pelos hábitos pouco saudáveis, trajava uma calça de brim bege que exalava um azedume de urina e fezes misturadas e uma camisa de botões que um dia fora branca.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">A cabeça estava caída, quase encostando na própria barriga e não havia em nenhuma de suas duas mãos uma única garrafa de cerveja ou cachaça. O que era, de fato, estranho.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">- Vou chamar a polícia. – ameaçou o garoto, cutucando o bêbado com o pé direito, mas, como da primeira vez, não obteve resposta.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">Ele olhou pela rua buscando por alguma ajuda. Não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Não naquele dia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">O garoto estendeu um braço até o interfone da casa e apertou o botão na esperança de que seus pais já estivessem em casa para acudi-lo. Quando fez-se o barulho do interfone saindo do gancho, produzindo os sons de dentro da casa, não houve uma voz, nem sussurro, ainda assim, o garoto respondeu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">- Cheguei!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">A trinca estalou várias vezes quando alguém, dentro da casa, abriu o portão. Automaticamente, o peso de Pedrinho Tião empurrou o portão para dentro e, por conseguinte, o deixou estirado no chão, a cabeça virada de lado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt"><i style="mso-bidi-font-style:normal">Dessa vez ele acorda. </i>Pressupôs o garoto. Cedo demais.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">Vendo que o bêbado não reagia, ele entrou em casa e foi espiar mais uma vez o homem. Uma onda de choque tomou-lhe por inteiro ao ver de perto, e pela primeira vez, o rosto de Pedrinho Tião. A garrafa que lhe faltava à mão estava enterrada em seu crânio, fora enfiada por baixo da mandíbula até o cérebro, mas, estranhamente não lhe escorria sangue.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">- MÃE! – gritou o garoto em desespero, correndo para dentro da própria casa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">Tal seu desespero que somente notou que a porta da entrada fora explodida quando já estava saindo a caminho do segundo cômodo. Observou os demais móveis em volta e pareciam intactos. Saindo da sala e partindo para a cozinha, deparou-se com gavetas reviradas, pratos quebrados e a geladeira caída sobre a porta numa tentativa inútil de bloquear a passagem até a sala de jantar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">Seu bom senso parecia ter sido anestesiado assim que pisou dentro da casa. Em qualquer outra situação ele teria saído à rua gritando desesperadamente por socorro, mas aquela era a <i style="mso-bidi-font-style:normal">sua </i>casa. A casa dos <i style="mso-bidi-font-style:normal">seus </i>pais. Não havia o que temer.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">Na sala de jantar, mais rastros de luta. Uma mesa de vidro quebrada, garrafas de vinho estilhaçadas, paredes queimadas e no alto da escada de acesso ao segundo andar um tremendo choque.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">O garoto procurou evitar aquela visão pavorosa e angustiante. Seu pequeno poodle fora preso à parede com uma fava atravessada na garganta, manchando toda a área com seu sangue canino, que fora derramado numa tentativa valente de proteger o lar de seus donos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">- Ahhhh! – gritou uma mulher, no segundo andar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">Mais que depressa, o garoto rumou até a origem do grito, passando pelo cadáver do animal sem nem ao menos lhe dedicar atenção. Aquela era sua mãe e ela precisava de ajuda. Ao pé do segundo andar, ele localizou uma faca caída e a empunhou com valentia. Seu coração pulsando mais rápido do que jamais pulsara antes. O pensamento de férias calmas e tranqüilas no litoral já inexistentes e uma incrível saudade de trigonometria.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">A porta do quarto de seus pais estava entreaberta e sombras indistintas eram projetadas pela luz que incidia pela janela e iluminava o quarto. Ele não soube se fora por valentia ou burrice, mas segundos depois estava escancarando a porta para dar de cara com a cena que marcaria para sempre a sua vida. Havia três ocupantes no quarto. Todos amontoados em cima da cama de casal ensangüentada. Um dos ocupantes estava caído de barriga para cima, os braços escapulindo pelas beiradas, os dedos ainda se mexiam por espasmo, mas o restante do corpo estava visivelmente morto. As vísceras expostas e rosto manchado de vermelho traziam a expressão de quem sofrera terrivelmente até chegar àquele estado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">O Segundo ocupante era monstruoso. Grande, forte, amarelado e nodoso. Um estranho par de asas rasgadas se armara ao ver o garoto. Ainda assim, essa súbita invasão não o impediu de dar um último mergulho no sangue que escorria do pescoço da mulher que ele segurava com tanta sede. Ela ainda estava viva quando viu o garoto entrar no quarto, mochila nas costas, faca na mão e a pior representação do medo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">- Cor-rre... – disse ela num último esforço, antes de se entregar com prazer à morte e cair por cima do corpo frio do marido.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">Apavorado, o garoto deixou a faca cair no chão, por pouco ela não o perfura o pé. Descendo as escadas três ou quatro lances por vez, ele tropeçou na metade do caminho e bateu de cara com a parede, a testa latejou de dor após o contato, mas a adrenalina anestesiara aquele ferimento muito rapidamente. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">Outra vez no primeiro andar, ele correu até a saída, saltando pela geladeira que obstruía o caminho. Quando pensou estar a salvo na sala de estar. O assassino de seus pais surgiu como fumaça em seu caminho. Só agora sua atenção pudera entrar em detalhes da criatura. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">Ele possuía um focinho achatado como o de morcego, olhos injetados e uma fúria que transpirava de cada poro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">O garoto tornou a correr para dentro, desesperado por ajuda. Saltou uma terceira vez sobre a geladeira planejando pegar o telefone sem fio, retornar ao segundo andar e trancar-se no banheiro para fazer uma ligação.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">Ele não soube explicar como, mas assim que se aproximou da mesa com o telefone, ela simplesmente explodiu à ordem do assassino.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">Encurralado, o garoto olhou para a enorme janela de vidro que servia como fonte de iluminação de toda o ambiente e decidiu que aquela seria sua única salvação. Retirou a mochila das costas, colocou-a diante da cabeça para se proteger e se atirou contra o vidro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">Com a astúcia improvisada, ele se equilibrou e já quase alcançava o portão de saída quando o assassino usou de alguma força que ele não conhecia e o fez tropeçar. A mochila ficou de lado quando ele caiu por cima do corpo de Pedrinho Tião. A pressão do impacto fez a garrafa sair de dentro do crânio seguida por litros de sangue...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">A estranhíssima criatura puxou o garoto pelo ombro e o encarou por alguns instantes. Aqueles olhos vermelhos vasculhando os olhos castanhos, como se estivessem tentando penetrar a mente e a alma. Mas o garoto já achava que sobrara pouco das duas coisas. Não havia nada em sua mente que não fosse tristeza, angústia, medo – muito medo, pavor, aflição e infelicidade infinita. E sua alma, ele sabia, estava assombrada por cada um desses péssimos sentimentos. Certamente já não era uma alma tranqüila que valesse a pena se roubar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">- O q-ue q-q-quer? – perguntou o garoto, que agora sentia aqueles dedos nodosos abraçarem tão fortemente sua garganta.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">A resposta que ele recebeu do assassino foi uma pressão maior sendo exercida por aqueles dedos, as unhas afiadas rasgando-lhe a carne...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">Sons sufocados do garoto se confundiam com a respiração ofegante do assassino, que agora sorria e parecia contente ao exibir suas longas presas vampírescas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">Pela mente do jovem Thalis Kinguest passavam as últimas imagens tranqüilas de seu dia. Como seria bom retornar para aquela última aula de sexta-feira antes das férias. Como os números eram amigáveis. Biologia nunca lhe pareceu tão interessante quanto agora. História seria extremamente excitante, se tivesse outra oportunidade. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">Seu pavor era tamanho que sua mente estava eliminando qualquer pensamento negativo. Ele tentou relembrar dos pais no andar de cima da casa, mas já não podia. A pressão daqueles dedos repeliam suas memórias e ele só pensava em sua sobrevivência.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;text-indent:14.2pt;mso-line-height-alt: 0pt">Enquanto o ar lhe faltava nos pulmões, ele imaginou-se respirando ar puro, uma outra vez. Sentiu seu corpo livre daquela pressão e longe daquele assassino. Ocorreu-lhe então uma floresta deserta, preenchida por árvores altas e espessas, abrigo de pássaros e outros animais. Queria sentir-se de novo entre pessoas como ele. Queria fazer novas amizades. E tão forte foi o seu querer, que seu corpo quase morto pareceu inflamar-se de desejo. Cada centímetro ardia como brasa, seus órgãos pareciam estar se afastando, e isso nada tinha a ver com o vampiro que ainda o segurava. Então, ele reabriu os olhos a tempo de ver a surpresa na face daquele monstro ao ver sua vítima desaparecer de suas garras deixando para trás apenas um rastro de fumaça.<span style="mso-spacerun:yes"> </span></p>André Fantinhttp://www.blogger.com/profile/07818980780167800572noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5429287600558187973.post-4854012558159389432008-08-22T15:56:00.000-07:002008-08-22T15:57:36.273-07:00Planos e avanços<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Já se passara três dias desde que trancara-se dentro daquela pequena sala repleta de objetos estranhos, pontiagudos e barulhentos. A falta de notícias do mundo externo o incomodava um pouco, embora fosse difícil aceitar esse pensamento; de que algo o podia incomodar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Seu servo saíra para uma caçada e não retornara, o que poderia ter acontecido? Descartou qualquer possibilidade de derrota. Seria vergonhoso demais. Improvável demais para se pensar naquilo. Ele era asqueroso o suficiente para afastar qualquer curioso, forte o suficiente para encarar qualquer inimigo e perigoso o suficiente para matar qualquer um que se metesse em seu caminho.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Os três dias que se passaram foram seguidos de planos e revisões de planos. Ele não era um homem que se deixava guiar pelo acaso. Ele planejara tudo. Planejara seu próximo passo como quem planeja uma vida inteira, mas não queria compartilhar tais informações com qualquer um que fosse. Ele precisava garantir-se de que daria certo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Largando um amontoado de pergaminhos em cima de uma mesa, ele levantou-se de sua cadeira de peroba polida e caminhou até uma estante de pedra desalinhada, onde se encontravam vários pequenos objetos, como um guarda-volumes. Dentre esses objetos, ele selecionou um pequeno relógio de bolso muito brilhante. Abriu-o e checou as horas, parecia não ter acreditado, pois retornou a checar e depois conferiu com um segundo relógio pendurado à parede.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><i style="">Está atrasado</i>. Pensou, mas não era ao relógio a quem ele se referia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Andou vagamente pelo quarto a espera de algum sinal estranho. Reviu seu plano infalível mentalmente e consentiu consigo mesmo. Não havia como falhar. Nada que fosse feito pelo outro poderia atrapalhar suas ambições. Já descartara qualquer intervenção do velho, que àquela altura já tivera sua influência oxidada no meio mágico. Após a terrível demonstração de fúria em Cidade dos Elfos, todos os que resistiam por acreditarem no ideal daquele velho bruxo já não estavam mais tão certos de sua sanidade.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Pelo que ele soubera, antes de se enclausurar, Merlin descera de seu imponente castelo bravejando impropérios, mais para si do que para outros, e mutilou um livro em praça pública, em seguida acolheu-se no pomar da cidade.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Retornando sua atenção para o cômodo em que estava, o homem voltou a andar em círculos, sua longa capa arrastando-se e o barulho de suas botas fazendo o chão de madeira ranger sinistramente, como se fantasmas assombrassem o ambiente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><i style="">Onde está? </i>Pensou, uma ânsia dominando-lhe os sentidos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Ele não queria explodir sua cólera naquele instante. Estava prestes a fazer isso, mas não seria a toa. Logo estaria de frente com seu inimigo e poderia fazer dele o que quisesse... aí sim, valeria a pena externar toda aquela ânsia, aquela frustração de ter que se confinar por três dias, quando, na realidade, precisava estar a céu aberto, matando, torturando e avançando com seus planos de dominação.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Ouviu-se um toc toc quando o homem já experimentava sentar-se novamente em sua cadeira de peroba polida. Sem demonstrar a ânsia que sentira a pouco, aproximou sua mão da maçaneta logo mais a frente e com um giro e um puxão, abriu a porta. Um corpanzil encapuzado apareceu ao batente, completamente molhado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E então? – perguntou ao servo – O que houve?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Quinze, meu senhor. Entre eles Aleixo e Mordento... infelizmente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">O homem de capa longa crispou os lábios ao saber da morte de seus aliados, mas pareceu não se importar e prosseguiu:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Foi a mulher, não foi?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim, meu senhor. Ela estava do lado deles o tempo inteiro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O que mais? – inquiriu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">O servo retirou seu capuz<span style=""> </span>empapado de água e jogou-o numa cadeira vazia, fechando a porta atrás de si em seguida.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Schimedel. Pegamos a Schimidel, mas não obtivemos muito mais do que já tínhamos com ela. Então a matamos. – informou o dedicado servo. A pele naturalmente enrugada estava ainda mais cavada, resultado das batalhas e dos dias sem descanso – Todos esperam pelo seu plano, meu senhor. Estão todos em posição neste exato momento.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Donnovan caminhou com sua capa longa pelo ambiente avaliando as notícias. Certamente perder quinze de seus seguidores não estava em seus planos, mas muitos outros iriam substituir esses mortos assim que seu plano fosse executado com perfeição.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Kricolas, e quanto a Foster? – perguntou Donnovan, como se esperasse por aquela resposta desde o momento em que fitara o servo a sua porta.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Foragido, agora. Após duelarmos na região sul do país, mas ele esfumaçou antes que algum feitiço potencialmente letal o atingisse. – fez uma pausa, pensativo – Seria algo maravilhoso se algo assim existisse de fato, não? Um feitiço letal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Tenho certeza que algo assim é possível. E após o plano tratarei de descobrir. – comentou Donnovan, pensativo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O Livro de Merlin? – arriscou Kricolas, intimidado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Donnovan assentiu que sim, mas não queria mais tocar no assunto, guardava suas certezas para si, e só para si. Se um poder tão grandioso assim realmente existisse, somente ele seria digno de possuí-lo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Meu senhor... – suplicou Kricolas por mais algumas palavras, mas este o ignorou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Andou novamente até a estante de pedra, alisou os cabelos negros com as mãos firmes, e retirou do móvel o pequeno relógio de bolso, checou as horas uma outra vez e o guardou em suas vestes.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Está na hora. – alertou – Hora de matar tudo aquilo em que as pessoas acreditam.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style=""> </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style=""> </span></p>André Fantinhttp://www.blogger.com/profile/07818980780167800572noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5429287600558187973.post-26566268596699377162008-08-14T20:55:00.000-07:002008-08-15T04:43:36.934-07:00O dia em que ele se foi<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Ela estava impaciente àquele dia. Já fizera seis semanas desde que se mudara para aquela terra distante. Distante das batalhas sangrentas que eram travadas na lendária ilha de Hi Brazil. Queria poder estar lá, como queria...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Sentia que a pequena cabana improvisada que construíra no dia de sua chegada era um cômodo cárcere, porém, a verdade que doía em seu peito é a de que seu coração, pulsante e raivoso, era a pior de todas as celas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Após os quatro primeiros dias, ela percebeu que seus prantos já não mais seriam atendidos, que não haveria quem enxugasse suas lágrimas e que a colocasse no colo para ampará-la. Decidiu estocar cada lágrima que ainda lhe restava para quando fosse feliz. Mesmo que isso lhe parecesse uma idéia muito vaga.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Na terceira semana, decidiu que seria seguro sair para olhar o sol e à noite, a lua. Sentir o vento tocar a cútis seca, sem brilho e envelhecida pela preocupação. Rugas se formavam naquele rosto jovem que não havia muito, irradiava extrema beleza. Os cabelos longos e enegrecidos caídos nas costas, agora pareciam chumaços de palha amontoados na cabeça. As roupas sempre tão limpas e cheirosas tinham um aspecto rústico após dias de solidão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Não parecia haver magia que consertasse todos aqueles problemas, aquelas deformações. Não enquanto estivesse enclausurada. Não enquanto fosse prisioneira do seus sentimentos. Da sua culpa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Quinze para meia-noite, avisava o pequeno relógio de madeira pendurado à parede. Ela começava a se misturar aos lençóis da própria cama, apalpando um travesseiro extra que substituía alguém ausente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">CLAC!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">O coração dela pulsou forte ao ouvir aquele som familiar. De um só salto pôs-se de pé, a varinha <st1:personname productid="em riste. Só" st="on">em riste. Só</st1:personname> uma pessoa sabia exatamente onde ela estava, e por mais que seu coração pedisse por esperanças, ela já as perdera ao longo das últimas seis semanas. Não teria motivos para ele ir até ela. Teria?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Está aí? – perguntou uma voz masculina, do lado de fora, que a fez tremer encima dos joelhos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- O q-q-que f-faz a-a-aqui? – perguntou ela, a voz falhando pela falta de uso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Aconteceu alguma? Parece assustada. Deixe-me entrar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Reagiu por impulso, como se aquele “Deixe-me entrar” fosse, de fato, uma ordem.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Vaidosa, ela ainda tentou ajeitar os cabelos ressecados com algum feitiço conhecido, mas a emoção a impedira de fazer um bom trabalho.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Não é porque está foragida que precisa se aparentar tão mal. – disse o homem sardonicamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Sem outra reação, ela jogou-se para cima do amado e tocou suas costas com um longo abraço, querendo dar mais valor aqueles segundos de amor do que as seis semanas de esquecimento.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Senti sua falta. – disse ela, finalmente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- É claro que eu senti também. – comentou ele, sua voz sincera, porém comedida – Como vocês passaram esses últimos dias?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Ela não queria falar dela mesma. Tivera tempo o suficiente para saber que a dor que sentira não era digna de lembrança ou comentários. Queria notícias.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Por onde vocês estiveram? Não recebi uma notícia se quer.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Estivemos lutando, claro. – respondeu ele, ainda curioso, analisando a mulher a sua frente – Desde a sua partida, as pessoas têm resistido mais.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- É verdade? – inquiriu, enquanto puxava cadeiras para os dois se sentarem próximos à mesa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Por certo. Eles entenderam de que lado você está e agora estão resistindo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Mas isso me custou a liberdade. – lamentou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Fiz bem em te mandar para cá. Não seria seguro você permanecer por lá. Não depois de ter abatido Aleixo e Mordento. Dizem que os dois eram os mais fiéis e antigos seguidores <i style="">dele.</i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Eu juro que não queria matá-los... juro. Mas não poderia permitir que <i style="">ele</i> se aproximasse de mim, não agora. – falou ela encarando, resignada, o pequeno quarto aonde dormia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Gostaria de poder estar presente. – lamentou o homem, encarando os próprios pés.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Você tem o seu outro, não tem? Faça dele alguém feliz.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Não diga essas coisas, por favor... – pediu o homem, levantando-se.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Ela sentiu que uma lágrima lhe escaparia, lembrou-se de sua promessa e a segurou com todas as forças.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Você acha que <i style="">ele</i> ainda virá atrás de mim? – desviou o assunto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Já o teria feito se realmente quisesse. – tranqüilizou-a – <i style="">Ele</i> anda muito ocupado chefiando seu exército de criaturas mágicas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Ainda usam aquelas criaturas?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Por algum motivo ele soube exatamente do que ela falava.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Sim. Pegaram Alicia Schimidel na semana passada. Todos lamentamos a morte dela.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Não gosto daqueles olhos azuis perfurando a minha alma... eles realmente paralisam.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Ele deu mais algumas voltas pela pequena sala improvisada analisando o ambiente. Sacou a varinha e saiu realizando feitiços para consertar objetos quebrados e conjurar novos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Sua proteção tem servido bem. Ninguém pareceu tentar perfurá-la.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Ele sorriu vaidosamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Enquanto eu viver, você estará segura aqui. E quando eu morrer... – fez uma pequena pausa – não haverá motivos para se esconder.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Quer fosse por gratidão, pena ou desespero comedido, ela sorriu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Posso dar uma olhada <i style="">nela </i>antes de ir?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Claro... – respondeu a mulher, guiando-o para o pequeno quarto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Logo ao lado da cama onde a pouco a mulher estivera deitada, estava um pequeno berço torto de madeira, coberto por um véu negro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Não tem me dado o menor trabalho. – disse ela erguendo o véu e revelando uma pequena criança com pouco mais de um ano de idade, dormindo em sono profundo, distante dos acontecimentos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Sinto tanto por não estar presente... – lamentou ele, com uma sinceridade marcante.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Cuide do seu outro filho. Garner. Não foi esse o nome que o deram?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Sim. – respondeu – Garner Foster, é o nome dele.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Antes de ir... – disse ela se aproximando de uma cômoda e retirando de lá um objeto – Quero que leve isso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- O que é?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Ela se aproximou do amado e colou nele um pequeno colar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Para lhe trazer sorte nas batalhas. – após isso deu-lhe um curto beijo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Eu te amo, Morgana.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">- Também te amo, Foster. </p>André Fantinhttp://www.blogger.com/profile/07818980780167800572noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5429287600558187973.post-13807443249173595992008-08-04T11:26:00.000-07:002008-08-04T11:39:51.647-07:00Desenho do Castelo de Avalon<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYS-8PZUyWD7Z4nMvtrgH5par36wRyX7EN1HGAzWD7Y5E5RgaU5n4yUjM0AwknKCMvMfSIk-EnplLuJeOX03G2TBiTb1bP5dOa9ZjSVeWowGdGfLNLF4x5ZNo3EPEwIJmnnL8Krqvrhkxk/s1600-h/Castelo+de+Avalon.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYS-8PZUyWD7Z4nMvtrgH5par36wRyX7EN1HGAzWD7Y5E5RgaU5n4yUjM0AwknKCMvMfSIk-EnplLuJeOX03G2TBiTb1bP5dOa9ZjSVeWowGdGfLNLF4x5ZNo3EPEwIJmnnL8Krqvrhkxk/s400/Castelo+de+Avalon.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5230732954600498722" border="0" /></a><br />Não sei quanto a curiosidade de vocês, mas resolvi postar um desenho muuuiiittooo antigo do castelo de Avalon que eu fiz. Dei uma pintada básica no photoshop só para ilustrar, mas é mais ou menos essa a idéia da escola de Kal Foster.<br /><br /><br />AbraçosAndré Fantinhttp://www.blogger.com/profile/07818980780167800572noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5429287600558187973.post-24014140343718788572008-06-21T07:31:00.000-07:002008-06-21T07:35:10.337-07:00Lista de Feitiços do primeiro livro<span style="font-weight: bold;">Edjipto</span> – feitiço de limpeza.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Sendart</span> – dobra um pedaço de papel em formato de avião e o envia para alguém.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Pedrusco</span> – conjura uma pedra.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Scringer Secret Schoupan</span> – versão poderosa do Opandor.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Bolhasradiant</span> – cria bolhas de luz.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Guives</span> – interrompe o Bolhasradiant e espoca as bolhas que já saíram.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Levitoriano</span> – faz objetos flutuarem.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Concertûnia</span> – repara objetos.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Lonvy</span> <span style="font-style: italic;">(maldição das fadas)</span> – deixa a pessoa sem senso de direção.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Fículous</span> <span style="font-style: italic;">(maldição das fadas)</span> – impede que a fada minta quando está sozinha.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Planta Exander</span> – faz a planta adormecer.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Lumier</span> – ilumina a planta.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Farfalha</span> – atira estilhaços no inimigo.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Escaparta</span> – dispara um filete azul.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Amstãnder</span> – um raio elétrico.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Mórfinus</span> – faz a pessoa dormir.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Opandor</span> – abre trancas.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Eixo</span> – fecha trancas.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Efesto</span> – fogo<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Inflamiun</span> – fogo 2<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Sedructos</span> – maldição da morte<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Morgora Nãltis</span> – feitiço da morte<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Dracóvia</span> – oposto ao Lumier.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Horbário Obedientis </span>– invoca a Herviana.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Obéverno</span> – feitiço de transformação.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Griamen</span> – revitalizar.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Cefalotúrgia</span> – transforma cabeças em balões.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Corparo</span> – revitalizar.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Réplica</span> – repele ataque.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Dunkel</span> – maldição da transfiguração.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Linglesingle</span> – maldição da voz cantarolante.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Fétida</span> – fumaça marrom fedorenta.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Revelarbus</span> – invoca o Enid.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Lócus Amenus</span> – cancela qualquer feitiço.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Pelínculo</span> – feitiço sinalizador.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Morgáide </span>– feitiço do clima.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Ediagrom</span> – contra-feitiço do clima.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Aprumus</span> – feitiço usado por Kal e CIA durante “O desafio do Amaldiçoado”.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Perpétuo</span> – Feitiço que gera uma grande força com a destruição do EnidAndré Fantinhttp://www.blogger.com/profile/07818980780167800572noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5429287600558187973.post-66541809222664950982008-05-04T15:32:00.000-07:002008-05-04T15:34:09.495-07:00Capítulo 2 - A casa Foster<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Araçá era um pequeno bairro residencial de Anomatí, uma cidade no interior do sul do Brasil. No interior do bairro, a Rua Guaçuí se estendia de uma pequena praça com brinquedos até um sobrado que tinha em seu quintal uma lagoa de águas esverdeadas. As casas tinham formas e tamanhos variados, algumas com apenas o andar térreo e outras que chegavam até o terceiro andar. Todos os dias de manhã, os moradores da levantavam-se bem cedo, abriam suas portas e janelas, colocavam seus carros modernos para fora, levantando uma massa cinzenta de fumaça que empestava toda a rua. Depois de feito este ritual diário, eles enfurnavam-se em ternos ou vestidos longos, enfiavam-se nos carros e saiam para o trabalho no centro da cidade.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Em quase todas as casas esta era a rotina. Mas não na casa número vinte e dois.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Os moradores da Rua Guaçuí ainda tentavam se acostumar com o estilo de vida dos novos vizinhos. As três crianças raramente saiam do quintal da casa que era cercado com um muro alto e bem gradeado. A mãe delas não trocava palavras com os vizinhos, eles nem ao menos sabiam exatamente o seu nome e porque haviam se mudado para aquele bairro tão isolado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">No dia da mudança, alguns deles se ofereceram para ajudar a carregar umas caixas pesadas, já que seria impossível três crianças e uma mulher levantá-las sozinhas, mesmo assim, relutante, a mulher agradeceu e dispensou toda a ajuda.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Mal educada. – disseram eles.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Após um dia inteiro de entra e sai de caixas, a nova família trancou a porta da frente e fechou as cortinas dos dois andares da casa, que não era tão grande, mas suficiente para abrigar as quatro pessoas. O jardim havia sido decorado com pequenos anões, que segundo souberam os vizinhos, haviam sido um presente de uma amiga da região do Amazonas, e algumas margaridas e tulipas que estranhamente os moradores da casa queixavam-se porque elas não estavam se movendo. Sem dúvida alguma era a família mais esquisita que já residira em Araçá.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Talvez, a única casa que pudesse se igualar aos vizinhos do número vinte e dois fosse a da velha senhora que residia no número dezessete. Enquanto todos os moradores de Rua Guaçuí expunham-se em público para conversar, a senhora de cabelos brancos e de pele flácida, fazia de sua casa sua grande fortaleza anti-social.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">No segundo dia da mudança, os Almeida, moradores do número vinte e um, levaram um bolo de boas vindas aos novos vizinhos, um menino de cabelos e olhos castanhos colocou o rosto para fora do portão, estendeu um dos braços para receber o presente, agradeceu rapidamente e em seguida trancou o portão sem nem mais uma palavra.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Que gente esquisita. – disseram.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">No terceiro fim de semana desde a chegada da família ao bairro, eles receberam sua primeira visita. Um velho senhor de olhos bem azuis, com a cabeça quase careca, porém com algumas tranças desalinhadas que lhe batiam abaixo dos ombros e uma barba quase tão longa que seria possível amarra-la ao cinto que segurava sua calça marrom lama.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bom dia. – cumprimentava ele aos moradores que lhe encaravam curiosos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Certamente se poderia haver tipo mais esquisito de pessoa que os moradores do número vinte e dois, com toda certeza seria este estranho senhor.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bom... bom dia... – responderam alguns somente por educação.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">O velhote seguiu rua acima até chegar ao portão, então chamou pela dona da casa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sra. Foster!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Como se estivesse esperando pela visita, a mulher, imediatamente, colocou o rosto na janela e disse:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Oh, bom dia Prof. Cacius. Queira entrar, por favor.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">A trava elétrica do portão estalou e este imediatamente se abriu para receber o visitante. O homem sorriu e deu bom dia para os anões de jardins enquanto caminhava em direção à pequena varanda de entrada. No meio do caminho, Cacius foi surpreendido por um gato de pelo laranja e estranhamente o homem respondeu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bom dia, Fred.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Os moradores olharam-se curiosos e então sacudiram a cabeça e foram para seus lares certos de que já haviam visto de tudo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Alexia Almeida pegou sua vassoura de piaçava e saiu sacudindo até a porta de entrada de sua casa para espantar os pombos que se alimentavam de migalhas de pão caídas pela calçada.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Malditas aves! Malditas aves! – resmungou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Esta rua está parecendo um zoológico! – resmungou junto seu marido.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Era verdade. Após a mudança da família Foster, a Rua Guaçuí recebeu um considerável contingente de animais que passaram a perturbar toda a vizinhança. Eram pombos em todas as calçadas, cachorros latindo e uivando, gatos que andavam pelos telhados à noite e ratos que percorriam todas as casas, atravessando cozinhas e salas a qualquer hora do dia como se nada os incomodasse.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Os únicos simpatizantes da família Foster eram, ironicamente, seus vizinhos mais distantes, os Chiabai. O casal Mara e Alexandre e sua filha de treze anos, Sara, haviam indicado aos Foster onde era a sua nova casa assim que chegaram ao bairro. Naquele mesmo dia, Amanda havia feito um convite para que, num sábado, eles fossem almoçar em sua recém inaugurada casa. Passaram-se dois finais de semana e os Chiabai ainda não tinham se apresentado para o tal almoço, mas, ao que parecia, os próprios Foster também haviam esquecido, ou não se importado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Ao término do primeiro mês, os vizinhos começaram a reclamar que as lâmpadas dos postes não duravam mais do que uma noite sem queimarem. E a companhia de luz passou a ter que trocá-las quase que diariamente. Certa vez, um vigia foi contratado para descobrir quem estava queimando as lâmpadas, ele passou a noite inteira perambulando pela rua para apanhar o vândalo, mas ao invés disto, surpreendeu-se ao ver que a casa dos Foster parecia abrigar uma boate. Luzes coloridas piscavam por todos os cômodos da casa e barulhos estranhos como chicotadas e tambores ruíam pelo jardim. O vigia estava estático olhando aquela cena, pensou em tocar a campainha e perguntar se estava tudo bem por lá.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">No momento em que se decidiu por fazer isso, as luzes da rua começaram a piscar freneticamente atraindo a atenção do homem que deixou os braços caírem sobre as pernas e a boca abriu-se quase que automaticamente. Foi um piscar incessante até que finalmente todas as luzes se apagaram de uma só vez, deixando a Rua Guaçuí completamente mergulhada em sombras.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Na manhã seguinte, mais uma vez, a companhia de luz e energia veio fazer a troca das lâmpadas, no momento em que o velho homem de tranças atravessava a rua, a pé, para visitar mais uma vez a família Foster.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bom dia, senhor. – cumprimentou Alexia Almeida que já se acostumara com a figura do visitante.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bom dia, senhora. – disse gentilmente – Sabe me dizer se a sra. Foster está em casa hoje?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Com certeza sim. – respondeu a mulher – Ninguém sai daquela casa, senhor.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eles sofreram muito nestes últimos meses...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Como assim? – perguntou a mulher debruçando-se sobre o seu muro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Outra hora, talvez. – falou ele sorrindo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Tenha um bom dia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Igualmente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Cacius atravessou a rua em direção ao número vinte dois que, para sua surpresa, encontrou o portão destrancado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Estou entrando. – anunciou – Bom dia! – disse para os anões, como era de costume fazer.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Oh, estávamos esperando pelo senhor, Prof. Cacius. – disse Amanda, que surgira em uma das janelas da frente – Fiz uns bolinhos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Fico grato. E os meninos? Como estão?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Superando, eu diria. Kalevi sentiu mais com a perda, mas acho que ele consegue.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Tenho certeza. Tenho certeza. Você tem filhos muito corajosos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Amanda permitiu-se um pequeno sorriso de orgulho, mas ainda assim não parecia muito contente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Professor, o que está acontecendo no mundo... no mundo...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- No mundo mágico? – completou Cacius olhando em volta – Acho que ninguém pode nos ouvir aí dentro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Certo. – concordou ela acompanhando o professor até a entrada da casa através da pequena varanda – Mas o que está havendo lá? Os guardas sumiram. Não há mais pombos, gatos, cachorros ou ratos. Ninguém está vigiando a rua. Estou com medo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não há com o que se preocupar. – falou Cacius já fora do alcance de ouvidos curiosos – Bem, eu posso oferecer proteção em quanto eles não voltam.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Mas por que eles foram embora então? O Governo desistiu de nos proteger?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não exatamente sra. Foster...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Mamãe quem est...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Olá, Kal. Há quanto tempo. – saudou Cacius.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Olá, professor. – cumprimentou secamente – Desculpe, agora tenho que ir.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">O garoto saiu pela porta da frente correndo em direção à rua, sua mãe em seus calcanhares.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não vá longe, Kalevi Foster!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Deixe-o. Tenho certeza de que estará seguro...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Esta foi a última frase de Cacius que Kal pôde ouvir. O garoto vazou pelo portão de entrada e desceu a rua em direção à praça, sem destino exato. A companhia de luz ainda estava fazendo o serviço de troca das lâmpadas e alguns moradores estavam acompanhando o trabalho dos operários e conversando.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal passou por eles sem ao menos notá-los, mas eles repararam bem o menino. Era a primeira vez que um dos Foster colocava os pés fora de casa, e este parecia estar afoito para fazer isto, porque correu loucamente como se tivesse ganhado a liberdade de uma prisão. Kal Foster estava com um jeans desbotado e uma camisa de manga cumprida um pouco mais larga do que deveria ser. Aparentemente sua mãe havia se distraído na compra e escolhera uma um número maior.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Você ouviu a sua mãe! Não vá muito longe! – disse Alexia quase que correndo atrás dele como uma dama de companhia que fora largada para trás.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não use a varinha, não use a varinha... – falou entre os dentes de modo que ninguém pudesse ouvi-lo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal não estava se acostumando muito bem ao novo estilo de vida que lhe fora imposto. Não usar a varinha durante o dia, não poder brincar de duelo com Daimon e Guinevere, enfim, não fazer nada para chamar a atenção dos outros moradores. Nestas horas, Kal sentia saudades dos resmungos e implicâncias dos moradores de Vila da Cachoeira, pelo menos, lá, ele poderia agir de maneira natural.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Em Avalon, a escola de magia que Kal estudara no ano anterior, ele havia aprendido diversos feitiços, os quais planejava colocar em prática assim que retornasse para casa. Mas isto agora parecia impraticável. Sua nova casa estava cercada de guardas de Warren muito bem disfarçados de animais e sua mãe não abria uma brecha para diversão. Mas naquela manhã, Kal Foster havia planejado tudo muito bem. Assim que ouvisse Cacius chegar em sua casa para conversar com Amanda, ele passaria pelos dois em disparada e sairia, finalmente, do número vinte e dois.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">A praça no final da rua não tinha muito mais que alguns canteiros de flores, algumas gramíneas e um pequeno playground com escorregador e balanço. O lugar estava deserto àquela hora do dia, ao que parecia, não havia muitas crianças na Rua Guaçuí e os adultos que não estavam trabalhando estavam observando o <i style="">interessante</i> trocar de lâmpadas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal aproximou-se de um dos balanços e sentou-se. Ficou a olhar para a praça à procura de algo móvel com que pudesse se distrair, mas não encontrou nem mesmo uma formiga. Mas para sua surpresa ele ouviu atrás de si uma voz feminina e aveludada que desconcertou seus pensamentos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Olá.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal virou-se para examinar quem seria e contemplou aquele rosto de pele clara e cabelos bem enegrecidos e alisados, lábios rosados, nariz fino e olhos verde vivo. Ele sentiu que conhecia a garota, mas em sua mente ela o lembrava uma garota por quem se apaixonara em Avalon, Emanuela Goldemberg, no entanto Emanuela era loira e tinha os olhos bem azuis.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Olá... – respondeu ele timidamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Posso me sentar? – perguntou ela segurando um balanço ao lado de Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Claro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O que está fazendo aqui?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Ele olhou para as pessoas da companhia de luz, deu uma pequena risada e voltou à garota.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não acho um passatempo divertido assistir a troca de lâmpadas. – comentou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><span style=""> </span>A garota deu sorrisinho e então disse.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Qual o seu nome?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Kalevi Foster. – a garota eriçou as sobrancelhas, talvez assustada com a espontaneidade que ele demonstrara ao dizer o nome por completo – E o seu? – perguntou tentando se redimir.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sara. Sara Chiabai, já que você gosta assim. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Agora era a vez de Kal levantar às sobrancelhas incomodado com alguma coisa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Vocês nos mostraram nossa casa assim que chegamos na rua, não foi?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Exatamente. Mas só não entendemos como não sabiam onde era a própria casa. Quero dizer... as pessoas olham as casas antes de comprá-las, não é?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- É que... é que... foi uma herança.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ah... e vocês moravam onde?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Morávamos no Centro-Oeste do país.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Goiás, Mato Grosso...?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Pode ser... – disse Kal sem saber na verdade qual era o estado em que morava. Os bruxos não ligavam muito para a geografia dos humanos não mágicos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Sara permaneceu curiosa, mas decidiu não perguntar mais nada sobre a antiga casa de Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Você mora aqui há muito tempo? – perguntou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim. Meus pais trabalham no centro da cidade e eu estudo no colégio do bairro. A propósito, você vai se matricular aonde?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Hã... é...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ainda não decidiram?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Acho que vou permanecer na minha antiga escola.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Na Região Centro-Oeste?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não. Ela fica no Amazonas. No meio da... – Kal ponderou sobre o que ia dizer, estava se expondo demais, por um triz ele não dissera que sua escola ficava no meio da Floresta Amazônica, sobre uma nuvem, acima de uma cidade cheia de elfos, fadas e outras criaturas mágicas – No meio da capital.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Oh sim... – disse ela achando que Kal tinha algum tipo de problema – Você tem irmãos não tem?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim. Na verdade apenas o Daimon é meu irmão. Guinevere mora com a gente desde que os pais dela morreram, já faz um bom tempo isto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Vocês não gostam muito de se expor, não é?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Aconteceram muitas coisas...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Que coisas?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Coisas difíceis de explicar... perdas, na verdade.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Desculpe. – falou ela percebendo que estava entrando em um assunto delicado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ainda estamos superando...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Sara permaneceu em silêncio, seu estoque de perguntas pareceu ter acabado após descobrir que os Foster estavam passando por um problema familiar um pouco mais grave do que as pessoas da rua comentavam.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Coisas estranhas têm acontecido, não é? – disse ele.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Defina estranho.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Lâmpadas queimando, animais por toda à parte... a rua é sempre tão animada? – fingiu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Na verdade. – falou ela, pausadamente – Essas coisas começaram a acontecer depois que vocês se mudaram.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sério? – perguntou ele quase que convencido de que não sabia de nada a respeito.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- É o que as pessoas comentam.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Incluindo você e seus pais?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não. Não nos intrometemos na vida das pessoas. Mas existem algumas pessoas por aqui que gostam de se preocupar com os outros. Bom dia, dona Alexia! – cumprimentou à mulher que disfarçadamente varria a calçada da esquina da rua – A frente já foi varrida hoje senhora!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O que ela está fazendo ali? Aquela não é a sua casa? – perguntou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Exatamente. Dona Alexia tem o péssimo hábito de ouvir a conversa alheia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Acho que entendo. – falou ele.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Neste momento Kal observou que Cacius saia de sua casa e começava a caminhar pela rua. Ele não sabia ao certo como o diretor chegava à Anomatí. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><i style="">Talvez ele esfumace em um beco ou banheiro público</i>. Pensou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal observou Cacius descer a rua, pensou que talvez o professor iria até ele assim que passasse pela praça e imediatamente Kal planejou continuar a conversa com Sara para que pudesse disfarçar e fingir que não o notara. Kal Foster não estava com raiva ou rancor de Cacius. Os dois deram-se muito bem no ano anterior, na verdade. Cacius agira mais como um bom amigo do que como um professor, em Avalon, ele aconselhou e apoiou o garoto em situações difíceis e após a morte de seu pai, Adonis Foster, Cacius contara a Kal alguns segredos sobre Kricolas e o Livro de Merlin. Tornara-o seu confidente. Mesmo assim ele ainda sentia-se magoado porque Cacius aparecera minutos depois de Kricolas ter matado Adonis. Ele imaginava que se o professor tivesse aparecido mais cedo, talvez, os Foster ainda estivessem juntos em Vila da Cachoeira e não tivessem que se esconder tanto das forças malignas do meio-vampiro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Desculpe-me por eu estar fazendo outra pergunta, não quero que pense que sou como a Alexia. Mas quem é aquele senhor que vai até a sua casa todos os fins de semana?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Um amigo da família. – respondeu Kal sorrindo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ele parece ser uma boa pessoa. Parece ser um senhor calmo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Às vezes até demais. – falou Kal lembrando-se do ar sereno que Cacius mantinha em todas as ocasiões, por mais sérias e desesperadoras que sejam.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Olhe, ele está conversando com os moradores.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal olhou para Cacius de imediato. Sara estava correta. O bruxo mais respeitado do Brasil, e provavelmente o melhor, estava parado diante um poste de luz a observar o serviço dos operários, como faziam os demais ao redor. Kal percebeu que se quisesse evitar Cacius aquela era a melhor hora de voltar para casa. Passaria despercebido pelo professor, que aparentava estar muito distraído e interessado pela curiosa técnica de se trocar lâmpadas de poste.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Desculpe, Sara. – falou Kal olhando fixamente para a garota – Tenho que ir para casa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Tudo bem. – respondeu satisfeita – Vejo você depois?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ah... ah claro. – falou ele embaralhado – Você e seus pais ainda nos devem uma visita.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Apareceremos em breve. – falou ela sem muita confiança no que dizia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Por que não vão jantar lá hoje? – sugeriu Kal sem nem ao menos pensar. Ele só percebera o que disse depois de as palavras já terem escapulido de sua língua. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sua mãe sabe deste convite? – perguntou ela.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Oh, claro. Claro que sim. Na verdade eu vim justamente fazer o convite a vocês, mas vi que não tinha ninguém em casa e resolvi esperar aqui. – mentiu. Percebendo estar ficando bom em fazer isto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Tudo bem então. Vou dizer aos meus pais assim que eles chegarem do almoço.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Se quiser... Pode levar alguém que seja especial para você também... – falou ele investigando.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Oh, acho que... acho que não tenho ninguém em especial...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ok.<span style=""> </span>Vejo você mais tarde então. É... então é isso. Até mais.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal virou o rosto antes mesmo que começasse a ficar vermelho, tinha certeza de que ela o acharia um idiota se isto acontecesse. Ele quis correr, mas também achou que os garotos não correm quando se despedem de uma garota. Ainda mais uma garota por quem se está desenvolvendo uma amizade. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><i style="">Amizade, decididamente é isto. </i>Disse Kal mentalmente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Ele seguiu caminho com passos apertados, em certos momentos achou que iria tropeçar, mas, finalmente, conseguiu sair da praça e passar por Cacius, que estava tão entretido com o processo de troca das lâmpadas que nem ao menos o notou, ou pelo menos fingiu não ter notado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Em casa, Amanda estava na cozinha sendo ajudada por Guinevere a fazer o almoço, uma das duas, Kal não distinguiu qual – a voz delas eram muito parecidas –, queixou-se de que não usar magia atrasava muito o serviço. Daimon estava na sala tentando ligar a televisão, que por vezes dera problema, assim como todos os eletrodomésticos da casa. Em sua primeira visita aos Foster, Cacius dissera que eles sofreriam com um problema chamado de radioestesia, que era causado quando há muita magia em determinado ambiente, tudo que utiliza energia elétrica sofre forte interferência mágica e entra em curto circuito. Este era o motivo real para as lâmpadas dos postes estarem queimando todas as noites. A magia irradiada pela casa deles gerava uma forte interferência nos postes que piscavam até que finalmente queimassem. Cacius explicou os eletrodomésticos funcionavam como copos de água cheios até a borda. E que utilizar magia perto destes objetos seria o equivalente a colocar mais água no copo. Quando ele transborda significa que o aparelho entrou em curto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">A nova casa dos Foster não era nem um pouco parecida com a mansão em que estavam acostumados a morar, onde Kal nasceu, literalmente dizendo, e onde passou sua turbulenta infância. Ao entrar na sala pela varanda da frente, chegava-se à sala, virando para a esquerda estavam a cozinha e copa, de onde Amanda e Guinevere estavam, e atravessando a sala passando ao lado da escada para o segundo andar estava um confortável banheiro. No segundo andar havia três quartos e um corredor. A casa era pintada de branca e o piso de alvenaria da mesma cor, que Amanda fazia questão de manter sempre limpo, mesmo que nunca ninguém o sujasse, ela insistia em limpá-lo, talvez para passar o tempo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Mamãe, temos visita para o jantar. – disse Kal enquanto subia as escadas para o segundo andar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Como assim? – perguntou ela vindo com um pano de prato enxugando as mãos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal olhou para os lados, Daimon levantara-se do sofá e parou para fixar o olhar em Kal, assim como Guinevere fez em seguida.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Os Chiabai, lembra?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Kalevi, você deveria ter me consultado primeiro. Não sei se podemos recebê-los agora...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eu acho uma ótima idéia. – disse Cacius que acabara de abrir a porta.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Professor... o senhor tem... certeza?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim, por que não sra. Foster?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não sei, talvez não seja prudente... acho que não nos acostumamos muito bem com a situação...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Pois eu acho que vocês já estão bem acostumados. – opinou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- As lâmpadas da casa vivem piscando por causa da radioestesia, se ainda fosse de dia... não sei se vai ser uma boa idéia...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não se preocupe. Vamos dar um ótimo jantar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Obrigada, professor.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O senhor está se convidando? – perguntou Kal indiscretamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Kalevi Foster, não seja indelicado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não faz mal Amanda. Não faz mal. Nós realmente não explicamos aos garotos a situação.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Certo, professor. Meninos, venham até a cozinha aqui comigo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Amanda, se me permite, poderia eu mesmo dizer isto ao Kal?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Ela deu de ombros e então seguiu para a cozinha com Daimon e Guinevere. Cacius acompanhou com o olhar os três até que finalmente haviam desaparecido de sua vista, então se voltou a Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- É algo difícil de se resumir. É muito mais significante do que podemos imaginar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Desculpe, mas eu vou subir.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eu lhe acompanho. – insistiu o professor.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal terminou de subir os degraus até o segundo andar e seguiu caminho pelo pequeno corredor até o seu quarto, no fundo estava curioso para saber o que Cacius queria dizer-lhe. Sentia vontade de abraçá-lo e chorar a morte de seu pai, contudo ainda assim queria culpá-lo por tudo aquilo estar acontecendo. Queria dizer que ele deveria ter detido Kricolas assim que chegou na Cidade dos Elfos disfarçado de Nicolas Weny, que deveria ter protegido melhor o Livro de Merlin, que deveria ter encontrado a Página Perdia antes de Kricolas e que deveria ter feito tantas outras coisas para impedir que Adonis morresse.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não adianta me culpar, Kal. – falou Cacius e Kal percebeu que o professor estava lendo seus pensamentos, porque os grandes bruxos têm habilidades para fazer isto. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- É costume seu espiar o que as pessoas estão pensando? – perguntou ele deitando em sua cama e passou a jogar uma bolinha de tênis para cima.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não preciso ler seus pensamentos para saber que você está me condenando aí dentro. – retrucou o professor com sutileza – Eu gostava tanto de Adonis quanto você, Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Mas não sente tanto a falta dele como eu. – disse, parando de brincar com a bola e olhando para o professor com um olhar cortante e gélido, cheio de rancor.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Você ainda tem sua mãe, seu irmão, seus amigos. Várias pessoas já passaram pelo que você está passando agora. E todas elas cometeram o mesmo erro que você está cometendo. Culpar alguém inocente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal sentou-se em sua cama e ele olhou para fora, viu o reflexo do lago em toda a sua serenidade. Se existisse algo mais calmo, com certeza este era Cacius.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- As pessoas que sofrem perdas graves procuram uma válvula de escape para que possam drenar todo o seu rancor. E acho que infelizmente eu sou a sua válvula.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal desviava do olhar do professor fingindo estar intrigado com algo em cima do guarda roupas de quatro portas a sua frente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Isto não vai adiantar. – insistiu o professor.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">O garoto mantinha-se concentrado na difícil tarefa de ignorá-lo. Cacius não era o tipo de pessoa que abria a boca a todo instante e quando fazia isto, merecia toda a atenção possível.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Me culpar não trará seu pai de volta, Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E o que trará? – perguntou ele virando-se para frente da cama de Daimon onde o professor estava parado, de pé.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não há como... sinto muito...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sempre há uma maneira.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bem que eu queria, Kal. Não só por Adonis. Esta semana Kricolas matou outro amigo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal olhou curioso para o professor, não ouvira nada sobre o assunto. Geralmente os guardas de Warren que os protegiam informavam-lhes o que estava acontecendo pelo país, alguns deles conseguiam edições do Folha Mágica, o jornal mais popular entre os bruxos, mas talvez esta nova morte estivesse relacionada com o fato dos guardas terem subitamente desaparecido da Rua Guaçuí.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O que houve, afinal? – perguntou Kal olhando fixamente para Cacius.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Algo trágico aconteceu com Mardo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- <i style="">Kricolas matou o Ministro da Defesa e Segurança Mágica?</i> – espantou-se o garoto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não sei se matar é exatamente a palavra, talvez com mais calma eu pudesse lhe usar outro verbo, – Cacius tinha uma voz pesada quase como se ela estivesse sendo empurrada garganta acima – mas sim, Mardo está morto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Por que ele fez isto?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não saberia responder a esta pergunta. Há mais coisas na mente de Kricolas do que poderíamos entender.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Professor. – chamou Kal e Cacius sentiu-se aliviado ao perceber que a raiva do garoto estava se esvaindo – No ano passado eu perguntei ao senhor quanto tempo Kricolas demoraria em traduzir todo o Livro de Merlin.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E eu lhe disse que era impossível fazer esta previsão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal assentiu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Continuo tendo a mesma opinião, se quer saber.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O senhor já leu o livro? – perguntou Kal, com interesse.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Algumas partes. A complexidade do livro não é verdadeira.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Como assim?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Isto depende de quem o lê.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Quer dizer que...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Quero dizer que o Livro de Merlin arma um labirinto para aquele que não têm boas intenções. Isto acontece com a maioria dos objetos criados por magia do bem.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kal achou este detalhe de magia do bem algo bobo, mas no fundo agradecia por ela existir e ser precavida o suficiente para que os segredos mágicos mais poderosos do mundo não caiam em mãos erradas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Isto impedirá Kricolas?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Esta é outra previsão impossível. Para um bruxo comum, o fato de a magia do bem estar contida no livro é o suficiente para que ele não entenda nem mesmo o significado da existência do referido objeto. Contudo, tratando-se de Kricolas, bem, ele é o bruxo mais velho do mundo, certamente, e tem muita experiência. É como eu já havia lhe dito, nós não sabemos quais os limites de seu conhecimento. Encontrar o Livro de Merlin sozinho foi uma verdadeira prova de sabedoria. A magia que protegia o livro também era magia do bem, e ele conseguiu burlá-la.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Entendo... então os guardas de Warren foram prestar uma última homenagem ao seu ministro? É isso?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não teria explicado melhor. – falou Cacius simploriamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Professor Cacius, tia Amanda pediu para chamá-lo para almoçar. – disse Guinevere ao colocar a cabeça para dentro do quarto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Oh, sim, minha querida. Creio que eu e Kal já tenhamos conversado bastante.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Quando Cacius preparava-se para sumir no corredor ele foi interrompido pelo som da voz de Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Professor, desculpe-me e... obrigado também.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Cacius sorriu para o garoto e deu uma piscadela com um de seus brilhantes olhos azuis, como se dissesse “sem ressentimentos”.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Senti pena do ministro... – comentou Guinevere sentando-se na cama de Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eu também. É sempre uma pena. – falou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Guinevere era uma garota muito bonita e que se assemelhava muito à Amanda em alguns aspectos, mas a mãe de Kal tinha os cabelos negros e olhos azuis, enquanto Guinevere tinha os cabelos castanhos e olhos esverdeados, porém o jeito, a maneira de falar e a meiguice eram idênticas. Ela fora morar com os Foster quando ainda tinha seis anos, logo após a perda dos pais, que também haviam sido mortos por Kricolas em sua fuga de Warren. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- É doloroso, não é? – indagou a garota – Perder uma pessoa tão importante.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim... – disse ele sabendo que Guinevere referia-se a Adonis agora.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eu perdi meus pais, e agora o tio Adonis...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Pelo mesmo assassino.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ele vai pagar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Isso eu te garanto. Ele vai pagar sim.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Durante o almoço eles retornaram o assunto sobre o jantar com os Chiabai. Cacius convencera Amanda de que aquela era uma boa oportunidade para eles se entrosarem com a nova vizinhança, e que seria importante para ela fazer algumas amizades, de forma que tivesse com quem conversar quando Kal, Daimon e Guinevere retornassem à Avalon. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Já convencida, Amanda pediu algumas sugestões de pratos para impressionar os Chiabai com uma boa comida, Kal, Daimon e Guinevere sugeriram pizza, haviam viciado desde que comeram uma de presunto no dia da mudança, mas Amanda não achou que seria muito prudente. No final do almoço ela já estava muito empolgada com os visitantes, e ordenou que os meninos arrumassem a casa enquanto ela e Guinevere se viravam na cozinha para preparar o jantar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Cacius despediu-se de Amanda, Kal, Daimon e Guinevere logo após o almoço dizendo que deveria se encontrar com alguns outros bruxos do governo, porém antes disso providenciaria um outro grupo de guardas para protegê-los, já que não poderia fazer este serviço por muito tempo. Amanda perguntou se ele estaria para o jantar, mas ele não foi muito preciso em sua resposta, ainda assim os quatro ficaram esperançosos de que o professor pudesse voltar a tempo para ajudá-los com a recepção.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Aquela seria a primeira visita não mágica que a família Foster receberia e eles não estavam muito certos de como agir, do que preparar ou dos assuntos que deveriam ser desenvolvidos durante a noite. Cacius sugeriu então que um deles fosse a uma banca de revistas próxima e comprasse alguns exemplares para que eles pudessem conhecer melhor o universo não mágico. Amanda apenas levantou o dedo num estalo e apenas disse:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ótima idéia.</p>André Fantinhttp://www.blogger.com/profile/07818980780167800572noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5429287600558187973.post-78503504555135935732008-04-29T03:32:00.000-07:002008-04-29T03:36:13.741-07:00Imagem de divulgação<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgh0Usdt9nZnYKb6AXr1HKHbj2CbPAiQnK6jQJA2ey-wJPvaImtwBfJ_xDll-XDgpwhzeJO7YOCqIHUoQDVPD3x2YVEGo9t9zVrX0lUt390HKlAqcUUm_3zYBzJyXOPKL6gg-im2Fs0NYKy/s1600-h/Imagem+para+Blog+e+Orkut.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgh0Usdt9nZnYKb6AXr1HKHbj2CbPAiQnK6jQJA2ey-wJPvaImtwBfJ_xDll-XDgpwhzeJO7YOCqIHUoQDVPD3x2YVEGo9t9zVrX0lUt390HKlAqcUUm_3zYBzJyXOPKL6gg-im2Fs0NYKy/s400/Imagem+para+Blog+e+Orkut.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5194613858021185474" border="0" /></a>André Fantinhttp://www.blogger.com/profile/07818980780167800572noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5429287600558187973.post-80055445693252643432008-03-22T12:22:00.000-07:002008-03-22T12:30:41.972-07:00O Castelo de Avalon<p class="MsoNormal">Construído por Merlin, com alguma ajuda de Foster e outros bruxos da época, o castelo foi edificado em cima das nuvens de Cidade dos Elfos no momento em que a magia passou a ser mal vista pelos humanos não-mágicos.</p> <p class="MsoNormal">Assim, Avalon passou a ser um lugar onde os bruxos poderiam praticar suas feitiçarias sem medo de retaliações.</p> <p class="MsoNormal">Avalon é um nome comum na história de Merlin. Ele construiu várias outras, como a britânica, onde, supostamente, hoje é Glastonbury.</p> <p class="MsoNormal">Várias histórias cercam Merlin, como o seu suposto envolvimento amoroso com Viviane, porém nenhuma delas é confirmada e provada pela história.</p> <p class="MsoNormal"><o:p> </o:p>Alguns ambientes do castelo:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><o:p></o:p><b style="">Primeiro andar – </b>Sala de Clerigologia; Sala de Poções<b style=""><o:p></o:p></b></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="">Segundo andar – </b>Sala de Feitiços (Roberta Skinger)</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="">Terceiro andar</b> – Salão de Katzin; Sala de Geomagia; Sala de Maldições; Sala de Feitiços (Tirso); Sala de Biomagia; </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="">Quarto andar</b> – Sala de Línguas; Enfermaria; Sala de Artefatos Mágicos</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="">Quinto andar</b> – Sala de aula de História; Salão de Tadewi; Diretoria</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="">Sexto andar</b> – Sala do Conselho Estudantil; Sala de Adivinhação</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="">Torre do Sino</b> – ponto mais alto da escola</p> <p class="MsoNormal"><span style=""> </span></p>André Fantinhttp://www.blogger.com/profile/07818980780167800572noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5429287600558187973.post-30422890137325140602008-03-12T17:17:00.000-07:002008-03-12T17:18:35.284-07:00O passado de Amanda Foster<o:p></o:p><o:p></o:p> <p class="MsoNormal">Amanda Jude Foster, nasceu na cidade de Aracruz – ES, em 1968, onde passou os doze primeiros anos da sua vida morando com os pais em uma área afastada da sede. De família humilde, Amanda estudou em casa e aprendeu noções básicas de magia com seus pais e a irmã mais velha, Lilith.</p> <p class="MsoNormal">Aos treze anos, Amanda mudou-se para Cidade dos Elfos com uma bolsa de estudos para a Escola de Magia e Feitiçaria de Avalon. Lá ela se formou em 1985, quando foi trabalhar na sede do Governo como Auxiliar Da Inquisição de Criaturas Mágicas, no nordeste do país. Durante um trabalho, conheceu o jovem Adonis Foster, com quem se casou anos mais tarde, dando origem a dois descendentes, o que jamais acontecera na família Foster.</p>André Fantinhttp://www.blogger.com/profile/07818980780167800572noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5429287600558187973.post-77136715444947117812008-03-05T18:31:00.000-08:002008-03-05T18:32:03.494-08:00Capítulo 1 - Kal Foster e o Mestre das Sombras<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Para Mardo Runifer, o ministro da Defesa e Segurança Mágica, aquele dia fora o mais cansativo do mês de janeiro. Após as comemorações de natal e ano novo, todo o país parecera explodir <st1:personname productid="em conflitos. Incidentes" st="on">em conflitos. Incidentes</st1:PersonName> mágicos aconteciam por toda parte e o governo teve que dobrar o número de funcionários para inspecionar as cidades mágicas que a cada novo dia preocupavam-se menos em manter-se <st1:personname productid="em segredo. H£" st="on">em segredo. Há</st1:PersonName> mais de mil anos bruxos e não mágicos deixaram de viver juntos, os bruxos refugiaram-se em suas florestas, erguendo pequenas cidades protegidas por encantos de forma que nenhum humano não mágico pudesse descobrir sua existência. <span style=""> </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Após a nova fuga de Kricolas, semanas antes, na Cidade dos Elfos, e o sepultamento de Adonis Foster, bruxos de todo o Brasil passaram a migrar para os países vizinhos em busca de proteção e apoio. Um número cada vez maior de pessoas anunciava ter visto carruagens voadoras e pessoas montadas em vassouras atravessando cidades inteiras. O Ministério do Segredo Mágico, responsável por manter secreta a existência de criaturas mágicas no Brasil, tentou contornar a situação enviando bruxos disfarçados de ufólogos. Eles se infiltravam na população destas cidades e espalhavam boatos sobre disco voadores e alienígenas. Em pouco tempo a situação foi controlada e as pessoas se convenceram de que não estavam vendo nada de mais, as carruagens voadoras na verdade eram “apenas aviões de teste”, pois era mais simples aceitar essa idéia que a de seres de outro mundo. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Com os humanos sob controle, o Governo, através do Ministério da Defesa e Segurança Mágica, alegou que ninguém corria riscos de permanecer no país e que não havia motivos para que as pessoas abandonassem suas casas. A fim de aliviar ainda mais as tensões, Mardo Runifer anunciou pelo jornal Folha Mágica, o maior tablóide mágico do país, que dois terços da Guarda Armada de Warren, soldados da maior penitenciária para bruxos e criaturas mágicas do país, estava fazendo rondas periódicas em busca de Kricolas e seus aliados, Elvira Lugunster e sua filha Tâmisa, que no ano anterior haviam contribuído para que o meio-vampiro roubasse o Livro de Merlin, o maior livro de magia do mundo e que fora escrito pelo próprio mago Merlin há quase mil anos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Agora, o ministro Mardo chegava ao seu escritório exausto e louco para sentar-se em sua larga poltrona de espumas. A sede do Governo Mágico estava localizada entre os estados do nordeste do Brasil, onde nenhum humano seria capaz de chegar sem recorrer à magia. Escondido pela vegetação agreste e pela terra seca nordestina, o prédio de dois andares e de formato circular abrigava todas as repartições públicas e abrigava algumas salas particulares que eram alugadas para alguns empresários.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Mardo esfumaçara no corredor do segundo andar onde ficava sua sala, as luzes estavam apagadas, mesmo já sendo noite, e aparentemente todo o prédio estava vazio. Esfumaçar é a maneira mais prática de se deslocar de um lugar a outro para os bruxos, um tipo de teletransporte. Mardo arrastou sua pasta de couro embaixo do braço suado por causa do paletó marrom que trajava. A cabeça redonda e quase toda afetada pela calvície, suava a ponto de respingar no tapete vermelho estendido. Os últimos dias não haviam sido gentis com o ministro. “<i style="">Muita pressão. Muita pressão</i>”. Repetia ele.<span style=""> </span><span style=""> </span><span style=""> </span><span style=""> </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Quando já se aproximava de seu destino viu que uma das salas no final do corredor à esquerda estava iluminada e decidiu ir até lá para espiar. Raramente alguém ficava no prédio depois das oito, mesmo em situações tão críticas. A única vez que isto acontecera fora há poucas semanas, no primeiro dia de trabalho do jovem Bernardo Mecflex, ou Escritor da Terra, como também era chamado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Quem diabos está naquela sala? – indagou-se Mardo quase enfurecido.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Não havia sons vindo de parte alguma e o corredor estava escuro quase que por completo, sua única fonte de luz era a da misteriosa sala.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Algum funcionário irresponsável deve ter esquecido a lâmpada acesa. Estes incompetentes que me mandam. – bufou furioso – Nunca chegarão a lugar algum na vida, que desperdício de oxigênio, essa gente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Em certo ponto a luz da sala se apagou e então Mardo soube que alguém estava ali ainda. Só não tinha idéia de quem poderia ser. Tateou no escuro enquanto procurava por sua varinha no bolso do paletó para iluminar o lugar. Sentiu-a entre os dedos, mas no momento em que ia sacar a varinha, deixou-a cair no chão. Bufando, abaixou-se para apanhá-la, assim que ergueu o gordo corpo para cima ele esbarrou em algum outro corpo fazendo-o desabar no chão num só baque.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Demonstrando uma agilidade tremenda, o ministro empunhou a varinha para frente, pronto para disparar o primeiro feitiço.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- <i style="">Escap...<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><i style="">- </i>Sou eu, ministro! – disse a pessoa que esbarrou em Mardo – <i style="">Bolhasradiant!<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Uma imagem quase espectral se conjurou na frente do ministro da Defesa e Segurança Mágica sob a fraca luz que incidia a sua frente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Dorian? – disse Mardo ajudando o outro a se erguer – Que raios de coisa está fazendo aqui uma hora desta?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ah, me desculpe, senhor. Estava terminando de ler os relatórios do Bernardo. Ele tem feito alguns progressos com os experimentos. O relatório diz que ele está próximo de um resultado satisfatório. – respondeu o bruxo que agora se mostrava mais visível.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não podia deixar isto para amanhã? – indagou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Estamos passando por um período de crise, senhor. Seria prudente terminarmos logo este serviço em especial. Acalmaria os ânimos das pessoas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não estamos em um período de crise, Dorian, por mil chifres de unicórnios! Lembre-se disto, se quisermos que as pessoas acreditem que o país ainda é um lugar seguro para se viver devemos começar nos convencendo de que o é. Entendeu?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sim, senhor. – respondeu prontamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Agora vá para casa. Descanse, pois amanhã será outro longo dia de trabalho.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Tudo bem então, senhor. Tenha uma boa noite de sono.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Se eu for dormir, você quer dizer. Sinto saudades quando meu maior problema eram duendes rebeldes e bruxos gatunos...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não se preocupe tanto, senhor, vivemos em um país seguro, lembra-se?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Este é o espírito, Dorian, este é o espírito... até mais.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Dorian Gulemarc seguiu corredor afora carregando seus pouco mais de sessenta quilos e aparência esquelética, os cabelos totalmente desalinhados e um rosto exausto, onde as olheiras praticamente escondiam os olhos castanhos e o nariz parecia dobrar de tamanho a cada dia ganhando todo o espaço de onde deveria haver uma boca, que raramente se fechava.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Mardo retornou para seu caminho, ainda mais louco para sentar-se em sua poltrona de espumas, ficara ansioso por isto o dia inteiro. A mesa de sua secretária estava vazia, se não apenas por um copo de café. Todos os dias, antes de ir embora, ela preparava um pouco da bebida e depositava em sua mesa para que o ministro tivesse o que beber em sua ausência.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Obrigado mais uma vez, Tifany. – agradeceu Mardo apanhando o copo após perceber que ele fora devidamente enfeitiçado para não esfriar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">O ministro despejou sua bolsa de couro na mesa largou o corpo em sua poltrona de espuma soltando um largo “ah” de satisfação. Bebericou seu café e começou a ler os bilhetes em sua mesa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Reunião com o presidente no sábado... ler relatórios de Bernardo Mecflex... enviar tropa de apoio aos guardas no sul do país... e ora ora. – disse o ministro parando de supetão e inclinando-se para frente – Um recado de Cacius! O que este velho caduco quer comigo?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Cacius, o diretor da maior escola de magia do Brasil, Avalon, de longe era um velho caduco. Ostentava o reconhecimento de maior autoridade em magia da América do Sul, acumulava prêmios de Honra ao Mérito reconhecidos internacionalmente e era um dos bruxos mais influentes no meio mágico, nos dias atuais. Raramente ele entrava em contato com pessoas senão de seu corpo docente, Cacius tinha a incrível habilidade de resolver seus próprios problemas sozinho. Coisa que muita gente não conseguia mais. Era isto que intrigava Mardo Runifer, o porquê do recado. Nele, Cacius solicitava que o ministro comparecesse ao seu escritório em Avalon para uma reunião imediata. O diretor não ocupava um cargo público, desinteressou-se pelo assunto após a primeira decepção, sua única prioridade era o bem estar dos humanos, bruxos, ou não, e demais criaturas mágicas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Quanta petulância! Eu sou o ministro e ele exige que eu vá vê-lo! – resmungou Mardo – Que se dane este velhote! Tenho muito mais com o que me preocupar. Na certa ele quer me mostrar aquele quadro esquisito em sua sala, francamente...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">O quadro a que o ministro se referia era uma pintura a óleo de Merlin sob a sombra de uma macieira. Cacius dizia que aquele quadro era uma espécie de termômetro de perigo e que nos últimos dias tem alertado que o mundo está à beira de um colapso. Cacius insistia que o fato de Merlin estar olhando para os lados a todo o momento tem íntima relação com a liberdade de Kricolas e o fato dele ter adquirido o Livro de Merlin.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Em sua última conversa com o diretor da escola, Mardo havia deixado claro que não permitiria que Cacius se pronunciasse diante a população sobre o assunto. Relutante, Cacius foi obrigado a concordar, pois caso contrário teria sua escola fechada. E esta era a última coisa que ele queria.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Estou te avisando, Mardo. É um grande engano. E você será o primeiro a pagar pelos seus erros... me escute, por favor – insistia o diretor – Não pode esconder a verdade destas pessoas. Não tem o direito... elas precisam saber a dimensão do perigo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Segundos depois, sem nem mesmo dizer uma única palavra, Mardo saíra do escritório de Cacius.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Voltando ao presente, ele refutou o bilhete jogando-o em uma lixeira e passou a analisar os demais. Após uma breve olhada, segurou seu copo de café quente mais uma vez e reclinou na poltrona balançando-se de um lado ao outro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Ele girava a poltrona até sua estante de livros, que acumulava volumes de diversos assuntos, ele rodava novamente e tinha uma visão privilegiada de toda a sua sala, com piso de madeira e tapete marrom, paredes também de madeira quase que completamente tapado por estantes, montes de caixas e papéis, sua mesa não era uma das mais arrumadas, havia vários relatórios por cima dela, penas, tinteiros, agenda e folhas de pergaminho em branco com o selo do governo. No teto pendia um lustre de vidro com uma das lâmpadas queimadas, era difícil mantê-las funcionando com tanta magia circulando pelo lugar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Do lado oposto a sua estante estava uma janela que ia do chão ao teto, as cortinas estavam abertas e a fraca luz da lua iluminava o ambiente. Mardo continuou com sua brincadeira na poltrona por longos minutos até quase cair no sono. Lembrou-se de outros incidentes mágicos que haviam ocorrido nos últimos dias no mundo dos humanos, a maioria deles envolvia a aparição de uma estranha criatura grande, forte, enrugada e com par de asas de morcego. Kricolas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">O meio-vampiro estava de fato dando uma tremenda dor de cabeça ao ministro e todo o seu pessoal. Ele aparecia e desaparecia dos lugares como um fantasma. Nunca deixava pistas e jamais cometia erros. Suas ações eram sempre precisas e no tempo certo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Há três dias ele aparecera no sudeste do país e atacara três homens que saiam de um bar. Com essas três vítimas o vampiro contabilizava vinte mortes desde Adonis Foster. Os corpos foram encontrados por uma senhora de meia idade na manhã seguinte. Ambos estavam com mordidas no pescoço. Na cidade o caso foi registrado pela polícia e apelidado de “O vampiro suga álcool”, devido ao estado de embriagues dos homens.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;"><i style="">Stack.<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Mardo levantou assustado com o que ouvira. O estalo pareceu ser dentro de sua própria sala. Parou por um instante. Analisou e apurou os ouvidos, mas não ouviu mais nada. Decidiu então perguntar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Dorian? É você? Já disse que pode ir para casa, homem. Vá descansar!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">A voz ecoou pela sala, mas não houve resposta. Mardo decidiu que aquilo era apenas sua imaginação. <i style="">Estou cansado. É só isso. Apenas cansaço.</i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Ele tocou o pé no chão para dar um impulso à cadeira para que pudesse voltar a se balançar de um lado para o outro novamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Girou o corpo para a estante. Depois para a janela. Estante. Janela. Estante... e quando pela quarta ou quinta vez que se virava para a janela sentiu cada pelo de seu corpo eriçar ao ver a fantasmagórica sombra formada a sua frente. O coração de Mardo quase saltou pela boca ao ver aquela figura horrenda dentro de sua própria sala.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Feliz em me ver? – indagou Kricolas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O... o... que... fa...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O que faço aqui? É isto que quer perguntar, seu gordo medroso? – Mardo continuava estático e Kricolas sorria mostrando seus dentes amarelos e desalinhados – Eu pensei em deixar hora marcada, mas achei que sua secretária não encontraria lugar na agenda para mim.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O que... o que... o que você fez com ela seu maldito! – grunhiu Mardo tomando coragem.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O que fiz com ela é passado, meu amigo. Deveria estar mais preocupado com o que vou fazer a você.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Oras seu!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Quanta valentia. Quem diria que por trás de tanta banha existe um espírito valente. – debochou Kricolas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Estou melhor do que você.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Quero ver daqui a mil anos. – falou Kricolas irônico – É uma pena que não vá chegar nem aos cem.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O que você quer de mim?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Que sua equipe pare de me atrapalhar. Francamente! Eles estão por toda parte!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Oras cale-se!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Kricolas avançou em direção de Mardo, agilmente, e dobrou seus dedos sobre a garganta do ministro dizendo:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não me dê ordens!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Mardo segurou o braço que Kricolas usava para sufocá-lo e então sentindo a respiração falhar balançou a cabeça assentindo que entendera bem o recado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Muito bom. Melhor que comecemos a nos entender cedo. – disse Kricolas soltando-o – Diga-me, onde está a família Foster!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não sei do que está falando. – desvencilhou Mardo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não brinque comigo! Eu sei que o seu maldito governo tirou os Foster de Vila da Cachoeira!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Realmente não sei do que você está falando...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Mardo, seu inútil! Minha paciência está estourando. Quer me dizer <i style="">onde-estão-os-malditos-Foster</i>?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E para quê? Já não arruinou o suficiente aquela família? Você já matou Adonis Foster! O que ainda quer? Matar três crianças e uma mulher? – indagou o ministro cheio de coragem.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bela atitude. Digna de elogios. Já que estamos nos entendendo tão bem, vou lhe contar o meu interesse neles.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Vá para o inferno!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não me dê ordens! – berrou Kricolas mais alto do que um humano normal poderia gritar, uma voz gutural e cheia de ódio paralisou cada célula do ministro – Eu visitei o inferno em Warren, e não pretendo voltar para lá.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Em pouco tempo você vai desejar estar lá.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Por favor, ministro, tenha senso do ridículo. Em pouco tempo mestre Donnovan estará de volta! E eu governarei ao lado dele. Talvez eu use esta mesma sala quando estivermos no poder.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Mardo se contorcia na poltrona espiando por cima da mesa até a porta, torcendo para que ela se abrisse e que pelo menos dez guardas de Warren entrassem disparando feitiços para todos os lados e prendessem Kricolas definitivamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não seremos incomodados por guardas hoje ministro. – falou Kricolas como se tivesse lido a mente de Mardo – Certifiquei-me de que o prédio está vazio.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Você sempre pensa em tudo, não é?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Modestamente? Sim. – riu-se sardonicamente – Fazemos de tudo para sobreviver neste mundo, ministro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Cretino.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Elogios não pouparão sua vida.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E então? Qual o plano com os Foster? – perguntou Mardo para distrair Kricolas enquanto ele alcançava sua varinha no bolso do paletó.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Achei que não estivesse interessado. – respondeu Kricolas dando as costas para o ministro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Ora, se vou morrer. Quero morrer sabendo alguma coisa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Isto foi quase filosófico.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Vai me dizer? </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Mardo ergueu a varinha com dificuldade, suas mãos tremiam e suavam muito. No momento em que preparava para dar o golpe certeiro em Kricolas, este virou-se mais rápido do que uma bala e fez com que a varinha de Mardo saltasse de sua mão e ficasse grudada no teto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Pensou que poderia me enganar?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Parecia uma boa saída.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Gosto do seu humor. – falou Kricolas após uma breve risada.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Esta é a parte que você me convence a passar para o seu lado e ajudar você no seu plano maluco de ressurreição de Donnovan?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Isto nunca foi uma opção, ministro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Bem, você recrutou a criada de seu pai e a filha e pelo que soube tentou persuadir o jovem Kalevi Foster a te seguir.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Anda muito bem informado para alguém do governo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Por que o interesse em Kalevi?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Kal para os íntimos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Você matou o pai dele!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- É minha maneira de começar uma amizade.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Você é repugnante.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Obrigado. – piscou – Muito bem então. Já que pretendo matá-lo, não há mal você saber o que planejo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Sou todo ouvidos. – confortou-se Mardo, ainda imaginando, esperançosamente, que mil guardas fossem entrar ali a qualquer minuto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O pequeno Foster tem o Enid de mestre Donnovan. E pretendo fazer com que este Enid domine todo o corpo e a mente de Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Enid é a parte mágica de um bruxo, um tipo de alma que se recebe ao nascer. Crianças bruxas não choram ao nascer porque recebem um Enid. No entanto, há treze anos, quando Kal Foster nasceu, ele chorou feito um bebê humano qualquer e somente seis anos depois ele misteriosamente recebeu seu Enid. Naquele momento ninguém imaginou como aquilo poderia ser possível, mas no ano anterior, Kricolas contara ao próprio Kal como ele adquirira o Enid de Donnovan.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Você é um porco imundo mesmo, Kricolas!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Obrigado. Obrigado. Não é todos os dias que encontramos pessoas tão agradáveis como você.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Você não passa de um covarde! Precisa do seu <i style="">grande mestre </i>para fazer com que as pessoas te obedeçam, não é? Você não é tão bom assim.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não se trata de covardia! – Kricolas bateu firme sua mão direita na mesa, o suficientemente forte para parti-la em alguns pedaços – E sim de lealdade!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Quase mil anos já se passaram Kricolas... não há como trazê-lo de volta. Kal Foster não se renderá ao Enid de Donnovan.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eu sempre penso em tudo. Lembra-se?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- O que quer dizer?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Se o pequeno Foster não quiser cooperar terei que fazer da maneira mais difícil.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Retirar o Enid dele?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- C'est la vie. Kricolas dá, Kricolas tira. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Você sabe bem que para fazer isto ele precisa estar...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Morto. Isto mesmo. Vejo que não faltou a nenhuma aula na escola, ministro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não vai ser tão fácil arrancar a vida de um aluno de Cacius, ainda mais sendo ele um Foster.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Oras cale-se. Cacius não é problema para me preocupar. Já tirei o Livro de Merlin dele. O que pode fazer?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não duvide daquele velho.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Quem te vê falando deste jeito pensaria que você é muito fiel a ele.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Se cheguei aonde cheguei foi porque Cacius me apoiou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- E parece que você não soube retribuir muito bem tantos favores.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Mardo calou-se ao olhar na lixeira o bilhete amassado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Termine logo com isto. Vamos!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Disse para não me dar ordens. – falou Kricolas agarrando Mardo pela garganta mais uma vez – Será o seu fim!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Mardo examinou sua sala por um último segundo sabendo que aquela seria sua última visão. Ele passara tantos anos entre aquelas quatro paredes que aquele lugar havia se tornado seu segundo lar, sua maior fortaleza. Ele não era casado, tão pouco tinha filhos, e às vezes ele passava semanas ali. Seja lá para onde estivesse indo, sentiria saudade da sala número 219 da sede do Governo Mágico.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Alguma última palavra? – indagou Kricolas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Fazendo um esforço enorme, Mardo cuspiu no rosto do vampiro e disse:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Vida longa a Kal Foster!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Veremos. Boa noite ministro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Como nunca antes, Mardo gritou, era pura dor e agonia, para sua sorte aquilo não durara mais do que cinco segundos. A sala foi impregnada por um forte odor de carne e sangue e Kricolas parecia sentir-se imensamente satisfeito. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Você foi um tolo em não me contar a localização dos Foster. Bem, há outras pessoas com quem posso me informar. Os Scheiffer, por exemplo...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Enquanto olhava pela última vez o que fizera a Mardo, Kricolas ouviu passos vagarosos vindos do corredor do lado de fora da sala. Ele espiou por entre a porta e viu um vulto se aproximando cada vez mais rápido. Imediatamente, Kricolas se pôs em posição de ataque e assim que o vulto ficou a um metro da entrada da sala, ele abriu a porta e agarrou-o pelo pescoço.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Não, por favor! – disse o homem – Estive procurando o senhor.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Todos estão!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Tenho um interesse em especial, senhor, meu nome é Dorian.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Me dê um bom motivo para não fazer o mesmo que fiz com Mardo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">Dorian Gulemarc olhou horrorizado para o que deveria ser o corpo do Ministro da Defesa e Segurança Mágica, então voltou-se até o meio vampiro a sua frente e disse:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">- Eu sei onde estão os Foster.</p>André Fantinhttp://www.blogger.com/profile/07818980780167800572noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5429287600558187973.post-43153592199610002312008-02-18T08:35:00.000-08:002008-02-24T05:57:03.100-08:00O Brasão dos Foster<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFSCoj7ZieH80epBunS8zkHhdwVnHcBlULzRyrogDDP2Dpv07o4pIwBfq_TVZXYmC0RoyZGWzZQU5CI3g5e7_x1aN3lFol0CgEr9zNuXT66zNr7HB3ifjuQX3BeFUy5C9ScK78qA3q9jsD/s1600-h/Bras%C3%A3o+-+Foster.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFSCoj7ZieH80epBunS8zkHhdwVnHcBlULzRyrogDDP2Dpv07o4pIwBfq_TVZXYmC0RoyZGWzZQU5CI3g5e7_x1aN3lFol0CgEr9zNuXT66zNr7HB3ifjuQX3BeFUy5C9ScK78qA3q9jsD/s400/Bras%C3%A3o+-+Foster.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5168360189118081890" border="0" /> </a><p class="MsoNormal"><br /></p><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">O Brasão da Família Foster é uma marca muito importante dentro do universo mágico brasileiro. Conhecida pela maioria dos bruxos, ele traz o “F” em destaque com alguns traços finos que refletem toda a excentricidade dos magos.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">Desenvolvido pelo ferreiro Lucas Luciano Nicolage, no século XI, após um jovem descendente direto de Foster ter salvo sua família do ataque de criaturas mágicas, o brasão foi, inicialmente, pintado em bandeiras que eram penduradas nas janelas das casas de cada bruxo, pois acreditava-se que ele trazia proteção aos seus moradores. Nicolage era um artista talentoso da época e morreu pelos fins do século XII, aos 137 anos. Nicolage carregou o brasão dos Foster em seus trajes por toda a sua vida, e em seu túmulo, pediu que o cravassem com um feitiço antidesgaste.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;" class="MsoNormal">O brasão foi aceito pelos Foster, que passaram a esculpi-lo em todas as suas obras, como no portão de ferro em Vila da Cachoeira.</p>André Fantinhttp://www.blogger.com/profile/07818980780167800572noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5429287600558187973.post-10315674824350070352007-12-15T16:11:00.000-08:002007-12-15T16:12:30.341-08:00Capítulo 18 - O primeiro túmulo<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kal não entendia o que significava aquele sorriso no rosto de Kricolas. Ele acabara de queimar as páginas do livro mais poderoso do mundo. Graças a Kal, o Livro de Merlin jamais serviria aos propósitos maléficos do meio-vampiro. No entanto, Kricolas ria deliberadamente, gargalhava uma vitória. Mas seria a vitória um punhado de cinzas e uma planta chamuscada? <i style="">Certamente, ele ficou doido perdendo o Livro de Merlin no último instante</i>. Pensou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Já era, Kricolas! – berrou ele – Seu conto de fadas chegou ao fim! Não é meia-noite, mas a carruagem virou abóbora!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Não sabia que os Foster tinham tanto senso de humor. – disse ele revelando uma voz rouca e arrepiante, quase que forçada – Mas certas coisas nunca mudam. Novecentos e noventa e oito anos se passaram e os Foster continuam intrometidos. É claro que você sabe o que aconteceu ao último que se meteu no meu caminho.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Derrotou seu mestre e todo o seu exército! – respondeu Kal desafiadoramente. Estava sendo demasiado corajoso em enfrentá-lo, mas não estava sendo nada esperto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Acho que não lhe contaram a parte em que eu o matei. – disse – Não foi difícil, ele não tinha mais poder mágico. Idiota! Destruiu um poderoso Enid pelos humanos que perseguiam seu povo. Logo depois que mestre Donnovan me transportou para outro lugar eu consegui retornar, mas aquele Foster imundo já havia utilizado o maldito Perpétuo. Sobrou apenas o seu corpo medíocre caído no chão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- E você covardemente o matou. E depois de muitos anos preso resolveu fugir. Por quê? – Kal não sabia ao certo o que deveria fazer, mas achou que enrolar Kricolas até que Cacius chegasse era uma boa idéia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Warren não estava incluída nos meus planos de aposentadoria. Além do mais, pequeno Foster, um pouco de ação rejuvenesce o meu espírito.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- E sair matando pessoas inocentes é ação? – perguntou Kal rispidamente – Eu chamo de covardia!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Por favor, não me ofenda! Eu mato para ter poder! Sacrifício humano. Muito útil.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- O quê? – perguntou atônito.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- A vida humana vale muito para mim, pequeno Foster. É uma grande fonte de poder. Com minhas primeiras sete vítimas realizei um belíssimo ritual de invocação para o Enid do meu mestre, que estava vagando perdido, mas Cacius e algumas dúzias de bruxos intrometidos impediram que ele pudesse se apossar de um recém-nascido. Isso não foi nada legal da parte dele. Não, não foi. Quando percebi o que haviam feito... ah, pequeno Foster, fiquei furioso. Jurei matar todos eles! Mas então, eu soube do que ficou conhecido como o milagre Foster. Meu milagre. Senti a energia do mestre Donnovan viva <st1:personname productid="em voc↑. Da" st="on">em você. Da</st1:PersonName> mesma forma que estou sentindo agora!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Eu não sou Donnovan! – berrou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Não. É claro que não é. Mestre Donnovan é parte de você. Posso sentir a fúria e o ódio! Venha comigo pequeno Foster. Vou ajudar-lhe a despertar todo o poder do mestre. – disse Kricolas erguendo uma das mãos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Não se aproxime! – advertiu Kal – Não estou sozinho!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Eu sei que não. – Kricolas sorriu maliciosamente e fazendo um simples gesto com as mãos fez com que Guine, Ralph, Daimon e Thalis fossem arremessados até o lugar <st1:personname productid="em que Kal" st="on">em que Kal</st1:PersonName> estava de pé.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Deixe-os fora disso! – gritou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Mas foi você quem os envolveu... – falou debochadamente – Olhem, é o jovem Thalis.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Thalis o encarou com fúria nos olhos. Kricolas havia assassinado seus pais aparentemente sem motivo. Eles eram humanos, totalmente sem poderes, nunca haviam interferido nos seus planos. Ele não tinha motivos para atacá-los.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Por que fez aquilo? – perguntou Thalis raivosamente – O que eles tinham a ver?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ora! O que dizer? Eu precisava de mais vítimas para outro ritual. Então pensei em visitar uma velha amiga.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ve-ve-lha a-a-mi-ga? – balbuciou Thalis permitindo-se que lágrimas cortassem o seu rosto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Você tem sorte por eu estar de muito bom humor hoje, garoto. Escute. Sua mãe era bruxa! Filha de dois grandes Guardiões de Warren. Na minha fuga, há alguns anos, eles se meteram no meu caminho e pagaram com a vida por isso. Com a morte dos pais, sua mãe quebrou a própria varinha e desvinculou-se do mundo mágico para viver uma vida humana medíocre.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Cale a boca! Cale a boca! Não fale dela! – berrou Thalis.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Foi divertido vê-los morrer. Principalmente seu pai, que morreu sem ao menos entender o que estava acontecendo. É uma pena que você tenha conseguido escapar tão facilmente. Teve muita sorte, sabia? Poucos bruxos menores de idade esfumaçam tão bem.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Eu disse para se calar! <i style="">Escaparta!</i> </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Nem mesmo se Thalis concentrasse toda sua fúria no feitiço ele produziria qualquer efeito <st1:personname productid="em Kricolas. O" st="on">em Kricolas. O</st1:PersonName> meio-vampiro permaneceu inalterado, mas Thalis havia se deixado cair pelas emoções e desatou a chorar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Não se preocupe, meu jovem. Posso te mandar para seus pais agora mesmo. – falou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Nunca! Não haverá mais mortes! – grunhiu Kal – Ninguém vai morrer à toa!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ninguém morre de graça, pequeno Foster. A morte dos pais do seu amigo foi necessária para que eu pudesse encontrar isto! – Kricolas ergueu uma folha de pergaminho encardido. – Sabe o que é?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Uma página do Livro de Merlin. – arriscou Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Exatamente! – falou Kricolas encarando o garoto – E na minha opinião a melhor. Há uma lenda britânica que diz que Merlin e Foster criaram um feitiço destrutivo. O feitiço da morte, que diferente do Sedructos ele mata, mas não amaldiçoa. Merlin achou que seria perigoso e resolveu tirá-lo do livro queimando-o logo <st1:personname productid="em seguida. Precisei" st="on">em seguida. Precisei</st1:PersonName> de muita pesquisa e duas mortes para recuperá-la. Mas valeu a pena.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Será a sua única página Kricolas!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Não tenha tanta certeza disso, pequeno Foster.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kricolas retomara seu sorriso malicioso e penetrante. Ele os encarava com leve desprezo. Não se importava em ter cinco garotos do primeiro ano na sua cola, afinal, o que poderiam fazer sozinhos?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">O meio-vampiro agachou-se e enfiou uma de suas mãos no amontoado de cinzas que havia se tornado a pequena macieira que Kricolas plantara e que Kal, deliberadamente, ateara fogo. A cena estava seguindo-se quase como em câmera lenta. Kricolas puxava o seu braço de volta, quando o ergueu com mais firmeza revelando um objeto retangular.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- O Livro de Merlin! – falou com entonação.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">O livro de capa vermelha com detalhes dourados passaria despercebido dentro de uma biblioteca. Nada nele chamava a atenção, nenhum efeito brilhante ou de alguma forma, magicamente encantado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Finalmente meu! – continuou Kricolas em frenesi.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Ele abriu o livro à procura da parte em que a página fora arrancada. Quando localizou, ele ergueu o pergaminho que encontrou na Cidade dos Elfos e o devolveu ao lugar original. Num raio de luz ofuscante o livro se restaurou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Completo. E é meu...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Mas como? – perguntou-se Kal – Eu o queimei...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Você apenas me ajudou, pequeno Foster. Deixe-me esclarecer. Existem quatro elementos fundamentais na magia, e Merlin os conhecia muito bem. Outro ponto importante é a maçã, a transmissora do conhecimento. Esta macieira – disse apontando para a árvore mais antiga do pomar – foi plantada pelo próprio Merlin, e o grande segredo do bruxo estava escondido dentro das sementes do fruto dela. O <i style="">ar</i> as carregou. Caíram na <i style="">terra</i>. Foram irrigadas pela <i style="">água</i>. Geraram a vida e você, Kal Foster, usou o <i style="">fogo</i>, o elemento que faltava para que o Livro de Merlin pudesse ser meu!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- E o que vai fazer agora? Dominar o mundo... – perguntou Guine pomposamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- O mundo é grande demais, garota! Não vou dominá-lo, mas meu mestre irá.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kricolas repetiu o gesto de mão que usou contra Guine, Ralph, Daimon e Thalis, fazendo Kal aproximar-se tanto dele que era possível sentir a respiração do vampiro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Vamos embora, pequeno Foster. Vou lhe ensinar o que precisa saber para dominar a raça humana.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- <i style="">Nunca!</i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Largue ele! – berrou Ralph correndo até os dois.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kricolas o fez voar cinco metros até bater em uma árvore.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- <i style="">Farfalha!</i> – berrou Kal com a varinha apontada para o rosto de Kricolas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">O meio-vampiro recebeu os golpes e caiu pesadamente no chão gritando de tanta dor.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Corra, Kal! – gritou Guinevere e Kal atendeu-a prontamente, mas Kricolas também foi rápido e o agarrou pela perna direita derrubando-o.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- <i style="">Escaparta!</i> – o feixe de luz azul liberado por Kal atingiu o queixo ensangüentado de Kricolas, mesmo assim ele não cedeu e continuou prendendo a perna do garoto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- <i style="">Você vem comigo!</i> – berrou enfurecido.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- <i style="">Amstãnder!</i> – o raio amarelado atingiu Kricolas com tamanha violência que ele subitamente largou Kal e o Livro de Merlin foi arremessado contra a macieira logo atrás– Não toque <i style="">no meu filho!</i> </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Pai... – disse Kal entre dentes.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Adonis correu até ele e ergueu-o, apanhando o livro logo em seguida.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Você está bem? – perguntou ao filho.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Sim, mas devemos correr.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Não tão cedo! – Kricolas estava novamente de pé, suas feridas auto-cicatrizando, ele ergueu a mão direita articulando os dedos e conjurou uma varinha de cor avermelhada. Em seguida disse:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Todos queriam saber o que o renomado Sr. Nicolas Weny havia descoberto com a Página perdida! Pois sim, nela realmente estava o feitiço mortífero criado por Merlin e seu discípulo! Aqueles malditos escreveram o livro em várias línguas e repleto de códigos! Não têm idéia do que passei para traduzir isto. <i style="">Morgora Nãltis!</i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Um ruído longo e tenebroso atravessou o pomar varrendo-o de trevas. Um único ponto de luz amarela cresceu na direção de Kal e Adonis. Este jogou o filho no chão e recebeu todo o impacto. Sem mais barulhos, Adonis bateu no chão com estrépito.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kal congelou aquela cena em seu pensamento. Não podia ser verdade. Adonis Foster caíra derrotado, talvez muito mais do que isto. Talvez Kal nunca mais veria seu pai levantar-se. Ele esperou. Esperou que Adonis eliminasse qualquer pensamento negativo da mente de Kal fazendo um simples aceno indicando que estava bem e pronto para cair outra vez e levantar-se novamente se fosse preciso para deter Kricolas. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kal ainda esperava.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Os segundos se estenderam como horas e Kricolas gargalhava vitorioso. <i style="">Levante! Levante! </i>Repetia Kal em pensamento como se quisesse conversar por telepatia com o pai que permanecia estirado no chão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style="">Por favor, ajude-nos! Não pode nos deixar agora! </i>Insistia em pensar. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- <i style="">Pai!</i> – gritou Kal percebendo que nada que pensasse faria seu pai erguer-se.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Seu coração batia acelerado à medida que se aproximava de Adonis que estava com o corpo inerte e pálido, os olhos carregavam um estranho cinza que olhava para o nada. Todo o ar a sua volta cheirava a morte.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- <i style="">Maldito!</i> – praguejou Kal uivando como um lobo – Papai... acorde... por favor... acorde... Não me deixe, não... acorde por favor... acorde...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kal sacudia o corpo do pai inutilmente. Ele evitava pensar que Adonis Foster se fora para sempre.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Quanto clamor, pequeno Foster.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- <i style="">O que você fez, seu maldito?</i> – gritou Daimon a plenos pulmões – Acorde ele!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Lamento filho, mas ainda não sei trazer pessoas à vida. Ainda... – terminou Kricolas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- <i style="">Seu desgraçado! Eu vou te matar!</i> – Kal ergueu-se e caminhou a passos largos até Kricolas com uma mescla de fúria e ódio nos olhos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Sua arrogância começa a me incomodar, pequeno Foster! Há vários modos de trazer meu mestre de volta ao poder. Saiba que você é completamente descartável! Vou enviá-lo até o seu querido papai.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Kal, não! – gritou Guinevere do outro lado prevendo o que estava para acontecer.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- <i style="">Morgora Nãltis!</i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">O lampejo amarelo floresceu entre as árvores e disparou em direção a Kal, acertando-o no lado esquerdo do peito desequilibrando-o. Do mesmo modo que acontecera com Adonis, Kal bateu no solo semelhando o barulho de um tambor.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- <i style="">Kal!</i> – Thalis correu o máximo que pode até chegar ao amigo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Menos um Foster... – disse Kricolas secamente – Agora o último deles. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kricolas ergueu Daimon no ar de modo que não pudesse escapar da mira. Mais duas palavras e a família que se intrometera no caminho de Donnovan estaria extinta. Salvo Cristina Foster <st1:personname productid="L↑ Fay." st="on">Lê Fay.</st1:PersonName></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- <i style="">Morgora...</i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">No instante final do feitiço, Kricolas foi golpeado no rosto por algo que parecia um chicote. Seja lá o que tivesse acontecido fê-lo largar Daimon e abaixar a varinha.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Mas... – espantou-se o meio-vampiro ao ver Kal imponentemente de pé depois de ter recebido o mesmo feitiço que matou Adonis de forma instantânea – <i style="">Como?</i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Você acertou isto. – disse Kal abrindo a mão esquerda e revelando uma pedra negra em formato oval – Eu ganhei esta ametista de Cacius e o seu feitiço foi absorvido por ela.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Quanta petulância. Você tem muita sorte, pequeno Foster. Pedras mágicas, como a sua ametista, sugam energia negativa do meio. Excelente escudo. – resmungou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- <i style="">Horbário Obedientis!</i> – invocou Kal o feitiço que aprendera em Relações com a Natureza - Herviana, quebre a varinha! – dizendo isso uma estranha raiz rasgou a terra aos pés de Kricolas e roubou-lhe a varinha que ele segurava e partiu-a ao meio.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- O que é... – Kricolas estava demasiado confuso agora. Kal Foster havia sobrevivido ao feitiço mais mortal existente e controlava uma planta que quebrara sua varinha.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Dê os cumprimentos à minha <i style="">Herviana gornóide</i>, Sr. Weny. – falou Kal num tom de voz alterado – <i style="">Vai pagar pelo que fez ao meu pai!</i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Hoje não! – Kricolas recolheu o Livro de Merlin e de suas costas surgiu um par de asas parecidas com as de um morcego, mas as dele tinham alguns cortes e ferimentos expostos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Num único bater de asas, Kricolas decolou dez metros até que Kal desse outra ordem a sua planta.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Agarre-o! – mostrando total agilidade e força, a Herviana segurou Kricolas pelo pé direito impedindo-o de continuar seu vôo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Prof. Cacius! – exclamou Guinevere aliviada ao vê-lo surgir entre as árvores do pomar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Já que não foi ao meu escritório fazer uma visita formal, resolvi procurá-lo. É uma pena que seja em tais circunstâncias... – Cacius olhou para o corpo de Adonis estendido ao chão e sua expressão fechou-se em amargura – Por que não desce até aqui?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Cacius ergueu a própria varinha e apontou para Kricolas e como se o controlasse fez com que aterrissasse.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Há quanto tempo, Kricolas...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Meu único visitante em Warren...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Senti a sua falta. Mas vejo que continua cometendo os mesmos erros. Matar Adonis Foster foi o mesmo que assinar sua sentença de morte.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Já estou morto, Cacius. Por acaso esqueceu que sou um vampiro?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Meio-vampiro. Ainda tenho esperanças de que aí dentro bate um coração humano.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- <i style="">Nunca!</i> – berrou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Professor! Ele está com o Livro de Merlin! – gritou Thalis de onde estava.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Foi um belo disfarce este de Nicolas Weny. Enganou quase todo mundo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Menos a você. – disse o meio-vampiro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Precisa muito mais do que maquiagem para enganar esta velha cabeça. – falou Cacius batendo no cocoruto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Mas esta velha cabeça não conseguiu encontrar o Livro de Merlin, não é? – riu Kricolas debochadamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style=""> </span>- Não teria tanta certeza se fosse você. – de onde estava Cacius fez com que o livro se abrisse na última página – Está vendo? São todos os donos do livro. Os que um dia viveram com o Enid de Merlin.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">De longe, Kal pode observar a página que Kricolas estava encarando. Nela havia vários nomes escritos em uma lista na qual o nome de Cacius posicionava-se em último.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Eu e muitos outros protegemos este livro de pessoas como você.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Mas você é o único que está vivo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Sim, por certo. Tenho que admitir também Kricolas que você foi extremamente hábil para encontrar o livro e recuperar a Página perdida.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Uma das poucas coisas que não foi capaz de fazer, não estou certo? – perguntou Kricolas e Cacius assentiu – Qualquer coisa que envolva sacrifícios te impossibilita de agir, não é?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Que tal colocarmos isso a prova? – uma voz bem familiar chegou aos ouvidos de Kal. Virando-se ele reconheceu Elvira.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Ela dobrara seus dedos sob a garganta de Guinevere e mantinha-a fortemente presa. A menina tinha a vida nas mãos da mulher.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Solte o mestre Kricolas que eu solto a garota! – vociferou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Isso explica muita coisa... – falou Cacius pensativo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Deixe-o fugir com o livro e ninguém mais sai ferido! – disse Elvira apertando mais firme a garganta de Guinevere – E então Cacius? Vai ser o livro ou a garota? Nem tente fazer algo contra mim! Ela não é a única que está como refém!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Eu sei perfeitamente que você também fez a Srª Foster de refém. – disse Cacius lendo os pensamentos da bruxa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Mamãe! – exclamou Kal desesperado – O que você fez com ela?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ainda não fiz nada, mas se Cacius não libertar o meu mestre, só restarão você e seu irmãozinho vivos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Professor... – disse Kal suplicante.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Nunca sacrificaria alguém, por qualquer motivo que seja.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Solte-a! – gritaram Ralph e Thalis.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Kricolas, – disse Cacius – assim que te libertar, você estará no controle. Você já matou Adonis e tem o livro. Não precisa fazer mal a mais ninguém. Há duas opções: ficar, duelar comigo e correr o risco de voltar a Warren, ou fugir e seguir seu plano. Aliás, você tem uma terceira opção.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Todos ficaram atônitos como o que Cacius estava dizendo. Uma das principais características do diretor de Avalon era manter a tranqüilidade nos momentos mais críticos, como no dia <st1:personname productid="em que Jonathan" st="on">em que Jonathan</st1:PersonName> aparentemente tentou se jogar da Torre do Sino. Mas desta vez, Cacius estava muito além do seu estado normal de serenidade. Ele oferecera a Kricolas uma oportunidade de fuga e estava prestes a dar-lhe outra alternativa. O meio-vampiro parecia ligeiramente interessado e penetrou nos olhos de Cacius procurando a resposta.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Você pode largar tudo isso e viver tranqüilamente em meu castelo. – terminou Cacius, o que fez Kricolas gargalhar abertamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- E ensinar magia aos seus alunos também está nos planos? Qual é o seu problema Cacius? Isso nunca foi uma opção. Parece-me pior até mesmo do que Warren. – disse Kricolas mudando de alegria a impaciência – Solte-me e tudo acaba bem.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Depende de qual lado você está. – comentou Cacius.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Não vou deixar este assassino fugir assim! – berrou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Não pode fazer nada, pequeno Foster! Eu venci!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Depressa velho! Solte-o! – berrou Elvira ainda apertando o pescoço de Guinevere.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Cacius assentiu com a cabeça e recuou alguns passos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Está livre Kricolas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Nem bem Cacius terminou de falar e o meio-vampiro soltou um alto rugido e esfumaçou carregando o Livro de Merlin e a certeza de que havia vencido a primeira batalha. Elvira empurrou Guinevere e esfumaçou logo atrás.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Você está bem? – perguntou Ralph a Guinevere.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Tossindo fortemente e puxando mais ar do que talvez seus pulmões pudessem suportar, ela confirmou estar bem.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kal e Daimon estavam abraçados e chorando muito ao lado do corpo de Adonis. Nenhum dos dois olhava diretamente para o pai caído ao chão para que suas mentes não aceitassem o que havia acontecido.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Por quê... – balbuciava Kal deprimido.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Precisamos levá-lo, Kal. – disse Cacius se aproximando.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ele não podia fugir... – gritou Kal com Cacius.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Nem Amanda e Guinevere podiam morrer. – respondeu serenamente, compreendendo a confusão de idéias que pela qual estava passando o garoto a sua frente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Guinevere também chorava ao lado de Ralph a quem estava abraçada. Thalis se aproximou de Kal e o ergueu pelos ombros.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Vamos. – disse ele.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Cacius fez com que o corpo de Adonis levitasse em posição horizontal e caminhou lentamente. Os cinco garotos seguiram o professor pela estrada que levava até Cidade dos Elfos. Kal, Guine e Daimon aos soluços, estavam sendo praticamente arrastados por Ralph e Thalis. Ao longe, Amanda esperava-os aflita. Estava com as mãos tapando a boca para tentar conter o choro. De onde estava, Amanda não via o corpo de seu marido que levitava logo atrás de Cacius. Ela desatou a correr na direção dos filhos assim que os avistou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Graças a Deus! Adonis foi até vocês assim que... <i style="">Ah!</i> – gritou Amanda desesperada recuando alguns passos – <i style="">Adonis!</i> – gritou novamente aproximando-se do marido que agora estava novamente no chão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Lamento, Srª. Foster. – disse Cacius em uma voz pesada e pondo a mão no ombro da mulher que desatou a chorar – Não pude fazer nada.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Não! Adonis... – disse soluçando entre lágrimas – Por quê? Por quê? Adonis, por favor...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kal, Daimon e Guinevere abraçaram Amanda em consolo, mas não sabiam como fazê-lo, pois também não continham as lágrimas. A única coisa que podiam fazer era ficar ali ao lado do corpo de Adonis tentando entender aquela situação. Assimilando que nunca mais veriam um sorriso de seu marido e pai. Compreendendo que agora estavam sozinhos, não havia mais aquela figura otimista e carinhosa de sempre, que sabia dizer as palavras exatas em todos os momentos. Imaginando que se Adonis estivesse vivo ele saberia o que fazer em momentos como aquele. Porque ele era assim. Muito mais do que um esposo, muito mais do que um pai. Adonis Foster era um pilar para os quatro, sem ele, não saberiam por onde recomeçar.<span style=""> </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Em pouco tempo a cidade amontoou-se no local, professores, alunos e os habitantes prestaram apoio à família Foster. Até mesmo a natureza pareceu sofrer com a perda, pois o céu da Cidade dos Elfos cobriu-se em luto com nuvens negras de chuva, que logo molharam a multidão misturando-se às lágrimas de bruxos, elfos, fadas e todo o resto de criaturas mágicas que se podia imaginar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Cacius aproximou-se de Kal e colocando a mão no ombro do garoto disse:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Você merece saber tudo. Provou isso hoje.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kal esfregou um dos braços nos olhos para que pudesse enxergar o professor com mais nitidez e percebeu que ele abandonara seu ar de serenidade. Mas ele não pôde distinguir se aquela gota em seu rosto era uma lágrima ou simplesmente chuva.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Ele o seguiu por entre as pessoas imaginando o que Cacius considerava digno de Kal saber. Suspeitou que deveria ser algo sobre o seu Enid. Mesmo tendo ouvido do próprio Kricolas que Donnovan vivia em seu corpo, Kal não podia acreditar que não fora apenas uma grande coincidência. A cidade parecia estar morta, a chuva fazia um barulho típico sobre os telhados e sobre as copas das árvores na floresta. Não havia pássaros cantando, nem mesmo um vento soprando de dentro da floresta. Era como se todo ser vivo ao redor estivesse prestando uma última homenagem a Adonis Foster. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Cacius guiou Kal até os portões do castelo da Rainha dos Elfos e juntos atravessaram o jardim enfeitado com estátuas de gnomos, curiosamente todos estavam segurando os chapéus cônicos e de rosto erguido para o céu com uma expressão tristonha.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Os dois atravessaram o salão de entrada e seguiram pelos corredores e escadas até a sala circular <st1:personname productid="em que Thalis" st="on">em que Thalis</st1:PersonName> revelara seu Enid. Cacius encarou Kal nos olhos e franzindo o cenho disse as primeiras frases:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Isto foi apenas o começo, Kalevi. Kricolas tem o Livro de Merlin e você supostamente sabe o que ele está prestes a fazer.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ressuscitar Donnovan. – respondeu secamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Sim, mas dizer ressuscitar, faz parecer que qualquer um pode voltar da morte.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Meu pai, por exemplo. – disse com peso na voz.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Diremos que Kricolas quer dar um corpo a Donnovan. – falou Cacius disfarçando o ressentimento de Kal – Ele já tentou fazer isto há sete anos. Quando trouxe ao nosso mundo o Enid de seu mestre.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Mas vocês o impediram que possuísse um recém-renascido.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Não contávamos que o Enid de Donnovan se apossasse do seu corpo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ele não conseguiu se apossar de mim! – retorquiu Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Cacius lançou-lhe, imediatamente, um olhar contraditório e prosseguiu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Restou a Kricolas roubar o Livro de Merlin para conseguir o Enid de volta.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Por que ele simplesmente não me matou?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- E por acaso ele tentou fazer algo de diferente hoje? – indagou Cacius.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kal apalpou o lado esquerdo do peito e sentiu a ametista contra sua pele. Sem o presente de Cacius, certamente, Kal estaria morto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Acredito que Kricolas fará o possível para manter você vivo, Kal. Ele não sabe ao certo o que pode acontecer ao Enid se você morrer. Talvez seu Enid se perca e... Bem, é difícil prever qualquer coisa. – finalizou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ele disse que sou descartável... – respondeu Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- No calor da batalha as pessoas dizem muitas coisas. Mesmo meio-vampiros milenares.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- E o que acontece se Donnovan voltar?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Após um longo silêncio Cacius disse:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ainda não tive coragem de pensar nisso. Mas afirmo que será desastroso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Como Kricolas encontrou o livro?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Há uns três anos, um bruxo chamado Nicolas Weny se popularizou com uma grande descoberta na Inglaterra. A partir daquele momento ele ganharia fama e influência com novas descobertas. Kricolas se disfarçou muito bem criando este personagem. O feitiço Glamory pode ser realizado em qualquer lugar, basta um espelho e algumas poucas velas. Era assim que Kricolas transformava-se <st1:personname productid="em Nicolas Weny" st="on">em Nicolas Weny</st1:PersonName> e usando de sua recém adquirida influência, aproximou-se de estudiosos do assunto e foi montando o quebra-cabeça. Kricolas também teve acesso à minha sala este ano e roubou alguns de meus livros.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- O que o senhor quer dizer com isso? – perguntou Kal deixando de soluçar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Na manhã <st1:personname productid="em que Jonathan" st="on">em que Jonathan</st1:PersonName> ameaçou se jogar da torre. – respondeu – Ele estava sob efeito de algum encanto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Kricolas fez aquilo com ele?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Indiretamente sim. Como você bem sabe, Tâmisa foi uma Representante de Avalon este ano. Ela abriu os portões da escola naquela manhã e permitiu que Kricolas entrasse. Enquanto uma terceira pessoa conduzia Jonathan até o alto da torre.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Elvira.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Não. Uma Outra pessoa. Eu estive com Elvira aquela manhã no Hospital Nautilus. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Tem idéia de quem possa ser este terceiro aliado? Lembro-me que era uma voz feminina que induziu Jonathan a se jogar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- É uma pista. – comentou Cacius.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- E a Página perdida? Por que o senhor não a pegou antes de Kricolas? Foi nela que ele conheceu o feitiço que ma...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Eu sabia da existência desta página. – cortou Cacius antes mesmo que Kal pudesse terminar a frase - Mas não poderia recuperá-la sem que houvesse um sacrifício...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Acho que entendo. De qualquer forma. Houve um sacrifício... – disse ele querendo chorar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Alguns professores procuraram pela Página perdida, por isso o professor Amadeus manteve-se tão ocupado. Ele passou o ano arrumando outra maneira de recuperá-la. O professor Tirso também contribuiu com a busca. Ele comentou como você duelou bem contra Rick Wosky. Infelizmente, ele teve que passar alguns dias se recuperando da maldição Dunkel que recebeu enquanto estava na forma de macaco. Mesmo com tanta ajuda, eu não poderia ter a Página perdida. Quanto ao Livro de Merlin, Kricolas contava com a poderosa ajuda de Elvira, o que para mim era algo inesperado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Poderosa ajuda? – espantou-se Kal lembrando-se da medíocre figura esquelética da mulher.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Elvira tinha acesso ilimitado à biblioteca de Thomas, que certamente faz a de Alexandria parecer obsoleta. Com tanta informação e habilidade prática, os dois formaram uma dupla muito poderosa. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- E Thomas? – perguntou Kal confuso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Foi envenenado durante todo o ano. Induzido ao coma, ele permaneceria inativo. Assim, Kricolas e Elvira podiam agir deliberadamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Thomas foi envenenado? – perguntou Kal incrédulo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- A poção Mekeivan, um verdadeiro veneno para um vampiro. No começo do ano, pedi que Cristina Foster fosse até o Hospital Nautilus tentar reanima-lo, mas como não sabíamos o que o estava deixando inconsciente, nenhum dos esforços da professora valeram a pena.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- E onde Elvira conseguiu tanta poção?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Em Avalon! – Kal arregalou os olhos já inchados de tanto chorar e Cacius prosseguiu – Tâmisa, a filha de Elvira, surrupiou nosso estoque de poção e ingredientes para que sua mãe continuasse dopando Thomas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- E por que Elvira e Tâmisa apoiaram Kricolas? – perguntou Kal sentindo que seus neurônios estavam recebendo informações demais para aquele momento.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Quando uma nova força surge, as pessoas procuram se aliar a um dos lados em busca de proteção. Elvira e Tâmisa já fizeram sua escolha. – explicou Cacius – Temo que outras pessoas vão passar para o mesmo lado quando souberem que Kricolas tem o Livro de Merlin.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style=""> </span>Kal parou por um breve instante digerindo aquelas informações. O plano de Kricolas havia sido meticulosamente desenhado e provara-se infalível. Talvez até mais do que isso. Superara as expectativas, afinal ele não só havia conseguido pegar o Livro de Merlin por completo, mas como também eliminado um Foster, o que certamente iria chocar ainda mais a comunidade mágica.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Professor, quanto tempo o senhor acha que Kricolas vai demorar para trazer Donnovan de volta, agora que tem o livro?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- É um tempo difícil de se calcular, Kal, não sei até onde Kricolas sabe sobre ele. Pode demorar um século, ou apenas um dia. Merlin e Foster escreveram o livro utilizando de várias línguas, algumas que já não se tem mais registro, adicionaram códigos e alguns métodos subliminares. Tudo dependerá da habilidade de Kricolas agora.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Vamos torcer para que ele demore então. – disse de cabeça baixa. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Bem, acho que chega por hoje. Você se mostrou muito corajoso, Kal. Você quis mudar algo em sua vida e acho que conseguiu. Acredito que a partir de hoje as pessoas não vão mais vê-lo simplesmente como um Foster, ou o Milagre Foster, a partir de hoje você é Kal, Kal Foster.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Obrigado, professor. – o garoto desenhou um leve sorriso em seu rosto, os olhos ainda inchados, mas também carregados de uma esperança estranha que dominava todo o seu corpo tranqüilizando-o.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Ainda na Cidade dos Elfos, várias carruagens subiram ao céu, velozmente, arrastando um clima de depressão e melancolia. A Guarda Armada de Warren liderou as carruagens rumo ao cemitério dos bruxos que ficava em algum ponto não muito escondido no mundo humano, no litoral do nordeste brasileiro. Quando as primeiras cidades mágicas foram fundadas no país, nenhuma delas entusiasmou-se com o fato de ter um cemitério em seu tão pequeno território. O Governo Mágico determinou então que fosse erguido o Cemitério Nacional para Bruxos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">O cemitério não possui poderosos encantamentos de proteção contra os humanos, pois em si o lugar já é um repelente natural. A vasta área murada tem bem ao centro um farol onde mora o guardião do cemitério, que provoca aflição e medo aos curiosos com sua desfigurada aparência. O homem de uns sessenta anos era recoberto por cicatrizes e manco da perna direita, cheirava a peixe podre, tinha alguns fios de cabelo jogados sobre o rosto e mantinha a barba mal feita.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">A parte interna do cemitério era bem modesta, a exceção de alguns esplendorosos túmulos de marfim. Havia uma pequena estrada de pedras brancas que interligava os portões de entrada ao farol, no centro do cemitério. Desta primeira estrada principal, partiam várias outras interligando os túmulos de pedra. Alguns traziam apenas um simples vaso de flores, outros eram bem ornamentados com coroas de flores em cores variadas e velas flutuantes acesas com a chama eterna. Algumas árvores estavam espalhadas pelo cemitério, àquela hora da tarde permitia que o cemitério fosse iluminado fracamente pelo alaranjado sol poente, dando ao cemitério um aspecto pacífico.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">O mausoléu da Família Foster era o primeiro do lado esquerdo do farol. No cemitério cada túmulo correspondia a uma família de bruxos. Gerações e gerações estavam ali presentes, prontas para receber mais um de seus descendentes que tristemente se despediu do mundo vivo. Adonis Foster tinha agora seu epitáfio.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Enquanto o caixão de seu pai era carregado, Kal manteve-se o mais distante possível. Não entrou no mausoléu junto com os outros tantos presentes, amigos, alguns poucos parentes de sua mãe, representantes do governo acompanhando Mardo, habitantes da Cidade dos Elfos, como a Rainha Eva e alguns guardas de Warren, incluindo o senhor e senhora Scheiffer.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">No momento em que o orador retirou do paletó preto um pedaço de pergaminho para iniciar a despedida, Kal deu uma última olhada em sua mãe que estava abraçada à sua irmã Lilith e recuou para o mais longe que pudesse alcançar.<span style=""> </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kal não queria ver o túmulo do pai tão cedo. Sabia que assim que o visse tudo se tornaria real, e ele não queria encarar aquela realidade.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">O pequeno Foster, como foi chamado por Kricolas, caminhou por entre os túmulos e procurou seguir caminho olhando fixamente para o chão afim de não guardar qualquer imagem do cemitério. Kal estava vestido com um paletó preto sem gravata, os sapatos estavam tão lustrosos que refletiam as lápides por todos os lados. Resolveu seguir de olhos fechados, mas a todo o momento em sua cabeça surgiam imagens de seu pai caindo no chão do pomar e ele ouvia mais atentamente as gargalhadas do assassino de seu pai.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Percebendo que nada do que fizesse, sair do mausoléu, abaixar a cabeça ou fechar os olhos faria esquecer que seu pai estava morto, Kal correu o máximo que pode para alcançar os portões brancos que davam acesso à praia. No momento em que ele saiu e sentiu a brisa fria do mar tocar seu rosto, permitiu-se soltar uma última lágrima naquele dia. Pois guardaria todas as outras para os momentos de felicidade que passaria com sua família.<span style=""> </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Daimon e Guinevere também resolveram largar a cerimônia de lado e seguiram os passos de Kal até a praia, onde estava sentado e olhando fixamente para o mar. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Um minuto mais tarde, Thalis e Ralph também se sentaram na areia para fazer companhia aos amigos. Nenhum deles disse uma palavra, nem mesmo quando o farol se acendeu sinalizando que a cerimônia havia finalizado. A luz do farol, acredita-se, ilumina o espírito do bruxo a um lugar belo onde pudesse descansar eternamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Um profundo, e também estranho, sentimento de felicidade invadiu o corpo de Kal por completo. Era como uma forte onda de esperança. Esperança de que talvez um dia uma luz pudesse ser acesa para celebrar a vida.<span style="line-height: 200%;"> <o:p></o:p></span></p>André Fantinhttp://www.blogger.com/profile/07818980780167800572noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-5429287600558187973.post-27802031542987957702007-12-13T11:50:00.000-08:002007-12-13T11:51:33.669-08:00Capítulo 17 - O acidente mágico<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">No dia das bruxas, Cidade dos Elfos preparava uma grande festa. Não houve aula devido o feriado e os alunos puderam curtir o dia entre as enfeitadas lojas. Os postes de iluminação traziam grandes abóboras como lâmpadas, algumas até mesmo conversavam, pequenos arbustos que no lugar de frutos brotavam chocolate, caramelo ou balas açucaradas. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Além, é claro, dos bruxos, donos da festa, e dos elfos e fadas, moradores da cidade, outras figuras inusitadas apareceram de surpresa como, o boto-cor-de-rosa, que chegou arrancando suspiros profundos das jovens estudantes. O boto era uma criatura mágica muito popular, ele saia de dentro dos rios, onde tinha a aparência de um tipo de golfinho de água doce, para assumir a forma humana em festas, a procura de uma jovem moça com quem pudesse aproveitar a noite.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Enquanto todos se entupiam de divertimento, o Sr. Nicolas Weny nem ao menos dera a cara para a cidade. Talvez ele não gostasse de comemorações, ou estivesse se aprofundado tanto em suas pesquisas que perdera a noção de tempo e espaço.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">No entanto, Nicolas continuava com os seus encontros secretos na velha loja e Kal e os outros não conseguiam descobrir o que se passava por lá. Certa noite, Kal, Ralph e Thalis se arriscaram ir até a velha loja pessoalmente, sem ser por meio da projeção, eles determinaram que permanecer dez metros longe era uma distância segura. Mesmo usando o Captus eles não conseguiram ouvir nada, apenas o barulho noturno de uma floresta silenciada. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kal insistia em controlar suas visões, mas nunca conseguia algum resultado espontaneamente. Ele não tivera uma só visão desde o dia em que viu Nicolas matando pessoas. E isso era uma intriga na cabeça dele. Aquilo realmente fora uma visão ou algo imaginário? E se foi uma visão, quem Nicolas Weny poderia ter matado?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Pelo meio de novembro, todos começaram os preparatórios para as provas finais, naturalmente os alunos de Angus estavam bem tranqüilos em relação a isso. Alunos, que como Daimon, não dependiam de altas notas para passar. Kal, no entanto, ainda precisava se esforçar muito para conseguir nota em Relações com a Natureza. Talvez se ele acertasse oitenta por cento da prova tivesse alguma chance de passar para o próximo ano.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">O mau desempenho de Kal devia-se a combinação de não saber lidar com plantas e o fato da sua ser a pior de todas. A Herviana havia sido plantada na Cidade dos Elfos devido o seu tamanho e Kal passou a ter que assistir primeiro as aulas e depois, sozinho, praticar com ela o que “aprendera”.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Thalis estava bem tranqüilo em relação às matérias. Mesmo tendo começado o ano atrasado e por ter sofrido com a morte dos pais e a descoberta de uma vida mágica, ele parecia bem normal. Nos últimos meses, sempre depois de terminarem a lição de casa, Kal, Ralph e Thalis passaram horas conversando no dormitório tramando uma maneira inteligente de Rick perder o distintivo de Guardião-mirim, e com sorte ser expulso de Avalon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Das provas, a primeira seria de Maldições. Alguns alunos apresentaram-se na sala usando capacetes e alguns mais exagerados trouxeram também escudo, cordas e quites de sobrevivência. Todos esperavam por um teste ainda pior que o do meio do ano, mas encontraram uma simples prova escrita que não tinha mais do que quatro folhas. Talvez os métodos avaliativos de Amadeus Wosky tenham sido questionados.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">No mesmo dia, eles fizeram provas de Clerigologia e Relações com a Natureza. Kal não achou que tinha se saído bem nesta última prova porque disse que em casos de emergência deve-se atear fogo na planta, sendo o certo apenas paralisá-la.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">O segundo dia compensou-o com uma brilhante prova de Feitiços e outra de História. Kal tinha certeza de que descrevera bem como fazer o Efesto, um feitiço lançador de fogo. Além, também, de ter marcado muitos pontos dizendo que Chico Liber fora o mentor da Revolução dos Sacis no século XIX e que o duende Pukaka Bert liderou a Rebelião dos Mangues Negros do Sudeste em 1566.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">De qualquer modo, os resultados finais sairiam apenas no penúltimo dia letivo, que seria, sem dúvida, um dia de muito alvoroço. Alunos se despedindo de Cidade dos Elfos e voltando para suas casas nas mais variadas regiões do país, outros tantos choramingando e resmungando com os professores por que não terem passado de ano ou ficado de recuperação. E Kal torcia para que não estivesse entre estes. Ninguém poderia imaginar que na verdade os dias de tensão em Avalon e Cidade dos Elfos seriam bem antes disso. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Uma semana antes da grande final de Quizard entre Tadewi e Katzin, Raiam Devine recebeu uma suspensão que o proibia de jogar sua última partida.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Como isso aconteceu? – perguntou Tirso que era o treinador da equipe de Tadewi.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Eu estava na biblioteca estudando para a última prova... Acabei cochilando e quando acordei me apressei para ver se conseguia o último balão. Foi quando Rick Wosky apareceu e perguntou o que eu fazia ali tão tarde. Respondi que tinha cochilado na biblioteca e que já estava descendo, mas ele me deu suspensão de uma semana...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ele pode fazer isso? – perguntou Malvina, clériga da equipe de Tadewi.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- A suspensão estava assinada pelo professor Amadeus... – explicou Raiam.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Tinha que ser ele, amaldiçoado... – retorquiu Tirso – Não há como fazer mais nada.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Então não jogaremos professor? – perguntou Malvina.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Jogaremos. Porque ainda temos Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Desculpe, acho que não entendi professor... – interrompeu Kal um pouco confuso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Simples, Raiam não vai poder competir e você é o Desafiante reserva. – explicou Tirso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kal ficara completamente imóvel, como se estivesse sido atingido no peito por um feitiço. Ele não dera devida atenção aos treinamentos de Quizard porque era apenas um reserva. Seu titular era Raiam, um excelente aluno e muito astuto dentro do campo. Quando ele entrava na Sala das Diferenças não havia desafiante que o vencesse. Na verdade, Raiam só lutara duas vezes naquele ano. As duas vezes foram contra o desafiante de Angus. Rick Wosky, sempre, convenientemente, se perdia no labirinto estourando assim o tempo limite de dez minutos. Com o tempo esgotado a vitória ia para a outra equipe.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Muito bem, está resolvido então. Semana que vem teremos uma partida e tanto! – entusiasmou Tirso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Você contra Rick Wosky! – exclamou Thalis no dormitório.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Vai ser o jogo do ano! – disse Ralph eufórico.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Não tenho tanta certeza... – retrucou Kal – Rick se preparou o ano inteiro para esta final.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Não brinca! Rick nunca encarou um desafiante na Sala das Diferenças. Perdeu as duas partidas para Tadewi por Tempo Limite e ganhou as duas de Angus porque a equipe de Katzin sabe atacar e derrubou o desafiante deles antes mesmo de chegar à Sala das Diferenças, a equipe dele é boa. – comentou Ralph.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Este é o meu medo... – confessou Kal – Ter que passar pela equipe de Katzin com vida.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Fique tranqüilo! Nós vamos te ajudar, mesmo que falte apenas uma semana... – terminou Thalis coçando a nuca.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Naturalmente os jogadores de Quizard tiravam alguns dias de concentração antes de cada partida. O ano já havia chegado ao fim e os alunos estavam apenas terminando uns simples conteúdos e esperando os resultados finais. Algumas aulas já haviam sido encerradas, entre elas, Maldições, Biomagia e Relações com a Natureza, a qual Kalevi estava extremamente preocupado com a nota que iria alcançar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">No intervalo destas aulas, ele era ajudado por Thalis, Ralph, Guine, Daimon e Jonathan. Os cinco revisavam com ele alguns feitiços como o Escaparta, o Amstãnder e o Réplica. Jonathan, que era ótimo aluno em Clerigologia, lhe dava algumas dicas de como se curar em uma batalha. Não era muito fácil, considerando que em algumas ocasiões era impossível fazer qualquer coisa porque a boca estava imobilizada, impedindo de pronunciar qualquer feitiço.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Durante os intervalos vários alunos de Tadewi iam encorajá-lo, em geral acenavam distante, muitos ainda estavam assustados com o fato de Kal possuir o Enid de Donnovan. A verdade é que isso era uma boa vantagem, talvez Rick ficasse apavorado e permitisse que Kal vencesse. Ralph sugeriu que no meio da batalha ele usasse o Revelarbus, mesmo que não fosse derrotar Rick, iria deixá-lo atônito.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Toda aquela atmosfera de excitação se condensou na manhã do grande jogo. Um estádio com tamanho suficiente para mais de mil pessoas, número muito superior ao número de habitantes de Cidade dos Elfos. O estádio fora detalhadamente montado no centro da cidade. Algumas lojas como a Labaredas de Ferro simplesmente haviam desaparecido, era como se nunca tivessem existido.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">O estádio descrevia uma elipse com suas arquibancadas de madeira e a estrutura de pedra. No centro estava o campo, o espaço ocupado pelo labirinto, onde no meio estaria a Sala das Diferenças. Kal sabia que precisava ser rápido para chegar lá. Se entrasse primeiro e Rick não aparecesse em dez minutos Tadewi ergueria a taça de campeã.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Estava feito então, entrar e aguardar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Se ele tivesse que lutar contra Rick faria o melhor possível para não decepcionar sua equipe e os outros alunos de Tadewi, em especial, Ralph, Thalis e Guine. Kal ainda devia a vitória a Daimon e Jonathan, que como os outros alunos de Angus, estavam torcendo por Tadewi.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Somente quando ele pisou no campo ele viu como aquela partida era importante. Em quatro extremidades do estádio, a pouco mais de quinze metros, estavam os camarotes, cada um com cor diferente, laranja, azul, branco e marrom. Neste último camarote estavam o Escritor da Terra, Tirso, Cristina e Cacius que conversava com ninguém menos do que o Ministro da Defesa Mágica, Mardo e alguns outros bruxos bem vestidos. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Na outra extremidade, atrás de onde Kal estava, tinha-se o camarote azul, o qual o único conhecido era Amadeus Wosky e seu sorriso de aranha faminta.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">O garoto escaneou as arquibancadas inferiores à procura de Ralph e os outros, mas era impossível encontrá-los. Dois terços dos alunos usavam roupas azuis e laranja, as cores de Tadewi, e tinham os rostos pintados. Era como procurar um determinado musgo na Floresta Amazônica.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Os competidores entram em campo! – narrou uma voz que com certeza não era a de Tirso. Obviamente os katzenianos exigiram um juiz mais imparcial – Começou!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">A torcida soltou um “Uh!” delirante.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">O labirinto à frente de Kal era feito com pedras altas e lisas, era impossível escalá-las para se enxergar mais à frente. Levitar certamente era um grande risco. Quando se está a cinco metros de altura qualquer um torna-se alvo fácil.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Venham! – chamou Malvina à equipe.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Ela havia se tornado a capitão com a saída de Raiam, que infelizmente nunca mais iria jogar por Tadewi. Ele estava em seu último ano em Avalon e aquela final seria sua partida de despedida do Quizard. Mas Rick Wosky estragara tudo e agora, após fazer uma brilhante campanha nos últimos quatro anos, ele assistia a grande final de sua vida na arquibancada, ao lado dos outros alunos. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Todos seguiram Malvina, sorrateiros. O silêncio era fundamental para não denunciar a posição ao inimigo. Os seis alunos haviam feito um cerco ao redor de Kal para protegê-lo. Todos estavam bem dispostos a se sacrificar para que ele entrasse na Sala das Diferenças.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Kalevi é importante, nós não. – havia dito a capitã minutos antes de entrarem em campo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Eles estavam andando rápido e já se aproximavam da Sala das Diferenças, felizmente não haviam encontrado ninguém da equipe adversária. Estavam bem despreocupados, quando um desafiante entra na sala, um marcador automático surge de forma que possa ser visto de qualquer lugar do campo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Já havia se passado vinte minutos desde que a partida começara. Até então não tiveram qualquer sinal de Katzin.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Das arquibancadas se tinha uma visão privilegiada. Os espectadores podiam acompanhar o movimento das duas equipes. Para evitar que alguém passasse informações para dentro do campo, este era magicamente encantado com um filtro de palavras para coibir qualquer fraude.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kalevi calculou que estavam a uma distância de centro e cinqüenta metros da Sala das Diferenças. Estavam entrando em uma área de risco. A qualquer momento eles poderiam deparar-se com os katzenianos. Era hora do grupo se separar. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Quatro alunos seguiram por uma direção diferente, eles procurariam e atacariam Rick, esta era a estratégia. Enquanto isso Kal seria escoltado até a sala por Malvina e por um armador, Gregori Clark.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Assim eles seguiram, lenta e pacientemente, passos vagarosos não chamavam atenção.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Um pouco mais a frente havia um arco com a passagem para uma ante-sala. No momento <st1:personname productid="em que Kal" st="on">em que Kal</st1:PersonName>, Malvina e o armador atravessaram o arco, a torcida entrou em frenesi e gritou bem alto. Os tímpanos de Kal pareciam querer estourar, mas então ele olhou para um lado e viu o motivo do estardalhaço.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Três garotos de Katzin estavam na mesma ante-sala observando-os, então um gritou:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Derrubem o Foster!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Em um reflexo extremo Kal berrou:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- <i style="">Pelínculo!</i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">O feixe de luz explodiu na frente dos três garotos tirando a visão deles de foco.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kal conseguira pensar naquilo primeiro que Malvina e Gregori porque fora alertado pelo seu instinto de sobrevivência. Em uma mínima fração de segundos seu cérebro processara que estava correndo perigo, gerou uma resposta imediata ao ataque e seus músculos agiram prontamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Bom trabalho! – elogiou Malvina.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Gregori e a clériga agarraram Kal pelo braço e correram os últimos vinte metros juntos até um abismo que separava a Sala das Diferenças.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- <i style="">Escaparta!</i> – os três garotos da equipe adversária já estavam de pé atacando.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kal olhou para trás, achou que o Pelínculo não funcionaria novamente. Parou por uns instantes e avaliou suas opções, não eram muitas. Tentar um salto de sete metros sobre o abismo ou encarar os três rivais.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- <i style="">Amstãnder!</i> – exclamou Gregori acertando um dos inimigos que acabou tropeçando e derrubou os outros dois.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- <i style="">Escaparta!</i> – o feitiço vinha de outra direção de encontro com Kal, mas Malvina posicionou-se entre os dois e desmaiou em seguida.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">A ante-sala agora estava tomada por alunos de Katzin. Estavam todos os sete ali. Eram sete contra apenas Gregori e Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Uma explosão ocorreu atrás dos katzenianos e os quatros outros alunos de Tadewi haviam surgido. Eles destruíram a parede do labirinto e os estilhaços derrubaram alguns rivais, contudo, Rick estava muito bem protegido por um escudo mágico conjurado por um garoto baixo e gorducho.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Gregori partiu para cima dos outros pronunciando mais feitiços do que sua boca conseguia suportar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- <i style="">Linglesingle</i>, <i style="">Escaparta</i>, <i style="">Amstãnder</i>, <i style="">Réplica</i>...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Ele havia nocauteado três de Katzin, no entanto um garoto bem alto e ossudo disparou um feitiço contra Gregori que o acertou bem no peito e dividiu-se em pedaços menores acertando os outros competidores de Tadewi.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Gregori voou bem uns três metros e ficou imóvel, assim como os outros. O caminho estava livre para que os katzenianos pudessem render Kal e se proclamassem campeões. Entre eles estavam os corpos caídos de seus companheiros de equipe e atrás um abismo que não lhe dava escolha. Ele estava sem opções. O que estava para fazer era quase suicídio. Encarar toda a equipe sozinho.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kal empunhou a varinha decidido, mas ouviu um ruído. Era Gregori, jogando sua última carta. Um verdadeiro Ás.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- <i style="">Cefalotúrgia!</i> – diferente do que todos pensavam, o feitiço veio em direção a Kal, por um breve momento ele pensou em desviar, mas pensou melhor. <i style="">Talvez seja isso mesmo</i>.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">O feitiço acertou o rosto do garoto provocando-lhe um formigamento incômodo. Sua respiração falhou, mas ele não conseguia abrir a boca. Os lábios estavam colados. Ele sentiu seu crânio inflar. Seus pés estavam largando o chão, ele tateava mas era irreversível. Sua cabeça enchera tanto quanto um balão e ele estava flutuando.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">A platéia aplaudiu de pé muito surpresa. Os katzenianos ficaram sem reação. Kal estava cada vez mais alto e olhou para baixo, viu Malvina caída. Sentiu que seus lábios podiam se abrir e então disse.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- <i style="">Corparo!</i> - o feitiço de cura que Jonathan o havia ensinado fora bem útil. Malvina estava de pé novamente e rapidamente curara os outros. No entanto, assim que terminou o feitiço seus lábios não conseguiram se fechar e um forte sopro fugia pela sua boca.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kal parecia ter se tornado uma bexiga de festa de aniversário. Seu corpo estava sacolejando no ar devido a pressão que saia de si. Aos poucos ele sentiu que sua cabeça estava voltando ao tamanho normal e estava sobrevoando a Sala das Diferenças. Kal aterrissou no chão de terra levantando um pouco de poeira. Estava deitado olhando para o céu quando o marcador automático começou a contar os dez minutos de espera. Ele havia conseguido. Estava na Sala das Diferenças.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">A platéia continuava a aplaudir de pé. Tirso vibrava no camarote ao lado do Escritor da Terra. Até mesmo Cacius lhe sorria simpaticamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Agora é só aguardar, pensou Kal. Ele contou cada segundo no marcador de número roxo. Kal cansara de observar a sala, que não passava de um lugar esférico, com terra e algumas rochas mal dispostas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Pelo barulho que o público fazia, as coisas pareciam estar esquentando do lado de fora. A equipe de Katzin tinha mais quatro minutos para mandar Rick, o que Kal torcia para não acontecer. Não que ele tivesse medo do oponente, muito pelo contrário, estava esperando pela chance de bater nele há muito tempo, mas não queria que fosse em frente a mais de mil pessoas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Três minutos. Esperar ali era muito angustiante. Kal não tinha se quer noção do que se passava lá fora. Tinha em mente que no próximo ano ele seria o Desafiante titular, já que Raiam estava se despedindo de Avalon. Kal teria que se acostumar com a Sala das Diferenças. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Dois minutos. Um pensamento rápido lhe veio à cabeça. Rick Wosky havia dado a suspensão a Raiam propositalmente, na certa esperou por uma boa oportunidade e aplicou o castigo. Rick sabia que não teria a menor chance contra ele. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Um minuto. Kal estava odiando ainda mais Rick.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Para seu espanto, alegria e descontentamento, Rick Wosky pairava a alguns metros do chão atravessando a parede da sala e aterrissando a uns vinte metros de Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Ele havia chegado do mesmo modo que Kalevi, com a cabeça na forma de um balão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Que original, Wosky. – debochou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Contente por me ver, Foster? – cuspiu no chão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- É claro que estou. <i style="">Escaparta!</i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Pelas barbas de Merlin! – exclamou o locutor – Estes desafiantes não estão brincando!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Nem um pouco. – concordou Rick esquivando-se do ataque de Kal e lançando o seu próprio – <i style="">Linglesingle!</i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">O feitiço acertou o peito do garoto, mas pareceu não surtir efeito. Apenas pareceu...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- <i style="">Escapaaartaaa!</i> – disse Kal em um forte sotaque de cantor de ópera.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Inacreditável! – narrou a voz – Rick Wosky acertou uma maldição que transformou a voz de Kalevi! Tudo que ele disser sairá como música.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- O que estáááa acooonteceeendoooo? – questionou, mas não tinha tempo para isso. Rick Wosky estava atacando rapidamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kal estava relembrando dos feitiços de cura que Jonathan havia lhe ensinado, mas era impossível realizá-los cantando. Primeiro teria que se livrar da maldição. Mas como?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Qual o problema Kalevi? O gato comeu sua língua? – debochou Wosky enquanto conjurava vários feitiços.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Parece que Kalevi Foster está levando uma surra de Wosky! Será que Katzin será a campeã?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style="">Jamais</i>. Pensou Kal. Em hipótese alguma ele permitiria que Wosky levasse a vitória. Se fosse preciso derrubaria-o no braço. Sim, talvez aquela fosse a única saída...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Como é, Foster? Não vai me atacar? – gargalhou Wosky.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Parece que Rick está usando a velha tática da provocação! – exclamou a voz – Se Kalevi resolver largar a varinha e usar os punhos será desclassificado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Maldiiiiitoooo! – praguejou Kal – Tentaaaandooooo me enganaaaaar...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- <i style="">Escaparta!</i> <i style="">Amstãnder!</i> – Rick continuava com os seus sucessivos ataques e Kal, ainda amaldiçoado pelo Linglesingle não podia se quer defender-se.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Braços. Pernas. Queixo. Costelas. Ombro. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Wosky atacava por todas as direções. Já sem forças, Kalevi caiu no chão. O suor pingava de sua testa, estava exausto. Não era o que ele tinha em mente, ser açoitado por Rick. Em seus pensamentos ele erguia a varinha e acertava Wosky no peito e vencer a partida. Parece que agora estavam quites. No começo do ano, Kal o vencera em um rápido duelo. Naquela ocasião Rick havia derrubado-o, mas ainda assim ele o venceu. <i style="">Por que seria diferente agora?</i> Pensou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Vamos Foster, desista! – berrou Rick – <i style="">Dunkel!</i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">A maldição acertou-o <st1:personname productid="em cheio. Os" st="on">em cheio. Os</st1:PersonName> ossos de Kal estavam se revirando, seus órgãos também pareciam mudar de posição. Era terrível a dor. Kal sentiu seus dedos dos pés serem sugados para dentro do corpo e brotarem em sua testa. A maldição estava sugando os poderes de Rick. Aparentemente, não era tão simples realizá-la <st1:personname productid="em humanos. Wosky" st="on">em humanos. Wosky</st1:PersonName> estava suando. Cortou o feitiço e Kal voltou ao normal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- <i style="">Escaparta!</i> – berrou Rick recuperando suas forças – Você é bem resistente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kal estava se levantando aos poucos. Quando ergueu o rosto exibiu seu sorriso. Sem perceber Rick havia retirado a maldição <i style="">Linglesingle</i>. Pelos princípios das maldições que Amadeus ensinara em sua primeira aula, um corpo não pode receber duas maldições ao mesmo tempo, sendo que a segunda anula a primeira. Dunkel havia sido a segunda maldição, que retirou o efeito do Linglesingle. Felizmente, Rick não se lembrara disto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Porque está rindo? É masoquista? – bufou Rick.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kal não ligaria para as provocações do rival. Tinha uma boa oportunidade e não iria desperdiçá-la. Ele não estaria preparado para se defender, era agora ou nunca.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Meio que sem jeito, Kal ergueu-se por completo. Tremulamente apontou a varinha para Wosky e berrou a plenos pulmões:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- <i style="">Sedructos!</i> – uma forte luz negra esverdeada escapuliu da varinha de Kal avançando para Wosky que estava apavorado. Cinco metros antes de acertá-lo a luz transformou-se em chamas negras acinzentadas que engoliram o garoto por completo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Após o efeito, Rick Wosky ficou pálido, como se todo o seu sangue subitamente tivesse evaporado. Os olhos dele vagavam no vazio. Em um baque o corpo caíra no chão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Mais do que imediatamente seis bruxos esfumaçaram dentro do campo. Amadeus, Cristina, Escritor da Terra e outros dois bruxos vestidos de branco cercaram Rick combinando feitiços para reanimá-lo. O sexto bruxo, Tirso, foi até Kal com uma expressão furiosa na face.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Acompanhe-me. <i style="">Agora! </i>– disse rispidamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Tirso era o professor favorito de Kal. Ele sempre ouvia seus problemas e indiretamente o ajudava. Tirso raramente se aborrecia, na verdade, Kal só o vira naquele estado por uma vez, quando conjurara Donnovan em sua sala de aula.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Professor, o que aconteceu? – perguntou Kal, mas logo desejou que não tivesse dito nada.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Não seja irônico comigo, Foster! Você sabia muito bem o que estava fazendo. – retorquiu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Naquele momento Tirso parecia muito mais com Amadeus.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Os dois saíram do campo em silêncio e seguiram até o vestiário. O professor abriu a porta com a varinha a uns cinco metros de distância. Entraram. O lugar estava vazio, não tinha qualquer outra saída. O que Tirso iria dizer a Kal?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Professor? – chamou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Ele não respondeu. Dirigiu-se para um armário com a varinha erguida e começou a sussurrar encantamentos. Então ordenou que Kal entrasse.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- É um armário...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Entra já! – resmungou seriamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kal puxou a maçaneta e entrou, mas logo percebeu que não estava em um armário, e sim no corredor do quinto andar do castelo. Tirso parecia ter criado um portal que ligasse o armário na Cidade dos Elfos até Avalon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">O professor bateu com a porta e ela desapareceu na parede.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Trambolho! – disse à estátua do dragão que logo abriu as asas, permitindo que Kal e Tirso entrasse na sala do diretor – Prof. Cacius, trouxe Foster.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- E como está o jovem Wosky? – perguntou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ainda não sei, professor. No momento em que saímos estava sendo reanimado. – informou Tirso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Muito obrigado professor Tirso. Agora, creio que Kalevi e eu precisamos conversar. Novamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Sim, senhor. – disse Tirso e saiu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Professor! O que aconteceu? – perguntou Kal – Porque todos estavam nervosos?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Lamento por você ser tão ingênuo, Kalevi. – desabafou Cacius – O que aconteceu hoje poderá desencadear uma sucessão de fatos que vão marcar toda a sua vida.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- O que está acontecendo? – perguntou quase que implorando.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Não acredito que eles vão te acusar de assassinato. No entanto você deve estar preparado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- <i style="">Assassinato?</i> – indagou o garoto demasiadamente assustado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- O feitiço que você lançou em Wosky é o mais mortal de todos, ao que se sabe. – Cacius enfatizou bem as últimas palavras – Nem mesmo Kricolas tem coragem para usá-lo. Sabe por quê? Porque é um feitiço catastrófico.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Professor eu não entendo...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Deveria. Você já sabia qual era o efeito. – afirmou Cacius decidido – Você o aprendeu e quis usá-lo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Eu não... Professor...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Não tente me enganar novamente. Sempre soube que você havia visto o jovem Satler morrer. – falou Cacius perdendo o seu ar de serenidade.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Morrer? – questionou atônito.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Sim, morrer. Você o viu no dia em que ganhou o teste para Desafiante reserva. Você me disse que viu dois bruxos lutando e que um venceu o outro. Satler foi assassinado naquele dia, numa situação semelhante a que ocorreu hoje.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Eu matei Rick Wosky? – perguntou Kal em choque.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Cacius fechou os olhos por um momento e explicou:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Sedructos é a maldição da morte. Quem a usa vencerá o seu inimigo assassinando-o, mas será eternamente perseguido pela sua vítima, e o efeito da maldição que o acompanha</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Quer dizer que Satler persegue quem o matou até hoje?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Sim. – respondeu o diretor – Amadeus Wosky está condenado a ser eternamente perseguido.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">A notícia chegou a Kal como uma pedra de gelo no estômago. As pernas fraquejaram e ele sentou-se em uma cadeira atemorizado. Colocando a cabeça entre as mãos olhou para Cacius em busca de mais respostas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Amadeus... Amadeus Wosky assassinou este tal de Satler?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Cacius assentiu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Satler era o irmão de Tirso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Esta outra revelação fora ainda pior. Agora Kal entendia porque Tirso chamava Amadeus de amaldiçoado. Porque ele realmente era. Eternamente amaldiçoado pelo espírito de Satler. Amadeus usara o Sedructos na Sala das Diferenças contra o desafiante rival. Agora Kal repetia a história...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Sim, Kalevi. A história sempre se repete... – falou Cacius como se lesse os pensamentos dele – Por isso é tão importante estudá-la, compreendê-la, para não repetirmos os mesmos erros. E você tem o dom de alcançar o passado como se fosse o presente, se o tem e o usa precisa de responsabilidade.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Cacius estava sendo levemente severo, na opinião de Kal. As palavras eram duras, mas o diretor recompusera o ar sereno e uma expressão misericordiosa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Entendendo a gravidade do problema, Kal ergueu seus olhos afogados em lágrimas presas na direção dos de Cacius e perguntou:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- O que vai acontecer comigo, professor?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- O mesmo que aconteceu ao professor Amadeus. – Kal engoliu em seco esperando a continuação – Receberá a maldição que lançou e nada mais. Não mandam garotos de treze anos para Warren. Não por usarem Sedructos. A maldição que vai lhe cair é o pior castigo que uma pessoa pode receber.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Professor... – suplicou – Eu não queria... Juro...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Acredito em você, Kal. – Cacius colocou a mão no ombro dele – Mas cometeu um erro tremendo. Foi ingenuidade, sim, foi, mas ainda assim será penalizado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Não há como trazê-lo de volta? – perguntou em última esperança.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Não. – respondeu rapidamente – Nenhuma mágica no mundo é capaz de vencer a morte ou criar a vida. Manipular esta benção está muito além dos poderes de um bruxo. É muito superior, algo que não pertence a nós, mortais...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kal choramingou, mas percebeu que aquela não era a hora. Precisava ser forte, já que passaria o resto dos seus dias sendo atormentado por Rick Wosky.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Do lado de fora da sala de Cacius, no corredor do quinto andar, Ralph, Guinevere e Thalis o aguardavam ansiosos. Thalis e Ralph que ainda estavam com os rostos pintados, estampavam largos sorrisos. Kal olhou para a figura dos três e pensou. “<i style="">Tão ingênuos quanto eu...”.</i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Você ganhou Kal! – exclamou Thalis – Você venceu Rick! Tadewi é campeã!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- A que preço... – resmungou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Este, definitivamente, não é o comportamento típico de um campeão. – falou Ralph animado – Vamos comemorar! Estão todos indo para Tadewi comemorar nossa vitória.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Fica quieto, Ralph. – disse abruptamente Guinevere percebendo o olhar vago de Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Mas o que...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ralph! Fica quieto. – repreendeu outra vez – O que Cacius lhe disse?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Que eu matei Rick Wosky. – respondeu e imediatamente Guinevere levou uma das mãos à boca.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Não pode ser... Aquele feitiço que você... – gaguejou Ralph.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Sim. Foi a maldição da morte.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Maldição da morte? – indagou Thalis.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Quem o usa mata o inimigo, mas será atormentado pelo espírito da sua vítima. – explicou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Quer dizer... Quer dizer que Wosky...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Isso mesmo Guinevere. Ele vai me perseguir por toda a vida.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Porque o professor Amadeus não nos advertiu logo sobre esta maldição? – questionou Thalis.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Para que ele tenha com quem compartilhar da mesma dor. – respondeu Kal rispidamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- O quê? – espantou-se Guinevere.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Amadeus Wosky também usou o Sedructos uma vez. – explicou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Contra quem? – quis saber Thalis.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Um garoto chamado Satler. Irmão do professor Tirso.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Outra vez Guinevere levara a mão à boca.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- E agora eu também estou fadado à maldição.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Meio segundo após Kal fechar os lábios, Daimon e Jonathan surgiram no final do corredor e se aproximaram deles dando longos passos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Kal! Kal! – gritava Daimon sacudindo os braços – Rick, Rick Wosky... Morto...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Eu sei... Não precisava me lembrar que sou um assassino...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Cristina, Amadeus, Escritor da Terra e os clérigos que estavam no campo reanimaram ele. – completou Jonathan vendo que Daimon não conseguira dar a notícia por completo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- O que? Rick não morreu então? – perguntou Ralph.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Rick Wosky está vivo? – insistiu Kal segurando Daimon pelo ombro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Sim, sim, está... Os clérigos disseram que você não é forte o suficiente para lançar um Sedructos mortal. – informou Jonathan – Mesmo tendo o Enid de Donnovan você não tem os poderes desenvolvidos, porque ainda é jovem, inexperiente...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Sem detalhes Jonathan. – interrompeu Kal sentindo como se tivesse arrancado uma montanha das próprias costas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Viemos dizer outra coisa a vocês. – prosseguiu Daimon e Kal assentiu para que continuasse – Logo depois de todo o alvoroço com Rick e dos alunos de Tadewi saírem comemorando a vitória, eu e Jonathan vimos Nicolas Weny correndo para o pomar de maçãs acompanhado de uma pessoa, os dois estavam encapuzados, mas ainda assim o vimos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Como? – espantou-se Kal – O que ele quer fazer lá agora?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Acho que tem alguma coisa a ver com a Página perdida. Ele estava com ela em mãos e mostrou para a pessoa do lado dele. Não tenho a menor idéia de quem possa ser, mas meu palpite me diz que devemos fazer alguma coisa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Confio no seu palpite, Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Obrigado, mas o caso é que ele não está agindo da maneira normal que um historiador deveria agir. Ele veio para cá para responder alguns mistérios sobre o Livro de Merlin, encontrou uma resposta e agora não quer contar para ninguém. Não confio mais nele.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Preciso ver esta página. – falou Kal decidido.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Para quê? – pergunto Thalis.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Preciso descobrir o que há nela.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Kal, ele é perito! – continuou Thalis.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ele pode ser perito, mas não pode ver o passado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Hã? – Guinevere deu de ombros.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Por que Merlin rasgaria o próprio livro? – indagou Kal já andando pelo corredor.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- No que você está pensando? – perguntou Ralph.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Porque ela é perigosa! Cacius deve ter razão quando disse que nela não há algo de bom. Nicolas pode tornar-se perigoso se conseguir entender o significado da Página perdida.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Faz completo sentido! – disse Thalis.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ok. Ok. Tudo bem, nós vamos com você, Kal. – falou Guinevere. Ralph, Jonathan, Thalis e Daimon balançaram a cabeça positivamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">A Cidade dos Elfos estava de pernas para o ar. Pessoas corriam agitadas arrastando bagagens para todos os lados. Alguns alunos de Tadewi ainda davam gritos de campeões. Infelizmente, Kal perdera toda a comemoração em Tadewi, nem ao menos vira Malvina erguer a taça no meio do campo, ele nem chegara a ver a taça.<span style=""> </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- A maioria dos alunos está indo hoje. Nem vão esperar pelos resultados finais. São os que têm certeza de ter passado. – falou Jonathan – Meus pais só chegam amanhã, se não iria também.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Espero podermos ir para casa amanhã também, Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ok, Daimon, agora precisamos encontrar Weny.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Direto para o pomar. – disse Thalis.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Avançando entre a multidão o mais rápido que podiam, Kal, Ralph, Guine, Thalis, Daimon e Jonathan seguiram até o suposto lugar <st1:personname productid="em que Weny" st="on">em que Weny</st1:PersonName> estaria. Frente a frente com o bruxo Kal contaria a ele sobre os seu dom e em seguida pediria para olhar a Página perdida. Tentaria ver o passado do objeto e assim, julgaria se era certo confiá-la a Nicolas Weny. Desde o momento em que o bruxo pisara na cidade, Kal manteve um certo receio, o que foi reforçado com o pedido de Cacius para vigiá-lo. Ele devia muito a Cacius e agora saudaria a dívida.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Os seis continuaram a correr e empurrar quem quer que estivesse no caminho. Kal viu de longe Rick em uma cadeira de rodas, estava pálido e magro. Pensou em ir falar com ele, mas a hora era imprópria.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ele não teve pena de você dentro do campo. – falou Ralph percebendo que Kal diminuíra o ritmo – Agora temos algo mais importante a fazer.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Tudo bem. – confirmou Kal apressando-se.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Eles já podiam sentir o cheiro das flores vindo do pomar. Ele estava a poucos metros. As folhagens surgiam e ficavam mais próximas. Lá estava. O pomar de maçãs no meio da floresta amazônica, com suas árvores carregadas de frutos vermelhos. Exceto uma. A árvore central e mais antiga de todos. A árvore que estava pintada na sala de Cacius, com Merlin sob sua sombra.<span style=""> </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Thalis foi o primeiro a entrar no pomar, logo em seguida entrou Kal acompanhado pelos outros. Eles se esconderam por trás de um arbusto. A alguns metros dali estava Nicolas Weny sondando o lugar como se procurasse por algo. O bruxo parecia ser o mesmo de sempre, no entanto a pele estava levemente enrugada e não usava a tradicional gola de rufos. A pessoa que Daimon e Jonathan viram acompanhando o bruxo não estava ali.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Olhem aquilo! – disse Kal apontando para o pescoço de Weny.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- É a... – gaguejou Jonathan.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Flor-de-Lis! – exclamou Ralph – Ele era de Warren, prisioneiro!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Nicolas Weny averiguou se o pomar estava vazio, mas não percebeu que seis alunos do primeiro ano estavam logo atrás dele. O bruxo começou a remexer e a sacudir o corpo de um lado para o outro. Kal achou tudo aquilo muito familiar, mas preferiu ficar observando o que estava acontecendo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Transformação! – cochichou Daimon – Ele está se transformando...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Alguns segundos depois a criatura transformada virou-se na direção dos seis e soltou um forte grunhido de liberdade. No rosto do ser transformado estava impressa a imagem do bruxo mais procurado do país, Kricolas. Era a mesma face monstruosa que Kal, Ralph e Guinevere viram na carta enviada pelos pais de Ralph no começo do ano.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Pelas barbas de Merlin! – O Sr. Weny é Kricolas! – espantou-se Daimon deixando-se cair no chão.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Devemos avisar Cacius... – gaguejou Jonathan ainda incrédulo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Faça isso! – confirmou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Então vamos! – disse Guinevere.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Eu não vou. – disseram Kal, Ralph e Thalis juntos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Jonathan, vá e avise Cacius e a quem mais você vir, vou ficar também. – anunciou Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Eu também fico então. – disse Guinevere logo em seguida.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Jonathan acenou com a cabeça e saiu apressado por entre as árvores. Kricolas estava em frente ao pé de maçã mais antigo do pomar, tocou o seu envelhecido tronco e suspirou profundamente com o se experimentasse o cheiro doce de uma flor. Ergueu um dos braços e alcançou o único fruto da árvore.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- O que ele está fazendo? – perguntou Thalis mesmo sabendo que ninguém o daria uma resposta.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Calmamente Kricolas mordeu a maçã e pareceu saboreá-la de forma inestimável. Depois de devorar todo o seu policarpo, a parte maciça e branca da maçã, Kricolas separou as sementes e admirou-as por um instante. Mexeu os lábios e as sementes voaram de suas mãos nodosas carregadas pelo ar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kal olhou para aquela imagem sem entender, mas para Kricolas parecia fazer sentido. Ele se aproximou de onde as sementes haviam caído na terra. Sorrindo ergueu o dedo indicador esquerdo e mais uma vez mexeu os lábios.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Uma densa nuvem surgiu a sua frente produzindo uma leve chuva. A água irrigou as sementes quebrando sua dormência. As raízes foram sugadas para o fundo da terra e as sementes brotaram imediatamente erguendo um pequeno e fino caule que rapidamente foi aumentando de tamanho e espessura, criou casca e ficar da grossura de um pescoço humano.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">As primeiras folhas caíram rapidamente e em seguida flores de cinco pétalas foram brotando e em menos de cinco segundos estavam transformando-se <st1:personname productid="em frutos. Mas" st="on">em frutos. Mas</st1:PersonName> não surgiram maçãs. Surgiram folhas de pergaminho.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Deve ser o Livro de Merlin! – falou Kal desesperado – Não vou deixar Kricolas pegar aquele livro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kal levantou-se decidido. Iria queimar a árvore e impedir que Kricolas colhesse as páginas do livro mais poderoso do mundo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Ele abandonou o esconderijo e Kricolas o encarou com um olhar de desprezo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- <i style="">Efesto!</i> – disse Kal com a varinha apontada para a árvore que foi atingida pelas chamas e entrou em combustão – O Livro de Merlin jamais será seu, Kricolas!</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">A pequena macieira estava reduzida a um punhado de cinzas, no entanto, diferente do que se esperava, Kricolas mantinha uma aparência tranqüila e disse, finalmente:</p> <span style="font-size: 12pt; font-family: "Times New Roman";">- Fogo. O elemento que faltava!<span style=""> </span></span>André Fantinhttp://www.blogger.com/profile/07818980780167800572noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5429287600558187973.post-39007607235990200372007-12-09T16:46:00.000-08:002007-12-09T16:47:15.595-08:00Capítulo 16 - A Página perdida<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Rick Wosky sentia-se poderoso. Passou a ser seu hábito chegar atrasado nas aulas e desculpar-se dizendo que estava “prestando serviços à escola”. Uma vez por semana Kal era obrigado a passar duas horas na sala de Amadeus Wosky catalogando livros velhos e passando a limpo folhas de pergaminho tão empoeirados que as traças já haviam abandonado-as.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Nos fins de semana, quando não estava na detenção, Kal, Daimon, Jonathan, Ralph, Guine e Thalis ocupavam uma das poucas mesas vazias da Suor de Sapo e ali perdiam horas <st1:personname productid="em conversas. Em" st="on">em conversas. Em</st1:PersonName> geral, Daimon ou Jonathan levava algum livro e abria num capítulo aleatório e eles começavam suas conversas do assunto que o capítulo tratava. Era uma maneira que os dois desenvolveram para não se sentirem culpados por não estarem estudando.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Em matéria de estudo, quem certamente ganharia o prêmio por esforço era Nicolas Weny. O bruxo passava o dia inteiro andando pela orla da floresta e no pomar de maçã. Que apesar do clima não muito propício, desenvolviam-se muito bem.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">No começo de outubro, os habitantes de Cidade dos Elfos começaram a sentir-se incomodados com a presença do ilustre visitante. Vários repórteres internacionais começavam a aparecer na cidade e lotavam os espaços livres com seus refletores de luz e a todo o momento tiravam fotos dos habitantes. O Folha Mágica, principal jornal da comunidade bruxa brasileira, lançou uma matéria de capa que revoltou todos os habitantes da cidade.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style="">Eles aplaudem, mas não sabem o quê<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style=""><o:p> </o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style="">No fim do primeiro semestre deste ano, o Brasil, mais especificamente no pequeno e antigo vilarejo conhecido como Cidade dos Elfos, recebeu a ilustre presença do mundialmente famoso historiador, Nicolas Weny. Nicolas que nasceu no estado de Goiás, teve sua educação ministrada pelo seu já falecido tio avô, Ricardo Silvano, que teve como trabalho mais notável a criação do sobrinho neto. <o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style="">Nicolas acumula prêmios por onde passa com suas descobertas, a primeira de sua carreira foi a de uma câmara subterrânea em território indiano. Atualmente, Nicolas está em sua missão mais ambiciosa. Encontrar o livro perdido do grande mago Merlin. O livro, ao que se sabe, foi escrito pelo mago para reunir os maiores feitiços do mundo. De forma que eles não se perdessem no tempo devido sua alta complexidade.<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style="">O historiador negou-se a dar entrevista antes de obter qualquer resultado. No entanto, os habitantes de Cidade dos Elfos mostraram-se solidários com nossa equipe de reportagem dando detalhes minuciosos de uma pesquisa que ainda não mostrou nada. “Eu tenho certeza de ter visto o senhor Nicolas desenterrar um livro de capa verde atrás do meu estabelecimento. Acredito que com o livro em mãos, ele vai revolucionar o ensino de magia no mundo”, disse Ligio Robert, dono do bar local Suor de Sapo. “Ele sempre anda de um lado para o outro da cidade, parece estar um pouco perdido em sua pesquisa, na minha opinião. Mesmo assim acredito que ele alcançará seu objetivo”, disse uma cidadã Elfa que não quis se identificar. <o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style="">Também entrevistamos ninguém menos que o todo poderoso diretor da Escola de Magia e Feitiçaria de Avalon, Cacius Henrique, que se pronunciou dizendo que Nicolas Weny parece estar querendo ganhar tempo enquanto não se localiza em sua pesquisa. “Encontrar um livro que ninguém de fato sabe se existe é realmente uma tarefa que exige muita da confiança de uma pessoa, por mais habilidosa que ela seja. O que realmente todos gostariam de saber é o motivo pelo qual Nicolas quer encontrar o livro”, frisou. Uma cidadã, que também não quis se identificar, disse que o propósito de Nicolas estar procurando pelo Livro de Merlin é simples, “O livro é poderoso, e ele quer ter este poder. O que mais seria?”. Esta última afirmação lança ao ar uma incógnita. Os habitantes de Cidade dos Elfos realmente sabem o que está acontecendo em seu próprio território?<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style="">O fato é que o vilarejo tornou-se foco da mídia internacional e como o principal alvo dos tablóides não se pronuncia, temos que recorrer a nem sempre confiável voz do povo. Esta gente que faz de tudo para aparecer fornece informações que não são de confiança legítima. Pois eles tiram suas próprias conclusões apenas observando o árduo trabalho do nosso historiador. Nicolas Weny reserva-se ao seu direito de não divulgar seus resultados, por enquanto, mas ao menos deveria manifestar-se para coibir esta gente oportunista que aplaude de pé um resultado inventado por boatos e especulações da própria população.<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style=""><o:p> </o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Nicolas Weny, como disse a reportagem do jornal, não se manifestou, nem mesmo quando os habitantes de Cidade dos Elfos começaram a vê-lo com olhos tortos. Ele nem ao menos parecia perceber que as pessoas estavam ali, olhando para ele enquanto gesticulava no ar com as mãos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">O segundo semestre em Avalon estava ficando cada vez mais difícil para os alunos do primeiro ano. Nas aulas de Relações com a Natureza, Kal tinha chegado ao seu maior grau de dificuldade. Sua Herviana crescera a tal ponto que fora impossível colocá-la em um vaso. A professora Margarida disse-lhe que deveria plantar sua Herviana na Cidade dos Elfos e praticar com ela os exercícios da aula em uma outra hora.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kal, Thalis e Ralph arrastaram o vaso, que já estava completamente trincado, por todo o jardim de Avalon e o desceu em um dos balões até Cidade dos Elfos, levando-o em seguida para o pomar de maçã, um lugar que certamente Kal poderia fazer os exercícios que a professora mandasse sem ser interrompido. Depois de aberto um buraco de três metros no chão, os três empurraram a planta com vaso e tudo e a soterraram. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Os exercícios de Biomagia também tiveram que passar a ser feitos fora do horário de aula. Kal deu graças por ter sido expulso do Conselho Estudantil, pois se ainda exercesse a função de Guardião-mirim, certamente não teria tempo de fazer todas a suas atividades.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Ele ainda tinha algumas horas de treino de Quizard a cada quinze dias. Em geral, Tirso revisava com os jogadores os nomes de alguns feitiços e eles faziam duplas para duelar. Kal juntava-se à Malvina, uma clériga do grupo. Não era difícil para Kal acertá-la, mas ela sempre dava um jeito de se curar e contra atacava Kal. Isso não era uma grande preocupação para o grupo, afinal, eles tinham <span style="line-height: 200%;">Raiam Devine, o quintanista e capitão do grupo. Raiam era um bruxo incrível, conhecia a maioria dos feitiços de defesa e ataque que Tirso ensinara, defendia-se dentro do campo e dava um show à parte na Sala das Diferenças. Lutara duas vezes contra o desafiante de Angus, e vencera facilmente. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">Tadewi derrotou a equipe de Katzin por tempo limite nas duas partidas que as equipes se encontraram, ou seja, Raiam chegou à Sala das Diferenças e esperou por dez minutos que o outro desafiante chegasse. Como isso não aconteceu, Tadewi consagrou-se campeã da primeira fase, que consistia em dois jogos contra cada equipe. Na segunda fase, as duas equipes classificadas confrontavam-se em um único duelo. E este estava marcado para o final do ano letivo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">Kal, Ralph, Thalis e Guinevere continuavam a perseguição Nicolas, principalmente após a declaração de Cacius no Folha Mágica, o diretor demonstrara um certo receio quanto as intenções de Nicolas quanto ao livro, e isso os intrigava ainda mais. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">Durante o dia, eles faziam pequenas vigilâncias nos momentos de folga observando para onde ele ia ou o que estava estudando. Nicolas parecia ter desenvolvido a teoria de que Merlin talvez tivesse enterrado o livro sobre algum ponto importante da cidade. Ele passou um bocado de tempo na Livros & Boatos olhando plantas de antigas construções, Kal pensou que talvez este seja o motivo para suas reuniões na velha loja próxima a orla da floresta, afinal, a loja faz parte do passado da cidade.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">Os três apenas não entendiam o porquê do senhor Weny querer manter-se afastado dos portões de Avalon. Desde que chegara ele não havia se quer insinuado subir na nuvem do castelo. Talvez ele não quisesse uma intervenção de Cacius, afinal, ao que se sabe, o diretor lhe fez diversos convites de visita e deixou o acervo da riquíssima biblioteca de Avalon a disposição do historiador, mas nem mesmo os livros de Cacius eram um atrativo para a celebridade.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">Às noites, os garotos revezavam turnos de dois para vigiarem Nicolas, eles se projetavam no astral e o seguiam sem problema. Que costumeiramente saia em expedições à floresta. Weny trajava sempre uma calça, uma camisa de manga longa com sua indispensável gola de rufos. As reuniões com as três misteriosas figuras tornaram-se mais raras, ainda assim Kal fazia suas especulações de que ele estaria tramando algo. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">Desde o incidente com os Griphons, Cidade dos Elfos vivia em alerta, criou-se quase que um toque de recolher. Ninguém, a não ser Nicolas Weny, perambulava pelas ruas depois das dez horas da noite. A Suor de Sapo teve que se adaptar ao novo horário que a situação estava exigindo e passou a fechar mais cedo pela falta de cliente. Outros pontos de encontro, como a Colméia das Formigas também perderam a freguesia com a insegurança que a cidade estava passando.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">Certa noite de lua cheia, quando Kal e Thalis faziam sua vigilância eles acompanharam Weny por mais de trezentos metros floresta adentro. Ele recolheu algumas ervas e experimentou alguns frutos, sempre cuspindo suas sementes. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">Naquela mesma noite, Nicolas parou em uma clareira e retirou do bolso da camisa uma poção de cor azulada. Kal e Thalis entreolharam-se, mas não puderam imaginar do que se tratava. Nicolas fez uma expressão azeda ao dar o último gole, mas nada lhe aconteceu. Então ele conjurou três velas formando assim um triângulo, seguido disto ele conjurou um espelho e o posicionou de forma que refletisse a luz da lua cheia, mas não a das velas. O homem começou a mexer os lábios como se estivesse orando. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">Kal imaginou que fosse algum tipo de rito para sua pesquisa. Pelo que eles haviam estudado de astrologia na aula de Relações com a Natureza, a lua está intimamente ligada a descobertas e conhecimento, mas é certo que para cada fase há uma interpretação diferente. E vendo aquela resplendorosa lua dourada no céu, Kal deduziu de que se tratava apenas disto mesmo, ajuda na pesquisa.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">Na manhã do dia seguinte, os dois contaram a Ralph e Guine o que Nicolas Weny fez e eles concordaram que era uma tentativa desesperada para conseguir êxito.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- O cara está ficando desesperado! – disse Ralph – Já faz um bom tempo que eles está galgando esta tarefa e ainda não saiu do lugar. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Talvez Cacius tenha sido correto quando disse que é uma tarefa difícil demais para ser realizada, mesmo por alguém tão preparado. – concordou Thalis.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Bem, nós vamos continuar de olho nele. – falou Kal – Cacius deve estar fazendo o mesmo. Mas ainda assim devemos ser os primeiros a saber sobre qualquer descoberta que Nicolas Weny faça.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Concordo. – disse Guine que havia se tornado tão obcecada por esta perseguição quanto Kal, Ralph e Thalis.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">Enquanto eles saiam da república ouviram gritos eufóricos vindos do centro da cidade. Os quatro se entreolharam e foram às pressas saber o que estava acontecendo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">Vários alunos aplaudiam e davam risadas animadas por todos os cantos. Os elfos disparavam fogos de artifício para o alto e as fadas faziam cirandinha pelas ruas.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- O que está acontecendo, Pedro? – perguntou Thalis ao colega de quarto.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Parece que o tal do Nicolas Weny encontrou o Livro de Merlin.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- O quê? – perguntaram com olhares gulosos em cima do garoto.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Disseram que ele saiu da Livros & Boatos em disparada e começou a conjurar vários feitiços embaixo do relógio da praça. Na hora ninguém entendeu nada, mas todo mundo o viu correndo para a Pousada das Fadas com um pergaminho na mão.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- De onde ele tirou este pergaminho? – perguntou Kal.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Ele foi conjurado. – respondeu Daimon que vinha acompanhado de Jonathan.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Eu vi o que aconteceu. – disse Jonathan – O senhor Nicolas disse vários feitiços, até tentei decorar alguns, mas não consegui... Enfim, ele agitou um pouco os braços e quebrou um frasco de poção no chão. Em segundos algumas cinzas começaram a surgir. Foi então que elas agruparam-se e um pedaço de pergaminho apareceu.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Que pergaminho será este? – questionou-se Guine olhando para os três.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Um mapa? – sugeriu Ralph.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Algum documento importante da época de Merlin, talvez. – prossegui Kal.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- A Página perdida do Livro de Merlin. Para ser mais preciso. – falou Cacius aproximando-se dos garotos.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Professor Cacius! O senhor soube? – indagou Kal olhando para o professor.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Certamente, Kal, todos agora sabem. Não vai demorar para que metade da imprensa mundial surja na cidade e comece seus interrogatórios.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- O senhor disse que o pergaminho é uma página perdida do Livro de Merlin? - retomou Ralph à fala do diretor.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Sim. Certamente isto saiu da minha boca.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- E o que tem nesta página? – perguntou Daimon.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Não sabemos. Pelo menos ainda. Ninguém nunca encontrou a página. A história sabe apenas que Merlin, certo dia desceu do castelo com um livro em mãos, que suponhamos ser o seu famoso livro, e deste ele arrancou uma página queimando-a logo em seguida.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Nicolas Weny está com um pedaço do livro mais poderoso do mundo! – espantou-se Jonathan.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- O que o senhor acha que ele pode conseguir com esta página, professor? – perguntou Kal.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Considerando que seja mesmo uma página do Livro de Merlin e que o próprio autor a excluiu de sua obra, imagina-se que o que há na página não seja algo de bom. – respondeu.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Preciso ver o senhor Tailon Montanha. – disse Cacius.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- O dono da Livros & Boatos? – questionou Daimon.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Sim. Agora com licença. – falou Cacius seguindo para a livraria.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">O olhar dos garotos acompanhou Cacius até ele atravessar o arco da porta. Várias pessoas começaram a esfumaçar em todos os cantos da cidade carregados de pergaminhos e penas, algumas máquinas fotográficas e refletores para adquirir uma melhor iluminação em suas fotos.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Vamos sair daqui. – disse Kal prevendo o que poderia acontecer se ficassem parados. Certamente seriam requisitados para uma detalhada entrevista sobre a descoberta de Nicolas Weny.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">Jonathan e Daimon preferiram se juntar ao fã clube do historiador em frente a Pousada das Fadas ao invés de acompanhar Kal, Guine, Ralph e Thalis até a velha loja.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Vocês acham que o pergaminho que Nicolas encontrou é mesmo do Livro de Merlin? – perguntou Thalis.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Se o próprio Cacius acha possível eu vou duvidar do quê? – disse Ralph convencido.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Ele está um passo à frente de todo mundo agora. – comentou Kal – Só ele sabe o que tem naquele pergaminho.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- E se não for nada demais? For apenas um truque para mostrar que ele está fazendo alguma coisa. – especulou Guine – Talvez seja apenas uma carta ou sei lá...<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Não tenho tanta certeza assim, Guine. – discordou Thalis – Pelo modo como Jonathan contou, parece que Nicolas sabia o que estava fazendo em frente àquele relógio.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Mas onde ele conseguiu aquela informação? – pensou Ralph – Como ele sabia que fora ali que Merlin queimou a página.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Isto tudo tem muito segredo envolvido... – falou Thalis chutando uma pedra.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">A palavra segredo penetrou no cérebro de Kal fazendo um zunido à medida que vasculhava sua memória. Era como se estivesse processando uma busca, combinando dados recentes e antigos. Passado um milésimo de segundo, ele berrou alto o resultado de sua busca de forma que assustou os amigos.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- “<i style="">Aqueles segredos</i>”!<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- O que têm? – questionou Thalis.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- “<i style="">Aqueles segredos</i>” é o título de um livro que eu encontrei na Livros & Boatos. – respondeu – No dia em que fomos comprar nossos materiais, eu vi este livro e pensei em levá-lo também, mas vi que o conteúdo era somente para bruxos formados. Então, na mesma hora, uma pessoa encapuzada esteve lá e o comprou.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- E você imagina que esta pessoa possa ser... – tentou falar Guine. <o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Nicolas Weny! Ou pelo menos alguém a mando dele. – terminou Kal.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Ele tem aqueles três amigos encapuzados. – disse Ralph.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- E se fossemos até a pousada. – sugeriu Thalis.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Entrar no quarto do Nicolas Weny? – perguntou Guine cética.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Bingo. – disse Kal, seus olhos quase brilhando.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Não dá para entrar em propriedade particular sem ser convidado no plano astral, e vocês sabem disso. – falou ela.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- E quem falou em plano astral? – indagou Ralph.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Não posso acreditar no que estou ouvindo... – disse ela batendo as mãos contra o corpo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Eu já estou indo. – disse Kal rumando de volta para a pousada.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Toda a imprensa está tentando entrar lá! Como vocês acham que conseguiríamos? – questionou a garota.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Não sei, mas vou dar um jeito. – falou Kal decidido.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Desculpem, mas não vou participar desta loucura! – disse Guinevere mais decidida ainda.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Tudo bem então. Vamos nós três! – disse Ralph já acompanhando Thalis e Kal.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">Guine ficara sozinha na velha loja, e quando resolveu acompanhá-los, já estavam longe demais.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Garotos... – bufou.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;"><o:p> </o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">A Pousada das Fadas estava cercada por fãs e repórteres, todos com penas erguidas. Aqueles para conseguir um autógrafo e estes para conseguir a matéria de capa da próxima edição de seus respectivos jornais. A porta de entrada estava bloqueada por cinco elfos e duas fadas, todos dispostos a azarar alguém com a varinha caso tentassem invadir o lugar.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Como faremos? – perguntou Ralph depois de analisar a situação.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Não sei. Mas não podemos tentar as janelas. Certamente deve ter pelos menos três cuidando de cada uma. – disse Thalis.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Não dá! O lugar é uma fortaleza! – prossegui Ralph.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Nós preci... – Kal interrompera a fala ao perceber que a porta da frente da pousada estava se abrindo e prestes a revelar o historiador mais famoso do mundo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;" lang="EN-US">- Weny! Weny! Weny! - clamou a</span><span style="line-height: 200%;"> multidão</span><span style="line-height: 200%;" lang="EN-US">.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Acalmem-se! – disse Nicolas finalmente.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Puxa! Eu já tinha me esquecido como era a voz dele... – falou Ralph.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Gostaria que todos se dirigissem até a praça central! Lá irei fazer um breve pronunciamento antes de voltar a minha pesquisa. – disse ele e depois esfumaçou. Seguindo o gesto, vários outros bruxos esfumaçaram da frente da pousada e os fãs correram o máximo que podiam para alcançar um lugar mais perto do ídolo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- É agora! – disse Kal correndo sorrateiramente para dentro da pousada.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">O lugar estava completamente vazio. Os funcionários também haviam seguido a multidão de bruxos até a praça. Os três estavam conscientes de que não tinham muito tempo. Por isso precisavam adiantar em sua busca.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">Kal atravessou o saguão de entrada, correu para trás do balcão verde da recepção e abriu uma pasta com a lista de todos os hóspedes da pousada, mas surpreendeu-se ao ver que o nome de Nicolas Weny não aparecia em nenhum dos quartos.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Quantos hóspedes estão com seus nomes aí? – perguntou Ralph com a intenção de tentar quarto por quarto.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Há mais de cem aqui! – informou Kal.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Nicolas deve ter preferido usar outro nome... – pressupôs Thalis.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Alguma idéia? – perguntou Ralph olhando para os dois.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Nicolas é um historiador... talvez um personagem importante da história. - mentalizou Kal.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Merlin. – respondeu Ralph de imediato.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Já chequei. Não é isto.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- Mas Merlin tem um outro nome. – disse Thalis estalando os dedos – Cacius disse em uma de suas primeiras aulas comigo.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">Kal voltou a olhar para a folha em suas mãos e deu um largo sorriso.<o:p></o:p></span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><span style="line-height: 200%;">- </span>Emrys Camelot, quarto 315.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Os três seguiram até a porta de madeira pintada na parede, Kal estendeu a mão e segurou a maçaneta dizendo:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Quarto 315.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Depois de atravessarem e trancarem a porta, eles chegaram a um pequeno corredor com uma única porta em sua extremidade. Pregado no na parede estava o número 315.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- <i style="">Scringer Secret Schoupan! </i>– disse Kal e a tranca cedeu com um estalo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Ao entrarem no quarto um forte odor de alho penetrou as narinas de Kal que foi obrigado a tapar o nariz. Seus olhos logo começaram a lacrimejar deixando uma visão um pouco ofuscada do cômodo, que tinha cada canto de parede escondido por armários carregados de livros e frascos de poções, mal via-se o papel de parede vermelho. Tinha ainda um sofá de três lugares no meio da sala e uma escrivaninha de frente para uma janela. O móvel estava encoberto por folhas, penas e tinteiros. O piso de assoalho rangia levemente enquanto andavam, mas nada que pudesse fazer barulho o suficiente para sinalizar que estavam ali. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Parece que ele tem uma paranóia com vampiros. – falou Thalis abrindo uma gaveta de criado próxima ao sofá e mostrando aos dois uma estaca de madeira.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Será que o historiador mais incrível do mundo teme o vampiro mais poderoso do mundo? – perguntou Ralph colocando uma corda de alho em volta do pescoço.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Talvez ele não saiba, mas alho não funciona contra Kricolas. – falou Thalis.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Pessoal. Olhem! – chamou Kal aproximando-se da escrivaninha.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- O que é isso? – perguntou Ralph.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Parece que são anotações... – disse Thalis.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style="">O Livro de Merlin, o artefato mágico mais valioso do mundo, pode ter sido destruído há séculos pelo próprio Merlin. Segundo registros da memória popular dos elfos, o mago queimou uma de suas páginas em praça pública.<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style=""><o:p> </o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style="">Foster ajudou Merlin a escrever o livro, mas após sua morte o objeto permaneceu com o feiticeiro até seu último dia. Especula-se que a família Foster pode estar em posse do livro, mas é apenas uma fraca teoria.<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style=""><o:p> </o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style="">O diretor de Avalon, Cacius Henrique, tem o Enid de Merlin, mas nada sabe sobre a localização do livro. O mesmo aconteceu no passado com os bruxos que um já possuíram o Enid, como o mago francês Jaques Bounervur no século XIV.<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style=""><o:p> </o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Parece que ele anda pesquisando mesmo. – disse Kal analisando as demais folhas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Olhem esta em inglês. – falou Thalis puxando um pergaminho da mesa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style=""><span style="" lang="EN-US">There isn’t anything more powerful than the Merlin’s Book, there isn’t anything more splendid than its power. Nobody can be compared to its possessor. There will be a new vision of what magic. The Merlin’s Book exist and it is somewhere in the Elfos’ City. I saw it and I had the opportunity to contemplate the power that it has put up to the young Foster.<o:p></o:p></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style=""><span style="" lang="EN-US">After Merlin’s death, I felt myself free to write my work revealing huge details about the book and its possible location. I haven’t defined the title yet, but I am thinking in Those Secrets.<o:p></o:p></span></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style="">Monday, March 19<sup>th,</sup> 1017<sup><o:p></o:p></sup></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style=""><o:p> </o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Espere. – disse Thalis segurando o pergaminho – Aqui diz...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">“<i style="">Nada há de mais poderoso do que o Livro de Merlin, nada há de mais esplêndido do que o seu poder. Ninguém poderá ser comparado ao seu possuidor. Haverá uma nova visão do que é magia. O Livro de Merlin existe e está em algum lugar na Cidade dos Elfos. Eu o vi e tive a oportunidade de contemplar o poder que ele forneceu ao jovem Foster.<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style="">Após a morte de Merlin, senti-me à vontade para escrever minha obra revelando detalhes maiores sobre o livro e sua possível localização. Ainda não defini o título, mas estou pensando em Aqueles segredos.<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style="">Segunda-feira, 19 de março de <st1:metricconverter productid="1017”" st="on">1017”</st1:metricconverter><o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style=""><o:p> </o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- É o diário do autor de “Aqueles segredos”. – disse Kal levando a mão à boca.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Isso confirma! Nicolas Weny adquiriu o livro. – falou Thalis olhando para um relógio pendurado na parede – Precisamos sair daqui antes que sejamos descobertos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kal e Ralph confirmaram com a cabeça e os três saíram do quarto alcançando o lado de fora da pousada em pouquíssimo tempo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Garotos! – chamou Guine, que os esperava sentada em uma pedra próximo a pousada e cercada com os materiais de escola dos quatro – Temos aula hoje, sabiam?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Sim, e já perdemos duas. – respondeu Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Mas por um bom motivo. – falou Thalis.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Quando entraram no balão para Avalon Guinevere já havia ouvido metade da história e ainda assim não estava acreditando no que lhe era contado. Quando Ralph repetiu as palavras que estavam escritas no diário ela quase caiu para trás.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- O livro que Kal queria comprar! – exclamou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Parece que ele chegou antes. – disse o garoto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Mas ainda não entendi por que tanta prevenção contra vampiros... – confessou ela – Weny tem poderes suficientes para pelo menos se defender de Kricolas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Será? – questionou Ralph – O que ele fez quando os Griphons apareceram na palestra?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Fugiu. – informou Guine – Mas não acho que tenha sido medo. Acredito que GAW tenha sugerido que fosse melhor.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Pode ser. Eles podem ter pensado que Nicolas era o alvo dos Griphons e disseram que se afastasse. – disse Ralph.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Para o castelo depressa! Para o castelo! Acabou a folga! – dizia Luiz Calvo na entrada da escola para todos os alunos – Vamos! Não percam tempo! Uma folha velha não pode distrair a atenção de vocês.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Não era bem uma folha velha que tirava a atenção de Kal. Era o que Nicolas Weny faria com ela. Se realmente fosse uma folha do Livro de Merlin ela carregava um feitiço poderoso. Mesmo se servisse apenas para abrir uma porta, seria o feitiço para abrir portas mais poderoso do mundo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Nas salas de aula o ritmo de conversa não diminuiu. Até mesmo os professores pareciam um pouco desligados da matéria. Nicolas Weny, em seu discurso na praça da Cidade dos Elfos dissera a todos que divulgaria sua descoberta o mais rápido possível. Todos, obviamente, acreditavam que “o mais rápido possível” fosse o próximo dia. No entanto três dias passaram-se sem qualquer sinal do historiador.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Na semana seguinte o jornal Folha Mágica divulgou uma matéria de apoio ao historiador.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style="">Ele está onde nenhum bruxo esteve<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style=""><o:p> </o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style="">O gabaritado historiador Nicolas Weny, na semana passada encontrou no vilarejo chamado Cidade dos Elfos, um artefato que promete virar ao avesso o mundo mágico. Baseado em lendas e antigos documentos, outros historiadores do mundo todo acreditam que Nicolas Weny pode ter em mãos nada menos do que uma página do fabuloso Livro de Merlin. “Em história conhecemos esta página como Página perdida. Porque mesmo que um dia encontrássemos o Livro de Merlin, os segredos desta página estariam perdidos, afinal ela fora arrancada do livro” disse Amir Cherches, historiador uruguaio que está estudando os modos de vida dos duendes assassinos <st1:personname productid="em Minas Gerais." st="on">em Minas Gerais.</st1:PersonName> “Por uma ironia do destino, a Página perdida foi encontrada antes mesmo do Livro de Merlin”, finalizou.<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style="">“Conta a lenda que a Página perdida foi arrancada do livro pelo próprio Merlin, que a incinerou logo <st1:personname productid="em seguida. Para" st="on">em seguida. Para</st1:PersonName> nós historiadores isto sempre foi uma incógnita. O que haveria de tão abominável na página que fez Merlin se enfurecer e excluí-la?” questiona Maykel Martins, historiador capixaba. “Acho que se Nicolas perceber o motivo pelo qual Merlin retirou a página de sua obra ele dará um jeito de sumir com ela para que nunca mais seja encontrada”, frisou.<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style="">Nicolas Weny, atualmente continua sua pesquisa. A nova descoberta abalou a comunidade mágica, mas não nosso incansável historiador, que mesmo tendo feito o maior resgate histórico do mundo, permanece relutante em ceder aos assédios da imprensa global. Nicolas, que apenas fez um breve pronunciamento no dia vinte um deste mês, disse que todos deveriam ficar atentos para o resultado final de seu trabalho. Disse ainda que não descansará enquanto não devolver ao mundo mágico seu maior patrimônio, o mais poderoso tipo de magia.<o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style="">Fica o nosso apoio e a nossa esperança, de que este historiador, que no início de sua carreira foi chamado de Come traças, torne-se herói mundial. Mesmo que pareça piegas, a verdade precisa ser dita, Nicolas Weny foi mais longe em suas pesquisas do qualquer outro bruxo. Por isso já é um vencedor. <o:p></o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><i style=""><o:p> </o:p></i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">A notícia animou mais ainda os habitantes de Cidade dos Elfos, faixas eram estendidas com o nome do historiador e vários cartazes com sua foto eram colados nas paredes das lojas e nos postes de iluminação.</p> <span style="font-size: 12pt; font-family: "Times New Roman";">O mundo parecia girar ao redor de um único bruxo, mas ele parecia não se importar. Seu trabalho era muito mais relevante do que pessoas gritando seu nome com furor. Ao encontrar a Página perdida Nicolas Weny deixou de estudar história, para fazê-la.</span>André Fantinhttp://www.blogger.com/profile/07818980780167800572noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5429287600558187973.post-4673344656750728892007-12-05T17:57:00.000-08:002007-12-05T17:58:19.258-08:00Capítulo 15 - Os segredos de Nicolas Weny<p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">As férias estavam sendo muito divertidas em Vila das Cachoeiras, por mais estranho que isto pudesse parecer. Kal, Daimon e Ralph acordavam bem cedo para tomar banho no pequeno rio que circundava a vila que dava origem à cachoeira. Os outros habitantes, apesar de não se expressarem abertamente, sentiam-se incomodados com o retorno dos Foster. Não deixavam seus filhos se divertirem com ele e mantinham um tipo de distância segura. Kal não conseguia aproximar-se mais do que cinco metros de uma pessoa sem que ela se afastasse instantaneamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Eles são sempre simpáticos assim? – perguntava Ralph rindo-se.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Só quando estão de bom humor. – respondia Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Amanda preparava seus biscoitos de nata todas as manhãs com Guinevere, a cada dia elas ficavam mais parecidas. Adonis estava com uma vida bem agitada, corria de casa para a fábrica, de volta para casa então ia à sede do governo e três vezes por semana visitava Thom no Hospital Nautilus.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">As aulas recomeçariam em pouco menos de duas semanas. Era mais do que o suficiente para cansarem de Vila da Cachoeira e desejarem voltar o mais rápido possível para Avalon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Os pais de Ralph o escreveram para dizer que estavam bem e que continuavam buscando Kricolas com toda a equipe de Warren, o que não era uma novidade, porque faziam esta busca há mais de nove anos. A última notícia que circulou nos jornais nacionais era a de que o meio-vampiro estava escondido na África. Outra notícia importante dizia que o famosíssimo Sr. Weny continuava buscando pelo Livro de Merlin.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Os quatro passavam as noites conversando ao redor da mesa na sala de visitas da mansão e naquela noite não foi diferente. Quase que como um ritual eles começaram a falar sobre o Livro de Merlin. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- O que Cacius acha disso? – perguntou Daimon – O que será que ele pensa por ter alguém procurando o livro?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- O que ele tem a ver? – questionou Ralph.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Bem, sendo ele considerado o Merlin dos tempos atuais, o livro por direito é dele não? Assim como ficou sendo o castelo. – explicou Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Se ele mesmo não pôde encontrá-lo, talvez o melhor a fazer é deixar que alguém o encontre. – disse Ralph.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- E o que o Sr. Nicolas Weny quer com o Livro de Merlin? – questionou Guinevere entrando na conversa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Poder infinito. – sugeriu Ralph dando de ombros.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- E o que se faz com poder infinito? – retrucou Kal – Dinheiro e fama ele já tem.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Talvez ele esteja apenas em busca de outro grande desafio. – falou a garota – O trabalho dele é solucionar mistérios mágicos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Como ele pode ter certeza de que o Livro de Merlin está na Cidade dos Elfos? – perguntou Kal muito pensativo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Quem sabe ele leu o mesmo livro que você ganhou de aniversário. – falou Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Como você sabe que lá fala sobre o assunto?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ai, Kal... eu estava folheando...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Olá, meninos! - saudou Adonis da porta do salão – Aproveitando as últimas semanas de férias?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- É. Estávamos falando sobre o Livro de... – Daimon foi interrompido por um beliscão de Kal, uma pisada de pé de Ralph e um olhar fulminante de Guinevere.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- O livro de Cacius... Bela obra... – continuou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- É uma pena que não fala nada sobre o Livro de Merlin. O assunto favorito de vocês, o assunto de toda as férias... – irrompeu Adonis em uma dramatização melancólica.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Não, papai... Porque nos interessaríamos pelo Livro de Merlin? – perguntou Kal seriamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Você não sabe mentir, Kal... – disse Adonis.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Tudo bem, eu não sei mentir...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ok, quem quer saber mais?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Adonis puxou uma cadeira para sentar-se perto dos garotos e começou a passar algumas informações que eles já conheciam. Haviam pesquisado bem sobre o livro e sabiam que tinha sido escrito por Merlin após o sacrifício de Foster, e nele estavam todos, ou pelos menos a maioria, dos feitiços do mundo, além de alguns outros desconhecidos e muito poderosos. Adonis completou dizendo que os feitiços do livro eram tão incríveis que nem mesmo ele seria capaz de realizá-los.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Talvez nem mesmo esse tal de Nicolas Weny seja capaz de usar o livro... – continuou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Então Cacius também não poderia usá-lo. – falou Guinevere.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Professor Cacius, querida. – corrigiu Adonis – E tenho absoluta certeza. Se existe um homem neste mundo capaz de usar o Livro de Merlin este alguém é o professor Cacius. – terminou enfaticamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- E Kricolas? – perguntou Kal – Acha que ele consegue, pai?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Oh... Bem, é outra coisa... Um bruxo milenar... Deve estar nos mais altos níveis de magia... Quem sabe... – Adonis lançara uma nuvem de incertezas e mudou de assunto em seguida – Tenho que sair agora, meninos. Mas vou contar um segredo a vocês antes. É que eu esqueci que neste final de semana, eu e Amanda, comemoramos quinze anos de casados... Bem, eu pretendia dar a ela um belo fim de semana, e como esqueci, não sei se vou conseguir. Felizmente, tenho um amigo que é dono de um hotel no sul do país... Vou direto para lá agora, me desejem sorte. Até mais.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Esfumaçou sem dizer qualquer outra palavra. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Olha só Daimon, ele não precisou ser lembrado este ano... – brincou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Amanda parecia inquieta e nervosa na véspera do fim de semana. Atrasava com as refeições, deixava seus biscoitos passarem do ponto e não conseguia manter uma conversa por mais de meio minuto. Guinevere disse aos garotos que Amanda achava que Adonis não se lembrara do aniversário dos dois, o que era uma meia verdade. O casal não estava conversando muito, ela por não conseguir se concentrar em um diálogo e ele por ainda estar envergonhado de não ter se lembrado mais cedo e ter preparado algo melhor do que um final de semana no hotel de um amigo no sul do país.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">No jantar da sexta-feira, Adonis pediu a atenção deles, Amanda, Kal, Daimon, Guine e Ralph, para fazer um breve pronunciamento. Batendo com o garfo em uma taça ele começou:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Bem, gostaria de anunciar que Amanda e eu sairemos este final de semana para comemorarmos nossos quinze anos de casados em um hotel que reservei com dias de antecedência...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Amanda imediatamente simulou uma tosse. Aparentemente, Adonis mentia tão bem quanto Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ah, meu amor! Você é sempre tão rápido nestes assuntos. – falou Amanda abraçando firmemente o marido como se realmente estivesse surpresa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Mentir não é o forte da Família Foster. – cochichou Kal para Ralph.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Depois de terminarem de jantar, todos subiram para os quartos ansiosos por uma boa noite de sono. Kal, no entanto tinha outros planos. Ele iria para a Cidade dos Elfos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Deitou-se em sua cama com a barriga para cima e fechou os olhos. Inspirou fundo e expirou... Repetiu o exercício por longos minutos até finalmente relaxar e então pôde viajar pelo Plano Astral.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Lá ele estaria livre para sair e viajar rapidamente até a Cidade dos Elfos. Era apenas pensar no lugar que queria visitar e então estaria lá. Assim fez. Fechou os olhos e pensou na cidade, em suas casas, lojas e árvores. Quando os abriu ele estava ao lado da Livros & Boatos, no meio da Amazônia.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Algumas pessoas ainda estavam andando pela cidade, uma dessas pessoas era Nicolas Weny. Ele fazia gestos estranhos com uma das mãos e a outra segurava um pedaço de papel, parecia um mapa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Nicolas seguiu pela trilha que levava ao pequeno pomar de macieira da cidade. Kal resolveu acompanhá-lo. O bruxo agitava uma das mãos e ela parecia ter vontade própria, apontando em diversas direções, até que finalmente cessou os movimentos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Que inútil... – resmungou Nicolas e voltou à cidade para a Pousada das Fadas onde estava hospedado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kal seguiu-o, mas ao ouvir um estalo no pomar, correu para ver o que era. Cacius estava de pé no mesmo lugar <st1:personname productid="em que Nicolas" st="on">em que Nicolas</st1:PersonName> estivera há pouco. Ele espreitava cada canto, como se procurasse algo. Olhou fixamente na direção <st1:personname productid="em que Kal" st="on">em que Kal</st1:PersonName> estava como se pudesse vê-lo, mas o garoto sabia que ninguém o via no plano astral. O diretor deu as costas a Kal, adiantou alguns passos e disse antes de esfumaçar disse:</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Espero que alguém o vigie por mim...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kal tomou um susto com a fala de Cacius. Chegou a ser tamanho que ele foi imediatamente sugado de volta para o seu corpo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Amanda e Adonis saíram bem cedo, carregados com malas, apenas terminaram o café e se despediram dos garotos com um forte abraço e uma série de recomendações.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">A esta altura Kal já tinha contado tudo a Ralph, Daimon e Guine. Contara quando viu Nicolas e depois Cacius. Os três ficaram muito impressionados, também, com a atitude do professor. Apesar de todos os livros dizerem que uma pessoa não poderia ver outra no plano astral, Kal começava a pensar diferente. Afinal, Cacius não era qualquer pessoa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Você vai ter que nos ensinar a fazer a projeção astral, Kalevi Foster! – intimou Guinevere – Além do mais, você vai precisar de ajuda se quiser espionar o Sr. Weny.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Sem relutar, Kal pegou o seu livro, “<i style="">Além da matéria</i>” e lendo-o achou uma instrução de como realizar a projeção astral <st1:personname productid="em grupo. Parecia" st="on">em grupo. Parecia</st1:PersonName> algo bem simples. Bastava Ralph, Daimon e Guinevere deitarem-se de forma bem relaxada e Kal iria dar algumas instruções de como deveriam respirar e o que deveriam pensar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Após umas três horas de tentativa, eles resolveram parar e descansar. Não agüentaram ficar parados nem vinte minutos e voltaram a sessão. Com mais alguns minutos, Ralph parecia ter progredido e entrado de vez no plano astral, o que deixou Kal muito animado, inicialmente. Mas o ronco que produziu logo em seguida indicava que a única coisa que ele via eram ovelhas pulando cerca.</p> <p class="MsoNormal" style="line-height: 200%;">Quando já estava anoitecendo, Kal desmontou-se na cadeira em que estava sentado e dormiu. Algo, no entanto, o fez despertar rapidamente, não no plano físico e sim no astral. Ele olhou para os três corpos estirados no chão e avançando pelas páginas do livro, descobriu um exercício muito mais eficaz que poderia ser feito dali mesmo, do astral. O efeito foi imediato! Agora, os quatro estavam juntos em outro plano que não o físico.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Em pouquíssimo tempo, Kal mostrou-lhes como andar naquele mundo tão estranho. Advertiu-os de que veriam objetos fora do comum e pessoas que não existiam, nem mesmo como fantasmas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Dando-se as mãos, Kal, Ralph, Daimon e Guinevere rumaram até a Cidade dos Elfos. Encontraram-na bem vazia desta vez, nada de Nicolas ou de Cacius, apenas uma cidade inóspita. Voltaram. Eles retornaram tão exaustos aos seus corpos que dormiram naquela mesma posição.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Sr. e Srª Foster chegaram de viagem por volta das sete da noite, carregados de lembrancinhas que distribuíram entre os quatro. Passaram a noite contando novidades do sul, algumas histórias interessantes também. Os quatro aproveitaram bem aquele momento porque sabiam que seria um dos últimos. No domingo seguinte retornariam a Avalon e durante aquela semana eles sairiam no plano astral para observarem Nicolas a pedido de Cacius, supostamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Na segunda, terça e quarta-feira não houve nada de diferente. Quinta-feira, no entanto, eles viram Nicolas sair escondido da pousada e esfumaçar rapidamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ele não pode esfumaçar de dentro da pousada. – informou Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Para onde terá ido? – perguntou Ralph.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Acho que eu tenho um palpite. – Kal avançou pelas ruas rapidamente seguido pelos três, chegando assim à pequena e velha loja no final da cidade.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Nicolas abriu a porta e trancou-a, impedindo que Kal, Ralph, Guinevere e Daimon pudessem entrar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Não podemos entrar em lugares trancados. – lamentou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Mas temos varinhas para ouvir o que está acontecendo lá dentro! – disse Ralph erguendo a sua – <i style="">Captus!</i> – a expressão alegre evaporou de seu rosto assim que percebeu que não conseguiria ouvir nada – Parece que ele bloqueou a sala contra o Captus<i style="">.</i></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- E então? O que nós faremos? – perguntou Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Realmente eu não sei... – disse Kal desanimado – Acho que devemos esperar...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">E certamente esperaram muito. Nicolas saiu da loja quatro horas depois de ter entrado, esfumaçando rapidamente. Outras três pessoas encapuzadas também saíram depressa esfumaçando no momento em que atravessaram a porta. Sem deixar qualquer chance de serem reconhecidas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Felizmente, a porta ficara aberta permitindo que entrassem. O lugar estava do seu modo habitual, velho e acabado. Kal aproximou-se de uma cadeira e fechou os olhos na esperança de enxergar alguma coisa. Mas não parecia possível ter visões do passado no plano astral.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Toda aquela espera fora inútil. E na sexta-feira e no sábado nada mais aconteceu. Nicolas Weny não colocou os pés na Cidade dos Elfos. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">No domingo, logo cedo, Adonis acordou os garotos porque deveriam embarcar na Cidade do Norte de volta a Avalon. Daimon nem se agüentava de ansiedade para retomar os estudos. Kal pretendia voltar o mais rápido possível para ficar de olho em Nicolas.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Vamos, garotos! Apressem-se! Ainda temos que passar no Hospital Nautilus. Soube que Thom acordou ontem! – dizia Adonis enquanto guardava as malas na carruagem.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Então ele saiu do coma, tio Adonis? – perguntou Guinevere visivelmente alegre.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Sim, pelo que soube foi isso. Agora, subam.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Era a mesma carruagem que haviam vindo da Cidade dos Elfos, sendo puxada pelas mesmas vassouras. No entanto o percurso era muito menor, cerca de três minutos. Nem ao menos deu tempo de incomodá-los com o silêncio constrangedor.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Chegamos ao Hospital Nautilus! – informou Adonis inutilmente, já que, Kal, Daimon e Guinevere conheciam bem o lugar. Talvez a informação servisse para Ralph.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Eles desceram da carruagem e entraram rapidamente no hospital.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Bom dia, Sr. Foster. Aqui tão cedo? – disse uma mulher morena e gorda atrás de um balcão branco.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Bom dia, Zileuza. – cumprimentou Adonis – Como está Thomas?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ontem estava bem disposto, mas Elvira achou mais prudente que ele passasse uma última noite aqui. O que foi uma sorte, porque Thomas entrou novamente em coma.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Pelas barbas de Merlin... – entristeceu ele – Vou subir agora. Venham, garotos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Adonis avançou até o elevador com portas douradas o que foi suficiente para embrulhar o estômago de Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Oitavo andar! Depressa! – nem ao menos tiveram tempo de ouvir a voz feminina do elevador. Ele começou a sacudir e balançar. Ia de um lado para o outro. Kal, Daimon, Guinevere e Ralph já haviam caído no chão e estavam rolando de acordo com o movimento. Quando Adonis disse “depressa”, o elevador deve ter entendido “violento”. Em sua última manobra ele girou 360° e parou. Os quatro estavam estirados no chão, de pernas e braços largados e, misteriosamente, Adonis continuava de pé.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ornitorrinco, <i style="">Opandor!</i> – disse Adonis em frente a uma porta e com um clique ela se abriu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Thomas estava completamente imóvel em cima de uma cama típica de hospital. Nas paredes havia alguns armários suspensos com frascos de poções, deveriam ser remédios, e espalhado pelo restante do quarto, havia algumas cadeiras com almofadas. O lugar era pequeno o suficiente para que ficassem espremidos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Bom dia, Sr. Foster. – cumprimentou Elvira que estava sentada em uma cadeira na cabeceira da cama.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Bom dia. Thom entrou em coma novamente?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- É... Ontem à noite ele teve outra forte recaída... – respondeu a mulher coçando a nuca.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- É uma pena... O que a médica falou sobre isto?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ela disse que é natural levantar do coma e voltar em seguida. – disse bem convicta.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">No mesmo instante, Drª Samantha abriu a porta olhando muito curiosa para as pessoas que estavam ali.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ops... Desculpem-me, quarto errado...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Não, não, não... Está no lugar certo, doutora.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ah é? Este é o quarto do boto cor-de-rosa, Thomas?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- É o quarto do Thomas sim, mas ele é um vampiro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Urgh... Boto cor-de-rosa tem mais charme...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Pois sim, Drª Samantha, estava dizendo ao Sr. Foster que o Thomas entrou em coma depois de um momento de lucidez. O que você disse ser muito normal. – enfatizou Elvira.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Eu disse isso? Quando? – questionou a médica olhando para o teto com o dedo na boca.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Coitadinha... Ela é um pouco afetada. – cochichou Elvira para Adonis enquanto girava o dedo na têmpora.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- É... Percebe-se...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">A médica aproximou-se de Thomas e começou a medir a pulsação.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Por Merlin! Não tem pulso! Depressa chamem um médico! – disse apavorada.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Você é médica <i style="">doutora</i> Samantha... – disse Adonis – Ele é um vampiro, vampiros não têm pulsação.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Oh certo... Você não imagina como é estranho dar vida a um paciente morto. – disse ela rindo – Ok, tudo normal... Não há pulso, olhos vermelhos, pele muito pálida, músculos exageradamente flexíveis e temperatura corporal abaixo dos 36º. Para um vampiro está muito bom. – falou ela se levantando da cadeira em que estava e retirando-se para fora da sala.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Adonis e os garotos se acomodaram nas cadeiras e passaram ali algumas horas. Elvira e Adonis conversaram sobre Thomas enquanto Kal, Daimon, Guinevere e Ralph ficavam encarando-se, ambos dizendo facialmente que estar ali não era a coisa mais agradável do mundo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Após as duas primeiras horas, Elvira começou a ficar inquieta em sua cadeira, minuto em minuto ela consultava o relógio na parede como se estivesse esperando alguém, ou algo. Depois que brincar com os dedos perdeu a graça, Kal começou a observar bem atentamente a sala. Pousou o olhar numa das prateleiras e dedicou-se a ler os rótulos dos frascos, e os que não tinham, tentava adivinhar o que seria pela cor ou textura aparente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Quando Elvira percebeu o interesse dele pelos frascos, levantou-se da cadeira decidida e posicionou-se entre Kal e a prateleira com a desculpa de precisar esticar as pernas. A partir daí ela começou a andar em círculos pela sala e Adonis percebeu a inquietação.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Algum problema, Elvira?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Oh, como?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Perguntei se há algum problema. – repetiu Adonis – Precisa de alguma coisa?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Oh não, claro que não. É que... Que está na hora do remédio do Thom. – disse ela se apressando para o armário que Kal tentara enxergar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Elvira retirou um frasco do armário, levemente nervosa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Precisa de ajuda? – indagou Adonis.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Não se incomode. Não precisa. – Elvira retirou a própria varinha das vestes e enfiou dentro do frasco – Não tem colheres aqui...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Compreendo. – falou Adonis educadamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Beba Thomas, beba tudo... – dizia ela enquanto fazia um líquido esbranquiçado descer pela goela do vampiro – Isso, isso. Vai ficar bom logo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Bem, tenho que levar os garotos até a Cidade do Norte. Lá pegarão condução até a escola. – falou Adonis já de pé – Qualquer nova notícia, entre em contato comigo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Certamente. – falou ela conduzindo-os até a porta.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Já no corredor, eles esperavam a máquina assassina do Hospital Nautilus, chamada elevador, chegar para que descessem. Quando ela surgiu apareceu uma figura inusitada, Tâmisa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Oi! – cumprimentou Kal imaginando o que ela estaria fazendo ali.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Olá! – respondeu rapidamente e seguiu pelo corredor.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Uma graça a filha da Elvira, não? – disse Adonis entrando no elevador.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ela, Tâmisa? Filha da Elvira? – indagou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Sim, ela mesma. Acredito que irá esfumaçar na Cidade dos Elfos. Não se preocupem, vocês poderão esfumaçar quando tiverem idade. – terminou Adonis apertando o botão para descer.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Na Cidade do Norte o clima era de entusiasmo. Os alunos que estavam esperando pelas carruagens andavam agitados com suas bagagens nas mãos. Kal achou tudo aquilo burrice, uma semana de aula com Amadeus Wosky era muito mais que suficiente para cortar o ânimo mais excitado, como o de Daimon e Jonathan, que acabara de encontrá-los.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Eu achei uma carruagem vazia. – disse ele – Vamos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Os quatro garotos despediram-se de Adonis que aproveitou para dizer a Ralph que ele seria novamente bem-vindo se quisesse passar as férias de final de ano em Vila da Cachoeira.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Eles apenas subiram na carruagem e as cinco vassouras presas a ela subiram, sozinhas, de forma imediata.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Fomos os primeiros a sair! – observou Daimon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- As vassouras levantam vôo quando a cabine se completa com cinco alunos. – informou Jonathan.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Depois de subirem acima das nuvens, as vassouras estabilizaram-se em uma única direção e voaram rapidamente. Daimon e Jonathan aproveitaram a viagem para colocar o papo em dia, e enquanto eles conversavam, Kal, Ralph e Guine preparavam uma estratégia para vigiarem Nicolas Weny o máximo de tempo possível. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Quando o sol já começava a se esconder, as cinco vassouras deram uma guinada para baixo e atravessando as nuvens, os garotos viram que já estavam de volta à Cidade dos Elfos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Kal saltou rapidamente da carruagem com sua mala e correu para o alojamento de Tadewi a fim de guardá-las e sair de volta para ir até a velha loja averiguar o que Nicolas fazia lá. Daimon ficara conversando com Jonathan na praça e Kal puxou Guine e Ralph pelo braço para se apressarem. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Depois de guardarem as malas na república eles correram até a velha loja, o que não foi notado, porque todos os demais alunos estavam tão eufóricos quanto eles. Chegando lá abriram a porta com estrépito e viram ninguém menos do que Nicolas Weny, encostado em um balcão, parecendo falar sozinho.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Olá... – disse Kal sem graça.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ah... Olá! Quem são vocês e o que estão fazendo aqui? – perguntou impaciente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Somos fãs... – falou Guinevere abobalhadamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Não dou autógrafos. – respondeu de forma ríspida.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Não queremos autógrafos. – retrucou Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- O que vocês querem então?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Saber o que vem fazer aqui com aquelas outras três pessoas. – disse Kal honestamente e de forma desafiadora.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ora, ora... Tenho pequenos detetives atrás de mim? – perguntou Nicolas com um sorriso debochado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Talvez... – disse Ralph.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Estou fazendo o meu trabalho! – disse ele dirigindo-se até a saída.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Nicolas esbarrou no ombro de Kal no momento em que passou por ele, fazendo o garoto gritar e em seguida cair no chão com impacto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Qual o problema dele? – perguntou Nicolas e então saiu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Kal, você está bem? – perguntou Guinevere erguendo-o.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Eu vi, Guinevere! Eu vi Nicolas matar uma pessoa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- O quê? – espantou-se Ralph.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Nicolas matou um homem! Eu não vi quem era. Era como se eu fosse a vítima. Ele tocou na pessoa e ela morreu. Estrangulamento.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Kal, você tem certeza disso? – perguntou Guinevere – Isto é muito grave.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Sim, eu tenho certeza, Guinevere. Tenho certeza... Amanhã falarei com o Professor Cacius.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Naquela noite, Kal ficou revendo a visão em seu pensamento até adormecer. Se é que ter sonhos com assassinatos era de fato adormecer. Em um destes sonhos ele se viu matando Ralph e depois investindo em Guinevere, logo acertou Daimon com um feitiço que o fez saltar dez metros e bater com a cabeça numa parede. Ainda no sonho, ele caminhou entre pessoas desconhecidas, correu por uma multidão e encontrou Thalis. Ele ergueu Kal pelo pescoço e jogou-o de lado com extrema facilidade.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Kal... – cutucou Guinevere para acordá-lo – Acorde...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Gui-Guinevere. Onde eu estou? – perguntou ele meio zonzo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Na enfermaria. Você não acordou ontem de manhã. Trouxemos você para cá...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Fiquei em um dia inteiro inconsciente? – duvidou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- É, ficou sim. – respondeu uma voz serena.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Professor Cacius – disse ao vê-lo.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Está se sentindo bem agora? – perguntou.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Estou. Obrigado.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Srta. Lingenstain, poderia nos dar licença?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Sim, professor. – Guinevere recolheu seus materiais e saiu da sala trancando a porta.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Coisas estranhas têm acontecido não é mesmo?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Estranhas, sim... estranhas. – respondeu Kal sentando-se na cama. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Você não confia no Sr. Weny, não é? – perguntou Cacius sorrindo para ele.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Assim como o senhor... – respondeu suavemente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- A questão é: qual o interesse de Weny em um artefato mágico antigo e muito poderoso?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Não acredita que seja apenas interesse profissional, professor?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ora, é bem difícil, isso, quando se trata de um artefato capaz de fornecer extremos poderes.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Professor Cacius, como o senhor não encontrou o Livro de Merlin ainda?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Eu nunca o procurei. – respondeu instantaneamente.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- E por que não? – espantou-se Kal.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Merlin o escondeu há muito tempo. Ele não devia querer que o livro ficasse exposto.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Professor, posso te fazer outra pergunta?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Certamente, Kal, certamente. – assentiu.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Por que o senhor entra nestes assuntos comigo? – Kal fixou seus olhos nos de Cacius – Por que eu sou quase Donnovan?</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Sabe que não é Donnovan, Kalevi. E respondendo a sua primeira pergunta, eu converso mais com você porque gosto de ouvi-lo. – disse Cacius em meio a um sorriso de satisfação – Assim como eu converso com meus outros amigos. Agora devo deixá-lo descansar... – disse ele já se retirando.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Há mais uma coisa. – falou Kal olhando fixamente para o professor.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Sim. – disse Cacius girando o pescoço.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Nicolas Weny esconde uma coisa.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Todos escondemos. Todas as pessoas precisam ter seus próprios segredos. </p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Assim que Cacius saiu da ala hospitalar, Kal voltou a dormir, mas acordou no outro dia bem cedo muito bem disposto para voltar às aulas. Logo na primeira ele percebera que o segundo semestre não seria tão fácil quanto fora o primeiro.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Tirso estava ensinando muito mais teorias do universo do que feitiços propriamente dito. Daimon havia dito que a partir daquele momento os professores tinham que fazê-los interagir muito mais com as forças universais para que eles pudessem ficar mais fortes. Até mesmo as aulas de Relações com a Natureza estavam diferentes. Haviam mudado de horário e agora eram praticadas à noite sobre a luz de cada astro das plantas. O astro da Herviana de Kal era a Lua.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Thalis fora escolhido para estudar em Tadewi e agora dividia o dormitório com Ralph, Kal e Pedro. Ele se desenvolvera muito bem nos últimos dias. Visitou Kal na enfermaria com Guine e Ralph e apresentava um bom rendimento na sala de aula. A perda dos pais ainda o abalava muito, mas certamente esta era uma ferida que logo iria cicatrizar.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Os dias pareciam bem mais calmos quando não se é um Guardião-mirim. Nada de intervir em brigas e confusões, nada de fazer relatórios ou aplicar detenções, se bem que não era nenhum sacrifício fazer Rick Wosky pegar umas duas horas de castigo aos sábados.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">No Quizard, as equipes de Tadewi e Katzin lideravam o campeonato, como todos os anos, Angus havia perdido quase todas as partidas. Os alunos desta república podiam ser bem talentosos com uma varinha, mas não tinham um espírito guerreiro como os das duas outras. A última e decisiva partida estava marcada para o final de dezembro. Seria em um campo criado exclusivamente para a ocasião na Cidade dos Elfos.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;"><o:p> </o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Quando o primeiro dia de setembro chegou, veio acompanhado de uma grande surpresa, especialmente para Kal. No primeiro embarque do mês até Avalon ele viu um broche bem familiar com as inscrições RW num uniforme de Katzin.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Rick Wosky era oficialmente o novo Guardião-mirim de Avalon.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Que cretinos! – bravejou – Deram meu distintivo ao Rick.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Ele também é de Katzin, esperava o que? – disse Guinevere.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Agora o Conselho Estudantil é composto apenas por alunos de Katzin! – indignou-se Ralph.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Não podemos, e nem devemos fazer nada. – aconselhou Guinevere.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Isso vai ver ser problema deles! – disse Kal com ar de repugnância.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">- Vai ser problema nosso também. – retrucou Ralph – Rick Wosky vai ficar no nosso pé...</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Ralph era todo razão. Rick Wosky não estava facilitando nada para os alunos. Divertia-se aplicando detenções desnecessárias nos alunos de Tadewi e Angus e encobrindo as armações dos katzenianos. Por vezes, vários alunos queixaram-se com Amadeus, mas ele parecia ignorar. Devia estar achando o máximo ter seu filho como “dono da escola” e ainda por cima desafiante titular da equipe de Katzin no Quizard.</p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 14.2pt; line-height: 200%;">Rick só estava começando. Algo pior estava para acontecer...</p>André Fantinhttp://www.blogger.com/profile/07818980780167800572noreply@blogger.com2